Hakuryuu estava deitado em sua antiga cama, no Palácio Imperial de Kou. O que estava fazendo lá? Havia algo diferente, no entanto. Um aroma, talvez? Um cheiro doce e agradável... Tão familiar. Quando abriu os olhos, descobriu sua fonte. Judal.

O magi negro estava deitado a poucos centímetros do príncipe. Seu peito subia e descia em uma respiração tranquila e constante. Dormia profundamente.

Hakuryuu sentou-se e passou a observar o outro, os cabelos de Judal estavam soltos, uma grande confusão negra espalhada por toda a cama. Pareciam tão macios... O mais novo teve vontade de tocá-los.

“O que estou fazendo?”, pensou, sua mão já esticada, quase encostando nos fios lustrosos.

Sacudiu a cabeça, irritado. Por que agia daquela forma perto do magi? Não conseguia entender seus sentimentos por Judal, mas seu coração sempre acelerava em momentos como aquele. Tinha vontade de sentir sua pele, seu cheiro, seu calor... Estava ficando louco?

Pousou a mão em uma das bochechas do mais velho. Era quente e macia. Judal resmungou, mas continuou dormindo. Hakuryuu imaginou o magi de olhos abertos... olhos rubros e febris, cheios de malícia, prontos para devorá-lo.

O que Judal diria se acordasse? Riria dele? Provavelmente... Ou será que o beijaria? Já fizera isso antes. A lembrança fez o príncipe de Kou corar. Deslizou os dedos pelos lábios do mais velho, queria senti-los mais uma vez.

Sua mente dizia que era errado, mas tudo em seu corpo estava sendo atraído por Judal. Aproximou seu rosto ao do magi e o espiou mais uma vez antes de beijá-lo, aquilo era tão bom.

Sentiu que o outro despertava meio desorientado. Quando percebeu o que estava acontecendo, Judal puxou o jovem ainda para mais perto, colocando a mão em sua nuca, e abriu os lábios para que Hakuryuu pudesse beijá-lo de verdade.

O magi negro tinha o gosto adocicado e inebriante de sempre, os dois ficaram daquele jeito pelo que pareceram horas, mas talvez fossem segundos. Mesmo quando se separaram, continuaram próximos, com as testas coladas e as respirações ofegantes. O coração do mais novo batia tão forte e tão rápido que ele teve certeza de que o outro podia escutá-lo.

– Se vai fazer algum comentário sarcástico, agora é a hora... – Disse o príncipe. Mas, para sua surpresa, não obteve resposta. Judal permaneceu estranhamente calado, olhando para qualquer lugar, menos para Hakuryuu. – Judal?

O outro finalmente o encarou, olhos vermelhos e brilhantes.

– Sabe, Hakuryuu...- Ele fez uma pausa, aparentemente escolhendo as palavras. - Por um tempo, eu pensei que nunca seria capaz de amar alguém de verdade. Mas estava errado. Eu te amo, Hakuryuu.

O príncipe ficou chocado com aquela declaração repentina. Judal o.. amava? Nunca ninguém tinha se aberto daquela forma para ele.

– Não tem problema se você não sentir o mesmo... Sei que gosta de mim. Isso já é suficiente. – O magi continuou, contornando com um dedo a cicatriz do mais novo, o que fez com que Hakuryuu se arrepiasse. – Farei de você Imperador. E ficarei ao seu lado para sempre.

– Judal... – O príncipe não sabia o que dizer. Estava surpreso, mas também feliz. Ele e o magi haviam se tornado cúmplices, companheiros. Um conseguia compreender o outro. Mas não era só isso que sentia pelo mais velho...

Beijou Judal mais uma vez, de uma maneira muito mais intensa. Estivera confuso por tanto tempo, não conseguia compreender seus próprios sentimentos. Ou talvez só não quisesse admitir a verdade. Mas ele sabia... No fundo, sempre soube.

– Eu também te amo, Judal. – sussurrou. Vislumbrou um sorriso no rosto do Magi. Passou a beijar seu pescoço, seus ombros... Aquilo parecia tão certo.

– Hakuryuu... – Judal suspirou. – Hakuryuu... HAKURYUU!

O príncipe acordou enquanto alguém o sacudia. A luz forte o cegou, mas a voz que gritava seu nome era bem conhecida.

– Oe! Tomou um sonífero ou algo assim? Que dificuldade! Já está tarde! Hora de levantar! – Judal parou de gritar quando viu a expressão confusa do outro. – O que foi?

– Aquilo foi... um sonho? – Hakuryuu não conseguia acreditar.

– Do que está falando?

– Foi só um sonho? – Não conseguiu impedir as lágrimas de escorrerem. Elas desciam teimosamente por suas bochechas. Nada tinha sido real?

Judal ficou assustado com a reação do menor.

– O que foi? Por que diabos está chorando? – Perguntou.

– Não foi verdade... – Hakuryuu continuou, sem dar atenção ao magi. – Você não...

– Hakuryuu? – Judal tentou outra vez, segurando o príncipe pelos ombros.

– Foi só um sonho. – Ele parecia realmente desolado. – Você não me ama.

– Ah? O quê?

– Você não me ama. – O príncipe respondeu, dessa vez mais alto, olhando para o chão.

Judal pareceu compreender.

– Olhe para mim, Hakuryuu. – Falou, sério. O mais jovem obedeceu, olhos azuis desiguais agora o encaravam. – Pare de agir assim, está parecendo o antigo “bebê chorão”! – Secando as lágrimas do príncipe com os dedos, concluiu: - E é claro que eu amo você. Pensei que fosse óbvio...

– Mesmo? – Hakuryuu pareceu surpreso. O magi riu.

– Estou feliz por saber que também me ama... Embora eu tenha imaginado isso de uma maneira totalmente diferente.