Os olhos de Dean não conseguiram acompanhar o que aconteceu. Num momento ele estava prestes a jogar Bela na rua, e no outro, ela estava se jogando em cima dele.
  Ele sentiu o contato com os lábios dela antes de perceber qualquer outra coisa. Em seguida sentiu os braços dela o envolvendo.
  Foi preciso um breve momento para ele entender o que estava acontecendo.
  Ele a empurrou para longe, com os olhos arregalados.
  - Gostou? – perguntou ela.
  - FORA DAQUI! – disse ele.
  - Calma Dean...
  - AGORA! – ele pegou a mulher pelo o braço, abriu a porta e a empurrou para fora, fazendo-a tropeçar e quase cair – E NÃO VOLTE!
  Ele fechou a porta com um estrondo.
  Dean ficou de costas para a porta, se apoiando ali. Milhões de coisas passavam por sua mente naquele momento.
  Mas a única coisa que se fixava em sua mente, e que insistia em tomar conta dos pensamentos do Winchester, era aquele beijo.
  - Son of a bitch! – gritou ele, dando um soco para trás, na porta.
  Ele ficou ali, tentando organizar os pensamentos, mas aquele beijo sempre voltava para sua mente. Toda vez que isso acontecia, ele dava outro soco na porta.
  O Winchester foi para a cozinha e abriu uma garrafa de cerveja.
  Sentou em uma cadeira e bebeu a garrafa toda em pouco tempo, logo abriu outra e fez o mesmo.
  Se ele não conseguia organizar seus pensamentos, melhor então bagunçá-los para evitar pensar naquele beijo.
  Jo entrou na casa, sorridente. As suspeitas foram confirmadas, eram realmente gêmeos.
  Quando entrou na cozinha, encontrou Dean dormindo com a cabeça na mesa, e várias garrafas de cerveja espalhadas.
  - Ah, pelo amor de deus Dean – disse ela – Não acredito nisso.
  Ela foi até a pia e encheu um copo com água.
  - Vamos, Dean, acorda – disse ela, mas o Winchester nem se mexeu.
  Ela jogou a água no rosto dele, e ele acordou com um pulo.
  - Muito bonito, não é? – disse ela.
  - Ah, oi Jo... – disse ele – Como foi o exame?
  - Nada de conversa agora – disse ela – Você vai lá pra cima tomar um banho frio enquanto eu arrumo essa bagunça que você fez.
  - Vamos lá Jo – disse ele.
  - Sem discussão – falou a loira.
  Contrariado, Dean subiu as escadas e foi para o quarto.
  Deixou a roupa em cima da cama e foi para baixo do chuveiro.
  Ficou lá por um bom tempo, deixando a água fria escorrer pelo seu corpo, ajudando a organizar os pensamentos.
  Bela havia roubado um beijo dele. Ela é uma ladra, ladras roubam coisas. Foi só isso que ela fez, só mais um roubo.
  E com esses pensamentos, Dean desligou o chuveiro, sabendo que, apesar de serem verdadeiros, não era a verdade completa.
 
***
  - Então – disse Jo, sentada ao lado de Dean no sofá. Havia acabado de contar que eram mesmo gêmeos – Que nomes será que vamos dar? – perguntou ela.
  Dean abriu a boca para dizer alguma coisa, mas Jo logo interrompeu.
  - Se você chamar algum deles de ‘’Dean Junior’’ – disse ela – Eu vou pessoalmente atrás da Colt pra dar um tiro em você.
  Ele resolveu ficar calado.
  - Então, já deu a noticia para o Sam? – perguntou ela.
  - Não – disse o Winchester – Ele não atende o maldito telefone.
  - Deixa ele – falou Jo – Ele deve estar aproveitando a lua de mel.
  - É – falou Dean – Que tal se fizermos o mesmo? – ele abraçou Jo.
  - Agora? – disse ela – Mas vai começar a minha novela.
  - Você me deixou na seca cinco dias – disse ele – Não reclame.
  - Certo, certo, mas vamos pelo menos lá pra cima – falou ela.
  - Por que? Pode ser aqui mesmo – falou o Winchester, abaixando as alças da blusa de Jo.
  - Vamos la pra cima Dean – disse ela – Eu acho melhor.
  - Certo, certo – resmungou ele, se levantando e pegando Jo no colo.
  - O que você está fazendo? – perguntou ela rindo – Você é louco, sabia?
  - Só um pouquinho – disse ele.
  - Você não vai conseguir subir as escadas comigo – disse ela.
  - Será? – disse Dean, subindo o primeiro degrau e fingindo quase cair.
  - Afinal, por que isso?  - perguntou ela – Qual a ocasião?
  - E precisa de ocasião especial? – perguntou ele, beijando-a e continuando o caminho até o quarto.

***
    Os dias se seguiram calmos, Bela não voltou a aparecer na casa de Dean. Finalmente, Dean achava que as coisas voltariam ao normal. Mas os problemas estavam só começando.
  Jo estava novamente fazendo exames de rotina, e Dean estava sozinho em casa, vendo televisão.
  Ouviu a campainha tocar, se levantou e foi até a porta, colocando uma camisa preta no caminho.
  Ele abriu a porta e se controlou para não dizer todos os palavrões que conhecia.
  - Você?! – disse ele, simplesmente, ao ver a mulher sorridente do outro lado – Já não te falei para não voltar mais aqui?
  - Qual é Dean – disse ela, empurrando levemente o Winchester para o lado e entrando – Soube que a Jo saiu, e resolvi passar aqui pra fazer companhia a você.
  - Mas eu não faço questão da sua companhia – disse ele – Então, antes que eu te jogue pra fora de novo, é melhor você sair.
  - Vamos com calma – disse ela – Se você quer tanto assim que eu vá embora, então vamos jogar – disse ela.
  - Jogar? – ele perguntou, de mal humor.
  - É, se você ganhar, eu nunca mais apareço – falou ela – Porem... Se eu ganhar... Eu apareço aqui sempre que eu quiser.
  - Só isso? – disse ele – É só isso que você quer?
  - Qual o problema? – perguntou ela – Eu preciso sempre querer algo grande?
  - Vindo de você – resmungou ele – Certo, qual o jogo?
  Bela esboçou um sorriso.

***
  - Você não devia ter escolhido esse jogo – disse Dean, virando mais um copo de whisky.
  - Será? – perguntou Bela, fazendo o mesmo.
  - Você já perdeu deis que o jogo começou – caçoou ele, virando mais cinco copos.  
  - É o que veremos – disse ela, imitando-o.
  - Sinto muito, mas nessa você não vai se sair bem – falou ele, pegando outra garrafa e enchendo mais copos.
  Após algum tempo, Dean já começava a mostrar os primeiros sinais da embriaguês, enquanto Bela estava 100% sóbria.
  - Como pode? – perguntou Dean – Você tem que estar bêbada a essa altura.
  - Digamos que eu me aperfeiçoei nesses últimos anos – ela falou.
  O jogo continuou, Bela não demonstrava o menor sintoma do efeito do álcool.   Dean, por outro lado, já não estava mais em si. Continuava virando os copos praticamente por reflexo.
  - Sabe – disse ele – O Sammy vivia tendo sonhos eróticos com você – ele falou, virando outro copo.
  - Ah é? – falou ela. Seu plano estava funcionando, mais uma vez, e logo ela teria o seu premio pela vitória esmagadora contra Dean – Mas aposto que não era só ele.

  - É, você tem razão – falou ele – Mas eu nunca admiti isso – ele falou, virando outro copo.

  - Por que? – ela perguntou.

  - Por que eu te odiava – ele falou.

  - Jura? – ela falou – Pois eu acho que era orgulho machista – ela colocou o copo na mesa.

  - Talvez – ele disse.

  - E você nunca mais andou tendo esses sonhos? – ela perguntou, olhando para a garrafa, que já estava quase no fim. Se levantou para pegar outra e sentou novamente.

  - Não – ele falou – Mas sabe, agora eu posso dizer que estou sonhando acordado – disse o Winchester, observando ela encher mais copos.

  - Mesmo? – ela falou – E que tal se você pudesse realizar esse sonho? – ela aproximou seu rosto de Dean, quase beijando-o.

  - Eu adoraria – disse ele, tocando os lábios da Talbot.
  Ela se afastou e se levantou.
  - Então, vamos lá pra cima – ela falou, puxando o Winchester pelo braço.
  Ela o ajudou a subir as escadas, e quando chegaram no quarto, deito-o na cama.   
  - Já volto – falou ela, cheia de malicia, entrando no banheiro, jogando a camisa no chão antes da porta fechar.
  Fechou a porta e olhou rapidamente em volta. Achou o que procurava. Abriu a pequena lata de lixo e cuspiu uma pílula que estava em sua boca.
  - Essas capsulas que absorvem o álcool tem realmente sua utilidade – ela falou, fechando o cesto de lixo e saindo do banheiro.

***
  Bela acariciava carinhosamente o braço do Winchester. Ela poderia dizer que teve a melhor noite de sua vida – se não fosse pelo fato do sol estar alto lá fora.
  Por mais que ela quisesse continuar ali, ela tinha que completar o plano. Na verdade, a ‘’noite’’ de amor com Dean fora só um bônus ao plano bem sucedido dela. Ela pegou o sutiã que Dean havia arrebentado e jogado no chão e o colocou na cama, ao lado do Winchester.

  O próximo passo seria marcar as roupas dele com o batom que ela estava usando, mas isso já havia sido feito. E de brinde, havia conseguido deixar várias marcas vermelhas pelo corpo dele.

  Se vestiu calmamente, passou um dos perfumes de Jo que estavam em cima da pia do banheiro – e colocou-o na bolsa junto de outros dois frascos – e saiu do quarto, com o ar triunfante.

***

   Dean sonhava com a mulher com quem havia acabado de fazer amor. Por mais que ele a odiasse, ela sempre o fascinou. Sua beleza, sua personalidade, tudo chamou atenção de Dean logo na primeira vez que se viram. Ele sempre havia nutrido um desejo secreto por ela, desejo esse que foi esquecido depois que ele e Jo oficializaram sua relação, mas que reapareceu com a ajuda do álcool em seu organismo.
  Nos sonhos, os dois ainda estavam juntos, em uma praia deserta, entregando-se completamente um ao outro.
  Então, uma luz forte se ascendeu, como se a lua tivesse o mesmo brilho do sol. E após alguns instantes, um grito.
  - DEAN WINCHESTER! – gritou Jo, parada na porta do quarto, com a mão no interruptor.