Sonho x Realidade escrita por M1ssingN0


Capítulo 14
Capítulo Quatorze




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/657574/chapter/14

—Ahhh... — um longo suspiro ecoou de mim— Será que tenho mesmo de sair hoje?

Essa pergunta não para de martelar na minha cabeça, um súbito desânimo neutralizador tomou conta de mim, será culpa de Diego? Acho que não, eu sempre tive casos assim, é como uma sensação de voar, sentir-se livre e feliz, quando do nada sou jogada de encontro ao chão duro e arrasador. Acho que já faz 10 minutos e ainda estou aqui, de roupão, cabelo úmido e jogada na cama. — Se bem que, comer doces pode me trazer de volta a vida. — minha voz não passava de um sussurro, eu poderia dormir a qualquer momento se passasse mais tempo deitada.

Levantei-me e fui ao guarda roupa, bom, parando para pensar isso não é um encontro de casal, então me produzir demais está fora de cogitação.

Sem falar que não estou com paciência para isso, olhei novamente para janela e parecia bem quente lá fora, então decidi vestir um short jeans com uma camiseta de alça rosa claro— Agora os pés.

Fui em direção ao meu baú onde minha mãe jogava todos meus calçados, coloquei todos ao chão e fiquei encarando-os, as opções não são muitas na verdade, eu poderia usar minha sapatilha branca, mas com esse sol meus pés vão suar muito... Também tem meu tênis dourado, o allstar com que sempre vou à escola— Melhor não.

Também encontrei o salto alto de camurça que ganhei no Natal de presente da minha mãe, é bonito, com seu salto de 10 centímetros e cor vermelha gritante, perfeito para festas noturnas, ainda me pergunto porque ela me deu isso sendo que não uso essas coisas, acredito na hipótese de que tenha comprado para ela com a desculpa que era para eu usar, sendo que calçamos o mesmo número. — Hum? — o que é isso?

Encontrei no fundo do baú uma sandália que gostava muito e achava que tinha sumido, é uma gladiadora cano médio cor marrom escuro, está decidido!

Depois de colocá-la fui até minha cômoda e coloquei meus brincos de argolinha prateados, meu colar com um pingente de gato, abri a gaveta e dei de cara com minha caixa de maquiagem — Será que devo me maquiar? — encarei meu rosto limpo no espelho.

Não sou do tipo que vive cheia de maquiagem, o máximo que passo para o dia a dia é meu rímel e um hidratante para os lábios.

E hoje não vai ser diferente.

Fiquei de frente ao espelho fitando meu cabelo, ainda está molhado, o penteei e peguei um lacinho colocando-o no bolso, até a hora do Júnior chegar ele já está seco, então faço uma trança de lado e tudo certo. Desci as escadas e fui a procura de Diego, o garoto novamente estava com os pés no sofá, deitado como se estivesse em casa. — Pelo menos agora tirou os sapatos. — falei carrancuda.

— Você é lenta, que demora foi essa? — indagou levantando-se— Estou com fome.

— Eu também.

— Faça alguma coisa para comer então— disse ríspido.

— Não tõ afim—fui sentando ao seu lado, pegando o controle da tv e ligando.

Se vou ter que aguentá-lo preciso de alguma distração.

— Por que se arrumou assim? Onde vai? — eu não estava olhando para ele, mas sentia seus olhos sobre mim, avaliando-me.

— Eu disse que tinha um compromisso, não é? — e isso não te importa— Isso me lembra, você precisa ir embora, logo eu vou sair e nem pensar que o deixarei sozinho aqui.

— E eu já disse que não vou até dar o tempo, não é? —disse com indiferença— Não se esqueça de me trazer algo para comer.

Falando isso ele voltou a deitar, colocando as pernas sobre mim que estava ao seu lado, o encarei séria— Não vê que estou sentada aqui?

— E daí? — sorriu— Porque não aproveita e me faz uma massagem nos pés? Estou meio tenso...

— É claro que sim, Dieguinho, como desejar— você está tenso, como acha que me sinto idiota?— Assim está bom pra você?

Peguei os pés dele com minhas unhas e apertei com toda minha força. — Mas que droga— levantou-se ficando sentado me encarando com olhos raivosos— Com certeza você precisa de umas lições garota. — indagou enquanto massageava onde eu havia apertado.

— Que seja— bocejei— Graças a você me sinto exausta, sinta-se feliz.

— Feliz eu não fico, mas que é engraçado isso não posso negar— sorriu novamente com aquela expressão sacana que ele faz tão bem.

Quando me preparava para retrucar ouço o toque de mensagens chegando em seu celular, ele o pegou e fitou por uns segundos— Opa, demorou— levantou-se ficando de pé calçando seu tênis sem usar as mãos— Até mais. — disse indiferente ao caminho da porta.

— Como assim até mais? — perguntei surpresa— É isso? — o que estou fazendo, eu queria que ele fosse embora logo. Mas porque isso me parece tão errado?

— O que foi? — me fitou sério— Você queria que eu fosse embora, estou indo.

— Sim, mas— chega de repente e vai embora de repente— Você é um porre, só me traz problemas e simplesmente vai embora dizendo até mais, palhaço.

Isso me irrita, ele pensa que pode fazer o que bem entender que ninguém vai se importar ou questionar— Você tem razão. — falou aproximando-se— Até mais, Erika. — sorriu colocando a mão em minha cabeça como se faz com uma criança chateada.

Sem me dar tempo para responder ele simplesmente foi embora, com a camisa do meu pai, deixando o sofá uma bagunça e a roupa feita xixi por Luna no chão para lavar, incrédula olhei para o relógio, ainda faltava meia hora.

Suspirei novamente, não quero pensar nisso tudo, estou ficando com dor de cabeça, deitei-me no sofá onde minutos atrás ele estava— Hã? — virei meu rosto para o lado e pude sentir, o perfume dele ficou no sofá.

O cheiro é bom.

Júnior havia me dito para ligar e dizer onde eu morava, mas enviei uma mensagem a ele ontem antes de dormir com o endereço, não gosto de falar ao telefone, ainda mais com pessoas que não tenho uma certa convivência, se bem que só me sinto menos desconfortável com conhecidos, mas isso não importa.

A manhã estava tão calma, uma leve brisa fazendo as folhas nos galhos balançarem lá fora, o silêncio dentro de casa que por vezes era interrompido por carros passando ou crianças gritando, tudo isso me faz relaxar, e sentir sono, muito sono...

Nem pensar!

Não posso dormir agora, me levantei do sofá e fui à cozinha ver algo para comer, abri a geladeira e havia alguns iogurtes, suco de laranja, na verdade está bem vazia, por isso foram às compras hoje. Peguei o suco e me servi com um copo, voltei para o sofá, na tv estava passando desenhos animados, quando me viro e vejo o celular piscando, peguei para ver;

— Júnior mandou uma mensagem.

– Estou aqui-

Como assim?

– Está aqui, onde?- perguntei.

– Em frente sua casa :)

Que? Não acredito.

Fui até a janela escondida e olhei abaixada por entre as cortinas, e realmente lá estava ele, parado com o celular a mão olhando em volta. Porcaria.

Meu cabelo ainda está úmido e nem tomei o suco que acabei de colocar, com a cabeça perdida em pensamentos sinto Luna esfregar-se em minha perna, quando a olho vejo a camisa do Diego jogada ao chão, do lado do sofá. — Preciso me livrar.

Meus pais não podem ver isso, subi as escadas correndo e fui até meu quarto, colocando a camisa embaixo do colchão, quando chegar com calma, penso em como resolver isso. Voltei para baixo depressa e abri a porta, já ofegante, tudo rápido demais e estou sem comer nada, espero não desmaiar. — Olá moça— disse gentilmente— Como está linda hoje.

— Júnior, sem exageros — retruquei— Chegou antes do que o combinado.

— Pois é— suspirou decepcionado— Como sempre parece que não tenho efeito sobre você, eu estava ansioso então decidi vir antes— sorriu encarando-me— Algum problema com isso?

— Não. Quer entrar? — novamente colocando em prática as regras de educação básicas da minha mãe.

Ainda bem que Diego foi embora, não se passou nem 10 minutos e Júnior já está aqui, isso daria uma boa confusão. —Obrigado, mas não precisa. Que tal irmos?

— Tudo bem, só espere enquanto fecho a casa. — ele está um pouco diferente, talvez seja porque estamos fora da escola, ou porque as roupas dele não são o uniforme.

Dou uma rápida olhada antes de entrar e pegar as chaves, ele está bem elegante de uma forma descontraída, usando uma calça jeans escura, com um belo e chamativo tênis de cor branca e uma camisa de mangas até o cotovelo na cor cinza claro, com seu óculos de sol pendurado na mesma, quando percebo ele me fitando desvio o olhar, entrei e peguei minha bolsa, chaves, fechei as janelas e tranquei a porta.

— Tchau Luna.

Quando me aproximei dele notei que mesmo estando “legal” com essa roupa percebo o quanto aparentam ser quentes para hoje— Não acha que vai passar calor? — perguntei curiosa.

Ele me olhou contente por ter perguntado e abriu um sorriso— Não, embora esteja quente aqui fora para onde vamos o calor não é problema, e no carro temos ar condicionado.

— Carro? — você não tem idade para dirigir...

— Sim, meu motorista está parado ali na esquina.

— Você tem um motorista? — não sei por que isso me surpreende, quase todos naquela escola são filhos de pessoas da “alta”.

— Sim, tenho. — respondeu apenas andando a frente me guiando.

Quando chegamos ao carro um homem estava parado ao lado, cumprimentou-me educadamente e abriu a porta para entrarmos, este carro eu não sei dizer que tipo é, mas é enorme e espaçoso por dentro, de cor preta e um pouco mais alto que o normal, se não me engano é parecido com aqueles jeeps... — Nos leve até Lua de Mel. — disse Júnior com gentileza.

— Entendido. — respondeu o homem ao volante.

— Lua de Mel?

— Sim, nome legal né? — indagou— Esse lugar conheci graças a uma ex-namorada.

Ex-namorada?

É claro que ele já teve namoradas antes, isso não me deixa surpresa, até porque ele me parece ser do tipo popular também, embora não tanto quanto Diego, ambos têm uma postura chamativa e aparência acima da média, decidi ficar em silêncio depois de sua revelação, não havia o que comentar.

Dentro do carro realmente estava bem fresco, com o ar condicionado ligado por um momento cheguei a sentir um pouco de frio, e arrepios constantes, eu observava tudo com cuidado durante o percurso, o silêncio ali era meio perturbador, mas também me senti aliviada, não iria gostar se ele começasse a fazer perguntas ou se aproximasse muito de mim como já fez na escola, inclusive, me lembrando agora ele já me deu dois beijos sem minha permissão, ambos no rosto, o que não é muito grave, mas mesmo assim.

Ao recordar esta lembrança automaticamente virei-me para olhá-lo, e congelei ao perceber que ele estava me encarando também, esse encontro de olhares me deixou envergonhada. — O que está pensando? — questionou com um sorriso.

—N-nada— droga, eu gaguejei— Só estava pensando em que tipos de doces irei comer lá. — menti.

É claro que eu não diria a verdade— Erika você— aproximou-se de mim encostando seu corpo ao meu— É tão bonitinha.

— Que? Não inventa Júnior.

— Estou falando sério, você é do tipo quieta e conservadora, mas no fundo é tímida e gentil. —afirmou ainda olhando para meu rosto.

Senti meu sangue fervendo na face, estranhamente ele está conseguindo me deixar sem graça, o que não é natural, mas ele fala como se eu fosse outra pessoa, o que não é verdade, porque estou assim hoje? Me deixando afetar por eles, primeiro Diego, agora Júnior.

Ahh... É claro.

Eu devo estar indefesa devido ao período do mês em que a natureza me lembra que sou mulher, ocasião nada agradável por sinal, eu tento me controlar e até diria que consigo, muito bem, mas certas coisas escapam involuntariamente, é como tentar beber água com as mãos, algumas gotas sempre caíram. Que coisa, estou pensando em comparações engraçadas, não pude conter um sorriso, a fome também me lembra de que não comi nada hoje.

Quando senti Júnior ficando mais perto o empurrei com o braço, ouço um suspiro seguido de um riso quase inaudível, então ele e o motorista começaram a discutir sobre algo que não prestei atenção, as ruas passando rapidamente, pessoas andando por todos os lados, prédios enormes, trânsito, às vezes me esqueço de que agora vivo em São Paulo, a cidade grande, onde tudo nunca para, minha barriga resmunga novamente, que fome!

— Já decidi.

— Hum? O que decidiu? — perguntou Júnior curioso sobre minha súbita frase.

— Vou querer sorvete. — sorri.

[...]


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Sonho x Realidade" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.