–Vamos logo, Sakura! - Mebuki gritou colocando a última mala no porta malas do carro.
-Eu já vou! - Sakura gritou de volta, ela veio correndo de encontro a mim, eu estava encostado no batente da porta. - Sasuke... Obrigada por entender.
-Eu só - eu fiz uma breve pausa pensando se o que eu diria era verdade, acho que minha ação atual prova minhas palavras. - Quero o melhor para você.

Completei mentalmente: "Mesmo que você queira ficar longe de mim".

-Obrigada, e a gente se vê por aí - ela falou com um sorriso tímido e deu as costas indo em direção ao carro.

Eu não falei mais nada, só fiquei olhando ela sentar calmamente no banco do passageiro, fechar a porta, abaixar o vidro da janela. Quando a mãe dela começou a dirigir, ela olhou uma última vez para mim e acenou.
Permaneci no batente mesmo depois de o carro virar a esquina.
Meu irmão voltou para sei lá onde, meus pais estão em casa, Sakura decidiu que aqui não é o lugar dela. E eu não vou prendê-la se ela realmente pensa assim. Estou agora aqui sozinho tentando repassar tudo que aconteceu ontem.
Sakura acordou no meu colo na cama, depois de uma noite de choro intenso. Ela me olhou com cara de pânico, como se não me reconhecesse (o que depois eu descobri ser verdade), depois de algum tempo me olhando ela se acalmou, nós tomamos café sozinhos, as janelas abertas, o tempo agradável, mas Sakura agia como se eu fosse um completo estranho. Não trocamos nenhuma palavra durante o café, depois nos trocamos e tentamos dar uma volta.
Foi quando ela me falou que achava melhor voltar para perto de pessoas familiares. De primeira eu não entendi: "Eu sou familiar e, você está perto de mim". Depois me lembrei de que eu não sou mais familiar para ela.
Eu concordei sem muita opção, mas o que eu queria era gritar durante uma semana, para ver se assim ela se lembrava de algo, mas é claro que eu não fiz isso, e eu sabia que era uma ideia ridícula e sem fundamento.

Eu peguei o meu celular e disquei o número de uma pessoa pouco conhecida para mim, mas que eu tinha certeza de que não teria sido avisada de nada do que aconteceu se não fosse por mim.

-Ino? - eu falei quando o celular parou de chamar.
-Oi, Sasuke. Está tudo bem? - ela me atendeu com certa indiferença, eu quase nunca ligo para ela, pois não tem necessidade.
-Mebuki veio buscar a Sakura agora de manhã - eu anunciei e percebi um certo desconforto partindo de Ino.
-Você deixou?! - ela perguntou se exaltando.
-Ela quis ir! Eu não tive o que fazer! - eu falei tentando me justificar o mais rápido possível.
-Você sabia que minha mãe iria tentar se aproveitar desta situação! - ela falou com um rosnado. - E meu pai? Ele falou alguma coisa?
-Não sei, ele não veio e eu ainda não falei com ele - "nem vou falar" eu pensei, mas eu sei que realmente não é uma coisa para se dizer agora.
-Você não fez nada para intervir...
-E nem você vai fazer! - eu interrompi a Ino. Ela pode ser irmã da Sakura, mas eu decidi depois de um tempo que é melhor não falar nada.
-Você tem medo da minha mãe? Pois eu não! - ela gritava e se exaltava em um nível que eu nunca tinha visto.
-Ino entenda que nestas circunstâncias é melhor não interfirimos! - eu falei me acalmando.
-Fica quieto seu...
-Fica quieta você! Você não sabe como a Sakura vai lidar com a situação, ela voltou a morar lá - eu soltei a bomba sem pensar, e agora vai ser cerca de uma hora até a Ino se acalmar, ou mais né.
-Como você pôde?! - se eu achava que ela estava gritando antes, não sei o que ela está fazendo agora.
-Ino, para e pensa com calma...
-Minha mãe ligou e me ameaçou, mas se eu não contar, saiba que foi pela Sakura, não pela Mebuki - ela falou baixando repentinamente o tom de voz e desligando.

Eu tirei lentamente o celular da minha orelha, olhando fixamente para um quadro da parede, onde eu estava abraçando a Sakura por trás. Por um momento acabei deixando um pensamento cruel, mas que talvez fosse verdade passar pela minha mente: "Isso nunca mais vai acontecer...".
Comecei a tirar todos os quadros da parede e guardá-los em caixas de papelão, para guardar em um quarto da bagunça que a Sakura "organizou".

Lembrei das palavras da Ino:
"Minha mãe ligou e me ameaçou, mas se eu não contar, saiba que foi pela Sakura, não pela Mebuki"

A Mebuki ameaçou a própria filha...
Ela também me ameaçou, assim que a Sakura ligou dizendo que queria voltar para a casa dos pais.
Eu não contaria, mesmo sem a ameaça, e ela me ameaçando me fez ter uma mínima vontade de contar. Mas eu não vou. É o certo, mas de uma forma um pouco errada.

Eu fiquei um tempo guardando, enrolando jornal em volta dos quadros para não estragá-los, acho que se passou cerca de uma hora e meia, até que no instante que eu acabei de guardar a última caixa a campainha tocou.
Fiquei surpreso ao ver a Ino lá parada na porta me olhando, com um misto de tristeza e raiva estampados em seu rosto.

-Nossa... - ela disse depois de analisar o cenário atrás de mim. - Me lembro de ter mais quadros do que parede nesta casa.
-Entra, eu acabei de terminar de guardá-los - eu falei abrindo espaço para que ela entrasse. - É difícil olhar para elas e lembrar que a poucos meses atrás tudo era colorido daquele jeito.
-Eu empacotei várias fotos, quebrei outras, não aguentava mais ver algumas - ela falou me olhando com os olhos vazios. - Era estranho olhar para a falsidade da família perfeita.
-Mas... o quê aconteceu? Por que você veio aqui? - eu perguntei depois de um tempo em silêncio.
-Sakura só se lembra das coisas até o dia da formatura dela não é? - Ino perguntou calmamente sem me olhar.
-Sim - eu falei, eu observei ela para tentar ver para onde olhava, ela observava um espaço vazio da parede, onde antes tinha um quadro e agora não tinha nada.
-Você sabe que ela tinha um namorado até pouco tempo depois da formatura, não é? - ela disse ainda sem fazer contato visual.
-É, sei sim, ela me contou - eu disse tentando lembrar de alguns detalhes, mas a Sakura só comentou. - Por quê?
-Pelo o quê ela se lembra, ela ainda namora ele, certo? - ela comentou isso, me causando certo pânico.
-A gente pode não falar sobre isso? - eu falei tentando manter a calma.
-Tudo bem, não foi para isso que eu vim aqui - ela disse voltando seu olhar lentamente para mim.
-Então foi para o quê? - eu disse, e pude escutar a impaciência na minha voz, mas a Ino não se importou.
-Minha mãe sabe que se ela, souber, se lembrar ou se alguém contar para ela, ela vai embora - Ino disse, com os olhos um pouco marejados, respirando fundo para retomar o controle, a lembrança ainda a magoa. - Sakura pode não se lembrar de várias coisas, pode estar com a personalidade diferente da que você se lembra, por não ter a lembrança de algumas experiências, mas eu me lembro muito bem das atitudes dela naquela época.
-Onde você quer chegar? - eu perguntei ficando mais interessado a cada palavra dita pela Ino.
-Eu me faço de forte, pose de irmã mais velha, mas quando eu descobri o que a minha mãe fez, eu só sabia ficar trancada no quarto chorando, era como se um buraco tivesse sido aberto no meu coração, eu comecei a formular teorias uma pior que a outra, cada um que eu fazia, me afundava mais. Eu parei de tentar melhorar - ela falou, eu não via mais nenhum sinal de que ela pretendia chorar, eu via orgulho, ela sentia orgulho da Sakura. - Sakura ficou furiosa quando descobriu, tenho certeza de que vários tipos de pensamentos se passaram pela cabeça dela, mas ela não se deixou abalar... Eu sempre falo que nós saímos de casa porque eu precisava tomar a iniciativa, mas a verdade era que enquanto eu estava mergulhada no caos, Sakura se fortalecia e planejou tudo!
-Ela sempre foi um pessoa incrível...
-Sabe o quanto é difícil te contar isso? - Ino disse desviando o olhar novamente.
-Eu imagino, e te agradeço por confiar em mim - eu disse com grande sinceridade.
-Fiquei muito feliz quando Sakura se casou com você, mesmo você sendo um chato - ela falou rindo.
-Você também não é a pessoa mais legal que eu conheço - falei retribuindo o sorriso.
-Nem minha mãe nem meu pai me ligaram quando ela sofreu o acidente, e foi você que me ligou para avisar que ela já tinha se recuperado e recebido alta do hospital - ela disse se levantando do sofá em que estavamos sentados indo em direção a porta. - Muito obrigada Sasuke!

Ino tinha se aberto comigo, e eu consigo pensar em vários motivos para ela ter feito isso, o mais palpável é que ela queira que eu tome uma atitude quanto a estadia de Sakura na casa dos pais. Uma atitude que eu não me vejo no direito de tomar.

Assim que terminou de falar, ela não me perguntou nada, não se despediu e mal olhou para mim enquanto esteve aqui. Ela simplesmente foi embora e eu me encontrava sozinho de novo.

Apesar de tudo eu tenho meus deveres e tenho que retomá-los. Tenho que tomar uma atitude, mas somente quando a Sakura descobrir por ela mesma.

Novamente...