A cidade das abelhas escrita por Clarice


Capítulo 3
DENTRO DA CÚPULA – Central do exército nacional, ala de testes científicos.


Notas iniciais do capítulo

Boa Leitura!



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O soldado estava deitado na maca, dormindo como se não tivesse sido dopado. Uma equipe de cientistas-soldados o cercavam. A ordem real era aplicar a droga e ver os resultados, mas parecia danoso demais ao rapaz. A droga fora testada apenas em animais selvagens e além do mais... Doutor Vero-Ci078 se perguntava se valia mesmo tudo pelo progresso. Pela unidade, pelas gerações futuras... Tinha tantos apelos, e ao mesmo modo, o garoto ali deitado mais lhe afigurava como uma criança.

–Estamos prontos. –Disse-lhe seu assistente mais aplicado. Ele hesitou em um suspiro rápido. Tomou sua decisão:

–Certo.

A maca onde o rapaz se encontrava foi levada para o campo de treinos do exército. No local, já pronto para a pesquisa, evacuado e limpo de qualquer empecilho, o doutor simplesmente pegou a seringa. A solução tinha uma cor meio esverdeada quando diluída. Fazia parecer algum caldo de seiva, embora não fosse. Suas mãos tremiam, mas ele achou a veia e a perfurou. Aplicou o líquido vagarosamente.

–Batimentos cardíacos subindo vertiginosamente. –Foi avisado. Seu coração batia rápido, também. Aquela poderia ser a glória de sua pesquisa, ou a ruína, caso o garoto viesse a morrer.

–A concentração de sedativo está caindo. –Ele mal ouvira, não conseguia tirar os olhos do garoto, que começava a tremer.

–Ele vai ter convulsões. –As vozes eram monocórdias e sem emoção alguma, mas ele não se importava.

–Está acordando, pupilas dilatadas. –Ele parou totalmente de prestar atenção ao que os assistentes diziam quando o viu romper as ataduras que o prendiam à maca, erguer-se como um deus.

Seus olhos escureceram, ficaram grandes e furiosos. O rapaz dava calafrios apenas de olhá-lo um pouco. Respirava com alguma dificuldade, mas parecia forte como um touro. Mas ele babava, ao mesmo tempo não parecia pleno em suas faculdades mentais. Parecia um ébrio, ou débil. Como se não soubesse pensar. O doutor se aproximou dele, e berrou ordens para que fossem trazidos os bonecos de teste. Feitos especialmente parecidos com as Polinizadoras. Sua estrutura corporal e seu peso. Uma fileira com nove daqueles horrendos bonecos foi posta frente ao garoto. A ordem foi dada: matar.

Ele bufou, pareceu não compreender direito. Estava confuso. O doutor, estressado, berrou MATE! O rapaz, muito assustado, se debatendo, partiu o primeiro boneco ao meio. O segundo, ele mordeu e arrancou um pedaço do pescoço. Quebrava os ossos falsos como se não fossem nada. Um dos bonecos ele atirou trinta metros à frente, e o mesmo se quebrou em diversas partes, ficando mole por dentro, mas sem romper a roupagem da pele. O teste fora um sucesso.

Um sucesso. Aquilo não se parecia muito com um sucesso. Tinha agora um garoto débil que podia matar, isso era realmente o progresso? Era mesmo necessário, para derrotar um inimigo que nem mesmo se levantava? O Evento Arena estava próximo, mas, usar algo tão instável...

Vinte minutos depois, o rapaz caiu desfalecido ao chão. O coração do doutor ficou perto de sair pela boca, toda a equipe, que antes comemorava timidamente o sucesso da pesquisa, agora corria em seu socorro exasperada. Ele não havia morrido, mas desmaiara. Acordou doze horas mais tarde, faminto e sentindo-se normal. O doutor se recordava passo a passo do experimento, enquanto contava na sala de conferência do rei, próximo ao mesmo.

–Parece utilizável! –Disse o monarca, alegre como uma pequena criança.

–Mas, com todo o respeito...

–Não me importo que ele caia em vinte minutos, se pode derrotar sua inimiga em cinco... Não lhe parece, doutor?

–Isso não é totalmente confiável, embora... –Se atrapalhava nervoso. –Ainda testamos pouco, além do mais, seria justo...

–O que é a justiça, senão correr atrás do progresso de nossa espécie, doutor? –Ele baixou a cabeça.

–Está certo.

–Mas é claro que estou, volte ao seu laboratório e volte a testar. Esse rapaz será nosso trunfo esse ano.

Saía daquela sala sem saber o que pensar. Decidiu que não queria pensar em nada. Afinal, ainda faltava algum tempo até que tudo realmente se concretizasse. Para que se culpar, se tudo era pelo bem da nação? Sorriu nervosamente, tentando aparentar despreocupado.


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Notas finais do capítulo

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