Se eu realmente acreditasse em destino, poderia dizer que aquilo era obra do destino: que Thomas e eu estávamos destinados a nos encontrar novamente. Eu como uma estudante e ele como o novo monitor de Química, a disciplina em que meu desempenho era pior.

Por um momento nossos olhos se encontraram, ele na frente da sala apoiado na mesa do professor, e eu em meu lugar, com alguns fios de meu cabelo em meu rosto. Reconhecimento brilhou nos olhos de Thomas, e ele me lançou seu sorriso. O sorriso que eu nunca consegui esquecer, desde meus sete anos. Mas não me cumprimentou em voz alta.

O aluno que estava sentado na fileira, David Brown, havia perguntado a Thomas se poderia tirar uma dúvida, e Thomas direcionou sua atenção para ele, enquanto o resto da turma se ocupava em conversar.

– Wow, esse novo monitor tem cara de ser um grande nerd. – Jennifer comentou para mim, quando eu finalmente saí de meu transe e ajeitei meu cabelo.

Dei uma risada forçada.

– Você só diz isso por causa dos óculos? – perguntei com certa ironia.

– Não. – a voz dela estava calma – Acho que pelo jeito que ele se porta. Parece um pouco tímido em estar na frente de uma turma e sem jeito para falar com os alunos. Mas.. sim, o óculos me ajudou também.

Depois desse pequeno dialogo, não procurei me enturmar em nenhuma conversa com meus colegas mais próximos a mim; apenas abri meu exemplar da peça de Shakespeare, Romeu e Julieta e comecei a ler, já me adiantando para a aula de Literatura.

Me assustei quando a sineta tocou, indicando o fim do primeiro tempo de aula, e então eu deveria ir para a sala de Biologia. Os alunos saíram praticamente correndo, já eu, por algum motivo, me deixei ficar mais um pouco, enquanto Thomas pegava sua bolsa calmamente.

Segurei meu livro mais fortemente, tentando me equilibrar com a mochila e me aproximei dele.

– Oi – sorri e ele me olhou.

– Olá, Amélia – cumprimentou em tom risonho – Vai para sua próxima aula?

– Sim. – tentei não parecer desapontada por ele apenas ter me perguntado sobre a aula – A próxima é Biologia. – tentei refrear uma careta, mas não sei dizer se tive êxito.

– Por ventura meu coração amou até agora? Jurai que não, meus olhos! Porque até hoje jamais havia conhecido a verdadeira beleza. – ele me olhou nos olhos.

Senti meu rosto enrubescer.

– Como é? – perguntei ofegante.

– É a passagem de Romeu e Julieta, quando Romeu vê Julieta pela primeira vez. – ele deu uma risada, que eu realmente não soube decifrar se era humorada ou envergonhada.

Ri também, mas um pouco forçada.

– Estou lendo para a aula de Literatura. – pus meu cabelo atrás da orelha – Mas gosto de Shakespeare, já li alguns de seus sonetos e suas peças, MacBeth e Hamlet...

O segundo sinal tocou, me interrompendo e me lembrando de que se não fosse para a aula agora não poderia mais entrar.

– Preciso ir. – falei indo para a porta, e ele me seguiu logo atrás.

– Espero te ver na monitoria, Amélia. – ele me lançou seu sorriso outra vez.

– Com certeza vai me ver lá. – respondi, apertando o passo.