Capitulo 13 - Desejos

No dia seguinte na escola, era como se nada tivesse acontecido, Yura estava sorrindo como sempre, as aulas correram normalmente e em algum tempo chegariam as férias... Normal.

Depois de umas chatas horas de aula até então, eu fui pra casa... Onde eu pretendia ficar... Mas... Não foi bem assim.

- Eu vou até lá. – eu disse olhando o molho de chaves sobre a mesa da sala.

Me levantei, caminhei até o meu quarto, troquei a lingerie... Bem, enfim, e sai.

- Por que raios eu troquei...? – minha cabeça começava a me dar razões BASTANTE convincentes de por que trocar a lingerie era uma boa idéia...

Chegando na casa de Yura minhas mãos não alcançavam a porta, quer dizer, não queria alcançar... Até eu me obrigar a isso.

Yura estava sentado no tapete da sala com uma vasilha cheia de morangos com creme, e um livro chamado “Crime e Castigo”.

- Você não liga antes de vir, não?– ele brincou colocando um morango na boca.

- Desculpe da próxima vez eu ligo...

- Gosto de surpresas. – ele disse sorrindo.

- Eu sei.

- Senta. – ele disse já incomodado comigo parada na porta como um porta-casacos.

- Ah, é... – eu nem sabia por que estava tão nervosa.

- O que foi? – ele disse rindo.

- Eu não sei. Acho que nada...

- Então tá... – a falta de insistência me dizia que eu não estava mentindo.

- Morango? – ele disse me estendendo o pote com morangos dentro.

- Acho que sim.

Eu peguei um dos morangos do vidro e pus na boca.

- Gostoso. – eu disse. Era bastante doce.

- Eu disse que gosto de coisas doces. – Yura completou sorrindo.

- Você já me disse...

Yura mordeu outro morango se virou e continuou lendo. Eu tomei a decisão mais impulsiva da minha vida...

Eu me ajoelhei ao lado de Yura enrolei meus braços ao redor do seu pescoço e o beijei tirando o morango que ele tinha na boca com a língua...

- Hun...

Yura gemeu baixinho, me abraçando também, eu nem estava pensando nisso, se eu pensasse, ia me arrepender...

Quando eu o soltei seu rosto estava corado e ele respirava com dificuldade.

- Você precisa me avisar antes de fazer essas coisas... – ele disse lambendo as pontas dos dedos que estavam melificadas com açúcar dos morangos.

- Foi um impulso, eu nem estava pensando... – eu disse me afastando devagar, ao perceber o que tinha feito.

- Volta aqui. – ele disse me puxando de volta. – Você acha que pode me provocar assim e depois simplesmente sair?

Os braços de Yura se enrolaram ao redor do meu pescoço e ele disse:

- Se não agüenta o tranco, então não me tente desse jeito... – ele disse colocando um morango na minha boca.

Eu sabia que depois de começar uma loucura dessas, por vontade própria ainda, não teria como simplesmente fingir que nada aconteceu. O melhor a se fazer, era aproveitar a situação, além do mais... A culpa foi minha...

- Desculpe por começar algo assim Yura...

- Nunca se desculpe por me fazer querer você.– ele disse olhando nos meus olhos.

Eu estava no meio da sala de Yura, era terça-feira. Eu tinha aula no dia seguinte, e MESMO ASSIM, continuava lá. Isso estava saindo do controle...

Eu puxei Yura devagar até o sofá atrás de mim, tinham almofadas de mais... Isso não podia acabar bem, eu ia quebrar alguma coisa...

Yura me empurrou e sentou na minha barriga, como ele era leve tudo bem... Quando de repente, bateram na porta da sala...

- Já volto... – Yura me disse colocando o dedo indicador sobre os meus lábios.

- Oi Yuyu!

- Es..tela...? – Yura disse parado na frente da porta.

- Tudo bem amorzinho?

- Tudo... – nunca vi o jeito de Yura mudar, quem era ela...?

- Oi! – ela disse olhando pra mim, eu havia me recomposto e me sentado.

- Oi... - eu respondi limpando a garganta.

- Muito prazer, Estela Charlise Rokerlot.

- Alice...

- Você é a namorada do Yuyu?

- Yuyu...?

- Ele já deve ter falado de mim, eu dei essa casa pra ele. Ele é o filho que eu não tenho. – ela disse com um olhar de orgulho materno.

- Ah... Ele já falou sim.

- Yuyu venha se sentar.

Yura continuava parado na porta, com uma aparecia desconcertada e surpresa.

- Mas então, as suas férias vão chegar logo certo Yuyu?

- Isso...

- Como eu não vim no seu aniversario, quer viajar pra Aspen?

Eu estava no meio disso tudo, notando que ela e Yura precisavam conversar, me levantei.

- Bem Yura, vocês precisam conversar.

- Mas...

- Tudo bem, te vejo amanhã no colégio. Foi um prazer te conhecer Estela. – eu disse sorrindo.

- Igualmente Alice.

Eu sai do apartamento, Yura e Estela precisavam conversar e eu não ia ficar... Segurando vela?

No dia seguinte na escola, eu estava sentada num dos bancos de pedra, naquele dia eu tinha chegado muito cedo, ia ficar lá um tempo...

- Alice.

- Hum? – eu disse tirando a atenção do livro que tinha trazido comigo. – Ah, Yura. O que faz aqui tão cedo?

- Não consegui dormir...

- Por que? – eu disse sorridente.

- Estela quer que eu passe as férias com ela...

- Uhum...? – eu disse tentando parecer indiferente, eu já tinha feito escândalo o bastante por aquela semana...

- Sei lá, vou pensar sobre isso.

O dia estava muito frio, eu conseguia enxergar a respiração de Yura.

- Ah, é! – Yura disse num sobressalto que me surpreendeu.

- O que Yura?

- Você me deve.

- Devo o que?

- Noite passada, você foi embora...

Minha mente começou a ligar os pontos, e com o tempo eu entendi o que “me deve” queria dizer.

- Ah... – eu disse associando.

- Detesto esse frio...

Yura se aproximou de mim devagar me abraçou e me beijou bem de leve.

- Por acaso você não pretende me fazer “pagar” agora, certo?

- Claro que não, seria estupidez. Só estou com frio.

Yura odiava o frio, ele preferia climas mais amenos, e com aquele vento gelado da manhã eu não podia entender o que ele fazia fora da cama.

- Entendo...

Yura se sentou no meu colo e entrelaçou a pernas nas minhas costas agarrado ao meu pescoço, olhando nos meus olhos e lendo a minha expressão.

- Quero te beijar...

E foi exatamente o que ele fez, um dos problemas de Yura era que ele não perguntava, ele comunicava o que queria. Suas mãos estavam geladas, mas eu não tinha do que reclamar...

- Queria poder te levar comigo. Detesto aquela neve toda... Quero você... – Yura comentou ainda agarrado ao meu pescoço.

- Yura, não acha que ficar assim agarrado em mim é perigoso, principalmente considerando que isso é o colégio... – eu disse prendendo o fôlego pra não parecer uma idiota logo de manhã.

Minha mente criava uma ideia do que seria estar sozinha com Yura em um lugar como Aspen, e devo admitir era bastante tentador...

- É muito cedo, o Sol está nascendo agora, ninguém levanta tão cedo.

- Você levantou, e eu também...

- Conveniente, não?

- Detesto ter que concordar...

Eram raras as ocasiões em que eu e Yura ficávamos juntos fora da casa dele, locais públicos são um problema, são... Públicos demais.

Yura estava deitado no meu colo, e eu acariciava seu cabelo fino e macio. Com o tempo ele acabaria dormindo...

- Se você odeia o frio tanto assim, por que você vai?

- Estela é maluca e carente, ela pode ter um chilique...

- Nossa...

- Eu sei... Eu não quero ir. Neve é fria demais pra mim...

- Mas você não vai ficar na neve, vai ficar dentro de um chalé quentinho com aquecedor.

- Só se Estela não quiser esquiar, eu sou um desastre em cima de esquis...

Era difícil conceber a ideia de um esporte em que Yura não fosse bom, apesar de ele detestar esportes. A imagem de Yura descendo uma montanha foi no mínimo interessante, tanto que eu acabei por dar um risinho abafado.

- O que foi? – ele disse olhando pra mim, ainda deitado no meu colo.

- Nada, só a imagem de você de esquis...

- Hump, ria enquanto pode... 

- Tudo bem, eu tenho certeza de que eu seria pior.

- Isso, não importa. Esquiar seria a ultima coisa que você faria... – Yura distraidamente concluiu.

- Adoraria ir pra um lugar desses com você Yura... – eu disse simplesmente divagando em voz alta.

Minhas palavras foram o bastante pra fazê-lo levantar se sentar, e ficar me observando com um olhar ilegível.

- Adoraria? – ele disse surpreso com o meu comentário, não costumo comentar as coisas que eu quero.

- Hum... – eu disse voltando a realidade. – É...

Yura se aproximou e me beijou novamente. Estar tão perto dele num dia frio como este, fazia com que seu corpo fosse mais tentador, acho que era isso que as pessoas chamavam de calor humano. Ainda era muito cedo, todos ainda demorariam a chegar.

Minhas mãos estavam geladas por causa do frio, ao tocar o pescoço de Yura eu o senti arrepiar. Ele não tinha problemas em deixar que cada impulso carnal que ele tivesse transparecesse...

A brisa gelada fez o abraço de Yura se estreitar ao redor da minha cintura, ele realmente não gostava de frio, pra alguém com uma aparência tão européia, ele não tinha muito a ver com o clima...

- Yura... – eu disse afastando-o. – Me deixe respirar...

- Claro. – ele disse, me soltando.

A verdade é que se eu não o fizesse se afastar, em breve eu veria o branco se instaurar em minha mente, normalmente, quando isso acontece, as coisas ficam complicadas...

Hoje o hálito de Yura tinha gosto de mel e chocolate, e por alguma razão, eu havia parado pra prestar atenção nisso.

- Não importa. Eu direi a Estela que não vou...

- O que? Por quê?

- Por que eu quero você. – ele disse olhando fixamente dentro dos meus olhos.

- Yura...

- Quero ter você por perto o tempo todo. Quero ter certeza de que você é só minha. Eu não suportaria te perder pra outro... – Yura disse acariciando devagar o meu rosto.

A frase de Yura ecoou dentro da minha mente, levando consigo qualquer duvida ou insegurança que eu tivesse a respeito desse assunto.

Yura sorriu amigavelmente. O primeiro sorriso que não expressava ironia ou sarcasmo... Um sorriso de ternura...

-Yura...

- Hum?

- Você está... Sorrindo.

- É... Eu faço isso sabe. – ele disse rindo da minha expressão de choque.

- É, mas normalmente é sarcasmo ou atuação...

- Como sabe que eu não estou atuando agora... – ele disse sorrindo de novo.

- Mesmo que esteja... É lindo...

Yura ia dizer alguma coisa, mas eu ouvi um dos professores chegando... Hora de começar a atuar...

- Bom dia senhor Aleric, senhorita de Forvia... O que fazem aqui tão cedo? – o professor de historia disse parando em seu caminho em direção a porta da frente.

De Forvia é o meu sobrenome, não havia comentado mas, meu nome completo é Alice Kurae de Forvia. Mas isso é só um detalhe irrelevante, sempre peço que me chamem pelo meu nome, mas no caso do professor de historia, ele não me escuta...

- Acordei cedo. – Yura disse antes que eu processasse a informação.

- Eu cheguei cedo mesmo, queria pensar um pouco... Como eu teria que vir de qualquer forma... – eu completei dando de ombros.

- Ah... Então está bem... Não se atrasem para entrar.

Eu cheguei umas três horas antes! Como eu poderia chegara atrasada...?

O professor de historia entrou pelas portas da frente do colégio. Yura o acompanhou com o olhar até que a porta se fechasse.

- O que ia dizer?

- Hum...? Não me lembro...

Yura parecia pensativo, ficou em silencio o restante do tempo, o que era muito estranho...

Durante o dia eu fiquei pensando sobre a minha vida. Ela é bastante feliz, não tenho do que reclamar...

A parte triste disso tudo, é que não ouvi uma virgula do que os professores disseram o dia todo... Que seja. Peço ajuda a Yura, ele é muito melhor nisso que eu...

Sarah e Cristine pegaram catapora, e eu não podia visitá-las, já que nunca tinha pegado...

Já Castel tinha pegado caxumba, eu também não podia visitá-la, a avó dela estava trancando ela em um quarto longe de todos e todos mesmo, mas ainda conversávamos por telefone...

- E então? Estão melhorando? – eu perguntei as três numa chamada em grupo pelo telefone.

- É, estamos melhorando bem rápido! – Sarah disse com Cristine logo ao seu lado.

- Eu também, minha avó está me dando tanto sorvete que eu nem sinto mais nada. – Castel disse sentada em seu quarto.

- Vocês voltam pra escola essa semana?

- Sim! – elas disseram em uníssono.

- Hahah, bom saber.

- Um dia desses a gente passa ai. – Sarah disse alegre demais pra alguém doente.

- É! – Cristine e Castel reforçaram.

- Certo, quando vocês melhorarem venham me visitar. – eu estava passando muito pouco tempo com elas, precisávamos conversar.

- Certo!

Depois disso elas desligaram, seria uma semana agitada, eu teria que me esforçar pra prestar atenção nas aulas, e na sexta Yura viria me ajudar.

Quinta-feira eu tinha um teste de historia, eu estava semipreparada, fiz o teste e sai, indo direto pra casa.

Naquela noite dormi cedo, pois estava muito cansada, nem vi Yura durante todo o dia, estava surpreendentemente, pensando em outras coisas, mas no dia seguinte ele iria em casa...

- Bom dia Alice. – Yura disse se dirigindo a mim no corredor, em direção a sala.

- Bom dia Yura.

- Parece cansada.

- Isso por que eu estou...

- Dessa vez não é minha culpa, não encosto em você já faz um tempo.

- Eu sei. Só estou com sono mesmo.

As lições daquele dia estavam relativamente simples, não deu muito trabalho pra corrigir tudo, e o dia acabou, até que eu não estou tão cansada...

Ao chegar em casa, coloquei uma roupa mais leve, me sentiu no sofá da sala com meu livro favorito, e comecei a ler.

A campainha tocou, eu me levantei, já com sono e fui atender.

- Oi. – Yura disse parado em minha porta.

 Ele usava as roupas que costuma usar quando não existe ninguém por perto, roupas escuras, com muitas linhas e um bordado na manga, uma gargantilha preta de fivela e um anel de cruz. Isso o fazia parecer completamente diferente, se não soubesse que era ele, nunca iria supor, ele parecia uma outra pessoa...

- Oi Yura... Já está tarde. – eu disse olhando no relógio. – O que faz aqui?

- Você quem me convidou, lembra-se?

Em minha cabeça me veio a imagem de mim falando com ele no corredor do colégio dois dias atrás, eu tinha me esquecido completamente...

- Nossa. Me esqueci!

- Reparei... – ele disse observando minhas roupas.

- Perdão Yura, me esqueci completamente! Eu ando dormindo pouco e...

Yura me silenciou pondo os dedos sobre os meus lábios e dizendo:

- Calma, não pedi explicações...

- Mas eu...

- Shh. – ele reentrou.

Yura estava bastante calmo, e não parecia zangado.

- Agora. – ele disse me tirando da inércia. – Você vai me convidar pra entrar, ou devo voltar pra casa?

- Não! – eu disse um pouco alto de mais.

Yura sorriu maldosamente, eu concordo que havia sido um pouco veemente demais nas minhas resoluções, mas...

- Entendo.

Yura me empurrou de leve pra dentro e fechou a porta atrás de si.

Em seguida ele caminhou em minha direção calmamente como sempre, me prendeu na parede e me beijou tão quente como sempre, meus joelhos cederem e eu fui caindo, até acabar sentada no chão da sala de estar com Yura impedindo o meu cérebro de ter um único pensamento lúcido.

Yura estava ajoelhado na minha frente, tirando o meu cabelo do caminho. Ele soltou os meus lábios, e sua língua saiu da minha boca, ele se encaminhou até o meu pescoço me beijando levemente, simplesmente pra me fazer arrepiar.

- Sim? – Yura disse me soltando pra atender o telefone que estava em seu bolso.

- Já se decidiu? – pela voz era Estela, era a segunda vez que ela atrapalhava...

- Já.

- Então?

- Vou pra Aspen, mas não quero ir com você.

- Ah... – Estela parecia decepcionada. – Bem, eu prometi... Com quem você quer ir?

- Com a Alice.

Eu parei, e me senti subitamente interessada na conversa...

- Ela é sua namorada Yuyu?

- Não. – ele disse simples e friamente.

- Oh, claro. Quando acabarem as aulas de vocês eu mando o jatinho ir buscá-los.

- Certo. – Yura respondeu objetivamente.

O fato de Yura não me conciderar namorada dele me deixou um pouco magoada, mas ele nunca tinha dito que era... Eu sabia que eu estava mais pra uma boneca ou um passa-tempo... Mas em contraponto eu fiquei feliz já que ele preferia ir a Aspen comigo a com Estela, mesmo que eu soubesse a razão pela qual ele me escolhia...

- Comece a comprar roupas de frio. – Yura disse fechando o telefone.

- Aspen é?

- Isso.

- Certo...

- Não quer ir?

- Quero mas...

- Mas?

- E quanto a Estela?

- Não se preocupe com isso.

- Está bem então...

Eu me perguntava quanto mais iria demorar até que chagassem as férias.