Contato escrita por Aleksa


Capítulo 4
Jogos




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Capitulo 4 – Jogos

 

Na manhã seguinte eu acordei morta de sono, mas, era sábado, eu tinha o dia todo pra gastar comigo...

- Alô, bom dia Alice, quer passear conosco? – eram Sarah, Cristine e Castel, minhas amigas, elas queriam passear, mas particularmente, depois da minha semana, eu queria dormir, dormir MUITO.

- Não Sarah, quero passar o sábado dormindo...

- Então está bem, a gente se fala na segunda.

- Certo, até.

Desligando o telefone me atirei de volta em minha cama, estava cansada de mais para me levantar, mas não conseguia dormir. “E agora?” eu pensei deitada com a cara enfiada no travesseiro, eu pensei sobre todas as coisas estranhas que aconteceram ao longo da semana, em apenas cinco dias, eu pude me encontrar com um monstrinho manipulador de aparência fofa e inocente, ser chantageada, manipulada, e ainda por LIVRE E ESPONTANEA vontade servir de enfermeira pra esse mesmo monstrinho! Essa porcaria de consciência...

Enquanto eu me esforçava pra saber por que eu tinha sido tão complacente com isso tudo, mesmo sabendo que todos ficariam do lado dele, eu dedicava parte do meu tempo pensando o que ele estaria fazendo agora, melhor dizendo... Com quem...? Minha mente distorcia centenas de possibilidades, que, por inúmeras razões me atormentavam de maneiras bastante criativas, alias eu não fazia idéia se tudo aquilo era legalmente permitido...

- Mas o que eu estou pensando afinal...?!

O tempo passou, e, em meio a meus pensamentos sobre o quão “ocupado” estaria Yura naquele momento, eu acabei por adormecer, devo acrescentar que, quando se dorme pensando em algo dessa procedência, seus sonhos acabam por te atormentar também, eu estava me sentindo muito mal com isso tudo, será que ele tinha que me perseguir nos meus sonhos também?!

Ao acordar eu comecei a pensar em formas de tirar aquele monte de lixo de dentro da minha cabeça, com tanta coisa útil pra preencher meu cérebro, por que tinha que ser AQUILO que ia preencher?! Eu estava as bordas de um ataque histérico quando o telefone tocou, ótimo! Assim eu poderia distrair a minha cabeça sobrecarregada.

- Alô?

- Lili-chan?

- Yura...

- Yep.

- O que é que você quer? – eu disse ríspida.

- Ai! Por que você é tão fria comigo?

- Já disse, não vou com a tua cara.

- Se você diz. De qualquer forma, eu quero que você venha aqui.

- E me dê UMA boa razão pra que eu vá até ai! – eu disse zangada com o tom de ordem dele.

- Vou fazer melhor, vou te dar cinco. Numero um: eu sou bastante convincente se quiser acidentalmente me machucar todas as vezes que me aproximar de você. Numero dois: por que eu realmente adoraria tornar a tua vida uma constante tortura, pode se dizer que eu sou uma espécie de sádico.

Eu o interrompi dizendo.

- Espera. Você sabe que sádicos...        

- Sei. – ele disse me cortando. – Não me interrompa, enfim, três: por que se eu virar todos contra você, a sua situação no colégio vai ficar bastante “delicada”, quatro: por que você não vai me querer como inimigo, eu realmente posso ser cruel, e numero cinco: por que eu posso.

Eu estava chocada em COMO ele estava disposto a ir longe com tudo isso, mas por alguma estranha, e até então incompreensível razão, isso tudo me pareceu tão surreal, que começou a parecer divertido, de uma forma muito maníaca e assustadora, tanto, que eu comecei a me assustar comigo mesma! A voz de Yura me acordou.

- São motivos suficientemente convincentes? Lili-chan.

- Eu acho que sim...

- Ótimo então. – ele disse alegremente. – Te vejo em breve.

Depois disso ele desligou o telefone, eu ainda fiquei em silencio por alguns segundos, e depois me dirigir ao meu quarto pra...Me arrumar? O que eu estava fazendo? Como eu poderia tão calmamente estar marchando em direção a toca dos leões sem nem ao menos olhar pra trás... Não me diga que... Na verdade, de alguma forma, talvez eu estivesse... Gostando?! Mas que tipo de maluca eu sou?! E mais, como é que ele tinha o meu telefone?!... Não importa... Ele deve ter pedido pra alguém dos arquivos da escola, com aquela carinha de santo... Mas, se é isso, então, por que ele não tinha o meu endereço? Será que tudo isso fazia parte de um esquema maligno pra me fazer enlouquecer? O pior de tudo era: Estava funcionando! Se continuasse assim eu com certeza iria à loucura... E mesmo sabendo disso... EU CONTINUAVA ME ARRUMANDO?!

- O que eu estou fazendo...?

A caminho da casa de Yura eu ainda pensava o que motivaria alguém como Yura a me convidar a ir até a casa dele... E um motivo era pior que o outro, minha cabeça iria super-aquecer muito em breve, mas, eu já estava indo mesmo, que se dane o que aconteceria depois disso... Pelo menos eu acho.

Na porta da casa de Yura, eu comecei a notar os detalhes, era tudo muito claro e iluminado, o porta da casa de Yura era a única naquele minúsculo corredor, aquele devia ser um daqueles prédios com um apartamento por andar.

Eu bati de leve na porta, não bati mais forte por que o meu bom-censo me dizia que eu estava fazendo uma coisa da qual me arrependeria depois, meu coração batia tão rápido que achei que fosse ter uma arritmia ou alguma coisa do gênero, eu olhei a maçaneta dourada de Yura girando, tudo parecia correr em câmera lenta, Yura abriu a porta, olhou pra mim com aqueles grandes olhos azuis-claros cheios de más intenções e disse:

- E não é que você veio.

- Bom, eu não parecia ter muita escolha.

- E não tinha, só estou surpreso de ter concordado tão fácil. – na expressão dele estava escrito “ta na cara que você devia saber dessas coisas, é obvio...”.

- Eu... – eu disse já pronta pra começar uma discussão, não queria que ele pensasse que eu fosse uma garota fácil ou sei lá, mas ele me interrompeu dizendo:

- Tá, tá... Tanto faz. Entre. – ele completou com uma expressão desdenhosa saindo do caminho da porta.

Eu estava contrariada, mas mesmo se eu dissesse alguma coisa, ele não iria me ouvir de qualquer forma, eu entrei novamente dentro da casa de Yura, o que me dava uma sensação estranha de falta de ar, da ultima vez eu não tinha prestado a menor atenção nos detalhes, mas agora, eu decidi que ia desviar a minha atenção com alguma coisa. Assim que entrei me deparei com a sala de Yura, uma sala espaçosa de tons pastel, como branco ou bege, com detalhes em prata, tinha uma aparência clássica, e uma imensa janela espelhada que ia de um lado ao outro da parede da frente, dando uma vista bastante ampla da visão de fora, era dividida em três pedaços quadrados que abriam individualmente, com pequenos cordões que a mantinham aberta.

A sala era muito bem iluminada, e os móveis clássicos davam um ar sofisticado, mas discreto. Yura caminhou devagar através do cômodo, se sentou no sofá branco e disse:

- Até quando você pretende ficar ai parada olhando a minha sala?

- Hum? Ah, eu me distrai...

- Percebi.

Um tanto desconfortável caminhei através da sala e me sentei no sofá em frente ao que Yura estava, ele me olhou com um sorriso sarcástico e disse:

- Fique tranqüila, eu não mordo...Tanto assim.

- N-Não é isso, nem estava pensando em nada especifico.

- Sabe Alice, se não fosse tão fácil notar quando você está mentindo, talvez eu até acreditasse em você... Mas não é esse o caso. – ele disse me olhando nos olhos.

Ele sempre lia as entrelinhas, mesmo quando EU MESMA não lia, mas que raio de pessoa! Decidi que seria melhor mudar de assunto, este estava começando a tomar um caminho muito... Delicado...

- De qualquer forma... Por que você me chamou aqui?

- Me sinto sozinho aqui o dia todo. – ele disse num tom irônico.

- Como se você passasse o dia todo sozinho.

- E você acha que todos sabem da verdade, até a minha mãe acha que eu sou uma criança adorável e inocente. Incapaz de ter um único pensamento desvirtuado. Aceite a realidade, o mundo é superficial... – ele disse encarando o vazio.

- E... Se você tem essa imagem tão cuidadosamente construída... Por que me contar?

Yura deu um longo suspiro e disse:

- Você é meio lenta não é mesmo?

- Hum?

- Se eu te contei, eu devo ter um objetivo... Não acha?

Nesse momento minha mente ligou os pontos, isso não era uma confidêncialidade inocente, ele estava MESMO mal intencionado.

- Então? – ele disse esperando o meu relatório.

- Você...

- Eu?

- MAS QUE TIPO DE MANÍACO PERVERTIDO É VOCÊ?!

- Do tipo que não desiste fácil... – ele disse com um sorriso maldoso.

Eu não sabia o que fazer, minha mente dizia “CORRE! CORRE SEM OLHAR PRA TRAS!”, mas, meu inconsciente com o qual eu inexplicavelmente tive contato dizia: “Calma, ele pode ter alguma coisa interessante pra dizer”.

- Hum, a essa altura já esperava que você estivesse correndo e gritando rua abaixo, em direção ao aeroporto mais próximo... – ele disse olhando o relógio. – Por acaso você entrou em estado catatônico? Ou... Você não é tão inocente o quanto acha que é, e eu sei que não é, e decidiu que “pode ser interessante”. De qualquer forma não importa, eu vou te caçar se for necessário. Alias, assim é mais divertido, adoro desafios. – ele disse sorrindo com tanta maldade quanto eu esperava.

Mas por mais que eu me esforçasse, eu não podia me mexer, de maneira nenhuma, a contradição psicológica era tanta, que eu não conseguia sair do lugar onde estava.

- Ok, se for assim, eu decido por você...

Yura caminhou através do cômodo, até onde eu estava, se sentou no meu colo, pos a mão no meu pescoço, circundando até a minha nuca, e me puxou devagar até ele e me beijou, o que era assustador, ele ainda era mais novo que eu, mas minha mente limpou, não havia nada que eu pudesse fazer, a língua de Yura entrou em minha boca e meu sangue gelou, Yura não parecia nem ao menos pensar antes de tomar uma atitude tão... Intima eu acho... Por alguma razão eu aceitei tudo isso muito bem, rodeei a cintura de Yura com os braços trazendo-o mais pra perto, ele também não parecia esboçar nenhuma emoção a respeito, isso tudo era meramente fruto de reflexos instantâneos a atitudes deliberadamente tomadas... Mas... Por que eu não me sentia assim?

- Hum... – Yura gemeu baixo, talvez isso tivesse ido longe demais, mas, ao invés de me afastar, coisa que eu não conseguiria fazer sozinha, ele rodeou o meu pescoço com os braços, me abraçando devagar, pra sentir como eu reagia, eu sentia o coração de Yura batendo, e o cheiro doce que devia ser proveniente do perfume dele, eu já não sabia como parar tudo aquilo, era muito rápido e muito longe pra alguém eu supostamente devia odiar...

Eu já estava prestes a deixar que o que quer que fosse que devesse acontecer, acontecesse, mas, o telefone da casa de Yura tocou, ele me soltou e foi até o telefone, como se nada tivesse acontecido...

- Alô? – Yura disse ao atender.

- Alô. Tudo bem querido? – era uma voz feminina no telefone, o que me fazia pensar: “Quem é?”, mas, nada disso é mesmo da minha conta, eu e Yura não tínhamos nada de qualquer forma... Mesmo que eu me sentisse de alguma forma incomodada por ele ser chamado de querido por “outra”.

- Tudo. – ele disse simpático. – E você?

- Tudo sim, está sozinho?

- Sim. – ele disse sem nem ao menos pensar duas vezes. – Por quê?

- Nada, é uma surpresa.

- Que tipo de surpresa?

- Uma muito boa.

- Que bom, adoro surpresas boas.

- Eu sei, conheço você.

- Conhece mesmo.

- Acho que é só isso, a gente se fala.

- Está bem. Até logo.

- Beijos querido.

- Beijos.

Eu senti um ímpeto de me levantar, sair daquela sala, ir pra casa, e me afogar em jujuba e pensar em como eu tinha sido tapada. E de fato, foi o que eu fiz, sai daquela casa sem nem olhar pra trás.

 

 

 


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