Ele adorava o Halloween.

As cores, os doces, as festas e todas aquelas pessoas fingindo ser o que não eram.

Ele realmente amava o Halloween.

Mas mesmo que a data fosse a sua favorita, ele estava cansado de ficar sentado enquanto observava todos aqueles humanos marchando pela rua fria como simples manequins.

Ele também queria brincar, afinal.

Por séculos ele observou pessoas se lambuzando com crepes de banana com chocolate e tortas de abóboras. Se empanturrando com doces diferentes, como se aquilo fosse preencher o vazio que carregavam em suas almas simplórias.

Humanos pareciam porcos, pensou com um sorriso zombeteiro.

Olhou-se no espelho ao lado e sorriu com os lábios rosados pra a ideia que começava a se formar em sua mente.

Ele parecia um jovem humano normal com aquela pele falsa. Afinal, o Halloween serve para nos fantasiarmos de monstros, não é?

Seus olhos eram escuros, assim como os cabelos cacheados que desciam quase até seus ombros. Quem disse que demônios são assustadores?

Pegou uma sacola frouxa onde colocaria todos os doces que conseguisse roubar de crianças e começou a pensar no que poderia fazer no mundo dos humanos que espantasse todo o tédio que sentia.

Ele queria que aquele fosse o melhor Halloween que já tivera.

Em contra ponto, Lucas se arrumava em seu quarto claro.

Arrumou o chapéu bege em sua cabeça, sobre os cabelos claros, e pegou o chicote no criado-mudo, olhando como ficava o traje completo.

Ele se achava muito velho para pedir “doces ou travessuras” pela rua, mas não era sempre que arrumava uma desculpa pra sair por aí vestido de Indiana Jones. E não era como se tivesse alguma alternativa, já que tinha que levar o irmão mais novo pelo quarteirão.

-Nicolas! – chamou impaciente. – Vou ir sem você!

Contou os três segundos costumeiros antes da figura baixinha aparecer no topo da escada da sala.

O irmão estava vestido de Merida, os cachos vermelhos lhe escondendo o rosto redondo.

-Estou aqui! – disse ofegante.

-Sabe que os meninos da rua vão mexer com você, não sabe?

-Não me importo – disse simples.

Lucas deu de ombros, mas sentiu o lábio se curvar involuntariamente. Sabia que o seu irmão não ligava quando falavam mal dele.

-Então vamos – disse. – Ou não vão sobrar doces pra nós.

Ele e o irmão saíram de casa para o que deveria ser mais uma noite de Halloween.