Jockers escrita por KxZim


Capítulo 3
♣ Dama de Paus. Parte II




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–Diz para mim Kou, você recebeu outra carta, não foi?

–Recebi Aki, aí que tá. Dessa vez eu não sei quem é, nem por onde procurar.

–O que você fez da ultima vez?

–Esperei.

Estávamos pendurados na sacada de minha casa, tomando mais daquela cerveja barata. Mostrei a carta para o loiro que analisou a mesma com interesse. Mas nem ele, e nem ninguém conhecia aquele nome. Nome de uma mulher.

–Você já foi falar com aquele tal de Yuu?

–Não. E acho que não daria certo se eu fosse até ele.

O mundo congelou. Minha cabeça começou a trabalhar de repente e saquei a carta da mão de Reita. Olhei o nome mais uma vez e a ficha caiu. Caiu tão pesada que quando o telefone tocou pude sentir o meu coração disparar. Corri para atende-lo.

–Ora ora. Então você já sabe quem é?

–Você?! M-mas como assim? O nome dela, o que tem!?

–Lhe darei uma dica, e nada mais. Encontre-a o mais rápido possível.

A linha ficou muda. Desliguei o telefone e olhei para Reita sem saber muito bem o que dizer. Ele entendeu e se sentou comigo no sofá, me entregando a cerveja novamente.

–Cara, não vá atrás dessa mulher. Você pode correr um sério problema. Colocar sua vida em risco!

–Mas foi o que ele disse, no bar. Eu preciso dançar conforme a música dele..

–Ou não! Chame a polícia, fale com eles! Uruha, você não precisa disso.

Não respondi, não o olhei mais. Estava decidido, teria de ir no dia seguinte, resolver aquele problema. Iria para o bordel onde minha mãe trabalhava.

♠♣♥♦

Peguei o dia todo para trabalhar. Um pouco inquieto, não obedecendo bem as leis de trânsito. Alguns clientes ficavam visivelmente irritados ou com medo por cortar sinais e pedestres. Minha cabeça não estava funcionando bem.

Porque diabos eu teria que me intrometer na vida particular da minha mãe?!

Não estacionei o táxi na garagem aquela noite. Fui com ele até o Bordel. Estacionei umas boas ruas para baixo e subi a pé. Mostrei a identidade, provando ser maior de idade. Entrei e me olhei ao redor. Teria de pagar para ver minha mãe!?

Fui seguindo uma pequena fila de homens drogados e bêbados onde havia um palco e uma oriental loira dançando. Fiquei logo atrás de todos, apenas espreitando ela. Fiquei esperando o showzinho dela acabar, olhando para os lados e tentando ficar menos visível possível.

Até que.. (estava fácil demais para mim..). Esbarrei em um rapaz de cabeleira preta mais baixo que eu. Pisei em seu pé sem querer.

–Hey, desculpe. -Gritei.

–Tudo bem. -Respondeu em um outro grito.

Tudo bem até ele se virar. Olhei bem para seu rosto. Meus olhos mexeram-se rapidamente e nós gritamos ao mesmo tempo.

–KAI!?

–URU!?

–O que você está fazendo aqui? - Kai gritou perto do meu ouvido.

–Se eu te contar, você não acredita! - Retribui o berro.

Nos olhamos rapidamente e olhamos para a mesma mulher. Ela fazia suas poses e gestos para nós que a olhávamos. Uns incrédulos, como eu, mas não pelo mesmo motivo. Vi Kai dar um sorriso enorme e dar uma risadinha maliciosa. O cutuquei.

–Mais respeito com a mãe dos outros Kai! -Disse, em tom de brincadeira,( mas levando a sério.)

–Mãe de quem? - Ele disse, encarando o palco.

–Minha. Minha mãe!-Gritei de volta perto do seu ouvido.

Vi um par de olhos se arregalar, ele olhou para mim e estufou o peito. Ele gritou algo como “ ELA É SUA MÃE? “ mas interrompi a tempo de não soar tão alto e completa.

Quando o show havia acabado, percebi que tinha de agir. Soltei a boca de Kai e disse que depois explicaria. Corri para os fundos. Não poderia entrar no camarim, então fiquei na espreita, na porta dos fundos do lugar.

Passou uma hora, e vi agora uma mulher totalmente diferente sair de lá. Sem maquiagem, sem peruca. Continuava linda, mas agora, descente. Passei rapidamente de lugar, estava atrás de um poste, e agora andava atrás dela.

Estiquei a mão e toquei em seu ombro. Fui recebido com uma bolçada na cara. Recuando alguns passos.

–Aí! Isso dói mãe! -Disse enquanto passava a mão no rosto.

–TAKASHIMA?!

–Mãe..

–O que você está fazendo aqui!?

Encarei seu rosto uma vez. Era eu que devia estar fazendo aquela pergunta. Mas já sabia daquilo havia algum tempo. Ela não precisava saber os motivos de como eu cheguei ali e porquê. Apenas que, eu não queria subjuga-la.

–Venha, vamos conversar longe daqui.

Levei-a para o táxi. Não entramos, apenas nos encostamos e nos olhamos. Ela acendeu seu cigarro rotineiro.

–Diga. O que estava fazendo lá?

–Mãe...

A abracei com firmeza. Minha relação com ela, nunca foi das melhores. Sempre distintos, longe um do outro, e muitas brigas. Nunca conseguimos ficar um dia em paz desde que meu pai havia morrido.

Ela não retribuiu o abraço mas, não reclamou. Demorei para solta-la. Os olhos puxados e neutros, sem maquiagem me encaravam com dúvidas. Os lábios puxavam a nicotina e calados, esperavam uma resposta.

–Eu sempre soube. E nunca me importei. Mas acho que, você se importava que, se algum dia eu aparecesse aqui e te visse daquela forma, eu não te aceitaria.

–Mas que palhaçada é essa Kouyou? Nunca me importei com isso. Você sabe disso e...

–Cale a boca pelo menos uma vez!? E entenda que eu não me importo com isso!? Você é grande o suficiente para entender isso. Siga a sua vida do jeito que quiser, mulher!

–Taka.. -Somente um suspiro.

Ela se virou e foi embora. Eu fiquei parado. Estático, vendo minha única família ir embora.

♠♣♥♦

–Oi?

Ouvi a voz de um dos meus melhores amigos. Olhei para trás e Kai estava parado, me olhando inquieto. Entramos no táxi e contei a história para ele. Não foi surpresa alguma ele ter uma reação extraordinária, gritando o tempo todo exasperado.

Deixei ele em sua casa e fui guardar o táxi. Estava muito tarde, mas fui apé para casa. Chegando lá, olhei para o telefone. Disquei o número dela. Na ultima tentativa, ouvi.

–Alô?

–Mãe. Tá tudo bem?

–Hun? Você? Me ligando a essa hora para saber se estou bem? Você nunca me liga, e quando liga é para me acordar Kouyou?! Tenha dó!!

..

Fiquei em silêncio e ela também do outro lado da linha. Mas consegui finalmente algo positivo dela..do outro lado da linha.

–Obrigada Kou. E pare de me ligar de madrugada!

Ela desligou na minha cara. Sim, estava tudo bem. E eu finalmente podia ir tomar um banho e dormir. Aquela carta, aquela dama. Já podia ser um descarte.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por ver/ler :)



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