Café com Coca-Cola escrita por Lorena Luíza


Capítulo 1
I. Miles


Notas iniciais do capítulo

Olá! :D
Essa é a minha segunda fic e eu espero muitíssimo que vocês gostem.
No início, eu pretendia escrever Café com Coca-Cola em forma de drabble, mas sendo exageradinha como sou não consegui fazer nada com só cem palavras.
Perdão, gente.
Fica pra próxima!
Mas, ainda sim, fiz algo curtinho para não fazer vocês se cansarem, então beijos e boa leitura!



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Lá, logo atrás dele, na última e irrelevante carteira da fileira próxima à parede, estava ela.

Silenciosamente perigosa, sentava-se da forma mais vergonhosa possível. Mãos cruzadas diante do rosto redondo e postura provedora de futuras dores lombares. Cabeleira cereja, tez morena, roupas que só não eram tão rasgadas quanto seus olhos. Um cabo de pirulito escapava da imensidão fortemente pigmentada de preto opaco que eram seus lábios. Uma série de características que, com todo o sucesso, passavam a pior impressão possível para quem as via.

Miles estava desgostoso do destino triste que uma briga com um professor lhe proporcionara. Atrás de si, um espírito putrefato exibia um sorriso maquiavélico e um lindo par de dedos do meio para quem a encarava. E Miles lá, de mãos atadas sobre isso. O mundo era mesmo um lugarzinho injusto.

Ele, o melhor aluno do colégio inteiro, colocado para sentar-se no pior lugar da sala adiante da pior aluna do mundo todo. Se isso não era azar, tê-la atrás de si ouvindo música num volume absurdamente alto nos fones com certeza era.

Depois de tantos anos sendo o primeiro da sala nas notas e na melhor fileira, estava, enfim, condenado ao fundão. Culpa de quem? De sua boca grande, lógico. Ele não podia ser um nerd tradicional e apenas tremer quando alguém lhe provocava, ao invés de achar um milhão de argumentos para mostrar o quão certo sempre estava?

Àquela altura, ele pensou que a melhor coisa que poderia lhe acontecer seria ser presenteado com um raio na cabeça em plena segunda semana de aula. E não seria má ideia se mais um raiozinho caísse na menina atrás de si para que ela parasse de importunar os outros, também.

Havia sido no terceiro dia que a discussão dele com o professor ocorrera e o homem, depois de Miles tanto insistir que a conta que usara como exemplo numa aula estava errada, o olhara com cara de "o que é seu está guardado" e lhe fizera aquilo duas semanas depois.

Seu nome? Sr. Altreider Miles nunca se esqueceria da nomenclatura de seu arqui-inimigo. Era um varapau horroroso com cara de usuário de crack que lecionava matemática. O traseiro seco daquele homem decadente povoava os pesadelos de Miles toda noite.

O rapaz sentia que seria apenas um chute para desmontar Sr. Altreider inteirinho, mas ele era controlado demais perto de professores para fazer isso e não jogaria sua linda reputação no lixo desse jeito. No entanto, sentado ao lado daquela criatura recém-chegada de cabeça menstruada, sua vontade de encher Altreider de bicudas se ampliava em dimensões inimagináveis.

E, olhando para a cara redonda como um cookie dela, ele percebeu que seu ódio teria de se dividir entre duas pessoas. Aquela menina era horrorosa e inacreditavelmente chamativa, parecia um ponto preto e vermelho em meio à massa colorida e normal da sala de aula. Miles não se conformava com uma pessoa daquelas respirando o mesmo ar que ele. O que ela tinha na cabeça para tingir o cabelo com ketchup e esfregar carvão nos olhos e lábios daquela maneira?

Espera, aquela chinesa morena tinha algo na cabeça, no fim das contas? Seu caderno vazio desde o primeiro dia de aula dizia mais do que avidamente que não, e Miles apenas concordava.

Em sua visão, ela fazia exatamente o tipo estúpido de ser que só sabe usar matemática para contar quantas pessoas a seguiam nas redes sociais e gostavam de suas fotos.

Céus.

Ela, toda rasgada e de meias que mais pareciam redes de pesca, excedia qualquer limite de falta de noção. Aquela maldita novata devia ser toda a vergonha de uma escola toda jogada em uma pessoa só.

Talvez percebendo a encarada constante da parte dele, a adolescente moveu os olhos de um ponto aleatório da sala para a direção de Miles. A quantidade absurda de maquiagem neles fez o rapaz se perguntar qual seria o tamanho real dos olhos daquela garota, sem todo aquele delineador e lápis que a transformavam num panda acobreado de peruca vermelha.

— Que é? — após alguns segundos de encarada firme, ela finalmente perguntou. — Por acaso está me admirando?

Miles franziu as sobrancelhas castanho caramelo, sem abrir a boca diante do convite óbvio para uma discussão. Desconhecia-a. Sua saliva era preciosa demais para gastar com qualquer adolescente metida a rebelde e carente de atenção.

Virou-se para a frente e encarou a nuca de um outro retardado aleatório ali. Caso não usasse óculos, não enxergaria uma palavra do que era escrito na lousa por Virgie, uma professorinha gorda que amava arrastar Miles à sua casa quando fazia bolo de amêndoas, chamá-lo pelo segundo nome e idolatrar os semi-cachinhos que ele tinha.

A impressão que Miles possuía era a de que toda senhora de mais de cinquenta anos o queria como seu filho, mas, acredite se quiser, a avó dele assegurava que viver com Miles era o pior castigo do mundo. Ele não discordava disso, aliás. Definitivamente odiaria dividir sua casa com um adolescente tão chato quanto si mesmo.

Ele pensara que, ignorando tudo o que estava ao seu redor e se concentrando em fingir não estar nem aí para a discórdia que sr. Altreider queria semear, tudo ficaria bem, mas ouviu a voz provocante daquela asiática flambada insistindo em perturbá-lo logo atrás de sua carteira.

— Ei, nerd.

— Eu não sou nerd, eu apenas uso óculos.

Escutou uma risada relativamente grossa atrás de si, respirando fundo e encarando fulminantemente um rabisco da mesa.

— Só saber que você deduz que sim, eu sou nerd, por conta disso — ele disse, já evitando controlar o veneno que deixava seus lábios —, já fica claro o tamanho da falta que um cérebro faz na sua cabeça.

Mais uma vez, uma risada.

— É que você super tem cara de virgem.

— Não está me ofendendo.

— Claro, você deve ser acostumado.

— Olha, chega, tudo bem? — Miles não aguentava mais ser cortês. — Eu já tenho problemas demais para te ter em cima de mim agora, Pica-Pau.

— Ai, tadinho de você. — Sem olhar para ela, Miles sentia que o dono daquela voz da menina era um demônio vermelho, saltitante e irônico, que cutucava sua paciência com um tridente curtíssimo. — Será que não quer uma foto para pendurar em seu quarto e relaxar, desestressar, se divertir sozinho à noite?

E ele olhou horrorizado para trás, dando de cara com duas esferas negras que pareciam rir mais de sua cara do que os próprios lábios de batom borrado da garota. Miles implorou para que o raio se apressasse em cair; por que aquele tipo de coisa só acontecia com ele?

Mas, paciência, Miles Angelo.

Ainda pode piorar.


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Notas finais do capítulo

E acabou!
Gente, eu sinceramente espero que vocês possam me dar ao menos um reviewzinho, eu adoraria! ♥
Aliás, digam-me o que acharam desses dois chatos! Miles é mesmo insuportável, né? Mas a mocinha é pior, podem ter certeza, haha ♥
Além disso, não é minha intenção ofender ninguém com a narração, até porque eu sou muito Mikaela na vida real, toda cheia de mainstreams qqq e o "asiática flambada" também não é racismo, é porque a Mikaela é realmente bem morena, mas ainda assim tem cara de japa.
Mas ela não é japa! rsrsrs
beijos :D