Deadhood escrita por tomm


Capítulo 3
Capítulo 3, onde uma jornada se inicia


Notas iniciais do capítulo

Este capítulo ficou menor por que nessa semana eu tive uma gripe braba e não deu pra escrever... Daí resolvi encurtar tudo.



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Entraram, explodindo a cabeça de um morto vivo desavisado logo ao passarem pelos portões caídos para dentro, aquele mastigava um braço. Decidiram dar total prioridade aos pais, pois além do motivo óbvio, eram os único que eles tinham conhecimento que tinham chances de estarem vivos. Andando rente à paredes beges e grossas, se escondendo sob beiradas de telhados baixos eles chegaram às portas do prédio baixo que servia como cozinha e refeitório. O depósito de alimentos ficava nos fundos deste, depois da cozinha. Fora o que havia se retardado perto do portão, ainda não haviam encontrado nenhum zumbi, talvez por que a maior parte deles havia saído em busca de qualquer pessoa que tenha conseguido fugir.

Sem mais demora eles atravessaram o pequeno espaço marcado por trilhas de carros entre os prédios dos dormitórios e o refeitório e entraram pela porta escancarada que dava em uma sala ampla com várias mesas compridas dispostas paralelamente. Andaram pelas mesas até entrarem por uma porta lateral que dava na ampla cozinha industrial. Sean foi na frente, sentindo seu pé ser agarrado por uma mão mola logo que deu o primeiro passo dentro do recinto.

- Aidam, para trás! – Gritou o loiro ao se jogar para trás livrando o coturno de couro da mão podre, ambos olhando com as pistolas apontadas, esperando por uma cabeça – conhecida ou não.

Lentamente, se arrastando com os braços surgiu o monstro, com roupas que um dia foram de um caçador, o colete laranjado manchado de sangue marcando a cintura que se havia se partido, perdendo a parte inferior do corpo. Nenhum dos dois conseguia reconhece-lo devido ao avançado estado de putrefação da face. Foi Aidam quem deu o tiro, que entrou destruindo o topo da cabeça e alojando o projétil em algum lugar nas entranhas do morto-vivo.

- Alguém achou que estava seguro por aqui. – Sean de novo. – Será que tem mais?

- Eles já teriam saído. – Aidam tomou a frente dos dois colocando a cabeça pela porta.

         Encontrou vários corpos em diferentes estados de putrefação mutilados em todo lugar, distribuídos tanto pelos balcões largos como pelo chão de piso branco. Em cima de um balcão de canto com as pernas presas junto ao corpo apoiado na parede, ainda segurando a pistola com a qual havia se suicidado, estava Howard Büien, o cozinheiro chefe de cabelos grisalhos e barriga proeminente. No braço com o qual segurava a pistola havia uma marca de mordida necrosada.

- Ele deve ter trazido eles pra cá junto com papai e mamãe. – Aidam olhando de longe: um mar de sangue e entranhas os separava do ex-amigo.

         Depois de um segundo imaginando a expressão de determinação do cozinheiro que com uma pistola e utensílios de cozinha chacinava os monstros sabendo que não ia sobreviver, o olhar dos dois foi atraído para a porta de madeira grossa reforçada onde ficava a despensa. Estava trancada por fora, o que levou os dois a imaginar com que argumento o homem havia conseguido convencer seus pais a se salvarem sozinhos, ou mesmo como os havia obrigado a entrar. Usando um grande e pesado cutelo eles arrancaram a tranca junto com o cadeado, fazendo a porta pender para fora deixando sair um odor forte de carne seca misturada ao cheiro de ferro característico de sangue. A despensa estava um breu. Aidam deu passo na direção do lugar, sendo impedido póla mão de Sean em seu peito.

- Sem culpa. – Falou o loiro olhando fundo nos olhos do irmão.

- Sem culpa – Repetiu o outro apertando firme a mão de Sean. Entraram, Sean na frente.

         Não havia luz, uma lâmpada enfraquecida iluminava apenas a si mesma no teto acima das estantes altas e ordenadas onde repousavam os mais variados tipos de alimentos de preparo simples e em sua maioria não degradáveis. Um zumbido baixo indicava que a grande geladeira – alimentada por um gerador de energia elétrica dedicado apenas à ela – onde eram guardadas as carnes, verduras, legumes e frutas produzidos em pequena escala dentro da colônia. Andaram com as pistolas apertadas nos punhos até que a carne abaixo das unhas se tingisse de um branco doente. Não havia nem sinal de Jull e Paul lá.

 

- Eles disseram que estariam aqui! – Sean falava à meia boca, os dois ainda escondidos no depósito com luz deficiente. – Onde mais eles poderiam ir?!

- Se eu soubesse nós não estaríamos aqui Sean. Pare de falar e deixe-me pensar. – O mais velho olhou boquiaberto para o irmão e sua atitude atipicamente rígida.

         Por que os dois mentiriam? Aidam não achava que agiriam de má fé ou ainda que estivessem desorientados o suficiente para errar o lugar em que estavam. Também achava pouco provável que tivessem mentido sabendo que os filhos não iriam a seu socorro – achar que Sean não largaria tudo para ir diretamente na  direção do pedido de socorro era um nível inimaginável de inocência. Por que, então? Realmente, não havia motivo aparente, e a única pista que tinham era o vídeo. Teriam que decifrar o vídeo. Para seu horror, porém, o Iphone não ligou, acusando a bateria insuficiente.

- Mas que merda Aidam! Como é que você não notou isso antes? – Sean perdeu a calma, aumentando o volume da voz.

- Mas que merda Sean, como é que você não notou isso antes? – Imitou comicamente o mais novo. – Deixe de ser dramático, não vai ser difícil de trocar a bateria por aqui, a gente deve achar algumas nos quartos.

- O que quer dizer sair ali fora de novo.

- Você tem medo de um monte de gente morta capenga? Pelo amor de Deus Sean.

- Oh, vai dar uma de macho agora?

- Dane-se, vamos sair. Quer pegar alguma coisa daqui?

- Não, a gente não vai passar a noite aqui, é só ver o vídeo e se não os acharmos vamos dar o fora e voltar só amanhã.

- Você que manda. Sabe onde tem uma bateria? Acho que tem no meu criado-mudo.

- Nosso criado-mudo cabeção, dormimos no mesmo beliche.

 

         Andaram dando passos largos e lentos, evitando áreas muito espaçosas. Ao final de alguns minutos estavam nas portas do prédio residencial. Eram três salas pouco menores que o refeitório repletas com três fileiras de beliches. Privacidade era algo quase nulo, para desespero dos casais, que podiam desfrutar de alguma intimidade apenas quando a maior parte dos moradores estava ocupados em outras atividades ou escondidos em algum lugar da colônia. Os mais ousados porém se contentavam com uma cortina em volta da cama. Entraram no corredor, e logo viraram na primeira porta, entrando no quarto que dividiam com outras quinze ou vinte pessoas. Logo de cara ouviram diversos grunhidos arrastados e aos virarem as armas na direção do barulho encontraram três zumbis agaichados sobre uma massa disforme de carne coberta de sangue. Nenhum dos três tinha a face conhecida, então três tiros precisos destruíram as cabeças, jogando os corpos para trás.

         Passando por cima dos mortos e evitando olhar o corpo com que se banqueteavam, os dois chegaram ao seu beliche, encontrando a bateria. Saindo rapidamente do local sem encontrar mais mortos-vivos, voltaram à segurança da despensa e fizeram as devidas trocas, ligando o aparelho. Sem mais delongas, acessaram o email e abriram o vídeo, procurando desesperadamente por pistas do local onde estavam os pais ou alguma justificativa do por que do engano quanto ao lugar em que estavam.

         Quando terminaram de assistir o vídeo, tiveram a resposta da segunda pergunta. Jull tinha a falta de brilho nos olhos, onde não se via mais o azul e sim o branco leitoso: Jull estava cega.

 

         Já era noite quando os dois terminaram de vasculhar o acampamento, sentindo as armas vibrarem cada vez mais ao fazerem a mira em algum zumbi, temendo reconhecer um dos pais. Naquele instante eles estavam de volta dentro do carro, voltando para a cidade na direção do esconderijo de Heather.

 

- Então não conseguiram achá-los. – A Mulher falou massageando os cabelos curtos.

- Não, nem sinal deles. – Disse Aidam com a expressão tensa.

- Isso deve ser bom, se é que vocês realmente prestaram atenção na face de todos os zumbis que mataram.

- Como é que isso pode ser bom? A gente não faz a menos idéia de onde estão nossos pais! Não temos nem pista deles. – Sean estava calado, meio envergonhado de ter voltado de mãos vazias depois de tudo que havia falado para a mulher no dia anterior.

         Os quatro estavam reunidos em volta de uma mesa na cozinha de uma casa preparada como refúgio pelo grupo há alguns anos. Era uma casa pequena e não chamativa de apenas um piso, que tinha todas as entradas e saídas reforçadas, assim como um grande número de alimentos e armas estocados para suprir as necessidades de uma possível fuga da base principal. Existiam mais algumas casas assim distribuídas pela cidade e pelas cercanias. Sean e Aidam chegaram na casa quando a noite já estava alta, e a mulher os veio receber avidamente esperando por notícias, fossem quais fossem. Quando disseram que não tinham notícias e que não haviam achado nenhuma pista dos pais, a primeira coisa que Heather havia feito era culpar a incompetência de ambos em procurar por pistas. Eles sabiam que era apenas um discurso de boca pra fora por que não foi tocada na possibilidade de ela mesma voltar lá no dia seguinte para procurar por pistas.

- Não podemos ficar aqui por muito tempo, vocês sabem. – A voz com tom de nicotina da mulher quebrou o silêncio de quase-pêsames.

- Sim, se tivemos um ataque por aqui há pouco tempo é improvável que não existam mais zumbis na área. – Respondeu Aidam, como se fosse mais um teste. – Eles logo vão notar a aproximação ou seguir nosso cheiro.

- Mas não podemos partir sem eles, sem notícias deles pelo menos.

         Sean disse esta frase, que foi seguida por mais um período de silêncio. O irmão mais velho poderia não perceber isso tão facilmente quanto os outros dois, mas não poderiam ficar ali além da próxima manhã.

- Garoto, eu estou indo embora amanhã pela manhã.

         Silêncio.

- Você vai deixá-los.

- Eu já dis-

- Você vai deixá-los Heather! É isso que você vai fazer. – Nesse ponto a mulher era a única de pé, Aidam estava com as mãos no peito do irmão tentando controlá-lo e o outro havia jogado a cadeira longe quando se levantou, fumegando de raiva.

- Sean. – Para espanto do mais velho, quem falou foi o irmão mais novo – Não tem por que... Ficarmos aqui. – Os olhos azuis e castanhos se encontraram, os de Aidam com o peso de uma notícia péssima e os de Sean com o espanto de quem descobre uma mentira – Nós não os achamos... E eles gostariam que nós... Vivêssemos.

         Depois de mais tempo gerindo o que havia ouvindo, especialmente de quem tinha ouvido, Sean afastou a mão do irmão com um safanão e desapareceu em algum cômodo escuro da casa. Aidam se sentou.

- Você sabe que está certo. Ele também sabe que no fundo você ta certo. – Disse a mulher, procurando as palavras certas. – E não se preocupe com isso, ele também deve estar chorando em algum canto daqui.

         As primeiras lágrimas caíram na mesa de madeira clara, marcando-a.

 

         No dia seguinte de manhã os três entraram no carro e saíram sem rumo algum, deixando para trás o local que haviam aprendido a chamar de casa. Ainda dentro da cidade encontraram um morto vivo que tropegava sem rumo. Dirigiram por mais da metade de um dia, revezando em turnos e evitando ao máximo cidades grandes com as quais fossem cruzar no caminho, e chegaram à uma pequena cidade no extremo leste de Kentucky chamada Louisa. Não necessitavam de suprimentos, mas uma base de sobreviventes da região leste existia em um dos estados próximos. Precisavam descobrir em qual deles.

 


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Notas finais do capítulo

Bem, notem que a agora a aventura vai começar de verdade. Posso adiantar que mais gente vai morrer daqui a pouco. O:



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