Olivia escrita por Loren


Capítulo 7
Expresso




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***

Toc. Toc.

Virei-me para um lado e puxei o lençol até o queixo.

Toc. Toc.

Cobri a cabeça com o travesseiro.

Toc. Toc.

—Mãe... Abre a porta...- eu pedi em grunhidos.

Toc. Toc.

—Mãe...

Toc. Toc.

—O que custa abrir a...- eu me sentei, apoiei as mãos na borda da cama e abaixei a cabeça.-Mãe?

Toc. Toc.

A cama estava vazia. Bufei e desci, arrastando os pés até a porta. Abri a mesma e uma mulher que parecia ter acabado de acordar como eu, mascava alguma coisa ruidosamente e tinha um escovão na mão e um balde aos pés.

—Camareira.

—Ah...- eu olhei para o quarto e voltei o olhar para a mulher.- Só um momentinho.

Fechei a porta na cara da mesma e corri para vestir os tênis. Escovei os dentes apressadamente e saí do quarto.

—É todo seu!- eu disse e fui em direção as escadas, descendo para o salão.

Bocejei enquanto sentava em uma das cadeiras e prendia os cabelos em um coque.

—Bom dia, senhorita.- quando olhei para cima, vi Tom com o pano sobre o ombro, as roupas sujas e vi ele deixar um prato em minha frente.- Sua mãe pediu para lhe dizer para esperá-la aqui. Logo estará de volta.

—Sabe onde ela foi?

—No Beco Diagonal. Foi bem cedo, logo estará de volta.

—Obrigada.- ele assentiu e saiu de volta para o balcão.

Comi o sanduíche pouco me importando em sentir o gosto. Apenas mastigava automaticamente. Quando havia terminado e estava bebendo o suco de abóbora (nunca havia provado antes e me arrependo amargamente da minha demora!), a porta dos fundos abriu e surgiu minha mãe, com a mesma capa de ontem, com a bolsa bege e trazendo algo muito grande consigo. Quando se aproximou de mim, pude ver que eram dois malões de couro vermelho.

—Uau! O que é...

—São suas malas para o colégio. O maior são as roupas, livros e pergaminhos. O menor as penas e as tintas. Seus uniformes já estão aqui dentro.- eu olhava encantada.- Vamos, pare de babar e me ajude a levar lá para cima.

Não havia muito o que arrumar no quarto. A camareira só arrumou as camas, tirou o pó da mesa e colocou alguma coisa que dava um cheiro de vela no banheiro. Enquanto eu arrumava minhas coisas nas malas, minha mãe havia ido tomar um banho e percebi que o bilhete não estava em cima da mesa. Ou minha mãe já havia mandado, ou a camareira havia jogado no lixo. Dei de ombros e peguei uma muda de roupas quando minha mãe saiu do banho. Vestia roupas normais desta vez, como uma jeans e uma blusa marrom e exalava um ótimo cheiro de lavanda.

—Minha vez?

—Sim, porque aliás, você não tomou banho ontem, mocinha.

—Tomei, sim! Antes de irmos para o Beco Diagonal.

—E depois?

—Não...

—Então, está esperando o quê?

Revirei os olhos e me enfiei no cubículo. Depois, quando já estava travando uma luta para desembaraçar os cabelos, sentada na cadeira, minha mãe fechou o livro e me olhou de jeito penetrante.

—Olivia...

—Não fiz nada!- adverti.

—Ontem, na Floreiro e Borrões...

—Sim?

—Você estava com um grupo de pessoas.

—Sim.- meus dedos doíam pelo esforço para desfazer os fios enrolados.

—Não pude ver todos os rostos e nem mesmo reconhecer, estava com pressa, mas... havia um homem de costas para a vitrine, não?

—Uhum.

—Era loiro e tinha cabelos compridos...

—Sim.

—Sabe qual era seu nome e lembra o que falou com você?

—Ahm... Perguntou se eu era trouxa, se era minha primeira vez no Beco Diagonal e o que eu fazia ali.- respondi, sem dar importância, mas não percebi o tom de preocupação da minha mãe.

—Sabe qual era seu nome?

—Não, mas pelo o que me lembro... Seu sobrenome era Malfoy.

Um barulho desviou minha atenção dos cabelos e quando virei o rosto, o livro estava no chão e minha mãe estava agachada na minha frente, apertando as unhas no meu joelho e com os olhos arregalados para mim.

—Olivia, escute-me... Não quero que tenha algum contato com esse homem ou com o filho dele.

—Por...

—Apenas me obedeça!- ela disse com a voz rude.- Fique afastada dos Malfoy e dos sonserinos, está entendido? Não são boas pessoas.

—Mas o que são...

—Por favor, Oli, me prometa que ficará longe.- ela tinha os olhos repletos de ansiedade.- Me prometa!

Com medo que ela tivesse outro surto, eu a segurei pelos ombros e tentei dizer com toda a calma que tinha.

—Está bem, mãe. Não vou olhar, falar ou sentir o cheiro dos Malfoy, está bem?

Ela fechou os olhos e inspirou fundo.

—Obrigada.- sussurrou, pegou a minha mão esquerda e deixou um beijo ali.- Muito bem.- ela levantou-se e pegou a bolsa bege, enquanto calçava umas sapatilhas vermelhas.- Já está pronta?

—Para quê?

—Para ir para Hogwarts.

—Mas não é dia primeiro de setembro?

Ela virou-se e sorriu divertida.

—Querida, hoje é primeiro de setembro.

***

Estava na frente do Caldeirão Furado, esperando junto com o taxista minha mãe que demorava para voltar. Quando já havíamos descido e colocado as malas no carro, ela bateu a mão na testa e disse que havia esquecido alguma coisa. Já havia se passado meia hora desde que ela havia desaparecido na hospedagem.

—Olha, menina...

—Só mais quinze minutos, senhor. Por favor.- eu pedi e ele revirou os olhos, entrando no carro.- Cadê você, mãe?- eu murmurei.

Então, a porta se abriu e eu deixei a boca cair com o que minha mãe havia esquecido.

—Quase me esqueço, querida! Tome.- ela passou a jaula para as minhas mãos como se fosse algo tão normal.

—Mas o que...

—Você não achava que iria ficar sem algum bichinho, não é?

—Mas mãe...

—Depois você decide o nome da sua coruja, agora, entre no carro que estamos atrasadas.- sentou no banco da frente e começou a dizer as instruções para o taxista enquanto eu observava a coruja maravilhada.

***

—Obrigada!- minha mãe disse para o taxista que se afastava e voltou a empurrar o carrinho para dentro da estação de King's Cross.

—Mãe... Nós vamos de trem?- tentava acompanhar seus passos longos e apressados, mas ela parecia alheia as minhas palavras.

—Aham.- disse e observava as plaquetas que sinalizavam o número dos trens.- Fique de olho, querida. 9 3/4.

—O quê?

—O número.

—Mãe, não tem 9 3/4. Impossível!

—Achei!- ela disse e apontou para as colunas nove e dez.

Minha mãe parou e esperou que os da frente dessem passagem, mas eles estavam parados. Prendi o fôlego. Duas cabeças pequenas ruivas, uma outra cabeça com fios negros, uma senhora de cabelos curtos e caramelados e um senhor alto careca com alguns resquícios de fios ruivos.

—Não pode ser...- murmurei quando vi uma cabeça pequena de cabelos pretos.

—Está tudo bem, querida?

—Ahm... sim. Mas onde está o trem?

—Ah, do outro lado. Vamos esperar que eles passem na frente.- ela disse apontando para a coluna nove.

—Está bem.- disse a senhora e deu um empurrão para a menina ruiva.

A menina correu em direção a coluna sem parar e eu apertei os punhos de nervosismo. Ela queria se matar?! Não queria ver o choque, mas antes que eu fechasse os olhos, ela atravessou a coluna facilmente. Porém, não saiu do outro lado. Olhei para minha mãe assustada, mas ela apenas sorria.

—Acalme-se. Não dói.

Logo, o senhor e a senhora sumiram na coluna, restando o ruivo e o moreno. Começaram a correr e ainda confusa com o ocorrido, mas sem esperar algo terrível, deixei os olhos abertos. Mas o que veio em seguida, não assustou somente a mim. Minha mãe deixou um suspiro de terror escapar quando os dois meninos bateram na parede com os carrinhos, voaram por cima destes e não atravessaram a parede.

—Meu Merlin!- minha mãe sussurrou e correu até os meninos.- Vocês estão bem?- ela perguntou ajudando o moreno a se levantar e eu ajudava o ruivo.

—Sim, obrigada, senhora.- respondeu o moreno.

—Ei!- um dos guardas da estação aproximou-se e tinha a expressão estranhada.- O que estão fazendo?

—Desculpe... A gente... Ahm...- começou o moreno.

—Perderam o controle do carrinho, senhor.- eu respondi imediatamente. O guarda apenas balançou a cabeça negativamente e se afastou.

—Obrigada.- disse mais uma vez o moreno e o ruivo assentiu, concordando.

Minha mãe se apressou para perto da parede e começou a tateá-la.

—Está fechada.- ela murmurou.

—A senhora é bruxa?

Minha mãe assentiu.

—Sabe por quê?- perguntou o ruivo, apontando para a coluna.

—Não faço a mínima ideia! Nunca vi algo assim acontecer.- ela disse e se afastou, parando ao meu lado.

O barulho do relógio soou e os ponteiros marcavam 11:00.

—Ah, o trem parte às 11:00. Já perdemos!

O ruivo começou a tomar uma expressão de horror que teria sido engraçada, se o momento não fosse um tanto preocupante.

—Harry...- ele tocou na parede.- Se a gente não consegue passar, meus pais não vão poder voltar.

—Ah, demônios!- minha mãe murmurou.- Não tem como irmos. Viajar para Hogwarts somente pelo trem, aparatação é proibida e de vassoura levaria horas de desgaste!

—E agora, mãe?

—Acho melhor a gente voltar e esperar no carro.- disse o moreno.

—O carro...- sussurrou o ruivo e todos olharam para ele estranhados.

Seus olhos brilhavam com alguma ideia escondida por trás deles.

***

—Venham com a gente!- chamou o moreno sorrindo.

Percebi que o ruivo arregalou os olhos e com a distração, deixou a mala escorregar das mãos e cair no pé. Trancou o grito e pulava num pé só. Escondi meu riso com uma mão, mas logo meu humor foi substituído por algo do que o ruivo estava sentindo, porque minha mãe me beliscou no braço. Enquanto gemia, mancou até o amigo, sorriu forçado e o puxou para um lado. Acho que ele não tinha noção do próprio tom, porque foi possível ouvir sua conversa por completo.

—Harry, o que está fazendo?

—Convidando elas para ir com...

—Eu sei, mas por que está fazendo isso?

—Elas nos ajudaram, Ron. E a menina vai perder o primeiro ano dela! Não é justo.- o ruivo apertou os lábios e fez um bico enquanto pensava.

—Está bem, chame elas. Rápido, espero que consigamos alcançar o Expresso.

—Ótimo!- disse o moreno radiante e chegou de novo em nós.- Podem colocar suas malas no carro.

—Como pretendem chegar em Hogwarts de carro?- perguntou minha mãe fazendo uma careta.

—A senhora vai ver!- e pegou a mala pequena.

Eu e minha mãe levamos a mala maior e colocamos no porta malas, junto com as outras. Percebi que as malas deles tinham o desenho de um leão dourado com fundo vermelho. Antes de fechar, percebi que a minha mala tinha um desenho, como um brasão. Dividido em quatro partes, com um H no centro. O leão dos meninos estava gravado no canto esquerdo superior. No canto direito superior havia uma cobra com o fundo verde e prata, embaixo desta havia uma águia misturada entre cores azul e cobre e no canto esquerdo inferior um texugo envolto em preto e amarelo. Havia uma inscrição, mas não pude ler. Minha mãe me puxou pelo ombro para dentro do carro. Era um Ford Anglia azul. O moreno sentou na minha frente, no banco de carona e ao meu lado estava uma gaiola com uma coruja branca. No chão, estava a minha coruja. Eu e ela nos encaramos por mais um tempo. Ela deitou a cabeça para um lado ao mesmo tempo que eu. Ri baixinho. Era linda. Tinha as penas negras com manchinhas cinzas e olhos caramelados.

—Sua mãe tem um temperamento forte.- ouvi Harry dizer e ele olhava para fora.

Ela estava vermelha e discutia com o ruivo. Ele tinha as orelhas vermelhas. Minha mãe revirou os olhos, jogou as mãos para o alto e entrou. O ruivo sentou no banco do motorista. Olhei surpresa para minha mãe e ela deu de ombros, ainda com o rosto emburrado.

—Ahm... Você vai dirigir?- eu perguntei, tentando sorrir sem os lábios tremerem.

—Sim.- ele disse nervoso e ligou o carro.

—Você sabe dirigir?

—Não.- ele puxou uma alavanca que tinha no painel e quando percebi, estávamos voando.

***


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