A Galinha Psicocótica escrita por abelho, Jaded


Capítulo 8
A Duras Penas


Notas iniciais do capítulo

Estamos comemorando dois meses de Jessie! o/ E chegamos com algumas pequenas mudanças: a partir desse capítulo, a nota inicial terá um pequeno recap + resumo. Além disso, tem uma outra novidade nas notas finais, então leiam tudim. :D

Após algumas investigações, por conta das mortes misteriosas na família Mungunzá, Pombal sai do sítio Poleiro Branco com a pulga atrás da orelha e Jessie havia bolado um plano, mas que plano será esse? E o que acontecerá com Emílio? Pombal está na trilha certa do assassino?



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/659344/chapter/8

Canjiquéldissom e Mungusvaldo¹ eram os filhos gêmeos mais velhos de Chico Mungunzá. Por serem os mais velhos eles sempre tomaram a dianteira, sempre ajudando seu pai, mas de maneira diferente: Valdo, como é conhecido Mungusvaldo, continuou no sítio com seu pai e Cadinho da Caucaia, como Canjiquéldissom é conhecido, resolveu seguir a carreira política. Atualmente, Valdo é a única forma de comunicação dos outros Mungunzás com seu Chico e Cadinho é vereador em Fortaleza e repassa uma parte do seu salário para seu pai, para ajudar nas despesas do sítio. Ele faz isso por achar que o sítio não é mais sustentável como antes e tenta convencer seu pai a vendê-lo e se mudar para Fortaleza, onde toda a família Mungunzá viveria unida e feliz novamente.

Dois dias depois da última visita de Pombal, Cadinho liga para Valdo, para acertar, mais uma vez, sobre a venda do sítio do seu pai. Jessie, que já havia percebido que Valdo era a única forma de contato com o mundo externo, foi logo entrando na casa, se aproximando de Valdo para ouvir a conversa e saber se precisaria mudar seu plano:

— Paim, — disse Valdo, ainda com o celular na mão — o Cadim ligou de novo. É sobre a venda do sítio.

— Marminino, ele num disiste não, é? Apois tá certo, vamo levá umas coisa pa cumê na casa daquele miserávi pa ele vê que o síti ainda tá rendeno.

— O sinhô qué que eu pegue umas pamonha?

— Não, minino, pega umas trêis galinha pa gente matá lá e cumê.

Jessie ficou enfurecida ao ouvir aquilo. Tratou de sair imediatamente da casa para ser escolhida e se vingar que quem poderia vir a matá-la. Enquanto Chico pegava pamonhas, canjicas e, claro, mungunzás na geladeira para amolecer o pamonha do Cadinho, Valdo resolveu chamar Emílio, que passava as tardes admirando a pena ensanguentada de Jessie, voltado para o quintal, para ajudá-lo a pegar as cocós.

— Emílio, vem cá me ajudá! — gritou Valdo, já com uma galinha na mão — Vem me ajudá a pegá uma galinha po Cadim!

Ouvindo o nome de Emílio, Jessie tratou de se chegar perto de Valdo, para ser facilmente escolhida por ele. Valdo pegou Jessie e Emílio, reconhecendo a algoz de seus parentes, foi pra perto do seu irmão e começou a bater na mão dele, para que ele soltasse Jessie:

— Emílio, para cum isso! Num tá veno que essa bichona tá gorda? Vamo levá ela po Cadim pra gente matá e cumê, ó só!

Emílio se deu por satisfeito: depois daquela tarde o pesadelo acabaria com Jessie na panela. O que ele não contava é que Jessie era mulher e odiava ser chamada de gorda: precisaria se livrar de Valdo, que reconheceu como sendo quem comeu os pés de seu amado Galindo. Além disso, ela conseguiria por seu plano em prática: incriminar Emílio para tirá-lo de jogo.

Depois de parar de bater na mão do seu irmão, Emílio e Valdo se deram por satisfeito com as duas cocós. Eles levaram-nas para o carro, onde Chico já esperava com as iguarias amilares². Mesmo estranhando a presença de Emílio, Chico deixou que ele entrasse no carro, e ele se sentou no banco de trás, com as galinhas.

*****

Durante a viagem, Jessie começa uma conversa com sua amiga, aquela galinha:

— cococó cocó cocó có (Galinha, eles vão matar a gente)

— cocó có có cococó

— cocó có cococó (Presta atenção, galinha, a gente tem que fazer algo)

— có? (Milho?)

— cocó cococó cocó có (Não, galinha... ó, vamos chegar lá de noite. Você apaga a luz quando eu bater as asas, certo? Vou tirar a gente de lá, vivas)

— Galinha, quê que tu tá fazeno? — disse Emílio, suspeitando aquele cacarejar todo.

Para disfarçar, Jessie começa a bicar o banco do carro e a ciscar. A outra galinha continuava a pensar em milho, mas percebera que Jessie poderia salvá-la.

*****

Já era tarde quando Chico e seus dois filhos chegaram na Av. Beira Mar, onde Cadinho morava. Eles entraram no prédio luxuosíssimo onde Cadinho morava e subiram para o apartamento dele³. Já à porta do apartamento, Chico chama por Cadinho, sem perceber a campainha, que abre a porta, surpreso por ver Emílio com as galinhas nas mãos:

— Vão entrando, meu povo, se chegue! — disse Cadinho, dando uma de bom anfitrião — Emílio, meu filho, bota essas duas galinhas nesse quarto. Ele tá vazio, mas tu fica pastorando pra que elas não caguem.

Emílio acatou a ordem do seu irmão e ficou lá dentro, esperando a hora que seu irmão apareceria para matar as galinhas. Jessie queria se aproximar da porta para ouvir o que Chico conversava com seus filhos, mas Emílio sempre a colocava de lado. Ela, então, conversou com sua colega galinácea, para acertar o plano de fuga das galinhas. "cococó có (Não se esquece, galinha: quando eu bater as asas você apaga a luz)", cacarejou Jessie para sua companheira, ciscando só para disfarçar.

Já era tarde, por volta de 20h, quando um dos gêmeos, com faca na mão, entrou no quarto. Ele disse para Emílio se virar de costas, para não ver a trágica cena da morte galinácea, sem suspeitar que seria uma morte hominídea.

Um bater de asas e as luzes se apagaram. Jessie sacou sua faca escondida e, num movimento só, pulou em cima do gêmeo, acertando-o em cheio com a faca na garganta; o pobre homem não emitiu sequer um ruído além do gorgolejar de sangue e caiu no chão enquanto Emílio, embasbacado e atordoado pela falta da luz, tateava as paredes em busca do interruptor, pedindo a ajuda de seu irmão, que não estava mais nesse mundo.

Jessie sabia como Emílio era lento e, de verdade, ela estava contando com isso para executar a parte final de seu assassinato: cortaria as pernas do maldito, assim como fizeram com as de seu amado. Ah, que pena não ser maior para fazer um ensopado com elas! Que pena ser apenas uma galinha com instintos assassinos e reflexos de águia! Mas, mesmo sendo só uma galinha ela chegara até ali e, ainda com as luzes apagadas e a voz rouca de Emilio chamando pelo irmão, Jessie saltou por sobre o cadáver, mirando nas pernas do morto e enfiou a faca com toda sua força galinácea. A faca entrou na carne como se fosse manteiga e Emílio e Jessie ouviram um “crec” quando a faca penetrou no osso e o estraçalhou⁴. Jessie estava pronta para repetir a operação na outra perna quando as luzes se acenderam e o embasbacado Emilio virou-se, encarando-a com seus olhos cheios de espanto, fúria e terror. Ele a pegou em pleno voo e a ave deliciou-se com a expressão e a dor que lhe contorceram a face quando ele viu a outra perna do irmão ser cortada fora; era uma expressão simplesmente deliciosa, melhor que milho.

— Cocó — ela murmurou, encarando-o e apontando a faca para ele.

— Sua..! Eu rô te pegá sua fia da ****, galinha assassina!

E, dizendo essas palavras, Emilio disparou numa busca desenfreada atrás da galinácea, que conseguia desviar dele facilmente, subindo nas coisas e derrubando-as no chão. Emílio, que tinha reflexos de gato morto, tropeçou no corpo e caiu numa poça de sangue, porém, num golpe de muita sorte, conseguiu tirar a faca de Jessie. A faca caiu no chão com um baque⁵; a lâmina ficou presa entre as tábuas de madeira fina, trazida da Europa e comprada com dinheiro público, e Emílio a pegou, olhando seu reflexo na lâmina ensanguentada... era chegada a hora de matar aquela assassina...

Chico ouviu aquela gritaria toda e, quando entrou no quarto, viu Emílio completamente ensanguentado, com a faca na mão, e as duas galinhas aparentemente apavoradas no canto da sala. Também viu o corpo do seu filho mais velho, já morto, com as pernas separadas do corpo. A única coisa que ele conseguiria fazer naquela hora era gritar, apenas gritar:

— CADINHO!!!!


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

1- Nomes de nordestinos, sabem como é... só ver Whindersson, Vaudiscleidison...
2- "Amilar" é o que é feito de milho. Psicocótica também é cultura! ;D
3- Foram barrados, obviamente. Preconceito é foda
4- Era uma Ginsu 2000, a super faca que corta até aço!
5- Sorte do chão não ter sido cortado... por era uma super Ginsu 2000 D:

E a segunda novidade? Um contador de mortes! Foram 6 até agora.

Continuem conosco, gente, e até a próxima semana!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Galinha Psicocótica" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.