Deadhood escrita por tomm


Capítulo 2
Capítulo 2, onde nada que é bom dura para sempre


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo é, novamente e em sua maior parte, descritivo. G_G Não gosto muito de escrever assim, mas quando se mexe com fantasia, é necessário. No final, tem um gancho que levará ao início propriamente dito da trama. :B



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2035

Uma semana se passou depois do aniversário de 19 anos de Sean e 17 de Aidam. A colônia havia perdido completamente seu ar de estrutura militar, ninguém deixaria de chamar aquilo de lar – cheio de gente, mas ainda sim um lar – e isto se aplicava principalmente à Sean e Aidam, que não conheceram o mundo civilizado. Algumas outras crianças nasceram depois da segunda gravidez de Jull, suas mães motivadas por elas. As condições não eram boas, mas lentamente o estado contínuo de alerta e perigo se tornou rotina e a vida adquiriu mais normalidade.

Sean havia deixado de ser aquele bebê rosado e gordo, dando lugar à um homem de cabelos loiros, lisos e curtos, com músculos bem definidos e, depois de muito treinamento com o combate armado e desarmado, olhar agudo e perigoso. Aidam por outro lado, com sua tez mulata e cabelos grossos ondulados compridos, não havia perdido o corpo magro e esguio e o ar de inocência de garoto, apesar da barba rala que lhe crescia no queixo – descendência de seu pai, diferente de Sean que não tinha nem vestígios de pêlo facial. Completamente contrários à vontade de sua mãe, ambos decidiram que iriam se colocar nas linhas de frente no combate aos necrófilos que ainda infestavam o mundo. Treinaram e talvez por causa da grande pressão existente sobre suas cabeças, logo se tornaram os melhores combatentes dentro da colônia.

Sua principal treinadora era Heather Simmons, por coincidência a mulher salva por seus pais quase duas décadas atrás. Naquela época ela tinha pouco mais de vinte anos, um corpo roliço e maltratado por condições ruins de vida desde antes da infecção, sobre o qual não comentava com ninguém. Tinha os cabelos castanhos ordinários lisos e compridos no rosto arredondado, completando a total normalidade com olhos castanhos. 19 anos depois ela havia se tornado uma mulher altiva e autoritária com os cabelos sempre curtos e sem vestígios da obesidade anterior: Seu rosto havia se afinado aumentando a impressão de rigorosidade. Dedicou todos os anos seguintes à aprender o melhor possível e a transmitir conhecimentos bélicos às pessoas que eram enviadas para fora da Base. Também por causa do crescente contato com os dois garotos, ela havia se tornado amiga íntima de Jullianne e Paul, agora com 36 e 37 anos.

 

No dia seguinte ao aniversário de seus filhos, Jull estava chorando no ombro de seu marido no grande portão da colônia. Os outros moradores da colônia assistiam de longe. A cena já havia sido vista muitas vezes nos últimos anos, mas nunca perdia o sentimento: Um misto de ‘boa sorte’ com ‘cuide-se’.

- Nós sabíamos que este dia chegaria não é? – Paul disse carinhosamente sem olhar para algum lugar em particular.

- Sim... Mas não... Por que...? – Ela não havia conseguido terminar nenhuma frase até agora.

- Não se preocupe. Nós dois conseguimos sobreviver por mais de um ano sozinhos antes de achar a base. Eles ficarão... – Não terminou a frase, comprimindo os lábios em uma fina linha.

        Atrás deles a algazarra começou, e um Jipe do exército virou uma esquina com estardalhaço. No volante estava Sean, os olhos azuis brilhantes rindo para todos os presentes em volta do portão, enquanto Aidam se pendurava com o peitoral para fora da janela do passageiro, urrando de excitação. Aquele era o dia para o qual haviam sido treinados por quase dez anos. Os chamados ‘Rangers’ eram mandados ao mundo fora da Base em busca de suprimentos e recolhimento de informações, muito raramente traziam também um sobrevivente. Eram sempre enviadas três pessoas por grupo, nesse caso ocupavam o Jipe pela primeira vez Sean, Aidam e Heather, a mulher com o semblante de impotência frente à algazarra dos dois garotos. Ela já era uma veterana nas buscas, mas ia junto para supervisionar o trabalho dos dois. Quase parando em cima dos pais, Sean desligou o carro e todos os três saltaram, os filhos encarando com sorrisos de orelha à orelha Jull e Paul.

- Não tem nada mesmo que a gente possa fazer? – Paul falou reprimindo um sorriso.

- Não mesmo – Sean falou arreganhando os dentes brancos – Mamãe pode encher um piscina chorando, mas desta vez a gente vai. – Jullianne riu entre as lágrimas. Ele sempre usava aquela expressão quando iria contra a vontade dos dois.

        Jullianne havia virado uma adulta. Nunca mais pintara os cabelos, revelando um loiro claríssimo e ondulado que caía pelos ombros. Havia abandonado as camisas de bandas e agora era sempre vista com aventais e vestidos devido aos trabalhos domésticos que fazia. Seu corpo continuava esbelto e curvilíneo, mas estava agora com uma aparência muito mais dócil. Vez por outra ela era encontrava praticando tiros com suas velhas pistolas – havia aprendido a limpá-las corretamente – angariando reclamações por causa dos estrondos.

        Paul havia se tornado um negro alto e musculoso, quase temível, não fosse seu eterno sorriso fácil. Raspava os cabelos periodicamente e acompanhava os treinamentos dos filhos quando não estava ocupado atendendo alguém. Tornara-se o um dos ‘médicos’ mais respeitados no lugar, sendo o único disposto a recorrer ás cirurgias, ainda que de forma amadora se comparado aos cirurgiões de antes dos ataques dos necrófilos.

- Não é como se a gente não fosse voltar. São só algumas semanas. – Aidam falou apaziguando e abraçando Julliane, que soluçou ainda mais.

- Eu vou controlar a mãe de vocês até que voltem.

- Daquele jeito hein? – Debochou Sean, arrancando risadas de todos e um tapa carinhoso de sua mãe.

        Apesar de não ser o filho biológico, havia alguma espécie de ligação entre Paul e Sean que nem mesmo Jull conseguia compreender. Eles pareciam conseguir se comunicar sem palavras, debochavam dos outros juntos constantemente e nunca haviam brigado. De forma alguma Aidam era deixado de lado, sua pretensa inocência era ao mesmo tempo motivo de chacota dos dois como também sua arma. Era perspicaz e não tomava um deboche sem a resposta apropriada.

- Se um de vocês não...

- A gente vai voltar – Os filhos falaram em uníssono – E vamos te trazer pistolas novas. – Completou Sean.

        Ela balançou a cabeça ainda segurando as lágrimas e abraçou os dois longamente. O Paul também os abraçou, apertando e segurando-os pelos ombros, olhando-os nos olhos.

- Eu sinto orgulho de vocês dois. Mais do que jamais poderão imaginar. Se não fossem meus filhos, eu faria questão de ficar tentando até que saísse alguém como vocês.

- E tenho certeza que gostaria muito disso. – Sean debochou mais uma vez, levando uma cotovelada do irmão e arrancando novamente risadas de todos que assistiam a despedida. Jullianne fez questão de gritar ‘Sean!’, enquanto soluçava e ria. Entraram no carro enquanto Heather abraçava e se despedia do casal.

- Cuide bem dos meus garotos Head.

- Julie... Algum dia eles chegaram machucados em casa? Agora não vai ser a primeira vez, te prometo. – A quarentona falou tranqüilizando a mãe. – Até mais Paul. Vou arranjar uns livros pra você.

- Vê se volta logo Head. Ficar sem você por perto entedia o ambiente. – Disse Paul mostrando os dentes brancos.

- Até parece que um negão casado com uma branquela bonita fica entediado! – Riram todos.

 

        Sean buzinou fazendo a mãe pular, Heather ralhar e Aidam rir. Eles assistiram de dentro do carro quando a mãe entregou algo para a amiga e esta voltou para o carro, entrando nos bancos de trás. Os portões foram abertos e o Jipe saiu. Os garotos não olharam para trás e não choraram.

 

        Há anos que os suprimentos das pequenas cidades vizinhas à base nos modestos estados em que ela se localizava haviam deixado de ser suficientes para suprir totalmente as necessidades da colônia. Comida não era problema: Depois de certo esforço eles foram capazes de produzir sua própria comida, contando até mesmo com uma pequena criação pecuária. Não se podia comer o quanto queria, mas não passavam nenhum tipo de necessidade. A saída das equipes para o campo tinha como principal objetivo a obtenção de gasolina, para o funcionamento dos geradores de energia elétrica.

        Mandando equipes a cada três meses, os sobreviventes conseguiram instaurar uma rotina prática: Não se usava energia elétrica durante o dia. Aparelhos eletrônicos deveriam ser todos à base de baterias recarregáveis, pois o fornecimento da gasolina para os três geradores era permitido apenas durante algumas horas por noite. Cada ‘família’ como eram chamados os trios ou quartetos reunidos em um quarto tinham total liberdade para ter e usar um gerador manual a qualquer hora do dia, então ninguém se sentia injustiçado com a regra. Exceções existiam em caso de extrema necessidade, como em um inverno especialmente rigoroso no qual as paredes grossas da Base não suprissem completamente a necessidade de calefação – casos como estes eram, porém, bastante raros.

        Aos rangers, porém, não era proibido que trouxessem souvenires de qualquer tipo para distribuir para quem quisesse: computadores, celulares – especialmente os úteis Iphones – armas, equipamentos em geral, brinquedos para crianças, comida não essencial, etc.

        A segunda prioridade dos grupos de procura era a obtenção de munição. Era um consenso que cada vez que um grupo saía – o que se tornava cada vez mais freqüente e as viagens cada vez maiores – eles deveriam encher o carro com munição e armas em bom estado de uma loja de armas. Obviamente, a loja não era esvaziada em apenas uma viagem, mas o acordo era que eles poderiam partir para uma outra loja apenas quando a anterior tiver sido completamente esvaziada, o que demorava de três a cinco viagens. Como apenas os rangers gastavam munição em suas saídas, muitas vezes era opcional o carregamento de mais equipamento bélico.

        Nos primeiros anos as viagens duravam de duas semana à um mês, o que não chegava a preocupar ninguém – exceto pelo fato de existirem muito mais zumbis naquela época que agora – porém quase vinte anos depois da organização da colônia, as viagens costumavam durar as vezes de três meses à quase um semestre, o que costumava tornar corações angustiados com a falta de notícia. O que antes se fazia apenas nas cidades vizinhas costumava agora tomar mais tempo e gasto de gasolina tornando as viagens mais longas e mais incertas.

        Cada vez mais era discutida a necessidade de um novo sistema sustentável que extinguisse a necessidade das buscas. Não estavam sendo renovados os recursos do país, e apesar de serem abundantes para apenas cinqüenta pessoas em um território vazio – eram os únicos sobreviventes naquela região – uma hora a gasolina e a munição iria acabar. Pensar nisso, porém, não era papel das equipes de busca, que se limitavam a aproveitar as viagens pelas paisagens inóspitas e atirar na cabeça de algum necrófilo perdido.

        Fazia tempo que o maior temor dos rangers deixara de ser os zumbis. Estes, na verdade, se tornavam cada vez mais raros e quase nunca eram encontrados em grupos. Heather costumava dizer que a única vez em que havia realmente se sentido em perigo fazendo uma busca foi na ocasião em que foi salva por Paul e Jull. Zumbis foram talvez a maior catástrofe sofrida pela humanidade, mas apenas por que não estávamos preparados, diziam os treinadores. “São lentos, não pensam, não conseguem efetuar tarefas que exijam destreza em nível mínimo, não sabem empunhar armas e não possuem potencial para aprendizado.” Dizia sempre Gerard, um dos líderes da colônia “Claro que o fato de não sentirem dor e só morrerem com um tiro na cabeça é um saco, mas nós somos muitas vezes melhores que eles!” e terminava o copo de cerveja daquela noite.

        Todos estavam cientes, porém, do fato de existirem poucos mortos vivos naquela região por causa da baixa densidade demográfica anterior aos primeiros ataques. Alguns estados populosos eram completamente perigosos aos rangers, e a entrada nos limites de qualquer metrópole era totalmente desencorajada para quem não queria emoções fortes demais. Não se sabia por quanto tempo um zumbi existiria até que se decompusesse completamente, e mais ainda, não se sabia quantas pessoas o zumbi teria mordido até que morresse. Existiam perspectivas de que na próxima década fossem mandadas expedições armadas até os dentes para cidades grandes para averiguação destes fatos. Sean amava esta possibilidade, a próxima década chegaria dali a cinco anos e ele estava louco para matar zumbis aos montes. Aidam era mais cauteloso, mas ainda assim compartilhava em parte do desejo do irmão: Se até mesmo as metrópoles estivessem vazias, o perigo zumbi estaria terminado e a humanidade poderia deixar de se esconder e voltar a dominar o planeta.

 

        O Jipe deixava uma nuvem de folhas secas pelas estradas por onde passava. A paisagem ia desde densos bosques nos dois lados da rua até grandes fazendas esquecidas e abandonadas, dominadas pelo mato alto e construções enegrecidas. Estavam no terceiro dia de viagem, porém ainda longe da cidade para onde se dirigiam. O outono era sentido no frio incômodo à sombra e no sol fraco que se escondia atrás de nuvens que ameaçavam chuva.

- Por que a gente não arranja um trailer? – Disse Aidam de repente depois de um longo período de silêncio.

- Um trailer? – Riu Sean sem tirar os olhos da estrada. Heather dormia no banco de trás.

- Sim... Deve ser bem mais confortável do que andar nestes jipes. A gente poderia pelo menos dormir em uma cama enquanto o outro dirige. Aquele banco de trás ta soltando todo o couro e fica incomodando.

        O irmão mais velho riu maneando a cabeça, como se entendesse que era apenas uma piada.

- Pensa bem Aidam. Um trailer quer dizer gasto de água, energia elétrica e gasolina. Se não me engano há uns anos atrás uma equipe saiu com um trailer, voltaram sem ele, dizendo que a gasolina não foi suficiente.

- Hmm. – Aidam ajeitou os óculos escuros estilo aviador. Usava um boné vermelho sobre os cabelos longos, calças jeans pretas rasgadas nos joelhos e barras e uma camisa quadriculada.

- Além do mais é mais divertido assim, não é? – Sean se virou para o outro com uma imitação forçada do sorriso do pai. Estava sem camisa e usava apenas uma calça jeans azul clara surrada. Por estar dirigindo no lado do Sol, suava a bicas.

- Tem razão, tem razão. – Riam.

 

Passados quase quatro dias de estrada dirigindo seis horas por dia eles chegaram à primeira parada da viagem: A cidade isolada do estado de Minnesota chamada Livingstone. Estacionaram em uma garagem fechada de uma casa reforçada anos atrás pelo grupo e trancaram o carro, saindo com mochilas vazias e armas carregadas mais ou menos ao meio dia.

- Vocês sabem como é, já cansei de explicar – Heather disse com a voz cansada – Nada de se separar. Todos estaremos nos mesmos cômodos. Levaremos o mínimo de munição e à qualquer sinal de zumbis faremos silêncio e pouparemos munição tentando fugir. Nada de heroísmos. – E virando-se para Sean – Espero que tenha me ouvido Sean Restridge.

- Pode deixar Head. Você manda. – Achava o autoritarismo da mulher completamente cômico depois de tantos anos. Quantas vezes não lhe havia trocado as fraldas?!

        Apesar dos avisos da mulher, nenhum deles se preocupava em estar armado. As pistolas estavam nos coldres abertos e cada um levava pendurada no ombro uma espingarda de caça normal. Andavam em silêncio para evitar serem surpreendidos, ainda que achassem muito improvável um ataque em uma cidade vazia há mais de uma década.

        Aquela era a primeira vez que Sean e Aidam saíam de casa e conheciam o mundo como era, mas por algum motivo não conseguiam ficar impressionados. Achavam que seria uma oportunidade única de ter mais contato com o que o mundo fora antes dos ataques. Talvez por terem tido um grande contato com foto, vídeos e depoimentos, não se sentiram impressionados olhando para o mundo exatamente como o imaginavam, sendo que esperavam algo quase alienígena.

        Não foi difícil encontrar um posto de gasolina com as bombas cheias. Entraram na loja de conveniência, mas não conseguiram achar nada que não tenha se deteriorado depois de tanto tempo parado. Heather ensinou aos dois como agir nesse tipo de situação: Pegaram galões de água de 20 litros e esvaziaram a água podre de dentro deles, limpando-os e deixando-os sobre o sol para secar enquanto a mulher foi buscar o jipe na garagem reforçada. Sem pressa eles encheram vários galões com o líquido vermelho, enchendo todo espaço disponível no veículo com eles. Heather agia com naturalidade, mas os dois garotos não conseguiram deixar de esboçar medo ao notarem a quantidade exorbitante de um líquido extremamente inflamável com o que carregavam um simples carro militar. Teriam que dividir espaço com a morte, cochicharam brincando em segredo. Depois de selarem com cera as bocas dos galões, voltaram a estrada com o sentimento de missão cumprida.

- Então... Nossa primeira missão acabou? – Disse Sean bem humorado. – Bem simples né? Eu esperava ter que passar noites dirigindo de um canto a outro do país procurando mantimentos...

- Às vezes é assim mesmo garoto – Se sobrepôs a voz cansada de Heather. – Nós damos as missões mais simples para os novatos, então é raro que passem mais de duas semanas na estrada. Apenas os veteranos realmente cruzam o país em busca de coisas mais difíceis de conseguir.

- Entendo... Eu gostei. É divertido.

- E como garoto. Se não fosse divertido eu faria isso ainda depois de vinte anos. Aquela base militar me dá claustrofobia às vezes.

- Sei. Acho que consigo te entender Head.

        Continuaram até pararem em uma das cidades vizinhas da colônia, que marcava as últimas horas de viagem antes de entrarem na floresta onde ela se localizava. A cidade desta vez era Yannesville.

        Não iriam ficar ali muito tempo, Sean havia insistido na parada apenas para presentar a mãe com pistolas novas, então entraram em uma loja de armas já arrombada e procuraram durantes alguns minutos por pistolas de alto calibre, em particular a Magnum Night Hawk .50 e a Colt .45.

Aidam ficou na rua guardando o carro, quando Heather e Sean voltaram, ele estava com uma expressão confusa.

- Ahm... Vocês sabem que a gente usa o serviço de email para trocar mensagens importantes via internet com a base certo?

- Se não me engano eles tinham dito que usariam este sistema para a comunicação, mas não foi muito bem sucedido por que na maior parte do território desabitado não havia serviço de internet. – A mulher disse meio a contra gosto: Não tinha tanto apreço assim por bugigangas tecnológicas.

- Pois é. Mas eu peguei o Iphone pra passar o tempo enquanto vocês procuravam e encontrei um email recente não lido. Ia ver o que é quando vocês chegaram.

- Deve ser um chamado aleatório de ajuda – Disse Sean meio curioso – Abre aí, numa dessas a gente pode ajudar.

        A mensagem vinha da base.

 

        No email tinha um vídeo anexado. Ao acessarem, encontraram a imagem de Jullianne olhando para a câmera de um laptop em meio à penumbra. Apertaram o play e a imagem entrou em movimento.

 

“Sean e Aidam, vocês estão escutando? Paul, essa coisa esta funcionando? Paul!”

 

        Ouviram um grito masculino, Paul estava no fundo da imagem de baixíssima qualidade, gritando alguma coisa para a esposa.

 

“Sean e Aidam, eu não sei como... Não voltem pra base. Ouviram? Não voltem pra base! Os... Os zumbis nos encontraram, eu não sei como! De repente... De repente...”

 

        Uma Jullianne de olhos arregalados e cabelos revirados no meio do rosto reprimiu as lágrimas com força.

 

“Nós vamos conseguir nos virar aqui, mas não voltem pra base ainda. Hoje é o dia xx/xx, nós estamos presos dentro da despensa, então ficaremos bem, mas por favor, não voltem pra cá quando receberem esta mensagem. Heather saberá a melhor maneira de agir, façam o que ela mandar. Eu e sei pai amamos muito vocês.”

 

        De repente um ruído alto fez com que ela virasse bruscamente, suspirando um leve “Paul!” enquanto se virava apanhando uma das conhecidas pistolas. A imagem gravada se preencheu de uma penumbra estranha até seu término, cerca de um minuto depois. Neste pequeno espaço de tempo eram ouvidos apenas estampidos e gritos.

 

- Nós estamos indo. – Sean não esboçou outra reação que não a obstinação ao entrar no carro e sair armado de sua espingarda.

- Não, não estamos garoto, senta aí.

- Nós estamos indo Aidam. – Ele ignorou a mulher, que estava encostada no carro – Licença Heather, quero pegar nossas armas.

- Vocês não vão entrar lá agora.

- É a minha mãe que está lá! Você quer que a gente fique aqui pensando enquanto ela morre?! – Ele gritou batendo no carro.

- Seu imbecil. Eu falei que vamos pensar, e é isso que vamos fazer, senta aí.

        Aidam chegou ao lado do irmão, pegando-o pelos ombros e fazendo-o recuar.

- Ela tem razão Sean. O espaço é muito pequeno pra que agente use as espingardas.

- Além disso ainda temos quase duas horas de estrada até chegar na base. Dentro da floresta o carro não pode andar rápido. Não vai fazer diferença esperar e pensar cinco minutos.

- Que merda! Merda!

- Nós teremos que entrar sem barulho. Completamente sem barulho, pra não dar de cara com os zumbis. O barulho das armas vai chamar a atenção de todos os que estiverem lá. – Aidam falou, fingindo tranqüilidade. Não conseguia manter os olhos em um lugar apenas.

- Vocês não me entenderam. Eu não acho que devamos ir lá.

- Como é que é? – Sean se levantou com um salto, Aidam arregalou os olhos e os fixou na mulher.

- Essa mensagem já foi enviada há dias, e vocês viram como o vídeo terminou. Vocês sabem tanto quanto eu que eles estão mortos.

- Cala a boca Heather! – Para o espanto dos dois, quem gritou foi Aidam, com os olhos marejados. – Eles são nossos... Nossos pais!  Você não tem o direito de nos pedir para esquecê-los. Nós temos as duas pistolas que íamos dar de presente para a mamãe. Se você vai ficar aqui, eu e o Sean vamos entrar lá.

        Um segundo de silêncio se passou em que os três se encararam.

- Muito bem. Vocês venceram, façam como quiserem. Eu não vou. Peguem o jipe, eu estarei na casa segura desta cidade. Tem um carro guardado lá, se demorarem mais de um dia eu vou deixar vocês aqui.

- Eles iriam te buscar Heather. – Disse Sean se levantando e pegando a Magnum .50 que havia acabado de comprar. Com um movimento rápido ele jogou a Colt. 45 para o irmão.

- Não brinque comigo garoto, eles já me salvaram uma vez. Mas se não me engano, vocês nunca sofreram uma ataque. Eu já. Eles não podem... – Não terminou a frase, olhando para os dois, molhando os lábios e pegando uma espingarda e a mochila com munição.

- Vocês sabem onde eu vou estar. Tem a marcação no GPS. – Sem se despedir ela se virou e foi andando por uma das ruas vazias da cidade abandonada.

        Sem se falar ou mesmo se encarar, os dois entraram no carro e tomaram a direção oposta. Depois de alguns minutos atravessavam a floresta cerrada pela trilha estreita formada na lama com o jipe. A tarde estava alta quando eles avistaram os portões escancarados da colônia.

 


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Notas finais do capítulo

Bem... Espero que tenham gostado de ler tanto quanto eu gostei de escrever essa porra. Caso tenham gostado, um review não vai arrancar seus dedos, ok? :B
 
Agradecimento especiais, novamente pra Maah, minha beta lindona. :B



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