Marionete. escrita por Secret


Capítulo 2
Caminho das abóboras.


Notas iniciais do capítulo

O link da música:

https://www.youtube.com/watch?v=0pkkiez_4Qg

A tradução literal de "Pumpkin March" seria "Marcha das abóboras". Mas eu, realmente, não consegui adaptar o "march" como verbo de modo que fizesse sentido; então o substitui pelo substantivo "caminho". Acho que ficou bom.

Espero que gostem. Demorei um pouco mais, mas dei meu melhor!



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— Tem certeza de que estamos no caminho certo? — Ezekiel perguntou temeroso. Ele e Oliver haviam adentrado uma parte mais fechada do bosque e agora seguiam uma trilha estreita. Mas o que mais incomodava o garoto era a densa neblina que se espalhava.

— Eu conheço bem o caminho. — Oliver sorriu, divertindo-se com o receio do outro. — Não se preocupe, eu tenho certeza que você vai ficar bem!

— Por quê?

— Bem, porque você é o mais assustador da sua espécie. Eu diria até que é a coisa mais assustadora aqui. — Ele explicou em tom de brincadeira. — Ao menos por enquanto. — Sussurrou a última parte.

— Disse algo? — Ezekiel questionou.

— Ah? Não, nada importante. — Desconversou e lhe estendeu a mão. — Aqui, pegue minha mão para não correr o risco de se perder. É fácil esquecer ou confundir o caminho aqui.

Antes que o garoto tivesse tempo de processar o pedido, Oliver já havia agarrado sua mão e acelerava o passo.

— Temos que ir depressa, ou então nós estaremos atrasados! — Ele explicou enquanto o puxava.

— Nos atrasar para quê? Onde estamos indo exatamente?

— Achei que já tinha dito isso, uma festa para celebrar esse dia especial! — Ele sorriu, omitindo onde, de fato, seria essa festa. Antes que Ezekiel tivesse tempo para retrucar, continuou. — Já estamos chegando, é melhor falar menos e correr mais. Não quer nos fazer esperar, quer?

O loiro aumentou ainda mais o ritmo, impedindo que o outro tivesse tempo para responder. Ele só desacelerou quando a neblina densa desapareceu e a trilha se tornou um campo aberto. O motivo da corrida não era calar Zek, apesar disso ter sido muito útil, Oliver queria ter certeza que chegaria antes de seus colegas. E estava perto da meia noite, eles provavelmente não demorariam a vir também.

Logo risadas fantasmagóricas distantes e sussurros indefinidos foram ouvidos, algo bastante comum para Oliver, basicamente o som de seu lar. Mas, ao sentir a mão de Ezekiel tremendo, ele lembrou que isso não era assim tão comum para os humanos. O garoto estava arrepiado e tremendo levemente, mas ainda tentava parecer no controle com um sorriso forçado.

— Vamos? — Oliver sorriu e apontou para uma casa grande não muito distante de onde estavam. — A não ser que queira um tempo para descansar e se acalmar. — Emendou.

— Eu estou calmo! — Ele retrucou um pouco irritado. — Não sou medroso!

— Ótimo. — Ele sorriu amplamente e começou a andar em direção a casa. — Mas você vai acabar se arrependendo de recusar esse tempo. E eu não disse que você era medroso. — Comentou. — Agora vamos. A festa será naquela casa. — Apontou para uma grande construção não muito longe de onde estavam.

— Onde estamos? Nunca vim nessa parte da cidade antes. — Ezekiel perguntou, mas decidiu apenas seguir Oliver e tentar de novo depois, pois foi completamente ignorado. O caminho até a festa era rodeado por abóboras de Dia das Bruxas, que contavam com feições assustadoras esculpidas. Por mais que o humano negasse, aquilo lhe dava arrepios!

Após alguns minutos caminhando em silêncio, eles chegaram, enfim, à mansão. Por mais que Oliver tenha chamando de “casa”, a extensão considerável e decoração trabalhada eram impressionantes. Ezekiel imaginava que teria uns dois andares no mínimo. Entretanto, ele não teve muito tempo para admirar. Logo Oliver o puxou para uma grande sala que contava com uma mesa enorme, digna de um banquete.

— Sente-se, Ezekiel. Vamos comer. — O loiro sorriu e puxou uma cadeira. O outro assentiu debilmente e obedeceu, ainda tentando processar o rumo que as coisas tomavam. Aquilo não deveria ser uma festa? E desde quando havia uma mansão na cidade?

— Acho que seria educado tirar isso quando sentado à mesa. — Oliver tentou pegar a máscara de seu convidado, que este usava desde o início da noite por ser Halloween. Zek, automaticamente, segurou a máscara em seu rosto. Ela não era tão grande, cobria pouco mais que a área dos olhos, mas ajudava o garoto a se sentir mais confiante. Quase como se pudesse esconder todo o medo que sentia ao usá-la.

— Vamos, não seja mal educado. — O loiro insistiu paciente. — Não há necessidade de máscaras, afinal, você já é um monstro, certo? Além disso, é de bom tom tirar as máscaras à mesa.

— Por que não tira a sua, então? — Desafiou, apontando para a máscara de Oliver, que cobria completamente seu olho esquerdo. Ele esperava que o outro apenas desconversasse e o deixasse ficar com a máscara, mas se surpreendeu com a resposta:

— É, tem razão. Eu tiro a minha e você tira a sua, pode ser? — Sorriu. O humano assentiu surpreso.

— Você primeiro.

Oliver suspirou e retirou sua máscara, expondo todo o seu rosto. A primeira coisa que seu convidado notou foi que seu olho esquerdo; diferentemente do direito, que era azul; tinha a íris de um vermelho intenso.

— Sua vez. — Sorriu.

— Mas... O que é... — Ezekiel tentou elaborar uma pergunta, mas desistiu. — Tudo bem. — Ele removeu a máscara preta simples que usava e a pôs sobre a mesa.

— Você queria perguntar algo? — Oliver indagou como se não fosse óbvio o motivo, encarando-o com seus olhos heterocromáticos.

— É... Você não disse que aqui teria uma festa? — Ele mudou de assunto, claramente desconfortável.

— Ah, claro. — O loiro sorriu e estalou os dedos. — Mas não será uma festa grande, apenas alguns amigos e um convidado especial. — Assim que disse isso, alguns manequins entraram na sala. Eram bonecos de madeira com o tamanho real de um ser humano. Os detalhes do rosto eram perfeitamente esculpidos, mas o olhar completamente vazio. Ezekiel percebeu que finas cordas os moviam, mas estas não estavam apoiadas em absolutamente nada. Cada um segurava uma bandeja com doces variados.

— O que...? Quem...? — Ele não conseguia formular uma frase lógica. — O que está acontecendo aqui?! — Conseguiu, por fim, perguntar.

— Estamos tendo um agradável jantar e uma pequena festa. — Oliver respondeu tranquilo. Ezekiel se levantou bruscamente e fez menção de ir embora, mas um dos manequins o segurou. Ele tentou se libertar, entretanto os dedos de madeira apertaram seu pulso de forma quase dolorosa.

— Se você não se acalmar teremos que amarrá-lo. — Seu anfitrião avisou calmamente enquanto cantarolava uma melodia estranha. — Além do mais, não é educado sair da mesa assim. Sente-se e vamos comer. Como eu disse, aqui há muitos doces! — Sorriu amável.

Ezekiel voltou para seu lugar meio a contragosto. Ele estava apavorado, mas tentava não demonstrar isso. A marionete o soltou e passou a distribuir os doces pela mesa. Depois disso um silêncio desconfortável dominou a sala de jantar. Oliver continuava cantarolando e provando alguns doces, já seu “convidado”, se é que ainda podemos chamá-lo assim, apenas observava estático.

— Não vai comer? Que rude da sua parte. — O loiro comentou casualmente. — Minhas marionetes tiveram trabalho para cozinhar, sabia?

— S-Suas... Marionetes? — O humano indagou com a voz trêmula. Como ele havia acabado naquela situação? E, para começar, o estava acontecendo?

— Sim. — Oliver fez um gesto com a mão e um dos manequins se aproximou. — Muito bem feitos, não? Eu mesmo esculpi cada detalhe. — Ao dizer isso, tocou suavemente o rosto da marionete; mas logo a largou, voltando sua atenção para o garoto. — Por quê? Não gosta deles? Se preferir posso mandá-los para longe da sala de jantar.

— Não, está tudo bem. — Ezekiel respondeu inseguro. Apesar de achar as marionetes quase humanas assustadoras, a ideia de ficar a sós com Oliver o amedrontava mais. — Onde estamos? — Questionou novamente, dessa vez com medo da resposta.

— Onde estamos? — O outro pareceu pensar seriamente na resposta. — Bem, eu não tenho certeza de como responder isso. — Sorriu. — Mas eu posso dizer onde não estamos. Não estamos no mundo dos humanos, isso eu garanto... Sua voz está trêmula — Mudou de assunto. —, por que não canta algo? Ajuda a manter a calma.

Zek ficou calado, sem saber o que poderia dizer. Como assim não estavam no mundo humano? E onde estavam afinal? E o que aquele garoto estranho era realmente? Todas essas perguntas faziam sua cabeça rodar! Por fim, conseguiu se concentrar em apenas uma:

— O que é você?

— Achei que já tinha respondido isso. — Levantou-se e estendeu a mão para o outro. — Prazer, sou Oliver. Também conhecido como O Mestre das Marionetes. — Ezekiel não devolveu o cumprimento. — Vai me deixar no vácuo? — Oliver repreendeu. — Desse jeito vou precisar te ensinar boas maneiras. Mas tudo bem, resolveremos isso depois.

Todos os instintos do garoto o mandavam fugir imediatamente daquela mansão estranha cheia de marionetes e, especialmente, fugir de Oliver. Ele os obedeceu e correu em direção à porta, mas foi segurado novamente pelos manequins.

Talvez tivesse sido melhor ficar sozinho com Oliver depois de tudo. Estar cercado por manequins que o obedeciam era realmente desfavorável. É uma pena que tivesse percebido tão tarde.

— Já vai sair? Nem comeu nada ainda. — O outro comentou irônico. — E eu não me preocuparia tanto em voltar para casa agora. — Continuou. — Afinal, não é como se você pudesse voltar.

— Claro que eu posso. — Zek rosnou enquanto se debatia, tentando se livrar das marionetes. — Só preciso sair daqui. — O medo que sentia foi substituído pela raiva.

— Não, você não pode. Literalmente. — Oliver continuou tranquilamente. — Veja bem, seu mundo é distante desse. Só conseguimos passar uma vez por ano, durante a festa que vocês chamam de Halloween, quando os mundos... Cruzam-se, por assim dizer. Mesmo que você saia e ande por aí, estará preso aqui.

Ezekiel parou de se debater. Aquilo era verdade ou o outro estava apenas blefando? Ele não poderia voltar para casa? Estava preso? Aquilo não podia ser verdade! Seus pensamentos foram interrompidos por uma única palavra de Oliver:

— Amarrem-no. — Ordenou para as marionetes. Estas, quase imediatamente, arrastaram Zek de volta para a cadeira e o prenderam a ela com cordas resistentes.

— Eu avisei que te amarraríamos se você não ficasse calmo. — Ele continuou. Ezekiel mirou o chão, evitando encará-lo; mas, de repente, teve o rosto levantado e foi forçado a olhar Oliver nos olhos. — Veja o reflexo em meus olhos. Você não consegue ver o mostro que há aqui dentro? — Ele sorriu sádico enquanto Zek o olhava amedrontado. Seu olho direito, azul, passava uma sensação de calma e gentileza; mas o esquerdo, vermelho, transmitia pura crueldade e brilhava em vingança.

— Perdoe-me, por favor. — O garoto implorou, sem saber ao certo pelo que estava se desculpando. Pela tentativa de fuga? Por ter dito palavras cruéis antes? Por decapitar seu boneco? Talvez todas as opções.

— Esse é outro truque de vocês? Implorar perdão? — Mesmo que tentasse se conter, era notável o tom irritado nessas palavras. — Bem, você não me deixa escolha. — Andou até a mesa e pegou uma faca média bem afiada. — Você não vai escapar.

Ezekiel arregalou os olhos quando Oliver andou até ele e encostou a faca em seu pescoço.

— Eu poderia decapitá-lo como fez com o Len, mas isso seria maldade. — Sorriu irônico. — Além do mais, dificultaria meu trabalho depois. — Ao dizer isso afastou a faca e perscrutou o corpo do outro, pensando na melhor forma de fazer o serviço.

— Len? Quer dizer seu fantoche? — Zek indagou confuso.

— É, meu fantoche. — Ele repetiu. — Sabe, minhas marionetes sentiriam falta dele. Isso se tivessem sentimentos, claro. Mas, como não têm, acho que está tudo certo.

— E você? Não vai sentir falta dele? — Ezekiel arrumou coragem para perguntar, mais para desviar a atenção de Oliver da faca do que pela resposta em si.

— Eu gostava dele, admito. Mas não se preocupe, Zek, encontrei algo mais interessante. — Ao dizer isso cravou profundamente a faca no estômago do humano, ouvindo um grito de dor.

O garoto se contorceu inutilmente, pois as cordas estavam bem presas. Oliver parou para observar e, quando cansou de esperar, continuou a conversa:

— Não seja tão dramático. Não é como se isso fosse te matar. — Comentou enquanto assistia o sangue escorrendo e manchando o chão. — Ah... Espera aí. Isso vai, sim, te matar. Mas não precisa desse desespero, você vai ficar bem.

Ezekiel apenas o encarou com os olhos arregalados. Como ele conseguia falar daquilo tão naturalmente? Era sua vida que estava em jogo! E, afinal, ele morreria ou não?

Após vários minutos, que mais pareceram horas, o sangue parou de jorrar. Não pela pele ter cicatrizado, pois a ferida era muito profunda; simplesmente não havia mais sangue no corpo de Zek, todo ele estava espalhado pelo chão.

Ezekiel logo percebeu que algo estava errado. Ele não sentia mais seu coração batendo, nem o sangue escorrendo, nem o calor do próprio corpo, mas esse não era o problema; o problema era que ele ainda estava sentindo todo o resto. O garoto ainda estava acordado e consciente, e ele tinha certeza que havia algo muito errado nisso!

— Como...? Eu estou...? — Ele não conseguiu completar nenhuma das perguntas. Não tinha certeza do que devia perguntar. Oliver, entretanto, pareceu ter entendido:

— Sim, você está morto. Um corte profundo seguido de hemorragia, isso mata relativamente rápido. — Comentou casualmente. — Mas, como eu disse, você está bem. E isso é o que importa, não? — Sorriu.

— Eu estou morto? — Zek repetiu em choque. — Eu não posso estar morto! Eu ainda estou aqui, consciente e falando, idiota! Se eu estivesse morto não seria assim! — Reagiu agressivamente.

O garoto se calou ao ver Oliver chegar assustadoramente perto e colocar as mãos sobre seu pescoço. O sorriso havia sumido de seu rosto.

— Entendo se estiver assustado. — Disse em tom baixo e ameaçador. — Mas isso não significa que pode falar assim comigo, Zek. — Ele praticamente cuspiu seu apelido, mas logo se afastou e suavizou a voz. — Agora vamos comer. Ainda não comeu nada, deve estar faminto. — Sorriu. — Além do mais não queremos que morra de fome, certo?

Ezekiel não respondeu. Em parte assustado pela súbita mudança de humor, em parte por ainda estar se habituando ao que estava acontecendo em seu corpo. Ele sentia todo o calor indo embora e não havia mais batidas cardíacas. Ao tentar respirar, descobriu que isso era doloroso e inútil. Realmente, não sabia como ainda estava “vivo”, se é que realmente estava.

— Diga “ah”. — Oliver pediu enquanto segurava uma colher com algo suspeito.

— O que é isso? — O garoto não disfarçou a aversão que sentia. Comer era a última coisa que queria no momento!

— Doce. — O outro deu de ombros e comeu. — Mas, se não está com fome agora, podemos conversar. — Seu sorriso tornou-se perverso. — Adoraria saber mais sobre você, Ezekiel.

O humano apenas grunhiu indicando que estava ouvindo. Ele já havia desistido de sair dali. Estava morto, amarrado numa sala de jantar cheia de marionetes vivas num mundo estranho. Isso seria o bastante para enlouquecer qualquer um!

— Quantas pessoas você já traiu? Lembra-se de todas? — Perguntou como se fosse algo perfeitamente normal.

— O quê? Eu nunca traí ninguém! — Exclamou.

— Mentir é feio, Ezekiel. — Oliver disse calmamente. — Nunca abandonou ninguém por seus “amigos”? Nunca zombou de ninguém ou os difamou pelas costas?

Zek ficou calado. Como ele sabia tanto sobre si? Havia acabado de conhecê-lo! Sua consciência pesou um pouco. Ele se lembrava de quando entrou no “grupinho popular”, para isso precisou humilhar um de seus poucos amigos na escola. Ele não queria, mas, se entrasse no grupo, todos parariam de zombar dele na escola! Parecia a melhor escolha na época.

Depois disso ele havia feito troça de muitas pessoas junto com seus novos “amigos”. Ele passou de vítima para bully, mesmo que não apoiasse essa atitude. Ele estava apenas se protegendo, certo? Os outros entenderiam que ele não queria dizer nenhuma daquelas palavras.

Ao menos foi o que pensou. No fim, sua fama na escola ficou tão ruim quanto a de seu novo grupo. Todos o detestavam tanto quanto a eles.

Logo Ezekiel sentiu-se nostálgico. Ele sentia saudades daquele tempo. Seus problemas eram tão mais simples! Ele lembrou-se também de sua família, o pensamento o deixou com saudades. Sua mãe deveria estar preocupada, assim como Isabela e Leonardo, seus dois irmãos mais velhos. Ele nunca mais os veria?

— Não quer conversar comigo? Tudo bem... Talvez eu possa pegar alguém da sua família ano que vem. Quem sabe você goste mais de falar com eles? — Provocou, imaginando que era nisso que o garoto pensava.

— Não! — O humano exclamou. Oliver não mexeria com sua família!

— Calma, estou apenas brincando. — Sorriu. — Não gosto que me ignorem, sabia? E eu não traria outra pessoa aqui. Primeiro, é contra as regras. E segundo, eu não gostaria de ter que dividir sua atenção. — Ao dizer isso tocou suavemente o rosto de Zek, mas este jogou a cabeça para o lado oposto o máximo que pôde, rejeitando o toque.

— Você é tão ciumento com sua família. — Continuou. — Eu até ficaria com ciúme, isso se você não fosse meu, claro. — Comentou naturalmente.

— Eu não sou seu! — Zek praticamente gritou, com uma mistura de raiva, medo e confusão.

— Claro que é. — Oliver retrucou. — É minha nova marionete. — Ele deu o assunto por encerrado. — Eu queria te perguntar sobre seus “amigos”. Vocês sempre se divertem com a desgraça alheia, ou eu o conheci num dia particularmente ruim?

Ezekiel ficou calado, então Oliver continuou:

— Puxa, está ficando tarde. É melhor passarmos para o prato principal. Já abriu seu apetite? Não quero que estrague nada do seu prato. Desperdiçar comida é rude. — Ralhou.

Oliver cantarolava sozinho enquanto enchia um prato com doces variados. Sua nova marionete permanecia calada, isso era incômodo.

— Sabe, esse olhar sério em você é um grande desperdício. — Comentou. — Será que se eu te der alguns doces poderei esculpir um sorriso no seu rosto? — Ofereceu docemente. — Temos chocolate, biscoitos e tortas de framboesa. Logo o bolo estará pronto também. — Ele se frustrou com a falta de resposta, mas tentou ser compreensivo. Humanos, provavelmente, não estavam familiarizados com a sensação de estar vivos num corpo morto. — Abra bem a boca, eu vou te alimentar até que seus dentes apodreçam. — Sorriu com a reação de Ezekiel, que tentou se desvencilhar e ficou claramente confuso.

— O que quer dizer com... Apodrecer?

— Ora, não comentei isso? Que distração a minha. — O outro suspirou. — Desculpe pela facada, mas precisava acelerar o processo de decomposição. Gente viva demora décadas para se decompor! E convenhamos que você mereceu. — Zek parecia mais chocado. — O que foi? Não imaginava que um corpo morto iria se decompor? Devia prestar mais atenção às aulas de ciências. Bem, não se preocupe, você ficará aqui por um mês mais ou menos. Só preciso que sua pele e parte dos músculos apodreçam para começar meu trabalho. São os primeiros a se decompor mesmo.

Ezekiel estava atônito. Como Oliver conseguia falar disso tão facilmente? Ele disse que seu corpo apenas apodreceria! E depois? O que aconteceria com ele?

— E, por esse mês, eu ficarei aqui te fazendo companhia e alimentando. Então, acho melhor aprender a conversar comigo. A não ser que queira falar com minhas marionetes. Elas são boas ouvintes, admito; mas eu não gostaria de ser trocado por elas.

Oliver forçou Ezekiel a comer alguns doces. O garoto estava realmente enjoado, tanto pelo excesso de açúcar quanto por imaginar sua pele se decompondo.

— Eu não quero comer! — Exclamou por fim. Ele não tinha nenhuma noção de tempo, mas imaginava que estava lá por muitas horas!

— Não seja malcriado, Ezekiel. — Disse calmo. — Esse seu lado é muito feio, não consegue ver? — Ele se aproximou excessivamente do garoto. — Por mais que eu seja calmo, esse seu lado me tira do sério, Zek. — Rosnou. — Aposto que até mesmo o pobre espelho quebraria se precisasse refletir essa parte sua.

Ezekiel olhou assustado para o outro. Nunca era coisa boa quando este o tratava pelo apelido. Da primeira vez ele levou uma facada mortal, afinal! Mas a atenção de Oliver foi tomada pela entrada de algumas marionetes na sala. Elas carregavam um bolo gigantesco.

— Oh, o bolo está pronto! — Ele sorriu feliz. — Por que o espanto? Para durar um mês inteiro, ele teria que ser grande! — Explicou para o garoto e fez um gesto para que os manequins se retirassem. — E o bolo é todo seu.

— O quê? Não! É muito! — Reclamou.

— Não veja por esse ângulo. Imagine que está comendo um pedaço de bolo para cada mentira que já disse na vida. Eu me pergunto quanto pesaria no fim? Bem, não importa; não é como se você fosse engordar, certo?

E assim Ezekiel passou pouco mais de um mês, ouvindo os monólogos estranhos de Oliver e sendo alimentado a força até não aguentar mais. Somado a isso havia a sensação se sua pele se deteriorando lentamente. Era doloroso no início, mas, após seus nervos se decomporem, tornou-se mais suportável. Quando Oliver julgou que já estava bom o bastante sorriu:

— Essas camadas de pele em decomposição estão me dando uma leve dor de estômago. — Comentou. — Mas, veja pelo lado bom: Não precisa mais se preocupar com roupas, não tem mais pele para esconder. E agora eu posso, finalmente, começar minha obra-prima! — Completou entusiasmado.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenha agradado!

Deixarei novamente o link da história da Little Hobbit porque, bem, eu sou insistente!
Vai que alguém passa por lá?

https://fanfiction.com.br/historia/659053/NoitedeHalloween/

Será que alguém que já leu minhas outras fics pegou meus Easter Egg? (Little Hobbit não vale, eu contei para ela)
Provavelmente não.

Agradeço quem leu até aqui!

Até o próximo!



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