Minha Falha escrita por Hyiani


Capítulo 15
Enterrando Lembranças


Notas iniciais do capítulo

Caramba...
É, acabou galera.
Eu estou bastante emocionada, sério mesmo. Eu vou responder todosnos comentários, como sempre, e tenho certeza que eu vou fazer um grande drama para responder!

Tem uma surpresinha nesse capítulo, então vamos lá?
Boa leitura e espero realmente que vocês gostem!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/658040/chapter/15

O dia começou com a mesma monotonia de todos os invernos da minha vida. Pelo menos os que eu me lembro.

Levantei cedo fui a faculdade, na volta para casa comprei um café e aquela altura do campeonato eu já não conseguia sentir meus dedos. Retornei para casa, bebendo meu café aos poucos, mas rápido o suficiente para ele não esfriar. Depois comecei a estudar para algumas provas, para logo depois sair para o estágio.

Não consigo me decidir qual é minha estação do ano favorita, mas definitivamente sei qual é a que menos gosto. Qual é a graça de ficar congelando? De perder a sensibilidade de todos os membros do seu corpo? Não conseguir beber água de forma decente, porque ela está muito gelada? Eu não vejo nenhuma!

Se você for parar para pensar, na verdade tiveram alguns invernos legais. Aqueles em que eu estava em outro país onde era uma estação mais quente. Definitivamente foram invernos encantadores! Mas foram poucos.

Enquanto eu perdia uma grande parte do meu tempo colocando defeitos no inverno, meu celular tocou. Eu atendo sem olhar o identificador de chamadas.

-Alô? - eu pergunto olhando para os dois lados da rua, logo em seguida atravessando.

-Sakura? - escuto a voz da minha irmã do outro lado da linha.

-Oi, tudo bem? - eu falo brevemente.

Sinceramente não estou com a menor vontade de falar com ninguém, não gostaria nem de estar com meu celular, mas preciso ser uma pessoa facilmente comunicável para permanecer no estágio. Seja o que for tenho certeza que poderia esperar, ou ser dito por mensagem. Sei que essa é uma coisa extremamente preguiçosa de se dizer, mas é o que eu me tornei na era da tecnologia: uma pessoa extremamente preguiçosa.

-Só queria dizer que eu vou passar na sua casa mais tarde! - ela falou toda empolgada.

Viu? Podia ter mandado mensagem, ou só ter aparecido na minha porta mais tarde, que eu já iria saber que ela passaria por lá.

-Tudo bem. - eu falo simplesmente.

-Tenho novidades! - fala com uma empolgação um tanto quanto incomum.

-Você sempre tem, Ino. - eu digo chegando em frente ao edifício do estágio.

-Eu poderia ter seguido minha vida sem essa! - ela diz deixando a voz um pouco furiosa, o que eu tento relevar. - Mas eu vou fingir que não ouvi, porque estou feliz demais!

-Ok. - eu falo desligando.

Tenho quase certeza de qual é o assunto da qual ela quer falar. Ou ela terminou com o namorado, ou vai se casar com o namorado. É sempre assim. Quero ver se esse dura.

-Bom dia, Sakura! - a recepcionista me cumprimenta.

-Bom dia! - eu respondo direcionando um breve sorriso para ela.

Subo até o andar na qual fico trabalhando e é assim que mais três horas do meu dia passam: algumas víceras, prontuários, fichas, agendamentos... Estou feliz por desempenhar a profissão que eu sempre busquei: sou médica. Mas nos invernos, tudo fica simplesmente insuportável.

Até a hora de ir embora, onde mais uma parte do meu dia será monótona.

Antes de voltar para casa, passo novamente na cafeteria e pego um capuccino. Sigo em direção a minha casa, e antes que eu possa pensar em relaxar, me lembro que Ino já deve estar lá me esperando, e que eu terei que lidar com uma grande comemoração de noivado, ou terei que ser o ombro no qual ela vai chorar até não aguentar mais.

Eu subo de escada até o sexto andar do prédio, tentando adiar ao máximo meu encontro com a minha irmã.

Não pensem mal. Eu amo ela e blá, blá, blá... O problema é que estou cansada e mesmo ela sendo a mais velha, não é a mais madura, nem a mais perceptiva. Ela provavelmente irá ficar horas e horas falando sobre o casamento e seus planos, ou sobre os defeitos do cara com quem ela terminou (ou terminou com ela, sei lá). Só quero descansar. Deitar, ligar o aquecedor e fingir que não tenho mais nada para fazer.

-Sakura! - Ino grita correndo até a porta. - Finalmente! - ela diz empolgada.

-Oi, Ino! Tudo bem? - eu falo depois de ela me soltar de um abraço caloroso. Calor. Coisa que faltou no meu dia.

Só aí eu percebo um rapaz postado no canto da sala, apenas observando a cena com um sorriso discreto nos lábios. Ele tem cabelos pretos e por mais que esteja sorrindo, possuí uma face um tanto quanto inexpressiva. Ele me lembra alguém... Ah, esquece.

Deduzo que eles vão se casar. Mas tem uma coisa inédita na história. O cara está aqui! Normalmente Ino vem sozinha anunciar. Então talvez seja sério dessa vez (só talvez).

-Senta! - Ino fala apontando para o sofá, dando leves tapinhas na almofada.

Fala sério! Que tipo de pessoa pede para alguém sentar no próprio sofá? A casa é minha, e eu sento onde eu quiser.

É nesse momento que eu sinto minha veia de irmã mais nova pulsar, provocar a Ino é uma coisa muito familiar para mim. Pensando nisso eu sento em outro sofá sem ser o que ela indica, normalmente ela daria um chilique juntamente com um "pequeno" discurso sobre como isso é falta de educação e etc.

O rapaz se apresenta tentando demonstrar o máximo de simpatia que consegue, ele estende a mão e eu retribuo. Não faço muita questão de decorar o nome dele, ainda não tenho certeza se ele vai fazer parte da minha vida por 1 ano, 1 semana, ou sei lá.

-Sakura... NÓS VAMOS NOS CASAR! - Ino dá introdução ao que eu sei que será uma longa gritaria.

-Meus parabéns, Ino! Desejo muitas felicidades a vocês! - eu falo tentando colocar um pouco de animação e simpatia na minha voz. Ino faz uma careta, mas tenta disfarçar. Esse é um pequeno discurso padrão, eu venho dizendo ele há alguns anos.

-Só isso, Sakura? - ela fala com um pouco de esperança na voz.

-Eu que pergunto! Só isso ou mais alguma coisa? - eu pergunto começando a me levantar e indo em direção a cozinha para lavar a louça.

-Argh! Tudo bem, fiz minha parte te avisando. Você vai ser minha madrinha de casamento ou não? - ela pergunta indo direto ao assunto que interessa para ela.

-Tá. Pode ser. - eu falo sem muita emoção.

Um tempo depois escuto eles indo embora e suspiro. Tenho várias coisas para fazer ainda hoje. Sei que fui rude com a Ino, mas eu só não estou no clima de comemorar, estou no clima de deitar em baixo de algumas cobertas e passar o resto do dia ali.

Tenho que ir ao banco depositar o dinheiro do emprestimo que meu pai me fez alguns anos atrás. Ele e minha mãe queriam que eu voltasse a investir em estudos para administração, eu cheguei a inicia-los, mas eu realmente queria estudar medicina. Como eu não havia trancado a faculdade, e eles me auxiliaram bastante por conta do acidente, eu consegui voltar os cursos de onde eu havia parado. Ainda não me formei, mas não falta muito para eu iniciar residência.

Ainda preciso ir a uma consulta, desde o acidente eu tenho consultas mensais para checar as reações a longo prazo que podem surgir por conta do acidente, mas talvez eu seja liberada daqui algum tempo, porque nunca encontraram nada, e os ossos que eu havia fraturado quase não encomodam. Ainda bem!

Depois de terminar de me arrumar, novamente, eu saio tendo em mente que irei na consulta e depois irei passar no banco. Eu me sinto um bolinho por causa de todos os agasalhos que coloquei, estou quente, mas é uma sensação engraçada, todas as minhas articulações estão bem limitadas, por causa da espessura das blusas.

-Bom dia, Srta. Sakura. - a médica fala como de costume, assim que adentro a sala.

-Bom dia, Dra. - eu respondo começando a remover algumas blusas para facilitar a consulta.

-Vamos começar? - ela diz indicando uma cadeira para que eu me sente.

-Claro. - eu falo acenando positivamente com a cabeça e me sentando no local indicado por ela.

-Tudo bem, serão os mesmos exames. - ela diz já iniciando.

Um dos principais que ela sempre faz é passar uma espécie de lanterna pelos meus olhos, depois mais alguns se seguem e ela dá instruções, notícias, faz algumas perguntas.

-Tudo perfeitamente normal! - ela fala se sentando novamente em sua cadeira, eu me levanto e começo a colocar novamente as dezenas de blusas com a qual eu vim vestida.

-Que ótimo! - eu falo tentando demonstrar empolgação. Eu estou feliz por não ter nada, mas a questão não é essa.

-Só mais uma pergunta. - ela fala voltando lentamente seus olhos para mim. - Sua memória retornou? - ela pergunta sem enrolar mais.

-Não, não voltou. - e essa é a questão.

-Sakura, já fazem mais de três anos desde o acidente. É provável que ela não retorne. As chances são pequenas, mas a mente humana é imprevisível. - ela fala escolhendo as palavras certas. Mal sabe ela que na verdade eu já estava me preparando para isso.

Após acordar em meio a um ambiente inteiramente esbranquiçado, eu percebi que estava no hospital. Não lembrava o motivo, nem o dia, nem o local, nem quem eram todas aquelas pessoas que estavam a minha volta. Mais tarde eu descobri que só haviam enfermeiros no quarto naquele momento, e que era dia 24. Também descobri que eu gostava de balas de uva e que eu era casada.

-Tudo bem, obrigada. - eu falo virando a maçaneta e indo embora do consultório.

Sabe, depois que eu acordei cerca de 10 anos depois da minha última lembrança, a primeira coisa que eu pensei foi: "Minha cabeça dói." Eu comecei a tentar imaginar alguns motivos para aquilo. Depois meus pais entraram no quarto totalmente desesperados e eu não sabia por que.

Tinha uma mesa cheia de comidas no quarto, nela tinha um bilhete:

"Para o nosso aniversário,
-Sasuke."

O problema é que eu não conhecia ninguém com aquele nome. Ou melhor, não me lembrava de conhecer. Eu tentei ser otimista, mas eu percebi algumas coisas quando meus pais entraram: parecia que fazia muito tempo que não me viam, e eles estavam com mais cabelos brancos do que eu me lembrava.

Eu perguntei o que houve e eles não respondiam. Ficaram lá, apenas me olhando. Depois de um tempo se recompondo, enquanto minha mãe chorava, meu pai me explicou o que houve. Eu e Sasuke haviamos sofrido um acidente de carro. Eu e o mesmo cara desconhecido da mesa de guloseimas.

Minha primeira pergunta foi: "Quem é Sasuke?". E a resposta não veio de imediato. Na verdade ela não veio. Não sei se por acharem que eu estava brincando, ou se eles ficaram surpresos demais. Só sei que depois o homem tanto citado apareceu, muito feliz por sinal, mas eu tentava ainda ser positiva e agradeci a gentileza de levar todas aquelas comidas para o hospital. Ele ficou aparentemente, extremamente triste por eu não me lembrar dele. Ele parecia estar se contendo para não contar algumas coisas. No mesmo dia eu descobri que ele era meu marido. MARIDO. M-A-R-I-D-O.

Ele parecia esconder várias coisas sobre mim e sobre a minha história. Mas eu não o forçava a falar, afinal, eu não me lembrava e ele tentava ao máximo não me pressionar. Aos poucos eu fui descobrindo, o pior não foi descobrir "de novo", foi saber que tiraram proveito da situação "desmemoriada" na qual eu me encontrava, para reescrever o passado.

Minha mãe insistindo na ideia de que tinha feito a coisa certa, e tomado as medidas necessárias para não me perder novamente, só acabou conseguindo me afastar mais.

Voltamos a mesma estaca, eu fora da casa dos meus pais, trocando de curso e seguindo meu sonho. E solteira.

Eu cheguei em frente ao banco com a cabeça a mil. Eu sei que não posso simplesmente contar com a esperança de que minha memória retorne, mas também dizem que a esperança é a última que morre. Mas não é como se eu achasse que mudaria grandes coisas na minha vida.

Minha primeira preocupação ao descobrir ter um marido, foi o fato de não saber nada sobre aquela história, nem sobre quem era meu marido. Eu conheci ele, ele parecia uma pessoa ótima, eu poderia listar 100 motivos para me apaixonar por ele, mas não vou. Porque isso não aconteceu novamente, e é como se nunca tivesse ocorrido.

Tentei várias vezes me aproximar dele, mas depois de algum tempo percebi que seria impossível e doloroso. Mas sempre que algo vinha a tona eu sentia que podia contar com ele, e recorria novamente a sua ajuda e opinião. Faz cerca de 2 anos que eu não o vejo. E fazia cerca de 2 anos que eu não pensava nele.

Eu sempre tentei evitar pensar nos fatos e em todas as informações que eu consegui descobrir sobre mim nesse meio tempo, entre o atualmente e o acidente, mas na realidade, eu tive que reunir informações de 10 anos em algumas semanas, para poder fingir que eu era aquela Sakura. Mas eu percebi que muitas das minha atitudes eram mais maduras, e eu me sentia completamente imatura perante elas. Eu tentei fugir o máximo que eu pude, mas eu acabei amadurecendo e tomando as mesmas decisões que já haviam sido tomadas e deixadas de lado.

Achei um tanto quanto irônico, primeiro eu lutava para "esquecer" de vez todas as escolhas de um período nebuloso, mas depois eu lutava para conseguir conquistar novamente aquelas escolhas.

Já passou da hora de eu começar a pensar em tudo o que houve. Eu só... Não queria admitir isso para mim.

Eu realizo o depósito e saio o mais rápido que eu consigo do banco. Tudo o que eu quero é ir para casa e fingir que eu não tenho problemas para enfrentar, decisões para tomar e uma vida para viver. Eu só quero dormir.

Meu último encontro com Sasuke. Há 2 anos. As cartas.

Eu era uma pessoa diferente da que sou agora. Eu estava em uma fase de auto-piedade, não queria sequer pensar na ideia de que ele também poderia estar sofrendo. Somente eu estava sofrendo e eu era a coitadinha que perdeu a memória.

Meus olhos se abriram para a realidade quando eu re-li dois meses depois que eu tinha recebido a carta. Ele me mandava uma carta um tanto quanto triste. Ele se culpava e martirizava. Quando eu achei um tempo depois uma caixa cheia de cartas dele, que eu havia quardado, sem sequer me lembrar, eu re-li todas e separei uma em especial, a carta que ele me mandou depois que eu perdi a memória. Eu percebi o quanto eu estava fazendo mal para mim e para ele também. Eu abri meus olhos, e eu vi que mesmo inconsientemente eu o culpava, eu não sabia a sua versão, e também decidi que eu não queria saber. Eu procurei por ele e tivemos a nossa despedida silenciosa.

Parei em frente a portaria do prédio. Foi um caminho cheio de pensamentos turbulentos, eu nem mesmo prestei atenção no caminho. Talvez eu realmente devesse parar de fingir que eu não tenho uma vida para viver. Eu sou uma adulta, e já está mais do que na hora. E eu estou com vontade de tomar chocolate quente. Isso é pensamento de gente adulta? Acho que sim.

Tem um café que pelas histórias que a Ino me conta eu costumava frequentar bastante antes do acidente. Eu não me lembro dele, e por incrível que pareça, é proximo daqui, mas eu nunca fui.

-Sabe... É dificil crescer. - eu escutei alguns adolescentes falando enquanto eu passei pelo grupo.

Não pude evitar de me lembrar de algumas coisas da época. Eu costumava ir em várias livrarias enquanto todos estavam em baladas. Eu era peculiar. Mas às vezes peculiar é bom.

Eu nunca fui uma pessoa de namorar, embora tenha uma época da minha vida da qual eu não me orgulho nem um pouco, onde eu saia beijando todo mundo, achando que estava arrasando. Acho que isso só arrasa a alma, ainda bem que algumas pessoas abriram meus olhos.

Depois que eu saí da fase "beijar geral", uns meses depois eu comecei a namorar, eu namorei ele até pouco tempo depois do acontecimento desagradável proporcionado por minha mãe.

Ele era uma pessoa boa, mas depois de um tempo eu percebi que ele era bom, mas não para mim. Não que eu esteja dizendo que ele não é bom o suficiente, é só que quando eu fui falar com ele, ele me contou exatamente o que eu disse quando terminei com ele. Eu disse basicamente coisas como: ele não estava disposto a me apoiar com as minha decisões e escolhas, ele se achava maduro o suficiente para tudo e não buscava se aprimorar, ele era prepotente. Coisas assim. Eu não lembro, mas naquela conversa curta com ele, na qual eu descobri várias coisas, eu também pude perceber resquícios da antiga personalidade, ele aparentemente buscava mudar, mas talvez não fosse uma boa idéia tentar novamente construir um relacionamento com ele. Foi bom falar com ele, apesar das investidas que ele dava em alguns momentos. Ele não tentou me atacar ou coisa do gênero, mas me elogiava exageradamente e também perguntava várias coisas com o tópico: namorado.

Eu estava andando um pouco perdida, por mais que eu soubesse o caminho eu não estava nem mesmo olhando para frente. Mantinha o olhar fixo no chão e me aprofundava o máximo que eu conseuia nas minhas lembranças, nem mesmo isso fazia com que pequenos fragmentos da minha memória no "período nebuloso" retornassem. Era como se eu tivesse hibernado por 10 anos. Mas ao mesmo tempo não era, porque eu sabia que tinham coisas que eu precisava saber, coisas que mudaram minha vida, minha personalidade, minha perspectiva de vida, mudaram tudo.

Eu cheguei em frente a cafeteria e ela estava fechada. "Fechado por conta da neve", era o que dizia uma placa. Eu quero café mesmo em dias de neve. É pedir demais? Acho que não.

Permaneci parada em frente a loja enquanto pequenos flocos de neve começavam a cair, só piorando a temperatura. Era como se eu realmente precisasse de um café, para pensar ou só esvaziar a cabeça. Fiquei um pouco decepcionada, mas o caminho também foi esclarecedor em vários pontos, preciso mudar várias coisas na minha postura, na minha forma de viver, e várias outras coisas. Pensar é um bom começo.

Eu comecei a retornar quando dei de cara com uma pessoa que eu não esperava ver por um bom tempo.

Na verdade achei que NUNCA mais veria Sasuke.

Mas nunca... É muito tempo.

Eu fiquei surpresa, mas eu senti o impulso de iniciar um diálogo o mais rápido possível. Ele me observava surpreso e atento a minha reação. Provavelmente pensando se deveria me cumprimentar ou fingir que não me viu. Seus olhos se desviaram de mim por breves segundos e pousaram na placa de fechado, com era uma rua sem saída e estavamos no final dela, deduzi que ele também havia ido ali para buscar um café. Ele voltou a me observar, e eu percebi que não diria nada, estavamos os dois parados com a neve caindo ao nosso redor.

-Olá! - eu falo com a voz trêmula por causa do frio. Começou a nevar e é possível ver uma "fumaça" sair da minha boca assim que eu pronuncio o cumprimento.

-É... Oi! - ele fala tirando uma das mãos do bolso e acenando. É um pouco desnecessário considerando o frio, mas fico lisonjeada quando penso nisto.

-Como vai? - eu pergunto sem pensar em mais nada para iniciar um assunto. Nossas vozes saem baixas por causa do barulho do vento e imagino que por esse motivo ele se aproxima alguns passos.

-Bem, e você? - ele fala em resposta. Eu não sei se ele pergunta por verdadeiro interesse ou apenas por educação.

-Também. - eu falo abrindo um pequeno sorriso e inclinando a cabeça.

Há varios meses me perguntavam isso e eu não era sincera, mas eu sinto que posso ser agora. Talvez eu realmente só precisasse pensar um pouco.

-A quanto tempo, não é? - ele fala tentando iniciar um assunto e retribuindo brevemente o meu sorriso. Eu mal posso acreditar que agora somos praticamente estranhos, se alguns anos atrás nós estavamos casados.

-Pois é. 2 anos... - eu falo um pouco aturdida com minha própria resposta. É só isso que eu tenho para dizer?

-Esse café é muito bom, pena que está fechado. - ele fala e percebo o esforço que está fazendo para manter um assunto. Isso é simpático de sua parte, mas eu não consigo evitar de imaginar que antes nossas conversas deveriam fluir tão facilmente.

-É realmente uma pena. - eu falo concordando. Minha vez de tentar puxar um assunto e eu trago o passado de volta à tona. - A gente costumava vir aqui, não é mesmo? - eu pergunto indicando a porta do estabelecimento com a cabeça.

-Você se lembrou?! - ele pergunta surpreso, um pequeno sorriso se forma em seus lábios, parece surgir um pouco de esperança nas suas feições. É um tanto quanto triste acabar com a faísca de esperança que ele tem, mas é melhor do que mentir.

-Na verdade nunca voltou nada. - eu falo com um sorriso triste, ele entende e acena, o sorriso fica menor, mas ainda brinca em sua boca. - Conversei com a Ino sobre algumas coisas, ela acabou citando esse lugar, aí eu decidi dar uma passada por aqui, mas... - eu falo apontando a placa de fechado, ele dá uma risada discreta.

-Entendi. - ele diz olhando para o chão.

-Sabe, eu sempre tentei imaginar como era o nosso relacionamento. - o que eu digo por acidente surpreende ele, ele levanta a cabeça me olhando com surpresa. - Ah... É... Desculpa. Eu não deveria...

-Era um bom relacionamento. - ele fala acabando com a situação constrangedora que eu criei.

Depois daquilo nenhum de nós sabe como prosseguir, mas ninguém sai dali. Continuamos frente a frente.

Eu penso em todas as situações em que eu já desisti de algo, por medo, receio ou vergonha. Com esse pensamento eu levanto minha cabeça e decido dizer uma das maiores loucuras da minha vida.

-Ino me disse que acha que você não está saindo com ninguém. - eu falo sem olhar para ele. Na verdade me impressiona a coragem de dizer isso, mas olhar para ele já é pedir demais.

-É, a Ino está certa. - ele fala rindo. Ele sabe que a Ino não falou nada, porque eles mantém certo contato, e ele conta várias coisas para ela, mas talvez essa não seja uma delas. - E você? - ele fala me olhando sério. Eu encaro ele, e agora é a minha vez de ficar surpresa.

-Também não. - eu falo rindo.

O frio parou de me encomodar por um tempo, mas ainda está lá. Eu só não percebo. Tem coisas mais interessantes.

-O que acha de dar uma volta? - ele pergunta e eu assinto. - Um lugar novo, talvez fosse legal. - ele diz se aproximando de mim.

-É, seria uma boa. - eu digo ainda sorrindo. Nós começamos a andar lado a lado até um café que nenhum de nós conhece.

Talvez eu não tenha que imaginar como era meu relacionamento com ele.

Na verdade talvez eu devesse deixar o passado para trás. Começar de novo.

Para sempre é muito tempo, e nunca também. Mas o meio termo desses dois é um tanto quanto razoável.

É... realmente.

Todos cometemos falhas. E não é bom se condenar por elas. Tente soluciona-las, e depois esquecê-las.

Talvez possamos ter agora um novo relacionamento, e eu não precisarei imaginar mais nada.

Quem sabe?


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E então? O que acharam? Por favor comentem!

Queria me despedir de vocês, foi realmente incrível, eu adorei! Eu fiquei tanto tempo escrevendo esse capítulo, eu estou muitíssimo feliz galera!
Vocês sempre comentando, favoritando e acompanhando, ajudou bastante, vocês não tem noção!

Obrigada de verdade. Adorei a experiência!
Não terá epílogo, esse capítulo ele já serve como epílogo, ok? Eu adorei escrever todos menos o último capítulo na visão do Sasuke. Eles não tiveram um ponto final, e sim um ponto de interrogação para vocês imaginarem, me contem suas teorias!

Beijo, e espero poder me despedir de vocês nos comentários! Tchau tchau!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Minha Falha" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.