Não tão clichê escrita por Apaixonada por palavras


Capítulo 10
Nove.


Notas iniciais do capítulo

Oiie gente
Então...eu postei esse capítulo há uma semana mais ou menos, mas todas as minhas amigas não estavam conseguindo visualizar, então pensei que vocês também não. Por isso, resolvi postar de novo.
Espero que gostem!
Beijo Beijo ;)



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1 MÊS ANTES

9 de Outubro de 2015, Sexta-feira, 18:56

De Mãe

Para: Nina

Nina, aqui é a mãe, tudo bem?

Eu vou ter que passar a noite de plantão hoje.

De: Nina

Para: Mãe

Mãe, você tem que aprender a usar whatsapp.

E okay. Eu já estava preparada para isso.

De:Mãe

Para:Nina

Me desculpa, filha. Mas aconteceu um acidente perto do centro e o hospital tá cheio. Eles precisam de toda ajuda possível.

Eu também não vou conseguir te levar amanhã naquele aniversário. Você acha que a Lívia pode te dar carona?

De:Nina

Para:Mãe

Mãe, você prometeu que me levaria!E é o aniversário do Matheus! E a mãe dele quer falar com você sobre levar a gente pra praia durante um fim de semana, lembra?

De:Mãe

Para:Nina

Ah, Nina. Você sabe que eu confio em você. Pode ir. E pegue dinheiro com seu pai.

De:Nina

Para:Mãe

A ida na praia é só daqui há duas semanas, mãe!Eu te falei isso!

De:Mãe

Para:Nina

Ah, é verdade.

Não posso mais falar agora.

Pede para o seu pai preparar o jantar para vocês, okay?

Beijos

De:Nina

Para: Mãe

Mas o papai tá trabalhando também...

10 De Novembro de 2015, Terça-feira, 12:15

Eu nunca fui muito de chorar, Leitor.

Eu já chorei, é claro. Várias vezes. Quando caía do balanço, me cortava com a faca de passar manteiga, tropeçava no pé de alguém ou naquela vez que eu torci o tornozelo aos nove anos quando caí do pódio daquela competição de dança. Chorei todas essas vezes.

Eu chorei porque doía. É o que as pessoas fazem. Desde quando somos bebês e não temos habilidade nenhuma de falar aonde dói e choramos para mostrar que algo está errado até quando já temos a habilidade de falar aonde dói, mas preferimos só ficar chorando do que explicar para alguém qual foi a besteira da vez.

 A gente se machuca, começa a doer e choramos. É a ordem da coisa.

Mas meus choros sempre foram por dores físicas. Quando caía do balanço, me cortava com a faca de passar manteiga, tropeçava no pé de alguém ou quando eu torci o tornozelo aos nove anos quando caí do pódio daquela competição de dança. Eu nunca chorei...emocionalmente falando. Por causa de um coração partido.

Okay, eu chorei uma ou duas vezes. Depois da minha família inteira me dar as costas, meu primo me chamar de vadia e eu meio que beijar o noivo da minha irmã e todo mundo não parar de jogar isso na minha cara.

Mas, Leitor, antes disso tudo eu juro que não chorava.Nunca. Nunquinha. Nem quando eu achava que um dos meus gatos ia bater as botas – o que eu achei várias vezes e várias vezes, mas nenhum deles morreu de fato.

Então consolar alguém que estava chorando por causa de um coração partido também não fazia muito minha praia.  Nunca soube o que dizer, se deveria abraçar ou não, se calava a boca ou não, se chamava alguém ou ficava na minha...

Minha técnica geral era falar que tudo ia ficar bem. Mesmo que fosse mentira. E, sendo sincera, quando alguém fala “vai ficar tudo bem”, 99% das vezes é mentira.

As vezes essa técnica funcionava, já outras vezes...

 – Aimee, eu...hum...arr... para de chorar, por favor– POR FAVOR! AMIGA, APENAS PARE. POR FAVOR! – Vai ficar tudo bem.

 – Não vai não! Como as coisas iam ficar bem? Eu passei dois anos dois anos! – soluço - namorando a porra de um cara que me chama de v – soluço – adia na primeira oportunidade que têm e ele teve umas trezentas oportunidades porque olha – soluço – ele ta muito bravo qual é o problema dele afinal? eu sei que eu errei, ele tem o direito de ficar bravo e magoado mas foram dois – soluço – anos dois anos, 600 e sei lá quantos dias e ele não consegue me perdoar e não para – soluço – de agir como uma criança entende?

Sorri docemente. Ou o mais perto de docemente que eu conseguia chegar e o mais longe possível de “ eu quero jogar um vaso na sua cabeça, garota”.

Ela só continuou a chorar.

Me levantei. Eu não poderia ficar consolando a garota. Nem a Lívia ou as minhas irmãs eu sabia consolar direito, quanto mais uma garota que eu nem conhecia. E além disso, não era minha obrigação consola-la, certo? A gente não era amiga nem nada. Eu acho, pelo menos.

Aquele negócio de não saber quem eu conhecia ou não era realmente muito confuso e estava começando a me dar dor cabeça.

Os outros amigos de Aimee estavam conversando entre si um pouco mais perto do lago em uma rodinha. Conforme fui me aproximando, a garota de cabelo vermelho – Vivian? É, Vivian. Ou Viviana. Alguma coisa assim. Eram muitos nomes para eu conseguir lembrar – apontou o queixo na minha direção, indicando que eu estava chegando. Todos os outros viraram para me olhar chegando, menos Breno. Ele continuou olhando para frente, encarando o lago, com os braços cruzados e a postura rígida. Eu sentia profundamente que aquele garoto não gostava nem um pouco de mim.

Cheguei perto deles e esperei que abrissem a rodinha para eu poder entrar, dar meu recada e vazar dali o mais rápido possível. Mas nenhum deles fez isso. Eles continuaram um do lado outro, formando um círculo rígido, que não permitia a entrada de ninguém. Como uma muralha ou algo do tipo. Filhos da puta.

 – A amiga de vocês está chorando – falei. Apontei bem discaradamente um dedo para a menina que ainda estava há uns 15 passos de distância, sentada na grama com a cabeça entre os joelhos, soluçando.

 – Ela não é nossa amiga – o garoto que Aimee bateu anteriormente respondeu ríspido no mesmo instante. Acho que o nome dele era Enzo. Acho.

 – Ok... – falei – O ex-namorado está de mal humor. Compreensível. Ninguém mais vai ir lá falar com a menina?

Nenhum deles me respondeu. Apenas olharam um para o outro, como se estivessem passando a bolinha da responsabilidade de mão em mão.

Bufei.

 – Sério? Ninguém? Uau, vocês parecem ser péssimos amigos – comentei, sem vergonha nenhuma.

 – Nós somos ótimos amigos – uma das garotas sussurrou.Uma que não tinha falado nada ainda e eu não fazia a mínima ideia de qual era o nome. Ela era um pouco mais alta que eu – o que, honestamente,a fazia ser um poste de luz – e tinha um cabelo loiro que batia nos ombros. Ela estava apoiando-se na Viviana – ou Vivian – e parecia como uma modelo ou algo do tipo usando um jeans de marca e uma blusa de seda rosa de alcinha. E eu parecia uma mendiga que tinha sido esquecido no meio da guerra. Ótimo.

 – Não parece, querida – Okay, eu posso ter usado o querida de um modo um pouco sarcástico.  Em apenas 4 palavras eu não tinha ido muito com a cara dela. Talvez por ela ser um pouco/ muito mais bonita que eu? Talvez. Nunca disse que eu era uma pessoa boa e perfeita que não tinha inveja de ninguém. Mas meu santo também não tinha batido muito com a modela e ah...isso não importa no momento, Leitor.

 – A lealdade mandou lembranças para vocês. – continuei – Que não vão ir consolar aquela menina que é ou amiga ou conhecida de vocês, foda-se a categoria, que está chorando há porra de dez minutos.

Eu estava um pouco, talvez muito, irritada? Sim. A vida era uma merda.

 – Lealdade? Você é a garota que beijou o noivo da irmã no meio do casamento, lembra? – É claro que tinha sido o Breno a falar isso.

Tá bem, ele definitivamente não ia nem um pouco com a minha cara.

 – Olha, vê se “se” enxerga, ou o próximo a levar um tapa na cara vai ser você.E eu definitivamente não vou ficar chorando por dez minutos que nem aquela garota ali – Apontei de novo para a amiga deles, que ainda continuava na mesma posição.

Ele sorriu ironicamente.

 – Sorte sua que eu não bato em menina – Breno me respondeu.

 – Ah, mas eu bato, então toma cuidado – Foi a minha fala.

Quem mexe com fogo está querendo se queimar, não é mesmo?

Eu vi fogo no olho daquele garoto. Pelo jeito, sua masculinidade não era algo em que ele gostava que as pessoas brincassem. Mas eu realmente não me importava.

Ele deu duas passadas largas e já estava perto de mim. Perto mesmo. Tipo, quase encostando e operto o suficiente para a minha respiração ficar entrecortada. Que diabos tava acontecendo comigo?

Ele me olhou de cima e eu o olhei de baixo. Aquilo era meio humilhante, já que eu sempre fui alta e geralmente eu olhava as pessoas de cima. Mas ele era uns bons 15 centímetros mais alto que eu, e meu pescoço ia começar a doer se ficássemos muito tempo naquela posição.

Leitor, ele me pegou no colo. Muito rápido. Tão rápido que eu não consegui nem processar direito o que estava acontecendo. Ele só passou um dos braços por debaixo dos meus joelhos e o outro pelas minhas costas e começou a andar.

Os amigos dele começaram a falar um monte de coisas ao mesmo tempo, gritando e coisas assim. Mas eu não consegui entender absolutamente nada.

 – Mas que porra...me solta, garoto! AGORA! – gritei. Ele não me ouviu, nem me soltou. E eu comecei a me debater em vão.

Eu deveria ter me agarrado no pescoço dele, Leitor, eu deveria. Mas eu não o fiz, apenas fiquei me debatendo feito um peixe fora d’agua.

E ele me jogou no lago.

(...)

Se a minha vida fosse um filme de hollywood, algum dos outros garotos teria pulado no lago para me salvar.

Mas naquele momento, a minha vida era um filme de hollywood com só as partes trágicas. Aquele filme em que a menina é jogada no lago, não sabe nadar e fica tentando chegar a superfície e ninguém a ajuda.

Eu não sabia nadar, Leitor.

Eu nunca aprendi. Minha mãe nunca teve tempo de me ensinar, já que estava sempre fazendo plantões no hospital e mal tinha tempo para cozinhar para mim, quanto mais me ensinar a nadar.Sem contar que ela estava sempre ficando grávida, então as coisa se complicavam.Meu pai ensinou todos os meus irmãos mais velhos, mas se tornou advogado um pouco antes de eu nascer e ficou sem tempo também.

Eu não sabia nadar, Leitor.

E ele me jogou em um lago. Com água.

Por um segundo ou dois, eu fiquei apenas em baixo d’agua, sem reagir ou fazer qualquer coisa. Foram apenas dois momentos de choque, onde eu pensei “merda, é agora que eu morro”.

Então eu estiquei minhas pernas para começar a me debater e elas tocaram alguma coisa sólida. O fundo do lago.

E foi quando eu percebi:O lago era raso.

Meu bom Deus.

Não seria aquele dia que eu morreria, mas com certeza seria o último dia de Breno na Terra.

 – SEU FILHO DA PUTA – Gritei com toda a força que consegui reunir.

E ele ria. Se contorcia de rir. Junto com os amiguinhos filhos da puta dele e

Então, rindo, eles foram embora. Me deixaram ali no lago.

Ele me jogou no lago e foi embora. Simplesmente foi embora. Todos eles foram.Nem se importaram se eu iria pegar hipotermia ou alguma coisa do tipo. Tá que estava sendo uma dia incrivelmente quente, mas eles não podiam ter simplesmente ido embora.

Filhos da mãe.

(...)

Lívia: Ele deve ser forte

Nina: QUÊ?

Lívia: O de olhos verdes. O Bernardo.

Nina: Castanhos

Lívia:Hãn?

Nina: Os olhos dele.

Nina: Eram castanhos, não verdes

Nina: E o nome dele é Breno, não Bernardo.

Lívia: ENFIM

Lívia: Ele deve ser forte

Lívia: Pra te carregar e tals

Lívia: Vc tá com uns 65, 70 quilos né, miga?

Nina: VC TÁ INSINUANDO QUE EU TO GORDA?

Nina: DE QUE LADO VC TÁ?

Lívia: Do seu, to sempre do seu. Até quando eu devia estar no meu, eu to no seu, então respira e não pira.

Lívia: Eu nunca te chamei de gorda

Lívia: Se você estiver pesando uns 69 quilos, amiga, tá ótimo. Você mede 1,75 cm.

Nina: Você parece a mãe do Matheus falando

Lívia: Mãe de quem?

Nina: Nada,deixa. Ninguém.

Lívia: Voltando ao assusto

Lívia: Do Super Homem

Nina: Ele não é tão forte assim

Lívia: Whatever...

Lívia: Voltando ao assunto ELE

Lívia: Manda foto do boy

Nina: Eu não tenho foto dele, porra

Nina: E não chama ele de boy

Lívia: Ui, ta nervosa flor?

Lívia: Chamo de boy,sim

Lívia: E como assim você não tem foto dele?

Nina: Pq eu não conheço ele

Lívia: Bem, ele te jogou num lago. Isso já desenvolveu entre vocês algum rolo

Nina:Sem rolo, nenhum, livia. Sem rolo.

Lívia: Que entediante

Lívia: Me manda o nome completo dele para eu pesquisar no facebook

Nina:EU

Nina:NÃO

Nina:SEI

Nina:PORRA

Lívia: Credo, nem da pra conversar com você sobre os boy mais

Lívia: Ah, já cheguei em casa

Lívia: Minha mãe quer um relatório completo sobre o casamento

Lívia:Tipo ela muito o saco ta enchendo

Lívia:Já viu a foto que saiu naquele site de fofoca tipo super famoso de vc agarrando o Henry? Ta MUITO engraçada.

Lívia:Tipo o queixo da Elisa ta quase no chão

Lívia: E o de todo mundo na igreja.

Nina: FOTO?

Lívia: Ah, você ainda não viu

Lívia:Desculpa

Lívia:Desculpa

Lívia:Não tem nada, nadica de nada

Lívia:Fica ai na sua cama quentinha

Lívia:Pensando sobre o boy

Lívia:Nina?

Lívia: Olha,a resolução da foto ta péssima, eu juro! Não fica triste!

Lívia: NINA?

Lívia: NINAAAA?

Lívia:Cadê você,amiga????

 Lívia:Você foi ver a foto, né?

Lívia: Merda.

(...)

Severina Albuquerque, 15 anos, beijando o noivo da irmã mais velha Elisa Albuquerque,25 anos, no meio do casamento que ocorreu ontem. Tenho certeza que vocês não queriam fazer parte dessa família no momento, não é, meninas?

Essa era a legenda da foto.

Havia várias fotos na sessão de fofocas de cantores passeando com seus cachorros, famosos se pegando, gente rica correndo na praia e atrizes no supermercado. No meio dessas fotos, havia uma foto minha (aquela era eu, no vestido do dia anterior. Eu conseguia ver. Mas não conseguia me lembrar de absolutamente nada) no meio de um altar em uma capela gigante, beijando Henry, com uma mão em sua nuca. Todos os convidados estavam perplexos, mas poucos apareceram nas fotos. O Padre estava com as alianças em suas mãos, olhando para mim com choque.

Eu conseguia imaginar o momento um pouco melhor agora.

Mas eu ainda não conseguia entender porque aquela foto tinha tanto destaque em um site de fofoca.

O quão significante minha família era agora? E porque?

Ouvi uma batida firme na porta.

 – Pode entrar – falei.

 Até meu primo já tinha me chamado de vadia. Não poderia ser nada muito pior.

 – Sim? – falei, levantando minha cabeça para ver quem estava entrando.

Era minha mãe.

Dei um passo para trás, a observando melhor.

Era minha mãe, eu conseguia ver. Os mesmos olhos, mas sem as olheiras. O mesmo cabelo, um pouco mais hidradato. A mesma altura, com uma postura mais correta. A mesma boca, mas com um batom vermelho que a minha mãe nunca usaria, mas ela estaria usando.

 – Mamãe... – falei, sorrindo. Depois de uma manhã daquelas,eu realmente precisava da minha mãe.

 – Eu e você vamos ter uma conversa, mocinha – ela me respondeu, fazendo aquela cara que ela fazia quando sabia que eu havia feito alguma coisa errada.

Ah, eu estava tão ferrada.


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