Shikashi!! escrita por Uma Qualquer


Capítulo 8
Quem tá a fim de quem?


Notas iniciais do capítulo

Onde descobrimos o que deu na Gumi, colhemos informações sobre o término, e descobrimos os dois rivais mais inesperados possíveis!



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Então, o que aconteceu naquele maldito festival em que todo mundo parecia estar maluco?

Bom, eu tive que esperar um pouco pra saber. Até chegar em casa pelo menos. Já era noite, eu tinha acabado de tomar banho e estava morta de cansada, mas acima de tudo preocupada com Gumi.

Fiquei com o celular ao meu lado, ignorando as mensagens da Rin que estava louca pra saber o que houve (o clube de música dela estava no ginásio, então ela não viu nada do que aconteceu). Até que o número da Gumi começou a chamar e eu atendi apressada, quase derrubando o aparelho no chão.

— Gumi-chan, tá tudo bem? – fui logo gritando.

— Calma Miku-chan, aqui é o Gakupo – a voz dele soou divertida. – A imouto tá aqui, já vou passar pra ela.

— T-tá – respondi, fumaçando pelos ouvidos. Não podia terminar o dia sem pagar mais um mico, né.

— Miku-chan! Desculpa, eu te deixei preocupada...

— Claro que sim– exclamei ao ouvi a voz dela. Parecia estar bem melhor agora, mas isso não me deixava mais tranquila. – O que aquele alienígena te fez?

— Nada... – Ela deu um risinho. – Bom, eu quem fiz a ele, né. Acho que exagerei.

— Mas... Como assim? O que houve afinal?

Então a Gumi me contou calmamente o que houve, depois que ela me deixou com o Gakupo. Foi mais ou menos isso:

“- Luka diz que sente muito pelos garotos terem presenciado aquilo, se despede do Kaito desejando boa sorte a ele na escola, e da Gumi se desculpando por ter reencontrado ela naquelas circunstâncias.

— Como a Gumi pressente, o Kaito não tá muito bem com a situação. Ela o chama pra conversar e Kaito conta sobre a ex-professora dele, uma pessoa gentil e dedicada e de quebra muito linda. Kaito era um guri de treze anos, solitário e esquisito, que se apaixona pela Luka antes da primeira aula dela acabar.

— Luka dá a maior força pra ele desenhar e escrever suas histórias, o que o faz se tornar mangaká. Por dois anos ela trabalha como professora do Kaito, e a cada dia desse tempo ele fica mais apaixonado por ela. Mas, como outra trouxa que você conhece, ele prefere não fazer nada e sofrer em silêncio. Luka estava em um relacionamento e ele sabia disso, porque nosso alienígena é um pequeno stalker e checou algumas mensagens de um certo Kamui Gakupo no celular dela.

— Um belo dia a Luka encerra seu contrato e explica ao Kaito que não pode mais dar aulas por um tempo, pois não está emocionalmente bem. Ela não dá mais detalhes, de modo que o que acontece ao nosso alien é ver o amor da sua vida sendo substituído por um professor qualquer. A essa altura ele já publicava mangás e estava sendo reconhecido por isso, mas pensava seriamente em parar, de tão desanimado que ficou.

— Foi quando ele ouviu o nome de uma certa Kamui Megumi como mangaká da mesma editora que ele . Luka já tinha contado ao Kaito que a irmã do namorado dela também desenhava, então ele ligou uma coisa à outra. Mas só no dia da festa da editora ele teve certeza, ao encontrar a gente na mesa do bufê.

— Então ele aproveita a deixa da Gumi sobre escolas de verdade e vai justamente pra dela, e pra sala dela. Pra quê? Pra tentar se aproximar dela, buscar informações sobre Gakupo, saber se ele tinha algo a ver com a saída da Luka da vida dele e, caso sim, dar um jeito de acabar com a vida dele.

— É aqui que a Gumi fica tipo, ‘então você tava me usando esse tempo todo?’ E o Kaito responde que sim, com a maior cara lisa.

— Conclusão: ele só pode ser retardado.”

— Nossa – eu disse assombrada. – Agora tudo faz sentido. Ele parecia tão desligado, dormindo pelos cantos enrolado naquela maldita echarpe azul. Eu nunca ia adivinhar que ele fosse tão babaca!

— Eu não gosto de violência, mas não me contive – ela admitiu. – Se fosse você, sei que tinha quebrado a cara dele! Haha... Mas então, conversei com o nii-san e me acalmei, e agora posso entender as coisas com mais clareza.

— Mas entender o quê? Ele foi babaca contigo, ponto. Tem que te pedir perdão de joelhos. Eu vou fazer ele lamber o chão até te pedir desculpas, deixe comigo!

— Ele me pediu desculpas, Miku-chan – ela disse. – Disse que só fez tudo isso porque estava preocupado com a Luka-san, mas estava arrependido. Ele só não sabia quando me contar tudo. E eu fiquei furiosa na hora, mas agora que passou, tô até envergonhada do que eu fiz, sabe...

— Espera... Você vai deixar isso passar?

— Não tem nada pra deixar passar. Ele errou e admitiu, e se desculpou, e eu dei na cara dele. Só me resta pedir desculpas por ter ido tão longe.

Aquilo me parecia errado de todos os ângulos possíveis, mas se a própria Gumi dizia que estava tudo bem, eu não podia discordar dela. Só tinha uma coisa que eu realmente lamentava.

— Enfim... De qualquer modo, deve ter sido chato pra você, descobrir assim que ele já gosta de outra pessoa.

— Hein?

— O Kaito, ele já gosta da Luka, então vocês não...

— Espera, o que você tá inventando aí?

— Hã?

Agora era eu quem tava confusa.

— Você... Não gosta do Kaito?

— Somos amigos Miku-chan, pelamor! – Ela riu do outro lado. – Bom, talvez amizade seja uma palavra forte. A gente conversava muito sobre nosso próprio trabalho e outras coisas, mas só isso. Você realmente achou que fosse algo além?

— Poxa – eu fiz beicinho, decepcionada. – Mas vocês eram perfeitos um pro outro...

— Na sua cabecinha tonta, só se for – ela não parava de rir. Tudo bem Gumi, já entendi, para de me fazer sentir cada vez mais trouxona. – Eu tenho que estudar e desenhar um mangá, onde vou arrumar tempo pra essas coisas? E mesmo assim, você não acha que eu teria te contado se fosse algo assim?

Oops! É mesmo, né nom?

— Somos amigas ou não? Se um dia eu me apaixonar por alguém, pode crer que você vai ser a primeira pessoa a saber.

— Tudo bem...

— E claro, quando acontecer contigo, quero saber também!

—...

Silêncio total do lado de cá.

— Miku-chan?

— Claro, claro que te conto – prometi. – Pode deixar!

Conversamos mais um pouco e então eu desliguei, sentindo a cabeça doer pra caramba.

Devia ser aquele negócio que chamam de “dor na consciência”.


Então as coisas seguiram seu curso normal. A Gumi pediu desculpas ao Kaito, que insistiu que eles estavam mais do que quites. Talvez até ele ainda devesse mais a ela. Era o que eu achava, pelo menos... Mas eles resolveram que, se fossem ser amigos de verdade, deviam se afastar um pouco e deixar que o interesse rolasse naturalmente. E assim ele foi até a Yukari e avisou que estava fora do clube, o que é claro, não agradou a ela em nada.

Aproveitando a deixa dada pelo caso do Kaito, resolvi perguntar a Gumi se ele tinha conseguido alguma informação relevante sobre o término da Luka e do Gakupo.

— Bom, eu mencionei que meu irmão andava pra baixo, e isso afetava o desempenho dele enquanto ajudava no mangá – ela contou. – Ele me perguntou o motivo, aí eu disse que era porque ele e a namorada tinham terminado. Acho que até o Kaito tem bom senso de saber até onde dá pra xeretar a vida de uma pessoa, então ele não perguntou mais nada.

— Sei – estreitei o olhar na direção dele, que conversava com Len e Rin do outro lado da sala de aula. Ou melhor, a Rin falava com ele o tempo todo. – Se bem que, mesmo naquele dia, deu pra ele recolher alguma informação.

— Como?

— Eh... – Bom, como contar a ela sem parecer que eu tinha coletado aquela informação pra mim? – Sei lá, o jeito que eles se encararam, como a Luka chamou ele pra conversar em vez de agir como se ele fosse um estranho, como eles ficaram depois da conversa... Essas coisas, que todo mundo além de mim deve ter visto.

— Aaah – a expressão dela se iluminou. – Verdade! Aliás, tenho até que te agradecer. Não sei o que você fez naquele dia, mas ele não ouviu uma música da Adele quando chegou. Em vez disso, foi a primeira vez que ele conversou comigo sobre as coisas do namoro dele.

— Sério?

Tentei conter minha empolgação, só parecer uma amiga interessada na conversa da outra e não naquilo que poderia definir os rumos do meu destino.

Sou a rainha do drama. Eu sei, eu sei.

— Naquele dia no festival, ele quase deu uma desculpa pra sair dali, sabe? Mas a Luka foi mais rápida. Ela realmente tinha coisas pra conversar com ele.

— Coisas?

— Bom, primeiro ela achou que ele tava dando uma de stalker. Quando percebeu que tava exagerando, ela pediu desculpas e disse que se outra coincidência dessas acontecer daqui pra frente, melhor eles fingirem que não se conhecem.

Cara... Sério que eles fizeram um teatro daqueles por uma coisa tão besta?

— Ah, entendo – eu comentei, sem saber muito o que dizer. Achava que relacionamentos entre adultos era coisa de outro nível, mas...

— Pois é. Claro, o nii-san ficou arrasado mas concordou. Ele disse que vai ter que aprender a lidar com coisas desse tipo com mais maturidade. Afinal, foi por causa disso que eles terminaram.

Opa! Como é que é?

Então o professor entrou na sala e cortou o nosso papo no ponto principal. Fiz uma anotação mental de, no caso de ficar bem rica no futuro, contratar um assassino pra matá-lo.

Acabou que a conversa ficou cortada mesmo, pelo menos naquele dia. No fim da aula a Gumi tinha resolvido terminar o storyboard do mangá no clube, então decidi deixar ela se concentrar. Resolvi acompanhar o Kaito em sua nova empreitada de fazer amigos, dessa vez aprofundando sua amizade com os Kagamine. Ia ser uma maravilha, a Rin tentando conseguir a atenção dele e o Len trolando a irmã. E claro, o alienígena completamente perdido entre eles. Essa eu queria ver.

Reservamos uma sala no karaokê e claro, a primeira a pagar o mico fui eu. Logo depois veio a Rin, que costumava cantar pra me humilhar com a voz fofa dela; mas dessa vez o objetivo era bem óbvio: impressionar o Kaito. Ela cantou Love me Harder e foi tipo, ‘olha pra mim Kaito, eu tô afinzona de você’. Quem ficou boiando? Um certo alguém de echarpe azul.

— Poxa, você canta tão bem – ele lhe sorriu gentilmente. – Meus parabéns!

Imagina a cara da coitada. Sorte que o Len não tava ali, ele tinha ido pegar pizza e tava demorando um bocado. O que era um pequeno contratempo, já que agora era a vez dele. Sendo assim...

— Sua vez, Kaito-kun! – entreguei o microfone a ele. Só que peguei o objeto de mau jeito, e a microfonia deixou todo mundo meio surdo.

— Você desafina até quando não tá cantando – A Rin zombou. E eu tive que deixar porque né, ela já fez papel de trouxa demais por hoje.

— Uhhh, eu não sou muito bom nisso – ele franziu as sobrancelhas. – Preciso mesmo...?

— Se eu fui, você vai também – puxei ele pelo braço. Percebi que ele retirou o braço bem rápido e se levantou, meio desconfortável.

Ah, quer dizer que é intocável também? Que bom pra você. Queria ver como pretendia ficar com a Luka desse jeito.

— Pode ser qualquer música – a Rin dizia, enquanto ela mesma escolhia no índice. – Ah, essa daqui!

Era Kirei na Kanjou, uma música meio velha e bonitinha, até fácil de ser cantada. Mas quando o Kaito começou... Meu Deus, comecei a me sentir a própria Adele. Por que gente... Como pode alguém cantar mal daquele jeito...?

O próprio Kaito parecia ter consciência disso, porque o rosto dele estava ficando azul. Hah, ele era um Na’vi, eu sabia o tempo todo! Enquanto me controlava pra não rir, a Rin me puxou pro lado.

— Pelo amor de Deus, não deixa ele pagar esse micão – implorou. – Vai lá e canta junto com ele!

— Eu?

— Porque você é bem ruim também.

— Mas não nesse nível! Me respeita!

— Por favoooor... Olha a carinha dele. Na certa vai sair daqui traumatizado porque a gente fez ele passar por isso.

Aff... Por que eu tinha que fazer aquilo pelo cara que se aproximou de minha melhor amiga por interesse?

Porque ele já pediu desculpas?

Sério, essa coisa de consciência pesada ainda vai me colocar numa fria.

Peguei o outro microfone e acompanhei a música junto com ele. E então, o inacreditável aconteceu. Ao me ver cantando do lado dele, o rosto do Kaito foi voltando a cor normal, ele foi relaxando, e até a voz dele era possível de ser ouvida! Me surpreendi de verdade. Ele sorriu em agradecimento, e quando a música terminou, me agradeceu outra vez.

— Por nada– eu dei de ombros. Não era nada de mais, certo?

Não para a Rin.

— A próxima eu canto com ele – ela me olhou com uns olhos de mira a laser.

— Tá, tanto faz – olhei o relógio. O Len não tava demorando muito? – Vou ver se o seu irmão foi fazer a pizza.

— Você vai deixar a gente sozinho aqui? – A Rin parecia excitada e apavorada ao mesmo tempo.

Só pude sorrir malevolamente pra ela.

— Pode ser a primeira coisa boa que lhe acontece hoje, então, aproveite!


Deixei os dois sozinhos na sala, o que provavelmente não era uma boa ideia por diversos motivos, mas nenhum me importava no momento.

Por alguma razão, eu tava preocupada com o Len.

Fui até a lanchonete da loja e nem sinal dele. Olhei do lado de fora na rua, perto dos banheiros... Nada. Quando voltava pra sala, passei por outro corredor e encontrei ele sentado no chão, encostado na parede, brincando com os cadarços dos tênis.

— Len – exclamei. – Tá fazendo o que aí?

— Nada não – ele murmurou sem olhar pra mim.

Sentei do lado dele. – Como, ‘nada não’? Aconteceu alguma coisa, foi isso?

Ele finalmente me encarou, e até me assustei. Ele parecia muito desamparado.

— Miku... Eu tô muito a fim de alguém... O que eu faço?

Congelei na hora. Essas coisas não se dizem assim, na lata! E como assim, o que você faz? Eu que tenho que saber?

— Você é a melhor amiga dela, então achei que...

— A Gumi? – acabei cortando ele, de tanta surpresa.

— É – ele baixou a cabeça de novo. – É ela. Só que ela mal repara que eu existo. Porque eu sou mais novo que ela e tudo mais... Até entrei no clube na época do festival, mas aí esse Kaito chegou e estragou tudo.

— Espera – eu abanei as mãos na frente dele. – Espera, espera, você tá a fim da Gumi? Cara, por que não me disse antes? Não, isso não importa. O que você tá fazendo aqui? Tem que ir atrás dela, e logo!

Não faz tipo eu, a maior trouxona do mundo, ou o Kaito, o segundo maior trouxa. Ou a Rin que tá caminhando pro terceiro lugar, a menos que tenha ouvido minhas palavras e aproveitado a chance que deixei no colo dela.

— Você acha...? –Ele se voltou pra mim ansioso.

— Quer ficar com isso aí preso dentro de você o resto da vida, ou quer que a Gumi pelo menos saiba?

Eu era uma maravilha pra encorajar os outros a fazer o que eu mesma não conseguia.

— ... Tem razão – ele disse devagar, a decisão se formando no rosto dele. – Vou falar com ela.

— Se você correr, consegue encontrar ela no clube de artes a essa hora – contei.

— Então...

— Então vai!

Ele me deu um sorrisão, levantou e saiu correndo. E eu levantei também, voltando pra sala toda feliz. O Len era um cara legal no fim das contas, mesmo sendo uma peste comigo. A Gumi podia considerar a ideia pelo menos, né?

Enquanto voltava pra sala, meu celular tocou. Era a Gumi.

— Miku... – a voz dela estava abalada. – Eu não sei o que fazer... Alguém se declarou pra mim.

Sério? Kagamine Len, o Ser Humano Mais Rápido Vivo?

— Quem...?

— ...Yukari-senpai.

E foi assim que minha mente explodiu.


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Notas finais do capítulo

*BOOM*
Deixo com vocês imaginar a Rin cantando Love me Harder pra seduzir/se declarar pro Kaito, enquanto ele boia feito isopor. ^^
Kirei na Kanjou é a ending de um anime velhinho chamado Noir. Aqui um link pra versão live da música, com a Akino Arai: https://www.youtube.com/watch?v=eKT-4GV3CIo
Também deixo com vocês imaginar o Kaito destruindo esse amorzinho de música asuhaushaush
Valeu por ler e acompanhar pessoal, os comentários de vocês me ajudam bastante a focar na fic! Se você nunca deixou review, que tal quebrar a rotina hoje? Vai ser um prazer trocar ideia contigo ♥ Deixa sua opinião, dúvida, sugestão ou apenas o seu OLAR!
Beijas e té maisinho :****