Ponto de Vista de Luke

Cinco meses se passaram. Enquanto fiquei aqui na casa de Silena, que ia por ordem minha ao Acampamento de tempos em tempos, apenas para não fazerem perguntas. Chris estava por lá também, nos encontramos uma vez, quando mostrei-a ele o caixão dourado. Ele foi o único que viu. Silena não teve essa honra ainda, não achei que fosse saudável a ela por enquanto, mas logo, como todos os outros, ela vai poder ver. Contatei todos aqueles que me apoiavam e convenci outros a se juntarem também. Não só semideuses, como alguns monstros livres que vagavam escondidos pelo mundo mortal. Com a promessa de mais ação daqui para frente.

Armas de todos os tipos vieram parar em minhas mãos, algumas furtadas do Acampamento, outras feitas por dois filhos de Hefesto aliados. Uma variedade de objetos mágicos. Venenos. E o meu preferido: O Touro de Colchis. Um exército armado, não o suficiente para acabar com o Acampamento, mas para ajudar nosso senhor Cronos em sua destruição em massa, quando ele voltasse. Porque ele voltaria.

O caixão dele ainda estava dentro da van, que estava segura em outro lugar. Um armazém perto de um cais em Claiborne, Maryland. Onde eu pretendia conseguir transporte para viajar por água. Um iate cairia bem.

Um dos irmãos de Silena, outro filho de Afrodite, vinha de uma família com capital o suficiente para conseguir um, sob medidas apropriadas para transportar Cronos, e até mandei que colocassem algumas celas, apenas por precaução. O iate chegaria na costa em seis dias.

Apenas faltava agora um... Velocino. Que fosse feito de Ouro de preferência. Mágico. E que tivesse a capacidade de trazer de volta o retalho de um Titã a sua forma original e poderosa. Mas o bendito ficava em algum lugar do Mar de Monstros, atual triângulo das bermudas, em algum lugar perto da Flórida.

O que eu poderia fazer para rastreá-lo?

Já havia mandado vasculharem por perto o lugar atrás de alguma pista.

Mas não havia nada. Pelo menos nada visível. Mas o mundo mitológico era extenso, então até a melhor das buscas é subestimada.

Passei quatro dias estudando sobre o Velocino de Ouro. Não conseguia encontrar muitas referências sobre ele no DemiGoogle, nem nos livros tirados de Mitologia que tínhamos, eles só contavam a história do Velocino, as pessoas que procuravam por ele, mortas no processo. A única coisa que já havia descoberto até agora, foi a mínima precisão de sua localização. Ele estava muito provavelmente em posse de Polifemo, o ciclope cegado por Ulisses. Os ciclopes antigos viviam em cavernas, e se alimentavam de semideuses.

Um arrepio percorreu minha espinha. Ciclopes. Eu os odiava. Eles tiraram Thalia de mim. Não teria piedade de ninguém, menos ainda de um ciclope. Voltei o foco para a pesquisa. A caverna de Polifemo estaria em algum lugar do mar de monstros. Mas como achá-la? Essa era a questão.

Continuei por mais dois dias a busca pela resposta. Até que ela veio para mim como um soco.

Sátiros.

Sátiros rastreavam praticamente tudo. Afinal de contas, é assim que encontram semideuses para levar para o Acampamento.

Meu problema é: tenho várias criaturas ao meu lado, mas eu não tenho um sátiro. Não um maldito sátiro. O que não é uma coisa estranha, pois os sátiros são muito leais ao Acampamento. Conseguir que um deles se junte a Cronos é mais impossível que encontrar o Velocino sem a ajuda deles. Mas eu teria que resolver esse problema rápido, e do jeito que fosse preciso.

Agora tenho que checar o transporte do caixão dourado de meu senhor até o iate que havia mencionado. Ficaríamos navegando até termos tudo o que precisamos, e trazer Cronos de volta.

Enquanto andava de um lado para o outro nos meus aposentos, fiquei pensando em alguém que eu não pensava há tempos.

Como estaria May Castellan? E se ela me visse agora o que ela sentiria? Orgulho ou repulsa?

Ela sentiu a ausência de... Hermes bem mais do que eu senti na infância.

E isso me fez lembrar da conversa que tive com Annabeth quando discutíamos sobre os deuses.

Flashback On – 3 anos atrás – Acampamento Meio-Sangue

— Por que você acha que precisa provar alguma coisa para ela Annabeth? – perguntei a ela, que me observava com atenção – Você é filha dela e isso não vai mudar nem que você queira muito.

— Mas eu não quero – disse ela.

— Então tudo resolvido – sorri para ela – olha, o que estraga você é esse orgulho que têm em ser a filha quase perfeita de Atena.

— Quase? – ela ergueu uma sobrancelha para mim. Eu ri

— Só o que estou tentando dizer, é que sua mãe tem que ter orgulho de você pelo que você é, e não pelas suas conquistas em nome dela. Se ela conhecesse você, com ou sem armadura, Annabeth, saberia que você não precisa provar nada a ela. Ela deveria ser a sua mãe – ela apenas me encarou – você à ama? – perguntei por fim. Ela abaixou a cabeça.

— Eu não sei o que sentir sobre ela. Ela é minha mãe. Mas eu não a conheço. Nem sei como é o rosto dela. Eu não sei, Luke. E você? Ama seu pai?

— Não – respondi simplesmente. Ela me olhou, provavelmente assustada pelo quão rápido eu respondi, e é claro pela resposta – Não deveria ser uma surpresa, o que ele já fez por mim? Nada. Qualquer semideus que ama sua família é uma piada. Que família? Pais ausentes?

Annabeth me encarou preocupada. Ela deveria saber que assuntos familiares não eram algo que eu tratava com calma.

— Luke, você alguma vez já ouviu a voz de Hermes na sua mente? – perguntou Annabeth.

— Não – menti. Ela abaixou os olhos para o chão como se estivesse se sentindo mal por mim – Ei, não tenha pena. É ridículo. Espero que pelo menos os conselhos que sua mãe lhe dá ajudam mesmo.

Flashback Off

Naquele dia menti para Annabeth sobre meu pai já ter se comunicado comigo, até porque eu o ignorava sempre que ele tentava. Não precisava ouvir o besteirol que ele falava sobre querer ter sido o pai que eu precisava. Ele já é o pai que eu preciso. Ausente.

Para ter poder você precisa abrir mão da família. Apenas te atrasa.