Xangai, CV edição do Campeonato Mundial de Patinação Artística no Gelo, 2015.

– Eu não sei se consigo, Nico. – A garota tinha seus olhos arregalados. O glitter de sua maquiagem cintilava às luzes brilhantes. – Eu vou esquecer a coreografia, ou...

Nico a interrompeu, juntando seus lábios. Separou-os alguns segundos depois e juntou suas testas, olhando diretamente para aqueles olhos azuis que ele tanto amava.

– Eu estou com você há dois anos, vi o que você passou por não poder mais competir, estava lá quando voltou às pistas, sei o quanto você lutou para estar aqui hoje. – Sussurrou, e Thalia não pôde deixar de notar o tom orgulhoso que ele usava. – Eu tenho certeza absoluta de que você vai conseguir. Porque você pode fazer qualquer coisa que quiser. Você mostrará para todo mundo a patinadora maravilhosa que eu sei que é.

Thalia sorriu para ele, tentando segurar suas lágrimas. Seu nome foi chamado, estava na hora de ir. Deu um último selinho em Nico e pisou na pista, sentindo a adrenalina tomar conta de si e esperou que a música começasse, a coreografia gravada em sua cabeça.

Então, suavemente, começou a deslizar pelo gelo, tão delicada quanto a música. Sua roupa girava junto com seu corpo, e Thalia podia sentir-se fundida ao gelo. Aquela sensação que ela quase esquecera nos quatro anos fora da competição. Aquele medo de errar, junto à felicidade de estar ali, e os olhares voltados para si, ainda mais sabendo que um deles pertencia ao seu amado. Não poderia pensar em estar em outro lugar se não lá, rodopiando em cima de seus patins preferidos.

A música acabou, juntamente com sua apresentação, e ela fez uma reverência. Ouviu os aplausos e sorriu abertamente. Agradeceu a todos e patinou de volta para sua equipe, onde sua querida treinadora, suas colegas e Nico tinham sorrisos orgulhosos dirigidos à ela.

Assistiu às outras apresentações, ansiosa pelo resultado final. Segundo a treinadora, ela fora perfeita, não errando um único passo sequer, mas Thalia estava insegura. Era sua primeira vez em quatro anos naquela pista, sua primeira vez desde que o acidente acontecera. Não estava muito confiante de que fora melhor do que as outras participantes.

Enfim a hora dos resultados chegara, e sua respiração parou por alguns segundos ao ouvir seu nome anunciando que fora a melhor apresentação.

Passados todos os agradecimentos e entrevistas, Thalia finalmente pôde ir para o hotel, com uma medalha de ouro em seu pescoço e um grande sorriso em seu rosto. Seu pai pediu jantar especial aquela noite, para comemorar.

E, como se não houvessem sido esgotadas as emoções, Nico a levou até a cobertura, onde podiam ver a cidade inteira iluminada, e ali pegou sua mão, tirando uma caixa de veludo azul de um dos bolsos, olhou-a nos olhos.

– Você é tão bonita, Thalia. – Encostou suas testas, assim como havia feito horas atrás. – Eu realmente me sinto sortudo por tê-la ao meu lado. E quero você aqui, comigo, para sempre. Quer se casar comigo?

Os olhos dela, cujas lágrimas de felicidade caíram mais de uma vez naquele dia, choraram mais uma vez. Não poderia recusar nem se quisesse. Nico fora quem estivera ao seu lado quando voltou a fazer o que mais amava, fora ele quem a mostrara que sua vida não estava perdida. E ter aquela sensação para sempre, para ela, era como receber um milagre. Talvez, algo melhor do que ganhar o Campeonato Mundial de Patinação Artística no Gelo.

E, assim, chorando, ela respondeu que sim ao seu amado, beijando-o à luz da lua naquela noite estrelada, mais feliz do que jamais esteve.