Noite de Halloween escrita por LittleHobbit


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Esse é o último capítulo do meu desafio particular com a Secret!
Este último capítulo foi inspirado pela música Pumpkin Spice Dummy.
Link pra música: https://www.youtube.com/watch?v=G9JPFpM0yaQ
Espero que goste.



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Correr.

Apenas esse pensamento passava pela cabeça do garoto. Todo o resto estava borrado em sua mente confusa.

Lucas corria pelas ruas molhadas daquele lugar frio. Ele nunca fazia o mesmo caminho. Achava que se fosse para lugares diferentes tinha mais chance de encontrar o caminho de volta de toda aquela loucura.

Ele podia correr até uma das casas que cercavam a rua e pedir ajuda, mas Lucas havia aprendido na primeira vez que tentara fugir que aquele lugar era todo de mentira. Não havia ninguém nas casas escuras, assim como ele nunca havia encontrado alguém enquanto corria pelo asfalto molhado.

Era como uma cidade de maquete.

Virou uma esquina e começou a descer uma rua que nunca havia visto antes. Todas as ruas estavam iluminadas de laranja. Havia abóboras e monstros em todas as casas e Lucas sabia que mais um ano se passara.

Deslizou na calçada com os pés descalços e se escondeu atrás de uma cerca viva muito bem cuidada, ele só não sabia por quem.

Os fios já compridos de seu cabelo grudavam em sua testa e seu peito subia e descia com dificuldade em busca do ar frio que o cercava. Ficou o mais quieto que conseguia e escutou.

Sabia que ele estava o procurando. Como todos os anos.

Não sabia quantos anos havia passado. Quantas vezes tentara fugir e quantas vezes havia fracassado em voltar para casa. A única certeza que tinha era que ele estava o procurando.

Eles faziam aquela dança todos os anos, afinal. Lucas vivia como uma marionete na maior parte do ano, mas quando chegava o Halloween algo dentro dele acordava. E por uma noite ele realmente chegava a acreditar que poderia escapar, até que ele o encontrava e o levava pra casa para o deixar de “castigo”.

Lucas sentiu um arrepio.

–Achei você – uma voz doce sussurrou no pé do seu ouvido.

E mais uma vez Lucas sentiu toda a esperança se esvair de seu corpo gelado.

–Não desanime – o outro disse em tom animador. – Quem sabe ano que vem você não consiga?

O mais alto estendeu a mão pálida em sua direção e Lucas a segurou sem nenhuma insegurança, levantando-se.

Aqueles olhos falsos e escuros o fitaram com toda malicia que seu dono transportava em seu interior conturbado e podre. Seus lábios sorrindo de maneira doce, um sorriso que escondia dentes pontiagudos e uma língua ácida como cal.

Seu demônio aproximou-se de si e beijou seu rosto de maneira suave. Lucas correspondeu ao contado segurando nos tecidos que ele usava.

O loiro se lembrava de como lutava contra o contato com o outro no começo, nos primeiros anos, quando era forçado a coisas que nunca imaginara que tivesse que fazer daquela forma, ainda mais com alguém como a coisa que o beijava agora.

Primeiro ele lutava. Depois ele apenas ignorava enquanto deixava que o outro fizesse o que quisesse. E por último ele passou a corresponder aos toques.

Ele não deixou de sangrar em nenhum dos momentos.

Era como se ele sangrasse melado e o demônio fosse fascinado pelo seu gosto doce.

–Vamos pra casa – o demônio disse. – Hoje à noite teremos cheesecake de caramelo e amendoins para o jantar.

Lucas deixou-se levar pela mão por todos os caminhos que percorrera em desespero, mas agora ele só se sentia vazio e com frio.

Eles voltaram para o casarão onde tudo aquilo havia começado e ele quase podia ver seu irmão e a si mesmo entrando naquela casa sem saber o que aconteceria a seguir. Parecia que já havia se passado séculos desde aquela noite.

Comeu um pedaço doce demais da torta gelada enquanto sentia-se perder em si mesmo dentro daquela casa.

–Eu sei que tudo o que você quer é que eu o deixe descansar em paz – a voz melodiosa cortou o silêncio da sala. –, mas isso não é tão fácil quanto você pensa que seja.

Lucas levantou seu olhar do seu prato lambuzado e fitou os olhos escuros do outro lado da mesa.

–Apesar de todos os anos que passamos juntos você nunca deixou de acreditar que conseguiria voltar para o seu mundo – o outro continuou. – Acredite quando eu digo que acho divertido te ver tentar fugir de mim, mas acho que nós deveríamos parar com esse jogo e tentar continuar em frente.

–O que “seguir em frente” significa para um demônio? – Lucas questionou com a voz vazia.

O outro sorriu mostrando parte dos dentes pontudos.

–Você já percebeu, não? – continuou, ignorando a pergunta do loiro. – Já percebeu que não importa o quanto você me queira longe, nem o céu ou o inferno vai ficar entre nós, meu precioso Lucas.

–Eu sei disso.

Ele realmente sabia.

–Como eu poderia saber que eu amaria tanto alguém como você? – o outro continuou. – Um humano que nunca consegue abandonar uma esperança fútil.

Ele levantou-se de sua cadeira de maneira elegante e caminhou até Lucas, se ajoelhando ante a figura loira.

As mãos frias tocaram o rosto alheio o trazendo para um beijo sôfrego. Lucas sentiu a sua boca ser invadida pela língua ácida e sentiu a queimação costumeira que o ato lhe trazia. Beijá-lo o machucava, sua boca por vezes ficava em carne viva, mas o outro não se importava. Amá-lo o machucava, sua pele trazia as cicatrizes desse amor. Mas ele sabia que ele mesmo também o machucava.

Lucas já mordera, arranhara e batera no outro. Já o fizera sangrar tanto quanto ele sangrara em todos esses anos. Era uma via de mão dupla para ambos.

Era aquela dor que os unia e que atava um laço que nunca mais poderia ser desfeito. O loiro sabia disso.

Lucas não era mais tão diferente dele.

–Oh, minha doce criança – ele disse encostando a cabeça em seus joelhos. – Minha pobre e tola marionete, como posso amá-lo tanto?

Lucas entrelaçou os dedos nos cabelos escuros e encaracolados do outro, numa caricia gentil.

Não importava que o que sentia agora fosse resultado de uma doença. Não importava que o amor que sentia fosse devido à síndrome de Estocolmo ou a qualquer outra coisa. Era se adaptar ou desistir.

–Eu te amo também.

–Você vai continuar fugindo de mim, não vai?

Sim, ele iria. Sempre numa noite de Halloween.


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Notas finais do capítulo

Eu sinceramente adorei escrever essa história!
Não vejo a hora de inventarmos outro desafio!
Vou deixar o link da história da Secret: https://fanfiction.com.br/historia/659006/Marionete/
Obrigada por acompanhar! o/



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