BELLA

Episódios de desenho animado depois me levantei do sofá e caminhei para a cozinha. O relógio marcava 19h10min da noite, queria que Edward saísse da minha casa, mas ele se manteve na sala assistindo desenho com as crianças.

— Então... – Assustei-me com sua presença.

— Avisa quando estiver se aproximando.

— Você está tão diferente. – Disse ele me fitando com os olhos.

— Estamos sempre em mudança, Edward. Olha, mudei. – Disse colocando suco em um copo e levado a boca.

— Você tem razão, estamos sempre mudando para melhor.

— Ou não. – O provoquei.

— Acho que mais que nunca precisamos conversar. – Seu tom foi sério, porém com um sinal de delicadeza.

— Não acho que estamos prontos para isso.

— E precisa de um preparo para uma conversa?

— Dependendo do que se trata essa conversa. Então, do que se trata?  

— Acho que tudo se resume em passado.

— Não acho que estamos preparados para isso. – repeti

— Acho que estamos.

— Você quer ter essa conversa agora? – Eu estava tentando me sair da conversa.

— Quanto mais rápido melhor.

— Eu vou ligar para Rose, pedir para ela ficar com as crianças. - Ele assentiu.

Edward saiu da cozinha e voltou para sala, pegou Olívia no colo que sorriu para ele e ele sorriu para ela.

Aquela conversa não seria nada fácil, ainda havia muita coisa entalada na garganta dos últimos anos, se era conversa que ele queria, era conversa que ele teria.

Peguei o telefone celular e disquei para Rose, logo ela atendeu e pedi para que ela ficasse com as crianças, ela logo aceitou. Voltei para sala e peguei Olívia do colo de Edward, o mesmo olhou-me surpreso. Eu não deixaria minha filha perto dele enquanto eu não soubesse suas intenções.

Ficamos assistindo a programação infantil até que o interfone tocou, sabia que era Rose e liberei sua entrada.

— Desculpa a demora, Emmett achou um gatinho na rua e o trouxe pra casa, estava ajudando ele a arrumar um lugar para o animal.

— Gatinho? Os dois irão ficar loucos quando você contar sobre o animal. – disse me referindo aos meus filhos.

Anthony e Olívia eram loucos para ter um animal de estimação, porém nunca fui de acordo, animais dão trabalho e tem despesas, não tinha condições e ter um animal.

— É um macho, é uma coisa fofa, ele é todo pretinho, o pelo brilha. Ele é lindo, só está magrinho. - Roselie parecia realmente encantada ao falar do animal.

— Tia Rose. – a voz e Olívia tomou conta do local e logo ela estava no colo e Rose.

— Minha princesa, está tudo bem? – Perguntou Rose beijando sua cabeça.

— Sim, está tudo ótimo. Você nem sabe quem está aqui. – Olívia fez suspense.

— Não sei, me diga.

— O pai do Thony, o tio Edward. -Olívia estava sorrindo e Rose olhou para mim.

Fiquei surpresa com a forma que Olívia se referiu a Edward como tio, ele não é tio dela, isso perturbou meus ouvidos e eu senti meu sangue esquentar. Aposto que ele pediu para ela chama-lo de tio, mas eu vou provar para ele que ele não é tio dela.

— Tio Edward? E cadê esse tio Edward? – Rose falou de forma suave, sem demonstrar surpresa.

— Está lá na sala com Thony, a gente estava assistindo desenho não é mamãe?

— É sim, meu amor, agora vai para lá que a mamãe já está indo com a Rose.

Roselie a pôs no chão e Olivia saiu correndo para a sala.

— Por que não me disse que esse desgraçado estava aqui? – Rose parecia irritada.

— Ele veio aqui ver o Anthony, eu não sei como eu fiz isso, mas deixei que viesse aqui e agora ele quer conversar, acho que chegou a hora.

— Não chegou a hora se não quiser, esse desgraçado fez o que fez e vem querer impor algo? Se você não quiser ele aqui eu chamo Emmett e ele expulsa Edward daqui. – Rose já ia pegar o celular, mas a impedir.

— Ele não impôs, acho que preciso dessa conversa, preciso dizer as coisas que devia ter falado a anos atrás, se ele quer a conversa pós é isso que terá. Eu só preciso que fique com as crianças. – Eu estava nervosa, sentia meu coração bater forte.

— Se é isso que quer, eu fico com as crianças, claro. Quer que eu chame Emmett também?

— Não precisa, acho que ele está bem ocupado com o bebê. – Disse me referindo ao gatinho e Roselie sorriu.

Caminhamos até a sala e Roselie cumprimentou Edward que estava com Olívia em seu colo, Rose a pegou no colo e sentou-se em outro sofá. Edward a seguiu com os olhos sério e depois seu olhar caiu em mim e com a cabeça o chamei, Edward levantou-se e apontei em direção a porta.

— Eu estou indo conversar com ele lá fora, leva os para ver televisão no quarto. – Roselie assentiu e levantou-se e chamou Anthony para o quarto, mesmo não querendo, obedeceu

Caminhei para a porta e Edward estava a minha espera fora da casa. Eu estava nervosa, minhas mãos suavam, meu coração parecia que sairia pela minha boca.

— Iremos conversar aqui?

Estávamos na varando da casa, assenti com a cabeça e caminhei para mais longe da porta, não queria que pudesse ser ouvida a conversa dentro e casa, pois sabia que poderia haver gritos. Edward me acompanhou e se permaneceu calado. Ficamos calados por aproximadamente dois minutos que mais pareciam duas horas, então resolvi começar.

— Já que não se pronunciou, eu começarei. – disse séria. Edward olhou-me e suas pupilas estavam dilatadas. – Sei que muito provável essa conversa está ocorrendo aqui para você me acusar de traição e tudo aquilo que você sabe bem, porém eu vinha pensando sobre minha vida e a vida das crianças e decidir não deixar isso assim. Quero que você esteja a disponível para fazer o teste de DNA para provar que Olívia é sua filha. Você não acredita em nenhuma palavra do que eu falo, mas pelo menos em um pedaço de papel você irá acreditar. – Nossos olhos não se desgrudaram.

As palavras saíram de minha boca como uma bala, rápida e certeira. Edward continuava me encarando e suas sobrancelhas se mexiam de leve querendo franzir.

— Não é necessário, eu...

Não o deixei falar.

— É necessário, antes não era, mas pela minha filha eu faço tudo, então é necessário sim, se você precisa de um papel para acreditar então você o terá. – Eu estava começando a me alterar, como não era necessário?

— Bella, deixa eu falar. – Sua voz era calma. – Não será necessário, pois eu sei que ela é minha filha, eu sei que Olívia minha filha e é por isso que estou aqui, assim como estou aqui para dizer que sei que você nunca me traiu.

Suas palavras me surpreenderam, não havia como esconder, senti que fiquei pálida, senti meu sangue gelar, um enjoou me atingiu.

— Como? Por quê? Como você sabe? – Minhas sobrancelhas estavam franzidas em sinal e dúvida.

— Sei que aquelas fotos foi armação para que eu me separasse de você, eu caí como um pato. – Ele disse, baixou a cabeça.

— O que aconteceu para que você soubesse da verdade? – A revolta estava me subindo.

— Josh me contou a verdade, Tânia e ele armaram para que me separasse de você. – Edward passou a mão nos cabelos em sinal claro de nervosismo.

— E porque acreditou neles e não em mim? – Edward abriu a boca algumas vezes mas palavras não saíram. – Você não sabe o que falar, não é? Eu era a sua esposa, você nunca confiou em mim, essa é a verdade, bastou meias palavras de seus amigos para que você acreditasse. Aí eu pergunto como você tem certeza de que eles não estão mentindo agora? – Minha voz estava se alterando.

— Agora eu vejo tantas coisas, Bella. Coisas que sempre estiveram óbvias na minha frente.

— Você não acredita em mim. Bastou seus amigos falarem, agora você ver o óbvio. Você nunca me deu o direito da dúvida, você simplesmente acreditou e achou que devia me devolver na mesma moeda, você sempre foi um cretino. – Minha voz estava fora do tom normal, eu queria socar a cara dele.

— Você tem razão, eu só quero pedir perdão e dizer que sinto muito. -Edward voltou a baixar a cabeça.

— Sente muito? Você acha que você vir pedir perdão e dizer que sente muito vai mudar alguma coisa? Pois eu te digo que não vai. – Dessa vez eu gritava.

— Eu não acredito que vai mudar. Eu justamente estou aqui para tentar consertar as coisas. – A voz de Edward era baixa.

— Consertar as coisas. – sorri ironicamente. – As coisas não se consertam Edward, você apenas pode conseguir as coisas daqui pra frente, mas conserto elas não tem.

— É para isso que estou aqui Isabella, para conquistar as coisas daqui para frente, mas aí chego e minha filha chama aquele cara de pai, você empurrou minha filha para outro cara. – Edward começava a se alterar.

— Agora a culpa é minha? – gritei. – Você que não acreditou em mim, eu fui acusada de traição por você e sua família, eu fui humilhada, eu que me virei para cuidar dos meus filhos, agora você quer vir me dizer que  culpa é minha? Que eu estou empurrando Olívia para um homem? Sabe de uma coisa? Eu fiz errada uma coisa, eu devia ter deixado Damon ter assumido Olívia como pai dela. – Meu corpo tremia de raiva.

Edward se pôs ereto

— Você não faria isso. – Seus olhos estavam arregalados.

— Eu não fiz, mas devia ter feito. Foi ele quem esteve com Olívia quando ela sempre precisou, ele que me ajudou quando Olívia precisava de atenção quando o irmão dela ia ficar com o pai que eventualmente é o mesmo pai, quando Olívia ficou doente ele que ficava com ela no hospital, quando Olívia sofria de cólicas ele esteve lá para me ajudar. Ele foi muito mais pai de Olívia do que você um dia pensou em ser. – Minha emoção estava a flor da pele e a única coisa que queria fazer era não chorar, porém foi em vão e logo as lágrimas desceram.

— Mas agora sou eu que estou aqui. 

— Você acha que só é chegar e com meias palavras você vai ser o melhor pai do mundo? – Um soluço escapou da garganta.

— Não acho, mas quero provar que posso ser.

— Você sempre poderia estar aqui, mas você nunca deu o direito de dúvida, você odiava a mim e a sua filha por causa de seus amigos, ou nem tão amigos assim. Olívia lhe chama de tio, Olívia sempre admirou você e você só sabia pensar em odiá-la, imagina como vai ficar a cabeça dela ao pensar que você sempre foi pai dela, mas você só amava o Thony. Já parou pra pensar? – Limpei o rosto que estava molhado e respirei fundo.

— Não, não parei. – Edward engoliu em seco.

— Esse é o seu problema, você é um filho da puta mimado. – Edward olhou-me surpreso. – Você sempre olha para seu umbigo, olha para coisas que lhe favorece, você olha para os seus sentimentos, para o que você acredita.

—  Você está errada, eu sempre estive ali para você, eu fazia o possível para que você fosse feliz, quando vi aquelas fotos eu realmente acreditei serem verdade e esse foi o meu erro, mas você me acusar de ser mimado é muito errado e sua parte, você e Thony sempre estiveram como prioridades na minha vida. – Ele se alterou

— Eu era a sua esposa, você devia acreditar em mim, me dar o direito de dúvida e eu provaria que você estava errado, mas não, você simplesmente acreditou nas pessoas que sempre foram falsas com  você. Eu sempre estive lutando por você, quando na verdade estava na minha cara que você nunca acreditou em mim, eu simplesmente cansei de lutar por você. Você acha que eu era realmente feliz Edward? Eu vivia como uma sombra sua, eu era aquela que vivia em função da casa e quando nos separamos você fez questão de deixar claro que o dinheiro que você mandava era apenas para o Thony. – O acusei. – Eu amadureci de verdade Edward, as experiências e o que você aprendeu com elas te faz amadurecer e não a idade que se tem. Eu espero realmente que você tenha amadurecido Edward.

— Eu sinto tanto Bella. – Ele chorava, sua voz saiu com soluços. – Você não sabe como me arrependo, quando vejo que foram 4 anos que perdi da vida de Olívia por mediocridade minha, que foram 4 anos com meu filho longe, com você longe, você não sabe como senti falta de tudo. Eu estava tão cego.

— Você tem seus filhos, Thony sempre esteve aí, Olívia ainda é muito pequena e você pode conquista-la. Eu realmente quero isso para eles, uma convivência com você. – Uma lágrima escapou de meus olhos.

— Eu não sei como te agradecer por não me afastar dos dois, obrigado. – Edward olhou-me com o rosto molhados de lágrimas.

— Eu não prejudicaria meus filhos por causa de uma mágoa que tenho de você. Thony conta os minutos para lhe ver e Olívia muda quando está perto de você, ela tem atitudes com você que ela tem com Damon. Eu só quero que você não magoe meus filhos. – Eu não chorava mais, respirei fundo.

— Eu não irei falhar com eles, Olívia me tem agora. – Edward limpou o rosto.

— Eu acho melhor que você vá embora, se essa conversa se prolongar vai voltar a desandar.

— Você tem razão. Posso me despedir das crianças?

— Antes passe no banheiro e lave o rosto.

Virei e caminhei para dentro de casa, fui em direção ao banheiro e me tranquei, desabei, soltei as lágrimas que ainda estavam presos, ter a certeza verídica que ele nunca acreditou em mim era terrível. Eu não amava mais Edward, mas saber que quando eu o amava ele não acreditava em mim, doía. Se eu tivesse visto isso antes saberia que nosso casamento não daria certo, o amor não é suficiente em uma relação. Um relacionamento é feito de pilares, sem um deles toda a estrutura de uma relação desaba. Foi o que aconteceu comigo e Edward, demorou até que a nossa estrutura desabasse, porém é uma coisa inevitável, um casamento não vive apenas de amor.

Lavei o rosto e saí do banheiro, não saberia dizer quanto tempo fiquei trancada lá, mas não foi tão pouco tempo. Fui em direção a sala e Roselie estava sentada no sofá.

— Como você está? – Ela levantou e abraçou-me.

— Me sentindo leve. – sorri de leve.

— Seu rosto está inchado.

— Imagino. Ele já foi?

— Ele está no quarto de Thony, ele disse que queria colocar as crianças na cama. – Roselie revirou os olhos.

— Foi possível ouvir a conversa do quarto? – Eu estava preocupada.

— Só ouviam-se gritos, mas entender não era possível. – suspirei aliviada.

— A conversa com as crianças tem que ser mais calma. Eles ficaram assustados?

— Ficaram, porém Olívia se acalmou, disse que era uma conversa de adulto e às vezes eles gritam. Thony entende as coisas e ficou preocupado e curioso para saber o motivo e conversa.

— Obrigada por distrair eles. Se você quiser ir, está dispensada – sorri para ela. – Obrigada por tudo, você é tão importante para mim. – Uma lágrima desceu por meus olhos. - Que droga eu estou chorando.

Roselie limpou meu rosto e me abraçou bem forte, não precisou palavras pra sentir que ela sentia o mesmo.

— Eu tenho que ir, Emmett e o gato devem ter virado a casa de pernas para o ar. – Sorrimos juntas só por imaginar Emmett e o gato. -  Você vai ficar mesmo bem?

— Eu vou ficar ótima. Obrigada por tudo.

Levei-a até a porta e ela partiu. Eu nunca saberia como agradecer por Rose ter entrado em minha vida. Ela é a irmã que todos queriam ter.

Caminhei em direção ao quarto de Thony, eles tava dormindo, o beijei no rosto e saí, caminhei em direção ao quarto de Olívia, deduzi que Edward estaria lá e não me enganei, ele estava sentado no chão com um livro no colo e a cabeça deitada na cama, suas mãos nos cabelos de Olívia, podia-se ouvir ele fungar em sinal de choro. Parada na porta fiquei observando-o.

— Me perdoa pequena, eu prometo que mudei. O papai agora está aqui. – Um soluço escapou de sua garganta. - Eu te amo, filha, amo muito, de verdade. Perdoa-me.

— Ela é muito pequena para entender as coisas, porém Olívia é uma criança incrível, ela vai amar saber que você é pai dela.

Edward virou o rosto em minha direção, concordou com a cabeça e voltou a fazer carinho nos cabelos dela.

— Posso ficar só mais um pouco?

— Edward eu estou cansada, você pode voltar amanhã se quiser, mas agora eu preciso descansar e você também. – Ele concordou com a cabeça e levantou-se.

Entrei no quarto, me aproximei na cama de Olívia e o local onde se encontrava a cabeça de Edward estava molhado, beijei a cabeça de Olívia e apaguei o abajur, saí do quarto e Edward me acompanhou olhando Olívia até quando não pudesse mais.

— Eu queria lhe pedir uma coisa. – Edward parecia envergonhado.

— Fale. – Estava impaciente, queria que ele saísse logo da minha casa.

— Quero uma foto de Thony e Olívia juntos.

— Tem que ser agora? – Franzi de leve as sobrancelhas.

— Poder ser amanhã quando vir aqui.

— Tudo bem, irei separar umas fotos para você.

— Obrigado de verdade.

— Você não tem que me agradecer, faço as coisas pensando nos meus filhos e não em mim ou em qualquer outra pessoa. – minha voz era calma, mas em tom de acusação.

— Eu entendo e concordo. Acho melhor eu ir.

— Concordo. – Andei em direção a porta e ele me acompanhou.

Não falamos nada e logo ele saiu de casa, respirei aliviada, a presença dele me tira o ar, fico nervosa como se a todo o momento esperasse uma atitude inesperada dele.

Caminhei para meu quarto, tomei banho e logo joguei na cama, cansada, peguei meu celular e nele continha 5 ligações de Damon, eu havia esquecido que ela ligaria. Não estava com vontade de retornar a ligação, apenas mandei um SMS.

“Me desculpa, esqueci que ligaria, estava ocupada”

Não demorou e a resposta veio.

“Você está bem? Estava preocupado”

Era de se esperar que ele estivesse assim

“Estou ótima”

Menti. Não estava ótima e nem havia motivo para estar, mas não falaria para ele é claro.

“Tudo bem! Agora posso dormir. Boa noite.”

“Boa noite. Beijos”

Deixei o celular na cabeceira da cama e virei para dormir, não demorou e o cansaço venceu-me e eu dormir.