Dizer que foi fácil dormir depois de hoje é mentira minha. Esse tal casamento não sai da minha cabeça, e sempre que conseguia dormir, eu sonhava com o casamento. Roger dormiu abraçado comigo, o que me deixou menos inquieta.

Porque isso agora?

Várias cenas de ele se casando, e seus pais me apontando me passam pela cabeça sem me deixar em paz. Porque existe este contrato? Eu acho que isso esta me incomodando mais. Será que é por divida? Ou algo mais sério e arcaico?

Quando Roger começou a falar comigo, eu fiquei com medo de ele me apaixonar e depois ele ir embora. Entretanto, á questão é que, ele não quer ir embora, ele tem que ir embora. E eu não sei o que fazer. Luce e os outros vão falar para que eu não desista. Mas e se o melhor á fazer for desistir?

Eu queria tanto que minha mãe viesse falar comigo agora, ela saberia o que fazer e eu realmente não sei. Acho que nunca fiquei tão dividida entre coração e cabeça, e isso é horrível, muito horrível. E o pior é, se eu seguir um dos dois e me arrepender mais tarde. Na verdade eu estou com medo de desistir e me arrepender por saber que eu poderia ser muito feliz e não corri atrás. Ô duvida.

— você quer conversar? – Luce me pergunta meio rouca pelo sono

— se isso me fazer melhorar, eu aceito – respondo baixo para não acordar os rapazes

Sempre que eu e Luce queremos conversar, vamos para a ala restrita do prédio da administração, onde quase ninguém vai por conta da grande umidade no ar. É uma sala pequena, mas lá não á riscos de alguém ouvir o que falamos ou colocar câmera escondida. Assim que chegamos tossimos freneticamente até nos acostumar, eu já tinha me esquecido de como é aqui.

— eu sei o que esta pensando – Luce diz se sentando em uma das cadeiras – e eu não sei o que dizer, mas estou aqui para te ouvir

— eu pensei em desistir, talvez isso fosse melhor para nós dois. Assim não sairíamos frustrados e nem machucados da história. Só que eu não quero desistir e ele também não, isso é bom. Muito bom. E sei que podemos ser muito felizes. Só que e se os pais dele não aceitarem. Não sei o que eles são capazes de fazer – digo tentando engolir o nó na minha garganta e reprimir minhas lágrimas

— você esta tendo uma reação melhor do que eu imaginei que teria – Luce diz me abraçando forte – você é uma mulher forte, já passou por coisa pior. Eu sei que vai conseguir superar isto, qualquer que seja sua escolha. E eu vou estar aqui para te apoiar, não importa sua decisão

— obrigada – finalmente começo á chorar em seu colo e isso me alivia de uma forma surreal. Agradeço muito por ter essa louca como amiga e não sei o que faria sem ela.

— Roger quer te apresentar para os pais dele, vamos tentar isto então – Luce passa a mão no meu rosto enxugando as lágrimas – se não der certo, tentaremos outra abordagem e então veremos o que fazemos

— esta bem – consegui dar um sorriso fraco

— você gravou a Sarah? – Luce pergunta de repente – eu amei a cara que ela fez quando te viu

— só você? Eu quis dar gargalhada na cara dela – digo rindo – ela bem mereceu

— ela vai ficar mais na sua sombra agora – Luce fala revirando os olhos

— eu acho que ela e Simas sabem quem é a noiva do Roger – digo suspirando – ela vai tentar me atingir com isso

— só cabe a você deixar ela te atingir ou não – Luce me olha séria – vamos antes que deem por nossa falta ou alguma louca ou outro louco tente atacar você

— ou antes que os meninos surtem – brinco e ela sorri

Voltamos para o quarto, ás 6:30 a universidade ainda esta acordando, as meninas da nossa irmandade ainda estão dormindo. Dondocas. Nos trocamos no banheiro e assim que terminamos e vamos para o quarto, escutamos os xingamentos pelo lado de fora

— abre essa porta agora, eu exijo – grita uma garota e pela voz é Sarah

— quem é você para exigir algo? – Roger pergunta com os olhos vermelhos de raiva

— abre logo – grita ela de vez – sua noiva não vai gostar de saber que esta dormindo no quarto de outra

— você pediu – antes que eu pudesse ver direito, Luce já tinha aberto nossa porta e esta apertando suas mãos no pescoço de Sarah á deixando roxa. Ela bate com força a cabeça dela contra á parece, fazendo a outra perder a consciência.

— Luce para – grito vendo que ela esta começando á ir longe demais – John faz alguma coisa

— isso é por humilhar ela – Luce bate a cabeça dela mais uma vez – fazê-la sofrer – bate de novo – e isso por se achar melhor do que os outros – Luce dá um soco no rosto dela, quase fazendo-a quebrar o pescoço e então John finalmente tira Luce de perto da Sarah que cai desmaiada

— você esta bem? – Roger aninha em seus braços

— vou ficar, e você? – pergunto olhando para ele

— vou ficar – repete ele – vou ligar para meus pais hoje. Vou marcar um jantar e apresentar você á eles

— sim, eu vou buscar meu carro de tarde – avisei

Os seguranças me escoltam até minha sala. Eu estou louca para as aulas acabarem de vez, isso já deu tudo que tinha que dar. Mas gostei da reação das pessoas. Luce levou uma advertência por ter agredido Sarah.

Mas a questão é.... quem é essa tal noiva do Roger, Sarah não pode ser, mas ela conhece a mulher. Será que ela é daqui? Da universidade? Porque ela não faz nada?

Minhas professoras só passam revisão para nós, nossa matéria já esta concluída. E meu TCC já foi entregue á meses. Alguns alunos da minha turma estão dormindo e outros conversando. E eu com meu livro Halo de Alexandra Adornetto, como sempre é uma trilogia de romance que envolve anjos. Só que desta vez o anjo é a garota. Só uma bela história para me distrair e dar coragem agora. Obrigado livros por existirem.

Estou na parte da história onde Beth mostra para Xavier que ela é um anjo, ela desobedeceu mesmo seu irmão? Ual. Gostei dela.

A tarde se passa e faltam menos de 100 paginas para que eu termine o livro, pego um ônibus até o orfanato. Estou ansiosa em ver meu irmão que não me aguento, minhas mãos suam tanto que tenho que limpar elas toda hora. Faz tempo que não o vejo, nem minha mãe Dorotea. E sei que vou levar uma bela bronca quando chegar lá.

Desço em um ponto que fica á dois quarteirões do orfanato lost angels. Á rua Small Spring, fica duas ruas á baixo da feira da cidade de Portland. Ela é uma rua de uma mão só e há vários casebres ao seu redor. O orfanato cresceu conforme os anos, antes ele tinha um andar e uma pequena cozinha. Hoje ele tem três grandes andares, o primeiro é onde fica a cozinha industrial para suportar tantos órfãos, o escritório e a sala de jogos e televisão, o segundo fica os quartos das crianças e o terceiro os dos adolescentes. Ele tem a cor verde água por fora e todo decorado em varias cores por dentro. Além de cuidar do orfanato e receber doações, minha mãe e os adolescentes trabalham juntos para manter a instituição de pé.

Chego cada vez mais perto da entrada e vejo minha linda Hilux preta parada. Que saudade eu estava deste lugar.  Escuto uma discussão dentro da casa, de uma garota e a outra parece ser de um garoto.

— você é irritante, e se acha – escuto o garoto falar, e essa voz é familiar

— eu não me acho, me garanto. Você não é obrigado a ficar aqui, sua irmã não tem casa e carro? Vai com ela então – a garota fala

— eu não sei porque você é assim – o garoto bufa – eu gostava de você

— você o que? – a voz da garota parece assustada

Como eu não sou nem um pouco curiosa eu me aproximo mais para poder ver quem esta discutindo e me apoio em um balde para poder olhar sobre o muro de tijolos. Isso me parece briga de pessoas que se gostam e não quer assumir. Ô fase gostosa.

— isso mesmo que você ouviu, se não me quer mais aqui.... então eu evitarei encontrar com você – Misha fala, eu sabia que era meu irmão

— não, eu não quis dizer isso... eu – ela tenta se explicar mas eu caio do balde fazendo um barulho enorme. Segundos depois Misha está ao meu lado me ajudando á levantar. Eu e minhas entradas fantásticas!

— você esta bem? – Misha pergunta preocupado.

— estou – respondo não me aguentando de tanto rir – desculpa atrapalhar

— você estava ouvindo? – Misha tenta me olhar bravo, mas ri – Mica isso é feio.

— curiosidade gritou mais auto – olho para ele ainda rindo – que saudade deste tampinha

— ei, eu estou quase da sua altura – Misha sorri e me abraça forte, e lógico que eu retribui – você conseguiu mesmo quebrar o que fizeram com você?

— consegui sim – sorri mais ainda – quero me que conte tudo

— vem, mamãe esta esperando você – Misha me puxa pela mão para dentro da casa.

Tirando alguns móveis e novos brinquedos ela continua a mesma de quando eu fui para a universidade. E o mesmo cheirinho de comida gostosa pela casa.

— alguém pelo amor de deus sabe onde esta a chave daquela dispensa? – escuto minha mãe perguntar. Que saudade de esconder a chave e ver ela doida assim. Sim eu era terrível quando mais nova, até aceitar que aqui seria meu novo lar.

— juro que desta vez não fui eu – digo na porta da cozinha sorrindo

— não acredito, que saudade sua levada – Dorotea atravessa a cozinha em quatro passos e me abraça apertado, muito apertado. Abraço de mãe não é igual ao de ninguém, não que o dela substitua o da minha, mas é tão acolhedor quanto. – oh minha filha, como você esta?

— precisando da minha mãe – respondo também a abraçando

— me espera no escritório,vou levar aquele bolo que você ama e um chá gelado esta bem? – ela sorri alisando meus cabelos

— sim mãe – sorrio de volta e sigo para o escritório – quem é a garota? – pergunto pegando Misha de surpresa

— Meggy – Misha revira os olhos

— é ela? – ele engasga com a minha pergunta, é.. eu sei que sim e não adianta mentir

— você chega hoje e já sabe de tudo? Acho que é uma bruxa mesmo – brinca ele

— eu já tive sua idade – faço cócegas á ele – e sou psicóloga sei entender vocês só com o olhar

— ó céus estou ferrado – Misha olha dramaticamente para cima

— estão brigando á muito tempo? – ele me olha com uma careta me fazendo dar gargalhada, chegamos ao escritório e sentamos lado á lado

— porque vocês garotas são tão cabeça dura? – Misha pergunta quase arrancando os cabelos com a mão

— olha quem fala – respondo rindo – vai por mim depois piora

— o que? – ele arregala os olhos e eu rio ainda mais

— TPM – respondo simplesmente – com o tempo você aprende a nos entender e aturar. Mas Misha me prometa uma coisa

— o que? – Misha me olha coma tenção

— que você nunca vai enganar ou usar uma garota, não importa quem ela seja ou o que tenha feito – peço séria – me prometa

— esta bem – Misha responde dando de ombros – mas porque?

— porque isso não é certo. Vamos fazer assim, nunca faça com uma garota o que você não quer que façam comigo – peço ainda séria

— tudo bem – agora ele responde sério – quem é Roger?

— é complicado te explicar isso. Mas prometo que assim que der eu falo – suspiro, não quero falar que é meu namorado e depois algo der errado e Misha vir me perguntar dele

— esta tudo bem? – Misha passa a mão em meu rosto – te conheço mocinha

— esta sim – sorrio

— pode nos deixar á sós? – pede Dorotea

— daqui a pouco eu volto – Misha me dá um beijo na bochecha e sai

— é o rapaz? – ela coloca a bandeja com um bolo de chocolate com cobertura cremosa e meu chá gelado em cima da mesa

— sim – sento mais relaxada na cadeira, como eu sempre fazia

— ele lhe magoou? O que aconteceu? – ela se senta onde Misha estava

— descobrimos que ele é noivo – suspiro e tento segurar as lágrimas

— noivo? Ele não lhe contou? – o olhar dela é de preocupação e ira

— não mãe, eu e ELE descobrimos que ele é noivo – apoio a cabeça nas mãos – descobrimos assim que voltamos para a universidade. Ele quer marcar um jantar para me apresentar á seus pais e vê se eles mudam de ideia. Mas tenho medo.

— o que você acha disso tudo? – ela deita minha cabeça em seu colo fazendo carinho na minha cabeça

— um lado diz para que eu lute e que eu posso ser feliz. O outro que eu devia desistir pois assim nenhum dos dois sairá ferido na história – começo a sentir o nó se formando em minha garganta

— e você não sabe o que fazer – ela responde por mim e começo a chorar convulsivamente em seu colo. Ela não diz nada, apenas me deixa chorar e fico assim por minutos. Quando consigo me acalmar ela diz – siga o que você achar melhor, mas espere até o jantar para tomar uma decisão esta bem?

— sim – respondo em um soluço

— essa é minha garota – ela me levanta – não deixe isso te derrubar

— não – respiro fundo – como vai Misha sem mim?

— ele é um ótimo aluno e muito responsável. O problema que estou tendo é entre ele e Meggy – ela ri consigo mesma – fora isso tudo bem

— me fale sobre essa Meggy – poço sorrindo

— ela é boa moça, estudiosa, responsável, personalidade forte e não leva desaforo para casa. O que me lembra muito alguém – ela fala me olhando engraçado o que me faz rir

— eu era assim – digo rindo – eles são crianças ainda neste assunto. Logo, logo se resolvem

— pré-adolescencia – Dorotea sorri – ele tira notas altas e entrou para o time de basquete na escola

— isso é bom – sorri

Misha volta para dentro da sala e continuamos a conversar, ele me fala mais sobre o time onde entrou e de como esta a escola. Ele disse que já recebe varias cartinhas de garotas, o que deixa Meggy brava. Eu falo um pouco sobre a universidade e conto como foi que quebrei a maldição. Claro que não poderia esquecer disso não é? E como eu tinha falado antes, ele ficou com ciúmes em saber que Roger teve o tempo todo comigo e me ajudando. O detalhe da nossa briga e sobre eu ter perdido a virgindade não esta na hora de ser contado. Porém não posso esconder para sempre não é?

Quando deu 18 horas eu me despeço deles e vou até a garagem pegar meu carro. Quando eu chego na universidade, como sempre esta aquele alvoroço e parece que esta tendo mais uma briga. Deixo o carro no estacionamento e sigo até onde estão todo mundo, encontro Luce gritando desesperada assim como Roberta.

— o que esta acontecendo? – olho para ela, mas ela somente aponta.

Roger e John estão espancando Simas que está jogado e ensanguentado no chão. Quase sem consciência – Roger já chega – tento puxa-lo

— me solta Micaela – ele grita raivoso se esquivando de mim

— Roger – digo firme e ele fixa seu olhar furioso sobre mim, seus olhos estão escuros e eu nunca os vi assim

— não – ele diz em tom frio e antes que voltasse a bater em Simas eu lhe beijo o prendendo em mim. Foi á única coisa que passou em minha cabeça para fazê-lo parar, e deu certo ele corresponde e sai de cima do coitado esfolado no chão. O mundo a nossa volta parou e a única coisa que sei é que todos estão nos vendo neste exato momento.

— desculpe – digo me afastando, olho em volta e Roberta esta com mais dois garotos levando Simas para longe, Luce esta desmaiada, ou pelo menos fingindo já que John esta desesperado tentando acorda-la

— desculpe pelo o que? – volto a olhar nos olhos dele, Roger voltou a ter olhos azuis claros e a fúria foi embora

— ter te beijado na frente de todo mundo – baixo a cabeça

— sem problemas – ele fala e me beija novamente. Agora um beijo mais apaixonado – vamos entrar

Assim que Luce “acorda”, John á leva até o quarto também. A confusão já passou e tudo aparentemente esta ao normal. Os rapazes ainda estão agitados, e sei que coisa grave é. Roger se voltar contra o melhor amigo?

— o que aconteceu? – eu pergunto massageando as costas dele

— eu liguei para meus pais, eles aceitaram o jantar – Roger diz com a voz séria – porém Simas ligou falando que você é uma bruxa e que usou isso para me conquistar

— seus... pais acreditaram? – pergunto tremendo

— eles querem te ver pessoalmente – Roger suaviza seu tom de voz – eu não sei o que esperar agora

— tudo bem – respondo em um sussurro – quando será o jantar?

— amanhã – ele responde e me abraça forte