Olivia escrita por Loren


Capítulo 1
Prólogo




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***

O alto e esguio vulto preto aproximou-se do portão de ferro ornamentado e observou por alguns segundos, parado, a bela fazenda em que seus pés descalços pisavam. A grama era macia e a terra fofa. Ele continuou a andar em passos lentos em direção a casa de dois andares, a alguns metros à sua frente. Ao seus lados, as uvas estavam tão roxas quanto os machucados que ele provocava em suas vítimas. Seu passos eram pesados, deixando a marca dos seus pés para trás.

Passado pelos vinhedos, aproximou-se cada vez mais lentamente da casa, até parar em frente a uma fonte de anjos. No reflexo da água, seu rosto estava escondido pela capa, mas seus olhos vermelhos destacavam-se. Levantou o olhar para a casa, com portas de madeira carvalho e pintada suavemente com a cor do pêssego. Ele levantou um graveto branco e sussurrou palavras estranhas. Dito estas, um raio de cor indistinguível cruzou o ar e atacou uma parede do segundo andar, que logo foi demolida e deixando um enorme buraco. Um grito ecoou de dentro e ele sorriu satisfeito. Ele repetiu o ato várias vezes, atirando em várias direções da casa. Os gritos aumentaram.

Dentro da casa, mulheres vestidas com o uniforme diário gritavam desesperadas e abandonavam seus produtos e aparelhos de limpeza para correrem pela porta dos fundos, querendo como último desejo, sobreviver. As paredes tremiam a cada raio lançado e, ao final, sobraram somente os propietários do lugar.

—O que está acontecendo?!- ela gritou com a voz embargada no desespero, misturando-se com os barulhos das paredes sendo destruídas.

Seus olhos cor de mel denunciavam o medo que seu corpo e sua alma sentiam. Ele estava ali. Ele a encontrou. Ele cumpriu a promessa.

—Suba!- ele ordenou aproximando da mulher que estava em pé no primeiro degrau da escada.- Suba e pegue a mochila!- uma mecha escapou da cola que ela havia feito em seus cabelos dourados e ondulados.- Qualquer coisa, pule pela janela! Rápido!

—Ja.. janela?!- ela perguntou tremendo a voz.- Mas e você?- ela tentou abraçá-lo, mas ele a empurrou delicadamente.

—Rápido. Protejam-se.- ele disse e pegou a espingarda pendurada acima da lareira.

Ela subiu pulando dois degraus de vez. Chegando no quarto, revisou a mochila e com esta nas costas, andou até a janela mas algo a impediu. Alguma coisa estalou em sua cabeça. Alguma coisa a fez voltar para o quarto e abrir a primeira gaveta da cômoda. Pegou o revólver com cuidado e vendo que estava carregado, desceu novamente para a sala.

—O que está fazendo aqui?! Eu não falei para ir embora?!- ele perguntou aos gritos enquanto observava a mão dela tremer.

Ela deixou uma lágrima escorrer e ele sentiu uma vontade latente de ir afagar seus cabelos deitados em seu colo. No mesmo instante, a porta abriu-se com um estrépito que parecia perfurar os tímpanos dos presentes. O vulto aproximou-se com graça e delicadeza, como um cisne negro. Ele não esperou por uma ordem e puxou o gatilho da espingarda. O vulto levantou o graveto e fazendo um movimento rápido, defendeu-se da bala após sussurrar algumas palavras desconhecidas para ele. A bala caiu no chão com a ponta amassada. O vulto riu escandalosamente. Apontou o graveto e dali saiu um raio verde que atingiu em cheio o homem. A mulher gritou ao ver o corpo do seu marido, inerte, imóvel e morto. Percebendo pela visão periférica o vulto se aproximar, ela levantou e puxou o cão da arma.

—Armas de trouxas?- a voz do vulto soou fina, lenta e baixa.- Como você se rebaixou.- ele disse desapontado.- Eu avisei que ia se arrepender.- ele disse engrossando a voz com raiva.

Fez um movimento com o graveto e a arma dela saiu pelos ares, atravessando uma das poucas janelas intacta e caindo na fonte. Ela andou para trás, olhando para os lados, pensando em uma forma de escapar, quando seu corpo chocou-se contra a parede. Ela ofegava chorosa. Ele sorriu maldoso. Ela fechou os olhos.

—Uma pena, minha querida. Ava...

Antes que pudesse terminar de proferir as palavras, percebeu que a mulher abraçava fortemente a barriga enquanto as lágrimas ainda caíam pelas pálpebras fechadas.

—Grávida?- ele perguntou perplexo.

Ela, sem mais nada a perder, assentiu de olhos fechados. Ele abaixou o graveto. Não tendo sentindo nada, abriu os olhos e viu que o vulto havia desaparecido. Sentindo-se destroçada, deslizou até o chão. Chorou compulsivamente e sem evitar qualquer soluço, com o rosto escondido nas pernas juntas. Lembrou-se dele. Aproximou-se do homem engatinhando e chorou sobre seu rosto. Beijou seus lábios finos e ressecados. Permaneceu por ali, até escurecer. Com a mochila nas costas, a alma na mão e uma vida no ventre, deixou a bela casa onde, um dia, poderia ter sido feliz para sempre.

***


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