Clarke jogava suas roupas, o que não era muita coisa, na mala velha que tinha pego com a enfermeira do hospital. Ela estava nervosa e andava pela casa, pegando todas as coisas que fossem suas e guardando.

Ela não sabia quando aquilo tinha começado, mas, depois de quatro semanas, ela não aguentava mais ficar naquela casa. Era um sentimento de culpa por estar ali, depois de tudo que aconteceu.

Ela só queria ir embora.

— Vamos sair daqui, filho. Esse não é nosso lugar. – ela disse, se aproximando do berço e tocando o rosto de Jake. Seus grandes olhos azuis estavam quase se fechando e ele parecia cansado, como sempre, e aquilo a fez sorrir por um tempo.

Ela foi até o quarto de Octavia, pegar as roupas novas que elas haviam comprado para Jake. Mas, assim que voltou ao corredor, Bellamy saiu do quarto dele.

Clarke realmente tentou não dizer nada, mas isso se tornou impossível quando, mesmo sem nem dizer nada, ele segurou o braço dela.

— Por que aquilo tá ali? – ele olhou para a mala sobre a cama, por trás da garota.

— Estou indo embora. – ela desconversou, tentando sair do caminho dele.

Bellamy ainda segurava o braço dela, a impedindo de andar:

— Não, você não está.

— Você não manda em mim. – fez uma pausa, respirando fundo. Tentou andar para longe de novo, mas ele se recusava a soltar.

— Quer parar de agir como se tivesse uma escolha?

Ela estreitou os olhos:

— O que foi que você disse?

— A verdade. Não tem como você sair daqui e fazer tudo sozinha, ainda mais com um bebê de uns dois meses.

— Vamos deixar uma coisa bem clara. – ela puxou o braço de volta, sentindo seu rosto ficar quente. – Eu posso fazer o que eu quiser, entendeu?

— É isso que você acha?

— É isso o que eu sei. – ela respondeu, se virando.

Bellamy ainda não sabia como reagir sobre Clarke. Ele realmente não odiava a garota, com toda a certeza, mas ainda tinha que se acostumar com sua presença ali. Talvez fosse a sua "barreira pessoal", que impelia as pessoas ao seu redor e que não queria se importar com ninguém, além de sua mãe, Octavia e Raven.

E, assim que Clarke chegou, ela meio que quebrou aquela barreira. Porém, ele também não estava acostumado com a presença costante de uma garota com quem ele se importava ali.

Clarke também estava confusa. Se ela ficasse, teria que suportar aquele enorme peso na sua consciência cada vez que olhava para as paredes daquela casa. Se fosse embora, poderia nunca encontrar um lugar melhor e mais seguro que esse. Ela não tinha tempo para arrumar um emprego ou terminar os estudos, e também não podia deixar Jake sozinho.

Bellamy sabia que aquilo também podia ter a ver com o que houve um dia atrás. Porque ele também não conseguia esquecer as marcas no pescoço de Clarke e o quão abalada ela parecia, logo depois que "sumiu" da festa. Claramente, alguém havia tentado alguma coisa com ela.

O Blake tinha alguns colegas daquele tipo, mas não entendia como eles conseguiam fazer aquilo. Ele não nunca ia compreender como um cara tinha a capacidade de sentir prazer enquanto uma garota chorava, se debatia, ou até implorava para que ele se afastasse. Era doentio e ele prometeu a si mesmo que nunca faria isso.

Isso o fazia lembrar do que Lily fez uma vez...

As altas horas da madrugada sempre foram as favoritas de Bellamy e Lily. Ele pegava seu carro e eles iam para, literalmente, qualquer lugar da cidade, desde um mirante até uma praça, ao lado do bar abandonado. Já eram acostumados a ver cenas como aquela.

— Olha aquilo. – Lily apontou para um casal que se beijava ferozmente, encostados no muro do bar abandonado. Ela estalou a língua. – A garota não quer.

Eles estavam sentados no muro da praça, que ficava a apenas alguns metros do lugar onde o casal estava.

— Claro que ela quer. Já teria afastado ele, se não quisesse. – Bellamy falou, mas, assim que viu que a garota parecia querer se afastar, e o homem continuava a passar as mãos pelo corpo dela, mudou de ideia. – Ou não... Devíamos fazer alguma coisa?

A morena sorriu ao lado dele:

— Obverse, garoto.

A garota se levantou, andando alguns passos até o casal. Assim que ela chegou até lá, gritou realmente muito alto, como uma daquelas garotinhas mimadas (coisa que Lily estava muito longe de ser), que acabara de ganhar uma boneca.

O casal se separou, claramente assustados com o ato da mais nova. Porém, a garota pareceu bem mais aliviada, quando o cara tirou as mãos dela.

— Ai, meu deus, Jade! Faz tanto tempo que a gente não se vê! – Lily falou, abraçando a loira à sua frente.

— É verdade, Emily! – a loira claramente havia inventado aquele nome da hora também. Se virou para o homem que estava com ela e deu um sorriso forçado. – Hey, acho que a Emily tem que mandar uma mensagem pra mamãe, só um minuto.

Lily assentiu animadamente, fazendo uma pausa para segurar seu celular:

— Sim, tenho que avisar a mamãe que a sobrinha preferida dela encontrou a filha preferida! Espera, vou mandar a mensagem.

Naquele mesmo momento, Bellamy sentiu o celular vibrar. Olhou para o visor da tela, onde tinha a mensagem de Lily, dizendo:

"Liga o carro, mamãe. Temos que levar nossa prima para casa"

E, aquilo, o fato de Lily sempre ter feito de tudo para ajudar as pessoas (até mesmo coisas mais loucas, como fingir que era prima de uma garota aleatória), o faria amar aquela garota para sempre.

— Clarke, olha pra mim. – ele disse, mas ela se recusava a olhar nos olhos do rapaz. Bellamy segurou os pulsos dela. – Olha pra mim!

— O que você quer? – ela falou, tentando se livrar das mãos dele, mas o moreno continuou segurando seus pulsos.

— Você não pode ir embora. Seu filho precisa de um lugar seguro, precisa de suporte, de médicos... Jake precisa de você. – ele fez uma pausa, fechando os olhos. – E eu também preciso.

Soltou seus pulsos, sem conseguir parar de olhar para ela, esperando sua reação. Ela só o encarava, com a boca entreaberta, como se quisesse dizer alguma coisa, mas não soubesse como começar.

(X)

Clarke precisava de mais tempo para pensar.

Ela decidiu que ia ficar por mais um tempo, pelo menos até Jake ter mais idade. Mas a verdade era que, quando Bellamy disse "eu também preciso de você", aquilo a fez acordar. Um dia depois e ela ainda
pensava nas palavras do moreno.

A loira já tinha acabado de amamentar Jake, colocando o bebê em sua cadeirinha (santa seja Octavia por aquilo), quando Raven entrou na cozinha.

— Oi. Raven, eu já ia te perguntar se... – Clarke começou a dizer, mas Raven foi até ela, segurando a gola da camisa da loira.

— Qual é o seu problema?! – a morena questionou, ainda segurando a garota e a encostou na parede.

Octavia entrou na conzinha, atraída pelo barulho, e franziu a testa:

— O que tá acontecendo aqui?

— Essa vadia mentiu na minha cara! – Raven falou, se virando para Octavia por um momento. Clarke aproveitou esse pequeno momento para empurrar a morena para longe de si. – O que você queria? Planejava não me contar nada e ficar com ele pelas minhas costas?

— Raven, você não entende...

— É. – Octavia falou, franzindo o lábio. – Seja o que for, vocês podem resolver conversando. Não precisa disso.

— Sério? Você vai ficar do lado dela? – ela falou, se virando para Clarke novamente. — Finn me contou tudo!

— Aposto que ele não contou quem é o pai do Jake, contou? Ou como foi ter que morar 9 meses num lugar onde você se sentia uma completa estranha a todo o momento? Ou sequer mencionou o quanto foi uma merda ter que se mudar para um casa de estranhos, por simplesmente não ter outro lugar pra onde ir? Se isso foi o "tudo" que ele disse e você ainda acha que eu tenho alguma culpa por isso, pode encher minha cara de tapas agora mesmo.

Octavia olhava para Clarke como se ela fosse uma bonequinha de porcelana, que fosse quebrar a qualquer momento, mas a Griffin só conseguia olhar para Raven. Raven, que tinha lágrimas nos olhos e uma expressão culpada, como se fosse ela fosse a verdadeira porcelana. 

Raven avançou sobre ela, mas, ao contário do que Clarke pensava, ela a abraçou. Envolveu a garota com os braços, como se toda a amizade delas daqui pra frente dependesse daquele pequeno momento.

E, bem, realmente dependia.