Ponto de Vista de Annabeth

Já fazia seis anos, e lembrar dela ainda me deixava vulnerável. Thalia foi provavelmente a pessoa que mais fez algo por mim. Nem minha mãe ou até meu pai poderiam competir com a menina que se sacrificou.

Hoje li um livro debaixo da árvore de Thalia. Eu sinto tantas saudades dela.

Eu não costumo falar muito sobre ela com alguém, a única exceção era... Luke. Mas ele foi embora e apenas sobrou a mim, Grover e as memórias da filha de Zeus.

Agora tudo o que eu faço em relação a ela é ficar sentada perto de seu tronco, refletindo como seria se eu tivesse sido mais corajosa, mais forte e a tivesse salvado. Talvez eu estivesse morta no lugar dela. Mas não poderia saber, apenas lembrar de quem ela foi um dia.

A melhor memória dela.

Flashback On – 6 anos atrás

Eu estava fugindo. Fugindo de meu pai. Mas “abandonando” era a palavra mais exata, eu o amava, ele era a minha família, só que o perigo que eu o infligia apenas de estar presente na vida dele não valia a pena correr. A três dias eu ouvi pela primeira vez a voz da deusa Atena, minha mãe, e ela disse-me para seguir caminho até Nova York, Long Island onde encontraria meu lugar por direito. Eu nunca tinha a ouvido antes, claro que eu já sabia que era uma semideusa e que era a filha da deusa da sabedoria, meu pai fazia questão de dizer o quão impressionante era Atena e que herdei dela os meus olhos azuis brilhantes, assim como a aparência e personalidade, mas ouvir a voz da mãe que eu nunca conheci foi tão reconfortante, que não passei nenhum segundo pensando que estava louca.

Deixei um bilhete ao meu pai explicando tudo. Sentiria falta, mas isso também era para a proteção dele. Saí de casa depois de recolher tudo o que precisava.

Fiz meu caminho até o estado de Nova York, seria longo considerando que estava saindo da Virgínia. A única vez que desviei do percurso foi por ordem de minha mãe.

“Annabeth, você precisa ir até Dayton, Ohio. Na avenida que carrega o meu nome. Você encontrará o que precisa para sua viagem.”

Então encontrei ela. E ele também. Thalia com seu cabelo preto, liso e curto até os ombros, olhos azuis claros, jaqueta e calça preta e coturnos de couro. Luke com seu cabelo loiro cortado curto, olhos azuis, jaqueta azul e calça jeans. Filha de Zeus e Filho de Hermes, ambos com 11 anos assim como eu. Ela fugindo da mãe que não suportava. Ele fugindo também da mãe que só fazia reclamar do pai dele. Contei a eles para onde estava indo, e com certa relutância, aceitaram me acompanhar e logo uma amizade se iniciou.

No caminho que traçávamos encontramos várias situações de risco, como os monstros que nos rastreavam. E em todas as ocasiões eu contei com a ajuda dos meus novos amigos. Bem, na verdade eles contaram com a minha ajuda. Percebi que lutar pela sobrevivência não era novidade para eles. Principalmente para Thalia, que era excepcional combatente, e sempre dizia na hora da luta que não deixaria ninguém machucar seus amigos. E logo atrás vinha Luke que era tão veloz e hábil que os monstros não conseguiam acompanha-lo.

Já estávamos perto de Nova York quando um garoto nos encontrou, ele tinha a pele negra bem como o cabelo, olhos castanhos escuros. Ele se apoiava em um par de muletas. Achei que era só mais um mortal comum, mas quando ele se dirigiu a Thalia e disse: “Estava a sua procura”. Entramos em alerta, não aparentava, mas ele poderia ser um monstro, e o fato de estar a procura de um de nós não ajudava.

O garoto se apresentou como Grover, depois se revelou como um sátiro a mando do Acampamento Meio-Sangue. O meio bode nos guiou pelo resto do caminho depois de contar sobre sua missão de resgatar Thalia, que estava em extremo perigo por ser filha de Zeus, e que monstros viriam a sua procura a qualquer momento, muitos monstros. Nos apressamos o máximo que podíamos.

Todos já ouviam as criaturas se aproximando, ao longe três silhuetas grandes vinham derrubando árvores. Grover nos informava a cada 10 segundos que estávamos perto da entrada do Acampamento. Estávamos perto, íamos conseguir. Tínhamos que conseguir.

A pior memória dela.

Tudo deu errado no que se seguiu. Faltando 500 metros para o portal do Acampamento, a silhueta enorme que nos perseguia arremessou umas das árvores que por pouco acertou Luke. Grover não teve a mesma sorte, ficou com as pernas presas embaixo da árvore.

“Grover! Luke ajuda ele!”. Agora Grover estava em apuros.

“Grover, você está bem?” Luke tentou tira-lo de lá.

“Minha perna, está presa!”. Isso nos atrasaria.

Rugidos ao longe.

“Vem, eu te ajudo” Mas Luke assim como eu não o deixaria para trás. Thalia observava os monstros ao longe.

“Continuem, eu vou atrasá-los”. Ela não conseguiria. Ela sabia disso.

“Não, não Thalia, vão matar você!”. Eu sabia disso. Eu sentia.

Eles estavam se aproximando, tinham mais de 3 metros de altura, mas eu não conseguia ver nada mais.

“Vai Luke, eu já alcanço vocês”. Isso não ia acontecer.

“Eu estou aqui”. Eu precisava ajuda-la de todo jeito, mantê-la à salvo como ela me mantinha, minha melhor amiga não podia morrer, não por mim e nem por ninguém, se acontecesse, essa ausência teria um peso muito grande na minha vida.

“Annabeth, vem!”. Mas Luke e Grover precisavam de mim. Ou morreríamos todos.

“Thalia vem logo!”. Ela não viria.

Então...

“NÃO, Thalia!!”. Minha melhor amiga se foi.

Morta por um ciclope, transformada em árvore por Zeus.

Flashback Off

Depois do que aconteceu seguimos ao Acampamento, encontramos o centauro Quiron, ele nos acolheu, mostrou o lugar pra mim e Luke.

Com o tempo passando, eu me tornei uma guerreira, a filha de Atena. Mas sempre me perguntei como seria se Thalia ainda estivesse viva, seriamos como irmãs, treinaríamos todos os dias. E eu não precisaria ver o vazio no olhar de Luke toda vez que eu mencionava a filha de Zeus em uma conversa. E ele a amava como eu, de uma forma diferente, é claro, uma forma que eu não entendia até recentemente, mas depois de, bem, conhecer uma certa pessoa eu entendi.

Mas eu nunca vou esquecer Thalia. Nunca.