De repente pai escrita por Thaynara Dinucci


Capítulo 13
Capítulo 13




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/658351/chapter/13

Joshua

Passei o resto da minha sexta feira com Julia, saímos pra almoçar, conversamos sobre coisas aleatórias, comentei com ela sobre o meu almoço com Alex e como ele tinha reagido e que parecia disposto a voltar atrás, e Julia como era osso duro de roer, disse que só o perdoaria se ele se mostrasse seriamente arrependido, fora isso, ele teria que conviver com a sua escolha e que se ele aceitasse o filho, teria fins de semana com ele. Mas isso era assunto pra outro dia. Ou momento.

Conversamos sobre bebês também, não era um assunto que eu me identificava, até porque eu nunca tive que conviver com um bebê, apenas meus sobrinhos, mas eu era o titio. Pais educam, tios estragam. Essa era minha função e que continuasse assim por muito tempo. Mas eu tinha vontade de construir uma família, ter pelo menos três filhos, o favorito iria pra faculdade, um assumiria os meus negócios e o outro faria o que bem entendesse. Um calor tomava conta do meu corpo quando eu pensava nisso.

Julia disse que estava ansiosa para sua primeira consulta, ela teria a certeza se estava grávida mesmo e de quanto tempo. Aliás, certeza ela disse que já tinha, pois já conseguia sentir os efeitos dos hormônios, implorei pra ela mudar de assunto, não queria saber essas coisas. Estávamos comendo, e isso não era agradável. E quando ela mudou de assunto, ela veio logo perguntando se poderia saber – de novo – quem era a mulher que estava saindo comigo. Eu estava louco pra contar pra ela. Eu e Julia nos tornamos mais próximos, compartilhávamos vários assuntos, ela me dava conselhos, era como a minha irmãzinha. Eu tinha loucura por ela, e meu lado protetor estava sempre presente quando se tratava de Julia Carson. Ela dizia que eu era sua pessoa, já que sua melhor amiga havia viajado e só voltaria na segunda feira. Ri quando ela disse isso. Eu aceitaria ser sua pessoa, se isso a fizesse feliz. Mais uma vez eu falei que ela seria a primeira saber quando tudo estivesse firme entre eu e a minha “morena misteriosa” – jeito como Julia a apelidou.

No sábado eu tentei entrar em contato com Alex para que pudéssemos malhar juntos e depois comer alguma coisa, mas foi em vão. Seu telefone só dava fora de área ou caia direto na caixa postal, achei estranho, já que ele não desgrudava da merda do celular.

No domingo eu passei o dia todo na casa dos meus pais, e no final da tarde eu e minha morena misteriosa ficamos nos falando pelo telefone. Ela disse que seu compromisso foi mais rápido do que tinha previsto e que estaria de volta na segunda feira. Quase gritei de felicidade. Eu estava me envolvendo demais com ela. Ela era linda, divertida, inteligente, tinha uma boca esperta. Eu ficava encantado em como ela conseguia deixar tudo melhor. Eu estava em apuros, e porra, eu estava adorando isso.

Na segunda feira assim que acordei recebi uma mensagem de Julia perguntando se eu poderia dar uma carona pra ela até a empresa, já que ela tinha uns documentos pra assinar por causa da demissão. Claro que eu daria uma carona a ela, nem era preciso perguntar. Em meia hora estávamos juntos dentro do meu carro indo em direção à Ruppert’s. Julia estava linda, como sempre. Ela se remexia desconfortavelmente no banco.

“Eu estou nervosa Josh, faz uns dias que não entro na empresa. Espero não precisar encontrar com Alex.” Ela disse enquanto eu estacionava o carro.

“Relaxa. Tá comigo, ta com Deus!” brinquei pra aliviar a tensão. Ela apenas deu um sorriso forçado e entramos na empresa.

Alex

Joshua tentou entrar em contato comigo o final de semana todo, e eu ignorei cada chamada e mensagem que pude ignorar. Resolvi enfiar minha cara no trabalho e passei a maior parte do tempo revisando contratos, estudando preços de filiais, e como estava o empenho de outras empresas. Se ele queria conversar, que esperasse até segunda feira. Meu assunto com ele agora seria restringido apenas pra trabalho e só. Não queria que ele soubesse mais nada da minha vida, ele era um babaca e eu queria distância dele.

No domingo eu fui até o parque e corri até sentir minhas pernas trêmulas. E antes de voltar pra casa, eu como o bom masoquista que sou, passei correndo em frente à casa de Julia e estava tudo calmo. O jardim continuava lindo. Será que Josh estaria lá dentro com ela? Se sim, o que será que estavam fazendo? Ciúme tomou conta de mim e eu tive que forçar meus pés a correrem, ou eu poderia entrar em sua casa e acabar com a cara do Joshua e falar umas boas verdades pra Julia.

Segunda feira chego à empresa e peço pra Judith limpar minha agenda pela parte da manhã, e comunico a ela que estou indo até a sala de Joshua, ela vai dizer alguma coisa, mas já estou fora de seu alcance. Eu juro por Deus que não agüento mais ouvir a voz dessa mulher. Entro na saleta de Joshua e vejo sua secretária olhando atentamente pro computador. Ruth é uma boa senhora, tem em torno dos seus cinqüenta anos e está na empresa há bastante tempo. Assim que ela me vê ela diz que vai me anunciar, mas eu minto e digo que Joshua já me espera. Ela sorri, e eu entro em sua sala sem bater e meu coração para com a cena que vejo. Julia está com Joshua. Eles estão conversando animadamente e eu tenho vontade de arrastá-la pra fora dali e ao mesmo tempo eu quero puxá-la pros meus braços e beijar o inferno fora dela. Ela está linda, mais linda que nunca. Seus cabelos agora estão curtos e loiros, uma franja de lado completa o visual. Ela está usando uma calça jeans preta colada ao copo, uma blusa branca, jaqueta de couro preta e um cachecol em volta do pescoço. Meus dedos coçam com vontade de tocá-la, preciso reunir forças do fundo da minha alma pra não correr até ela e pedir perdão. Mas essa vontade logo passa quando vejo o seu sorriso morrer quando ela me vê. Joshua está me olhando tranquilamente, como se estivesse se divertindo com a cena, e Julia está com seus maravilhosos olhos verdes tão arregalados que poderiam facilmente pularem de sua órbita.

“O que quer Alex?” Joshua pergunta se levantando e vindo em minha direção.

“Eu vim falar com você” respondo e continuo “Julia, você parece bem.” Eu digo enquanto olho em sua direção.

“Alex.” Ela me cumprimenta friamente, olha pra Josh e diz “Josh, eu vou indo. Te vejo mais tarde. Até” vai até ele e beija sua bochecha. Eu juro pela felicidade da minha falecida mãe que minha vontade de encher a cara de Joshua de porrada. Bastardo do caralho.

Ele sorrir e concorda. Ela apenas acena pra mim e quando está saindo da sala, minhas mãos automaticamente vão até seus braços e eu a seguro “Eu quero conversar com você Julia, espere-me em minha sala.” Eu peço. Demora uma eternidade, mas ela concorda e sai do escritório de Joshua.

Eu olho pra Joshua, e ele me olha nos encaramos por um momento até que ele quebra o silencio.

“E ai cara? Liguei pra você o final de semana todo e você me ignorou. O que eu te fiz?” ele pergunta com a cara mais lavada do mundo.

Rio com a sua pergunta estúpida. Sério que ele acha que eu irei cair nessa? “Sério que você não sabe?” eu pergunto e vou andando em sua direção.

“Bom, a minha bola de cristal está com defeito, então, não. Eu não sei o que te fiz.” Ele sorrir e cruza os braços acima do peito e continua “qual é cara, desembucha.”

“VOCÊ É UM FILHO DA PUTA JOSHUA” grito e agarro no seu colarinho.

“O que deu em você cara?” Ele diz e tira minhas mãos de cima e me empurra. “Qual a porra do seu problema?” ele ajeita sua gravata e me encara.

“Meu problema? Sério? Você faz eu desabafar com você. Faz com que eu acredite que Julia é diferente e quando dou as costas você vai igual a um cachorrinho atrás dela. Sinceramente, achei que éramos irmãos” eu cuspo as palavras e ele fica sem reação “Você nem teve a decência de me perguntar o que eu acharia de você comer a mulher que eu amo. Ela ta carregando o meu filho Joshua” eu grito o final.

“Continua dando seu showzinho Alex, continua que ta pouco” ele diz e se senta calmamente em sua cadeira. E isso só faz com que meu sangue ferva e a vontade de encher a sua cara de pancada aumente.

“Showzinho?” eu digo e parto em sua direção. Joshua é maior que eu e mais forte e rapidamente afasta a cadeira pra trás e levanta. Filho da puta.

“É showzinho sim. Parece um molequinho. Já chega tirando satisfação e nem pergunta o que aconteceu. Vai continuar ou vai querer que eu te conte o que realmente aconteceu e acontece entre mim e Julia?” ele diz com uma calma fora do normal.

“Foda-se você. Foda-se Julia. Foda-se esse bebê.” Eu digo e saio da sua sala.

Assim que chego à saleta vejo Judith imprimindo algumas folhas, paro num canto e começo a controlar minha respiração. Preciso estar calmo pra encarar Julia. Entro em minha sala e a vejo. Linda. Ela está sentada no sofá em que fizemos amor e me olha como se eu fosse um estranho, seus olhar é como um punhal em coração. Tenho vontade de gritar com ela, mas me contenho.

“Então, o que você quer comigo Alex?” ela pergunta se levantando. E sua voz é como música pros meus ouvidos.

“Será que podemos conversar como dois adultos?” eu peço e ela fica vermelha. Ela está com raiva, isso é adorável.

“Conversar como adultos? Sério “Senhor saia da minha empresa”?” Ela diz e faz aspas no ar com os dedos frisando o apelido.

Eu a olho com uma carranca e ela me olha com raiva. Se ela pudesse, ela com certeza já teria tacado alguma coisa em mim.

“Quanto tempo você e o Joshua estão saindo?” eu digo e essa pergunta é como fel em minha boca.

“Como Alex? Eu me recuso a responder essa pergunta sem cabimento!” ela fala e pega sua bolsa e vai e direção a porta.

“Julia, não acabamos” digo friamente e ela me olha “me responde”.

Vai se foder pois eu acabei” ela diz “como você pode pensar isso de mim? Como você pode pensar tão baixo do seu amigo?” ela me olha.

“Eu sinceramente não sei se ele era meu amigo como dizia” eu digo e sorrio com ironia.

“Eu juro Alex, que você vai se arrepender de tudo o que está fazendo, e quando notar o erro, será tarde demais.” Ela diz vindo em minha direção. “Eu e esse bebê queremos distância de você. Me ouviu bem? Não preciso de merda nenhuma sua. Não preciso do seu fodido dinheiro. E eu não preciso de você.” Ela grita o final.

“Tudo bem Julia, como você quiser. Mas antes de você começar a se virar sozinha, vou querer o DNA” eu digo. Sinto seu olhar me queimando. Oh, sim, ela está muito puta. Mas foda-se, eu também estou.

Julia

“Eu vou querer o DNA” Ele disse sem ao menos olhar nos meus olhos.

“Você terá seu maldito DNA Alex. Eu mais do que ninguém terei o prazer de fazer você pagar por cada insulto que foi dirigido a mim” Eu digo com os olhos semi-serrados. A lembrança das palavras “aproveitadora” e “mentirosa” ainda estavam frescas e minha memória.

“Tudo bem, agora pode se retirar. Eu sou um homem muito ocupado como você pode saber.” Ele se levantou e caminhou em direção a porta e abriu a mesma, deu um passo pro lado e esperou que eu saísse. “Vou pedir pra minha secretária entrar em contato com você sobre o dia que iremos fazer o exame. Tenha uma boa tarde, Srta. Carson.”

Eu o encarei enquanto seguia pra longe daquela sala. Como pode uma pessoa ser tão fria e insensível em relação ao filho? Como pode uma pessoa achar que todo mundo queria tirar proveito de seus bens? Eu sabia que Alex era assim, com aquela fachada de homem de gelo, o empresário inatingível, mas eu conheci o outro lado dele. O homem amoroso, de coração quente, apaixonado. Ele só tinha medo de se mostrar, mas eu sabia que ele era diferente, só teria que descobrir como o fazer demonstrar esse lado dele que quase ninguém conhecia.

“Se ele acha que será assim, quero o DNA e o DNA será feito, ele está muito enganado. Não colocarei a vida do meu brotinho em risco por causa de suas neuroses e desconfianças.” Eu penso e sigo em direção a sala de Joshua.

Joshua

“Não acredito que ele fez isso.” Eu digo assim que Julia entre lágrimas termina de me contar o que Alex fez. Como uma pessoa pode ser tão cabeça dura? Desconfiar de mim, o cara que estava com ele nos melhores e piores momentos de sua vida. Desconfiar da mulher que está carregando um filho dele. Eu sinceramente não sei. Elizabeth – que Deus a tenha – com certeza está envergonhada com as atitudes que Alex anda tomando.

“Depois da consulta na segunda feira, eu irei comprar passagem e talvez eu vá pra Califórnia. Preciso contar a novidade aos meus pais. Preciso de um tempo de Nova York” Julia diz enxugando suas lágrimas. Eu tenho vontade de socar Alex por tudo o que ele está fazendo a coitada passar.

“Vá, você precisa descansar e de um pouco de paz.” Eu digo e aliso seu cabelo “leva sua amiga com você.”

Ela sorrir e diz “ela não pode, disse que tem compromisso com um cara que ela conheceu há uns dias.”

“Tudo bem. Então vá só você. Descanse. Tire umas férias, viu, isso soa bem.” Eu brinco. “Mas quero saber como tudo está indo lá. Ok? E ainda quero ir à consulta com você na segunda. Combinado?” eu peço e ela concorda.

Depois de me despedir de Julia e prometendo passar em sua casa a noite, vou em direção a sala de Alex. Eu to por conta com ele, já passou dos limites. Ta agindo como uma criança mimada. Ele anda precisando de um choque de realidade. Entro em sua sala sem bater e o vejo encarando o computador. Ele me olha e assim que começa a falar eu o corto.

“Cala a boca, você agora só vai ouvir. Quer agir como um moleque mimado? Tudo bem, mas descontar suas neuras e frustrações em Julia não.” Eu digo.

“Vai se foder Joshua” ele grita.

“Belo argumento você tem. Mas eu só te direi isso uma vez, compreende?” Eu peço e nem espero pela sua resposta “Julia não é Luci. Ela está carregando o seu filho. Já passou da hora de você crescer. Nunca te dei motivos pra desconfiar de mim. Quem estava com você quando Luci lhe presenteou com um par de chifres? Quem estava com você quando você virava a noite em bares afogando as mágoas? Quem estava com você quando você perdeu as pessoas mais importantes de sua vida? Isso mesmo, eu. E eu nunca te cobrei nada. Sempre aturei as suas crises de filhinho mimado, sabe por quê? Por que é isso que irmãos fazem, é isso que melhores amigos agüentam sem nada em troca. Depois de tudo o que passamos você vir desconfiar de mim? É triste saber que a minha amizade pra você nunca foi importante. Dói saber isso Alex.” Eu cuspo as palavras e ele apenas me olha. Hoje é o dia de colocar tudo pra fora, ele irá ouvir o que eu venho agüentando há todos esses anos. “Pedir DNA por desconfiar que Julia estivesse dormindo comigo? Quando eu dei em cima de alguma mulher que você mostrou interesse? Nunca. Julia é como a minha irmã. E pro seu governo, e estou saindo com outra pessoa. Mas você não merece saber disso, sabe por quê? Eu não sou confiável, não é mesmo? Eu te amo cara, mas você precisa desesperadamente crescer ou irá perder novamente as coisas mais importantes da sua vida. Julia e seu filho.” Eu termino e ele apenas me encara.

Ando em sua direção com um pedaço de papel que está o endereço da médica de Julia e deixo em cima da sua mesa. “Aqui está o endereço da médica de Julia. E só pra você saber, ela está pensando em voltar pra Califórnia. Pensa bem se é isso o que quer pra sua vida. Morrer sozinho.” Digo e saio em direção à porta e antes de fechá-la coloco minha cabeça pra dentro e falo “e eu te perdôo por ter sido babaca comigo. É isso que irmãos fazem.” Saio e fecho a porta.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "De repente pai" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.