Quinta-feira, 7h02.

Era isso que diziam meu calendário e relógio quando os chequei após ser acordada pelo despertador. Levantei, arrumei a cama e fui até o banheiro.

"Que horror, Luna Scott!".

E era esse o meu pensamento ao me olhar no espelho todas as manhãs no último mês. Não que eu seja feia, mas eu simplesmente não sei o que vem acontecendo comigo que sempre que acordo, aparentemente estou mais cansada do que quando vou dormir.

Me encarei no espelho, fiz careta, superei. Tudo ok.

Tomei um banho e assim que terminei, tinha um pestinha de 10 anos chutando a porta do meu quarto.

— Anda logo Luna, papai mandou avisar que o café tá pronto — disse Josh, meu "irmão" mais novo, por trás da porta.

Nós não somos exatamente irmãos, Josh é meu primo. Sua mãe, irmã do meu pai, morreu no parto, e desde então é meu pai quem cuida dele. Como ele está conosco desde o dia que nasceu, eu o considero meu irmão e meu pai o considera seu filho. Eu nem costumo falar isso para as pessoas, só quando perguntam se somos filhos da mesma mãe ou algo do gênero, aí eu sou obrigada a explicar. Apesar disso, Josh também não conheceu seu pai biológico, o homem nunca o procurou.

— Eu já vou, mas será que dá pra você parar de chutar a minha porta? — respondi.

Ele não respondeu, mas eu consegui ouvir sua risada travessa e em seguida o silêncio tomou conta do momento.

Cinco segundos. Seis, sete, oito.

Oito segundos de silêncio. Até ele começar a chutar com mais força do que na primeira vez.

— JOSHUA! — gritei, abrindo a porta, fazendo com que ele chutasse minha canela sem querer.

— Ih, sujou!

Ele saiu correndo e rindo como se alguém o tivesse dado corda. Eu sei que ele tem TDAH (transtorno do déficit de atenção com hiperatividade), assim como eu. Mas ninguém merece uma criança enérgica assim a essa hora da manhã! Pra minha sorte, meu pai pensa o mesmo que eu, e assim que Josh começa a soltar as asas... meu pai as corta. Não que ele seja aquele pai chato que não deixa o filho de 10 anos brincar pela casa, ele até deixa e ainda brinca junto. Mas meu pai sabe que minhas últimas manhãs não tem sido as melhores.

— Josh, para de pegar no pé da sua irmã — disse meu pai, segurando a risada — e senta na mesa pra tomar café.

— Pai, ficou roxo! — disse eu, sentando à mesa e encarando minha canela.

Meu pai me encarou, segurando mais ainda a risada. Ele se divertia com esses momentos meus e do Josh, dizia achar fofo. Fofo? O pirralho do meu irmão não-irmão de dez anos me deu um chute na canela e deixou roxo, onde isso é fofo?

— Não tem nada roxo aí, Lu. Agora come, preciso levá-los pra escola.

Minha escola não era longe, acho que uns 10 minutos da minha casa se for andando, no máximo 15. Mas meu pai faz questão de me levar de carro, já que a escola de Josh é mais longe e ele tem que levá-lo de qualquer jeito.

(...)

Manhã normal, aulas normais, pessoas normais, ou seja, escola normal. Nada ali nunca me impressionava muito, nem mesmo nos primeiros dias. Mas naquela manhã, fora diferente.

— Bom dia turma! — disse uma mulher bonita, bem vestida, morena de cabelos ondulados e aparentemente bem confiante de si.

Ok, quem é essa estranha entrando na minha sala de aula?

— Eu sou Alice, sua nova professora de filosofia. — completou ela, como se estivesse lendo meus pensamentos. — O professor de vocês tivera alguns problemas pessoais e pediu demissão.

— Você será fixa ou até encontrarem algum professor pra ficar no lugar dele? — perguntei, trazendo a atenção de todos os olhos da turma, pra mim.

— Até encontrarem outro professor, querida...?

— Luna. Luna Scott.

— Luna Scott, que belo nome.