— Ei, Clarke. – Octavia chamou. Ela ia pedir para a loira lavar um vestido para ela, mas, depois de ver os olhos vermelhos e o rosto úmidos de lágrimas da loira, desistiu. –  Aconteceu alguma coisa?

Clarke, orgulhosa como era, que não queria que ninguém a visse chorar, ela secou o rosto com as costas das mãos e respirou fundo. Ela devia estar sentada no sofá por uns trinta minutos, ainda processando tudo o que ela e Bellamy conversaram de novo e de novo. Foi impactante demais para a menor.

Ficar ali já não era bom, porque, na verdade, era para ela estar dormindo naquele momento. Clarke havia arrumado um emprego de meio período numa cafeteria na cidade, mas também continuava estudando de manhã e cuidando de Jake pela noite, então qualquer tempo de folga que sobrasse era para ser aproveitado.

— Não, eu só... – ela parou de tentar inventar uma desculpa esfarrapada, então apenas olhou para a Blake. – Posso te fazer uma pergunta?

  Octavia puxou uma cadeira da mesa, a arrastando até que estivesse de frente para Clarke. Ela franziu a testa.

— Você sabe que sim, loira.

— Você acha que eu tenho estado distante do Jake nesse tempo que eu comecei a namorar?

   Octavia umedeceu os lábios. Era complicado para ela falar, já que não estava passando e nunca passaria pelas coisas que Clarke passou. Mas era um fato que a loira tem estado muito menos presente da vida do filho, depois de Lexa, do que quando Octavia a encontrou.

— Então, é complicado. Principalmente pela sua idade, é compreensível que você queria se sentir livre, talvez se envolver seriamente com alguém e essas coisas normais. Você continua sendo uma adolescente normal, que faz coisas normais, só que...

— Pode parar de enrolar. – Clarke a interrompeu, franzindo os lábios. – Eu já entendi.

— Mas eu quero que me escute. – Octavia pegou uma das mãos da loira e a segurou com a sua, entrelaçando seus dedos. A Blake lhe ofereceu um sorriso caloroso. – Estudar de manhã, trabalhar a tarde e cuidar de uma criança o resto da dia...Você, mais do quem ninguém, merece relaxar um pouco. E, se a Lexa significa isso pra você, pelo menos por agora, então, eu te apoio totalmente.

As duas ficaram mais um tempo daquele jeito. Octavia colocou um filme na televisão, mas, em algum momento durante o mesmo, ela adormeceu deitada no colo de Clarke.

Clarke saiu de baixo da morena, com cuidado para não acordá-la, disparando em direção as escadas. Ela precisava falar com alguém muito importante.

— Ei, parceiro. – ela abriu a porta do quarto, não se demorando a ir até a cadeira encostada ao berço de Jake. O garoto dormia, como geralmente fazia esse horário, tranquilamente. – Faz um tempo que eu não falo direito com você, não é mesmo? Eu tenho estado um pouco afastada, eu sei, mas prometo que vou te recompensar por isso.

Jake devia ser o bebê mais calmo do mundo. Ele raramente fazia escândalos, nunca teve nenhum problema sério de saúde e era como um anjo quando dormia.

— Você está cada vez mais parecido com o meu pai. – a loira percebeu, notando que o pouco de cabelo que ele tinha era castanho. O pequeno abriu os olhos devagar e a garota esticou o braço para dentro do berço, fazendo carícias em sua lateral. –  Amanhã a Lexa vai vir aqui e ela é bastante especial para mim, então seja legal.

Clarke sorriu para o menor. Gostava de "conversar" com ele, por mais que ele não pudesse realmente entender, era como desabafar. Mal podia esperar para que ele crescesse um pouco mais.

Nem se importou em dormir numa cadeira naquela noite, apenas segurou a pequena mão de seu filho e fechou os olhos, finalmente sentindo-se em paz.

(X)

Era a primeira vez de Lexa na casa dos Blake.

Clarke estava bem nervosa, já que Lexa vinha de uma família rica de empresários e...Bom, Clarke estava morando ali de favor e ainda tinha brigado com um dos donos da casa. Mas, felizmente, tudo deu certo.

 As risadas e as conversas delas se sobressaíam a música que tocava no quarto ao lado, enquanto elas estudavam. Bem, pelo menos Clarke estava tentando ensinar alguma coisa para Lexa, mas, como sempre, a cabeça da morena estava em outro lugar.

— Tudo bem, vamos dar um exemplo da lei da ação e reação. – a de olhos claros falou, fazendo Clarke assentir. Ela afastou o livro um pouco, tirando-o de seu colo. – O que acha de fazermos a ação de parar de estudar física?

— E o que acha da reação de ficarmos sem diploma? – Clarke rebateu, balançando a cabeça. Devolveu o livro à Lexa, que bufou.

Elas estudavam a terceira Lei de Newton, chamada de lei da inércia. Clarke não via muito sentido naquilo, mas a teoria dizia que "Para cada ação, há uma reação de mesma intensidade, em sentidos opostos".

— Eu só não entendo. – se colocou no colo da loira, puxando-a para um beijo demorado. As duas ficaram daquele jeito por bastante tempo, até que Lexa deitou Clarke na cama, ficando por cima. – Se Bellamy está se divertindo... Por que nós não podemos?

Ela se referia aos barulhos que vinham do quarto de Bellamy, do outro lado do quarto. Pelos gemidos altos e femininos, era meio óbvio que tinha pelo menos uma garota com ele.

— Boa pergunta. – Clarke sorriu. Ela inverteu as posições, ficando por cima novamente. – Eu vou pegar o livro de química lá embaixo e, se você conseguir ler pelo menos quinze páginas agora, eu te recompenso depois. Fechado?

— Gostei de ouvir isso. – a outra sorriu, cheia de segundas intenções. – Vai rápido, então.

    (X)

Clarke queria ficar um tempo sozinha.

Ela realmente gostava de Lexa, a morena era bem divertia e ela se sentia bem ao seu lado. Mas ela passou muito tempo de sua vida sozinha, apenas com Jake (ainda em sua barriga), então meio que sentia falta de um pouco de sua privacidade de volta.

A garota foi até a cozinha, a fim de beber um pouco de água e esquecer aqueles pensamentos. 

— Sério, isso tá me enlouquecendo. – Raven comentou, entrando na cozinha, fazendo Clarke dar um pulo. A loira ainda tinha que se acostumar com o fato de que Raven simplesmente aparecia na casa dos Blake, a qualquer dia e em qualquer hora. – Bellamy deve estar esquartejando essas garotas lá em cima, não é possível.

— "As" garotas? Tem mais de uma? – Clarke arqueou as sobrancelhas, logo antes de se repreender. Bellamy parecia não se importar nem um pouco com ela, então ela também não deveria se importar com o que ele fazia, ou com quem.  

— Três. – a morena abriu a geladeira e serviu-se de um copo de água, parecendo nervosa. A loira se encostou no balcão, dividida entre ouvir o que acontecia no andar de cima ou manter seu orgulho intacto. – Não sei como está durando tanto tempo. Super pênis, talvez.

Clarke balançou a cabeça:

— Ai, meu deus, Raven. Eu realmente não quero falar sobre isso.

As duas ficaram em silêncio por um tempo. Raven encarou a mais nova, franzindo a testa, como se pensasse o por quê de ela ter ficado tão nervosa só pelo fato de Bellamy estar transando com outras garotas.

Um pouco depois de Raven ter saído, num momento constrangedor, Bellamy entrou na cozinha. O mais velho só usava sua bermuda, seus cabelos estavam molhados de suor e ele parecia ter descido só para pegar mais uma cerveja.

Clarke abaixou a cabeça, segurando seu copo nas mãos, tentando desviar o olhar. 

— Ei, hã... Pode fazer menos barulho? – ela colocou a mão na nuca. – É que eu quero estudar lá em cima.

Clarke queria parar de falar, queria parar de tentar puxar assunto com ele, queria parar de olhar para ele, mas, de algum jeito, o maior fazia uma falta imensa na sua vida, mesmo que eles não estivessem se falando só por quatro dias.

Ele deu de ombros, sem encará-la.

—Eu não estou fazendo barulho.

— Os gemidos, Bellamy.

 Toda a atmosfera do ambiente era assustadora. Falar com Bellamy era como pisar em ovos, tendo que ter cada passo milimetricamente calculado e medido, antes que todo o progresso que fizeram fosse perdido novamente. Clarke nunca achou que concordaria tanto com o que Octavia disse: "Meu irmão é meio difícil de lidar". 

A Griffin finalmente entendera a terceira lei de Newton e tinha um ótimo exemplo. A ação de namorar Lexa podia resultar na reação de perder a amizade de Bellamy. 

— Bom, gemido é o que se espera quando você fode uma garota. - ele resmungou e ela arregalou os olhos, estranhando que ele nunca tinha falado daquele jeito com ela. Ele percebeu isso e deu um sorriso de pura ironia. - Quando você faz amor com uma garota. Melhor assim?

 O moreno despontou para fora do cômodo, mas a loira não se deu por vencida. Clarke segurou em seu braço, querendo chamá-lo novamente para retrucar aquilo, mas soltou rapidamente quando o mais velho soltou um gemido de dor.

Ela franziu a testa, finalmente percebendo o hematoma que estava ali. A marca roxa que estava ali era quase igual a aquela que ele estava na noite em que brigou com Finn. Clarke não queria nem pensar na possibilidade de ver o Blake brigando novamente.

—Você está machucado? Desculpa, eu não queria...

Ele olhou para ela por um tempo. Sentia que a menor realmente sentia muito pela discussão deles. Como ele mesmo disse há um tempo, o moreno precisava dela e estava meio óbvio que ela precisava dele também. Ele também sentia muito por tudo o que disse e queria muito a amizade dela de volta, mas seu orgulho era tão filho da puta quanto ele.  

— Estou bem. – resmungou, saindo do cômodo, sem olhar para trás.