Hello, mrs. Death. escrita por Marcela Dias


Capítulo 2
Rendendo-se a decepção.


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura, espero que realmente gostem.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/657876/chapter/2

O sol brilhava do lado de fora da janela como na maioria dos dias daquela estação, mas chovia dentro dela nos últimos nove anos. Era sempre tudo sem cor, sem vida, sem alegria e Susie já havia se cansado. Desde que a morte levara o único lápis de cor que coloria sua vida, tudo ficara preto e branco. Suas férias de verão daquele ano estavam se findando e faltavam duas semanas e alguns dias para o semestre do seu primeiro ano na faculdade se iniciar, Susie sabia que era lá que ela fugiria dessa prisão sem cor chamada Terra. A caneta em sua mão delicada rabiscava mais formas interessantes de morrer na sua agenda de couro quando a porta de entrada da sala se abriu, revelando Annie - sua irmã mais velha – com seu habitual coque desajeitado no topo de sua cabeça e curtas mechas loiras de seu cabelo soltas, seus sensuais olhos verdes que eram sua marca registrada e um dos motivos de sua imensa popularidade na faculdade, sem falar das curvas de seu corpo que Susie nunca teve e nem nunca se importou. A loira desviou o olhar para a agenda de Susie com curiosidade e sorriu.

— O que você tá escrevendo aí? – perguntou com o sorriso ainda em seus lábios carnudos. Susie parou de escrever, fechou a agenda e encarou sua irmã.

— Nada que mude sua vida. – falou, procurando o controle da TV para ligá-la.

— Seria ótimo se algum dia você parasse de me tratar com grosseria. – disse Annie, virando para fechar e trancar a porta. – Onde está o Larry?

— É "pai", Anisie. – Susie nunca gostou da forma como Annie chamava seu próprio pai pelo nome, achava uma falta de respeito e era um dos muitos motivos de não se dar bem com sua irmã. – E ele está no mercado comprando o almoço.

— Se você não curte que lhe chamem de Susane, não me chame de Anisie. – falou, se dirigindo as escadas. – E gostaria de saber porque você nunca usa esse cabelo solto. – gritou, lá de cima.

— Talvez porque eu não quero. – respondeu – E me deixe em paz. – Susie nunca gostou muito de usar cabelo solto dentro de casa, pois quando se olhava no espelho, via sua mãe; os mesmos cabelos lisos e castanhos de Amy, os mesmos olhos verdes tímidos, o formato oval de seu rosto, os lábios finos e se sorrisse, – o que era bem raro – o mesmo sorriso cativante e sincero. No fundo, ela não gostava de ser tão parecida com sua mãe, pois toda vez que via seu próprio reflexo, sentia vontade de chorar. Então usava sempre que podia, um rabo de cavalo alto, que a fazia parecer menos com sua mãe porque o formato de seu rosto mudava um pouco.

Ao ouvir sua irmã descendo as escadas, focou o olhar na TV para não ter que falar com ela, mas sua tentativa foi falha, pois Annie se jogou no sofá ao seu lado.

— Vai sentir falta do colégio e dos amigos, né? Sei como é... Foi horrível ter que deixar a Kate e o Dan e...

— Não, não vou sentir falta do colégio, não tenho amigos e não quero saber dos seus. – Susie disse impaciente – Não quero saber o quanto você é popular, quero assistir o filme em paz. Porque você não vai sair com seus amigos e me deixa quieta uma só vez? – Annie não a respondeu e Susie agradeceu por isso, ela queria ficar quieta em seu canto.

Seu pai chegou uma hora depois empurrando a porta com dificuldade e cheio de sacolas. Susie foi ajudá-lo a levar as coisas para cozinha.

— E aí? Vocês duas já brigaram hoje? – perguntou Larry quebrando o silêncio. Susie sorriu para o pai que passou os dedos por entre os fios meio loiros, meio grisalhos de seus cabelos. Os olhos dourados estavam exaustos, mas ele não se queixava nunca pois ele era Larry Mitchell, a pessoa mais forte que ela conhecia, a única em que Susie confiava. Ele sorriu de volta para a filha.

— Ansiosa para a faculdade?

— Nem tanto. – disse Susie sentando na cadeira do balcão depois que terminaram de arrumar as coisas. – Não queria deixar de morar aqui, nem deixar ver você todos os dias.

— Warford é uma ótima faculdade, a melhor daqui de Savannah. E talvez você faça algum amigo por lá. – disse seu pai, enquanto mexia o macarrão na panela.

— Talvez, pai. – bufou a morena.

— Susie, você não precisa ficar nervosa. É normal, claro, mas não é um bicho de sete cabeças. Annie se acostumou rápido.

— Annie sempre teve amigos, pai, sempre foi popular, sempre foi a grande "Annie Mitchell", não que eu queira ser igual a ela, eu não quero, mas o fato de ter que a aguentar os dias sem você não vai ser bom, não vou me acostumar.

— Ela é sua irmã Susie. – disse o outro em tom de aviso.

— Isso não muda nada, pai. – Susie disse e Larry percebeu que teria que mudar de assunto para evitar uma briga.

— Você ainda tem que pegar alguma coisa no seu colégio?

— Não.

— Que ótimo. – falou Larry virando para encará-la e esboçando um sorriso.

Ela, Annie e Larry almoçaram em silêncio como todos os dias em que almoçavam juntos e mais tarde, Annie saiu com os amigos.

— Você sabe se Annie volta para casa hoje, filha? – perguntou Larry sentado no sofá ao lado de sua filha mais nova depois de algumas horas que a outra saiu.

— Não, porque?

— Os Daniels vem jantar aqui hoje – Os Daniels eram amigos de seu pai há anos e eles eram cinco, o casal e seus três filhos. – E eu queria que ela também estivesse aqui. – Susie viu seu pai formar uma expressão triste e sentiu raiva de sua irmã – pela primeira vez – por ela não está em casa.

— Bom, pai, eu estou aqui, podemos cozinhar juntos. – Larry sorriu.

— Então vamos começar, pois eles chegam as seis e meia e já são quase quatro e meia.

Foi o dia mais divertido em anos de Susie, e todos de que ela se lembrava de serem bons dias, seu pai sempre estava lá. Eles colocaram uma música agitada e dançaram enquanto cozinhavam bolo de carne para o prato principal e uma torta de maçã para a sobremesa, o suco foi de laranja e o arroz com cenoura e quando terminaram, a cozinha estava muito suja e se divertiram mais ainda limpando-a. Quando tudo estava pronto, Susie e seu pai foram se arrumar para a ocasião. Susie vestiu um vestido florido com um cardigã de avelã bege por cima e milagrosamente, deixou seu cabelo longo e castanho solto, seu pai vestiu uma roupa informal preta.

— Está linda, filha.

— Você também, pai. – Ouviram sua campanhia tocar e Larry levantou-se do sofá para atender.

Os Daniels estavam muito bem vestidos e com seus impecáveis cabelos negros maravilhosamente arrumados. Os filhos do casal: Carlos, o mais velho, Maya, a do meio e Charlotte, a mais nova, vieram sorrindo cumprimentar Susie, que se obrigou a sorrir de volta.

— Oi, Susie, você está linda. – disse Carlos.

— Oi, Carl, obrigada . – As irmãs de Carlos falaram um "oi" tímido para Susie e sentaram educadamente no sofá com dois lugares. Logo, os Sr. e Sra. Daniels vieram falar com Susie também.

— Olá, querida, você está linda. – Disse a mulher.

— Obrigada, a senhora também. – Disse Susie ainda com o sorriso forçado. O seu marido apenas sorriu para ela.

— Onde está Annie? – perguntou o sr. Daniels.

— Saiu com amigos. – falou Larry, um pouco envergonhado. – Sabe como são os adolescentes de hoje em dia não é, Adam? – Eles riram.

Susie ficou quieta pensando enquanto seu pai conversava com os amigos e os irmãos Daniels conversavam entre si. Minutos depois, Larry falou que estava na hora de jantar e todos foram para a mesa. Foi uma boa noite, o Sr. Daniels elogiava a cada cinco minutos o bolo de carne como se comesse um pedaço do céu.

— Está realmente bom, Larry! – dizia o homem empolgado com um sorriso com pedaços de carne mais uma vez causando risos na mesa.

— Obrigado, Adam. Susie me ajudou. – agradeceu o pai de Susie mais uma vez ao amigo.

— Mas é sério! Você não concorda, Samantha? – perguntou ele novamente a sua mulher que tornou a rir.

— Sim, querido.

Larry, o Sr. e Sra. Daniels ficaram na cozinha arrumando tudo e conversando, enquanto Susie foi obrigada a ficar na sala com Carlos, Maya e Charlotte.

— Você está realmente linda hoje, Susie. – disse Carlos quando suas irmãs foram usar seus celulares do outro lado do cômodo.

— Obrigada, Carl.

— Pra que faculdade você vai? – disse ele começando um novo assunto sobre qual Susie não queria falar mas teria de ser educada.

— Vou para a Warford, a mesma de minha irmã. – falou desanimada, mas o outro não pareceu perceber.

— Vou para lá ano que vem, quando terminar o colégio. Vamos poder nos ver com mais frequência. – Disse Carl abrindo um sorriso animado.

— É. – Susie sabia que isso não ia acontecer, pois ela não iria está mais na faculdade no ano que vem porém não podia falar isso para Carlos. Ele ficou em silêncio porque ela não retribuiu o sorriso e percebeu que ela não estava afim de flertar com ele. Foram embora quarenta minutos depois e Annie chegou em seguida.

— Como foi o resto do dia desde que sai? – perguntou fechando a porta atrás de si.

— Ótimo. – respondeu Susie com frieza.

— O que teve aqui hoje?

— Um jantar com os Daniels. – falou ficando impaciente.

— Droga, queria ter visto o Carl, ele é um gato e vive dando em cima de mim, seria tão legal ficar com ele. – Ao ouvir o que sua irmã disse, Susie sentiu uma raiva crescer dentro de si e não hesitou em explodir.

— SERÁ QUE VOCÊ SÓ PENSA NISSO? EM PEGAR CARAS? EM SER POPULAR? OU SEJA LÁ QUE DROGA MAIS? O HOMEM QUE É O SEU PAI SE SENTIU MAL POR VOCÊ NÃO ESTÁ AQUI E VOCÊ SÓ LAMENTOU NÃO ESTÁ EM CASA POR CAUSA DA DROGA DE UM GAROTO? VOCÊ SABE O QUÃO FÚTIL VOCÊ É? VOCÊ SABE O QUANTO EU TENHO NOJO DE VOCÊ? COMO VOCÊ CONSEGUE? – Susie percebeu que estava gritando e que suas pernas se moveram sozinhas até mais perto de sua irmã que agora tinha olhos marejados mas que ela não deu importância. – VOCÊ DEVE TER VERGONHA DE SER MINHA IRMÃ NA FACULDADE POR EU NUNCA TER SIDO IGUAL A VOCÊ, NÉ? MAS SAIBA QUE SOU EU QUE TENHO VERGONHA! EU QUE QUERO DISTÂNCIA DE VOCÊ!

— CALA ESSA BOCA, SUSANE! NOSSA MÃE TERIA VERGONHA DE VOCÊ AGORA POR ESTÁ ME FALANDO ESSAS COISAS HORRÍVEIS, TERIA VERGONHA POR VOCÊ DEIXAR DE VIVER POR CAUSA DELA E QUERER QUE EU DEIXE TAMBÉM! – Susie sentiu suas bochechas ficarem quentes com as lágrimas que por ali agora rolavam.

— Não... acredito que você me disse isso... – Susie se viu sussurrando – NÃO ACREDITO QUE VOCÊ ME DISSE ISSO! VOCÊ NÃO A VIU ELA APONTAR A DROGA DE UMA ARMA NA PRÓPRIA CABEÇA E ATIRAR, NEM VIU SEUS OLHOS VERDES PERDEREM A VIDA! E VOCÊ NÃO VÊ A NOSSA MÃE NO ESPELHO TODA VEZ QUE SE OLHA! E NEM TEM QUE PRENDER SEU CABELO PARA PARECER MENOS COM ELA E SENTIR MENOS DOR NO PEITO! VOCÊ É UMA PATRICINHA IDIOTA QUE SÓ PENSA EM APARÊNCIA E EM GAROTOS! EU TE ODEIO! FIQUE LONGE DE MIM! – Susie correu para seu quarto e ouviu seu pai e sua irmã gritar por seu nome mas ela ignorou, apenas pegou seu fone de ouvido, colocou uma música no volume máximo, trancou a porta, apagou as luzes, se jogou na cama sentindo seu coração se rasgar no peito várias e várias vezes e adormeceu pois era tudo o que precisava naquele momento.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Gostaram? Espero que sim!
Meu twitter >>> @peloanjopotter
Beijão!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Hello, mrs. Death." morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.