É bem complicado quando não se tem uma direção correta para começar.

O que eu tenho que fazer? Para onde eu tenho que ir? Sinceramente, o resto dos meus dias tem sido assim. Eu deixei a carta de lado, e segui minha vida durante alguns dias. Yuu chegou a me perguntar se eu segui algum passo do que estava escrito e eu disse. Não.

Quero saber até onde posso ir se eu omitir isso. Digo, os passos que falaram para eu dar.

Mas está cada vez mais complicado. Não sei quem tem mandado as cartas para mim desde que Aoi parou de fato, de me mandar cartas de baralho. Aliás, estamos nos encontrando de forma bem regular. As vezes apenas para conversar, as vezes para brigar.

Minha especialidade, ,e meter em confusão. Mas as brigas nas ruas e com a minha mãe pararam. Mas tudo estagnou. A carta dizia isso.

Só que eu preciso parar um pouco. O dono da Táxi's mandou usarmos uniformes amarelos terríveis, com calças azul marinho social. Cara de que somos motoristas de táxi engomados, só que não. Mas conseguimos horários fixos. Eu e Reita pegamos o mesmo horário e agora trabalhamos do meio dia até meia noite.

Mas preciso de um pouco mais.

De tempo.

♠♣♥♦

–Uruha, o que foi que você tá longe?

–Preciso pensar, Reita. Não quero mais ter de esperar que as coisas aconteçam.

–Do que você tá falando?-Ele me olhou confuso.

–Antes, era uma coisa louca. Eu querendo descobrir quem mandava as cartas. Queria saber qual era a dele, do Aoi comigo.

–E então..?-Ele pediu para prosseguir quando fiquei quieto quase perdendo o fio da meada.

–Eu deixei tudo do jeito que está, não tenho as respostas e não tenho mais cartas.

–Sente falta delas, Uru?-Akira abriu a porta de casa e entramos. Pegamos algumas cervejas e fomos para a sacada.

–Sinto falta de ter mais o que fazer da minha vida. Essa é a verdade. Eu tinha para onde correr e o que fazer.

–Sei. E agora você sente falta.-Ele repetiu, bebendo a primeira cerveja barata da noite.

–Talvez. Talvez seja falta de...ser importante, sei lá. Não sei explicar.

Tomamos mais algumas cervejas até as latas caírem. Fui para casa um pouco alto e Reita para o telefone. Ele tinha sorte, o cara que ele gostava estava lá sempre que ele precisava.

Eu não tinha propriamente um cara comigo. Aoi é ocupado demais. Tudo demais. Mas ele é legal.

Assim que pus a mão na maçaneta, soube que a porta estava destrancada. Adentrei e vi Yuu sentado assistindo tv.

–Demorou. É duas e meia da manhã.-Ele disse, olhando para a tv.

–Eu estava com Reita, na casa dele, bebendo.-E eu ainda tive que dar satisfação.

–Ahm. Você disse que ele tá namorando agora, né?

–Sim. Um outro amigo nosso.-Peguei o controle e desliguei a tv. Passei por ele e fui direto para o chuveiro.

Ele me seguiu e antes que eu fechasse a porta ele entrou comigo. Ficou encostado no mármore da pia. Eu tirei minhas roupas e entrei debaixo do chuveiro. Ele já tinha me visto até do avesso, não me sentia mais incomodado com ele me encarando. Mas com o silêncio.

–O que foi? Porque está na minha casa a essa hora?

–Eu queria te ver. Você não tem muito saco para celular, não é?

–Não. E nem para telefones.-Tive que falar mais alto, o som da água e do chuveiro atrapalhavam.

–Pois devia se importar com isso, eu gosto de manter contato com quem gosto, sabia?-Ele respondeu mais alto também.

Mas não respondi. Me lavei rapidamente e saí com a toalha enrolada na cintura. Ele me seguiu e aquilo começou a me irritar.

Mas eu entendi que, ele não tinha muito costume com aquilo. Só que nem eu tinha.

Mas tava dando certo.

Acabei puxando ele para perto. O caminho todo ele já conhecia. E até onde nós iriamos parar. Mas era outro risco que eu precisava correr. Mas que infelizmente foi cortado por mim mesmo.

–Yuu.. Eu preciso de um favor.

–Uh?-Ele passou as mãos nos olhos e ajeitou a camisa no corpo.- O que?

–Preciso entender onde aquela carta quer que eu vá.

–Ainda isso, Uruha?-Ele deitou na cama, na parte que foi apossada desde as ultimas vezes.

–É a ultima vez. Eu preciso saber quem é. Ou se ainda tem algo faltando. Só isso.-Eu olhei para ele e prendi a respiração. Era tudo ou nada.

A resposta dele veio assim que ele me puxou para cima do seu corpo. Estava combinado. A toalha saiu rápido da minha cintura. E um acordo foi feito ali.

♠♣♥♦

–Tem certeza que vai dar certo?

–É o que está escrito na carta, Yuu.-Eu apontei para ele.

–Então tá..

A primeira coisa que fizemos foi, encontrar Reita. E ele de fato tinha alguma coisa contra Aoi, ele sempre fica estranho quando está do lado dele. Mas foi ignorado logo. Ele me ajudou a lembrar de como foi que eu e Aoi nos conhecemos. E depois de tudo o que houve até chegar a primeira carta que não foi do Shiroyama.

E foi ali que o inferno de fato, veio a tona.

A primeira parte da carta, tinha sido feita com êxito e eu nem me notei.

“Fique parado e se conforme”♥

E de fato, não descobri nada e não aconteceu nada do período em que fiquei “parado”. O coração em seguida da frase foram para significar que, eu não ia encontrar nada se ficasse parado no Rei de Copas.

Só que foi nessa carta que eu realmente consegui ficar com Yuu, mesmo que instavelmente.

Mas a segunda parte, estava escrito:

“Volte metade deles e se arrependerá”♦

Até onde eu preciso voltar? Sem me arrepender?

♠♣♥♦

Aquilo ficou martelando na minha cabeça, e começou a me impossibilitar de jogar direito. Poker não era a melhor coisa do mundo depois que eu comecei a perder loucamente por não prestar a atenção nas coisas.

As corridas começaram a ser mais perturbadoras. Achava que todos podiam ser o mandante da carta.

E então tudo começou a me encher o saco.

E parecia que tudo era colocado a prova. Eu só queria saber o que eu precisava de fato saber ou entender para que aquilo parasse.

Mas nada dava jeito. Até dos meus amigos, comecei a distanciar. E não podia. Não queria que isso acontecesse.

–Kou, fica calmo. Essas coisas estão subindo para a cabeça, sabe?-Kai suspirou as palavras.

–É verdade. Relaxa um pouco e aproveita.-Ruki tocou meu ombro.-Você não é assim.

–Eles têm razão, Uruha vamos para casa. A gente te leva.-Reita me estendeu a mão para que eu levantasse do chão.

E pela primeira vez em muitas semanas, Reita, Ruki, Kai e eu andamos juntos. Aquilo de fato era a melhor coisa que podia acontecer. Eles eram uma parte de mim que eu não estava afim de perder. Ainda mais por causa de uma carta imbecil que chegou do nada.

Mas foi importante, nós andando juntos. Reconheço que, por muito tempo tinha esquecido de como era aquilo. E estávamos juntos novamente.

–Obrigado.-Disse para os três.-De verdade.

–Sem problemas. Quando precisar, a gente vai vir.-Ruki sorriu e abraçou Reita. E eu pude me ver ali, sendo abraçado por todos os três.

♠♣♥♦

–Eles são seus amigos de verdade, não é mesmo?

Aí o meu coração pulou para fora do peito e voltou. Porra! Ele na minha casa novamente!

–Shiroyama. Como você consegue?

–Eu fiz uma cópia da sua chave, pra não precisar arrombar a porta e fazer barulho.-Ele disse sorrindo.

–E você viu o que aconteceu?

–Sim, da janela. Ninguém me viu.-Ele alargou o sorriso e se levantou do sofá.-Olha Uru.

Tudum.. Tudum..

–A gente vai achar.. esse cara para você. Entendeu?

O meu corpo foi tomado por um abraço aconchegante.

Yuu me abraçou pra valer, não era nada explicito. Era só, eu e ele e o calor de um abraço necessitado. Pude fechar os olhos e relaxar. Assim como os meus amigos me abraçaram e provaram que são as melhores pessoas do mundo pra mim, Yuu me provou que também queria ser uma dessas pessoas.

Mal sabia ele que..

Ele já fazia parte de tudo isso.