Capítulo 30 – Dentro de Mim...

Acordei com o calor do corpo de Yura nas minhas costas, e sua respiração na minha nuca, já era dia claro, e eu não fazia ideia se tinha aula naquele dia...

- Yawn... – eu bocejei, me espreguiçando preguiçosamente.

Os braços de Yura foram se soltando conforme eu me levantava. Me vesti tão vagarosamente quanto possível, estava morta, acabada, mas feliz...

- Hun... – Yura gemeu, acordando também. – Bom dia. – ele completou se espreguiçando.

- Bom dia. – respondi com um sorriso.

Me sentia leve e feliz. Dolorida e acabada, mas isso era só um detalhe imperceptível.

- Tem aula hoje? – perguntei fechando o zíper do meu vestido.

- Não, hoje é sábado.

- Graças a Deus.

Não tinha forças pra me dirigir pra escola, eu iria pra casa, tomaria um banho, e passaria o dia dormindo...

Ao contrario de mim, Yura tranqüilamente se levantou, colocou sua camisa, que eu havia destruído parcialmente, e disse:

- Vamos?

- Claro.

Saímos, o manobrista trouxe a BMW, ambos entramos, e Yura me guiou de volta pra casa. Cheguei lá e dormi, dormi até acordar já durante a noite...

- Estou morta... – reclamei. – Sinto que minhas costas vão me matar.

Passei grande parte do final de semana assim, até que se tornou tolerável no domingo.

Na manhã de segunda me dirigi ao colégio com a sensação de que alguma coisa  iria acontecer, e eu realmente tinha razão...

- Alice! - Sarah acenou alegremente.

- Olá Sarah.

- Como passou o dia dos namorados?

Dirigi minha mão a marca roxa em meu pescoço. Nessas horas eu realmente adorava blusas de gola alta...

- Bem... E você?

- Bem também. Eu e meu namorado saímos pra jantar. - ela disse com olhos brilhantes.

- Que bom que se divertiu.

Cristine e Castel se aproximaram logo em seguida.

- Bom dia! - as duas disseram quase ao mesmo tempo.

- Bom dia! - Sarah disse alegremente.

- Oi. - comentei.

- Tudo bem? Como foi o dia dos namorados? - Castel perguntou.

- Foi tudo bem... - dei de ombros.

- Nossa Alice, você é tão empolgada quanto uma árvore... - Cristine reclamou.

- Desculpe, estou meio cansada.

Elas se entreolharam depois se jogaram em mim perguntando:

- Passou o dia dos namorados com Aleksa?

Meu rosto corou me lembrando do dia que havia passado com Yura, elas deram uma risadinha maldosa e disseram:

- Eu sabia! - Cristine comentou.

- Era óbvio. - Castel e Sarah concordaram.

- O que?! - retruquei.

Nesse momento Yura se aproximou, alegre como sempre.

- Bom dia! - ele acenou, sorrindo.

- Bom dia Yura! - elas responderam alegres.

- Adivinha Yura. - Sarah disse. - Alice passou o dia dos namorados com o namorado dela. - ela completou me olhando com olhos maldosos.

- Sarah!

Se elas soubessem que estavam comentando o fato com o próprio culpado, não estariam tão calmas...

- Há eu sabia! - Castel riu.

Yura mostrou um ar desconfortável, ele sabia fingir que não estava feliz com o assunto, mas é óbvio que ele não ligava nem um pouco pra o que quer que fosse que elas dissessem, ele havia feito vinte vezes pior.

O sinal tocou e nós entramos, devo admitir que me sentia um tanto encabulada com tudo isso, ainda mais por que Yura sabia exatamente o motivo pra gola alta da minha blusa...

O dia foi bem rápido, mantive minha cabeça ocupada em algo além de Yura, pra variar. E na saída... A maior desgraça de toda a minha vida aconteceu.

- Alice. - Stephan chamou novamente da porta da sala de música.

"Droga! O que ele quer dessa vez?!" pensei revoltada.

- O que foi Stephan? - perguntei seca.

- Isso.

Stephan me puxou pelo braço me pondo contra a parede e me beijando. Soltei todo o material que estava em minhas mãos, congelei tão profundamente, que nem tive como gritar ou me revoltar... Ouvi o som de algo se quebrando na porta da sala de música, eu estava perfeitamente estática, eu não tinha tido tempo ainda pra processar a atitude abrupta de Stephan, eu me dividia entre um ódio insano e um nojo doente.

Quando virei meu rosto congelado na direção da porta vi Yura, com seus olhos azuis vidrados e sem brilho. Ele correu porta a fora, eu senti meu sangue gelar, queria gritar para que ele esperasse, mas não pude, minha boca estava atada pelos lábios de Stephan.

Assim que Yura saiu, Stephan me soltou e com um sorriso frio e indiferente disse:

- Xeque- Mate. Eu disse, abalaria todo o seu mundo.

Depois saiu porta a fora dizendo:

- Agora tenho que encontrar o diretor pra assinar os papeis da minha demissão...

Sua voz de escárnio foi a ultima coisa que racionalmente pude ouvir, depois eu me joguei no abismo vazio que se tornou a minha mente ao me lembrar dos olhos desesperados de Yura.

- Não... - sussurrei em meio a dor e o pânico.

Quando olhei para o chão, vi um pequeno globo de neve, onde antes existia uma borboleta azul, agora estilhaçado...