Dentro de um lugar escuro e isolado de tudo e todos, dois irmãos apenas se encaram sem nada dizer um ao outro. O momento de conversas e discussões já havia passado há muito tempo. Agora cada um usava o tempo - que diga-se de passagem, era infinito - que eles tinham para pensar em tudo o que aconteceu, terminando por colocá-los presos ali, naquela jaula.
Seria mais um dia - ou será noite ou tarde? - normal de silêncio e escuridão, quando eles sentem diretamente no fundo de suas existências, algo errado. Brutalmente errado. A graça de um de seus irmãos fora apagada da existência de uma forma violenta, muito brutal. Apesar deles serem seres diferentes, seres celestiais, um sentimento os iguala aos seres humanos, o instinto de proteção de irmão mais velho. Sim, porque os dois são os mais velhos entre todos e cada um a sua maneira não toleraria que um irmão mais novo sofresse algo bárbaro.
E eles sentem que a graça apagada era de um dos mais valentes de seus irmãos: Castiel. A angústia tomou conta de cada um. Miguel sempre olhara por ele, viu o seu sofrimento, as dúvidas crescentes em seu ser, mas ele não poderia fazer nada naquela época. Havia um começo, uma ameaça na verdade de rebelião entre seus irmãos e doía saber que era um de seus irmãos arcanjos que encabeçava essa revolta. E Miguel estava a todo custo tentando deixar o céu em ordem para a volta do Pai.
Mas aí, acontece o mais temível: Lilith consegue liberar seu irmão rebelde da jaula e dá início ao apocalipse. Miguel não vê outra escolha a não ser intervir diretamente, tomando como casca o mais velho dos filhos de John Winchester. O que foi cansativo, com o primogênito sempre dizendo não, não e mais não ao arcanjo. A saída foi convencer o irmão bastardo deles, Adam, a aceitá-lo. O que no fim acarretou a prisão dos dois ali embaixo.
Miguel estava nessa linha de pensamento, quando uma sensação de vazio e desespero tomou conta dele na forma do grito de Dean Winchester, que pôde ser ouvido até ali. Atônito, ele olha para seu irmão, que deve ter sentido a mesma coisa e ambos se agitam querendo sair dali. Mas a jaula era impenetrável e tanto por dentro quanto por fora dela. Miguel já estava no limite do desespero de não poder fazer nada, quando sente uma luz atrás de si. Lúcifer estava concentrando sua graça e num tiro certeiro da palma da sua mão, ele consegue temporariamente abrir um buraco na jaula. Agarrando o braço de Miguel, ele o joga pra fora daquela prisão e com apenas um olhar, Miguel entende o que ele fez: "Ajude o nosso irmão", foi a mensagem passada pelos olhos dele. Agradecendo, Miguel sai dali e voa diretamente para o céu.
Chegando lá, ele procura por Josué, que estava no Jardim. O anjo a princípio se assusta mas logo fica alegre por vê-lo. Miguel explica por cima o que vai fazer e deixa Josué tomando conta do céu em seu lugar, com ordem pra todos obedecê-lo. Antes, ele pede ao anjo um favor. De levar o corpo de Adam para sua casa na Terra e deixar anjos para protegê-lo. Ele teria que ir atrás de uma nova casca, pois ele não queria fazer o garoto sofrer mais. E para isso, ele fundiu a alma de Adam a sua graça para protegê-lo dos horrores que poderiam haver na jaula.
Josué o deixa levando Adam para casa e Miguel pensa quem poderia aguentar o seu poder. Dean estava fora de cogitação, assim como Sam. John Winchester estava morto e se ele estava no céu, Miguel desconhecia o paradeiro dele. Estava nesse impasse, quando uma alma se apresentou a ele, querendo ajudá-lo. Miguel a princípio não o reconheceu, mas quando viu os olhos, ele abre um sorriso. Sim essa pessoa é forte o bastante também. E mais fácil seria reconstruir o corpo dele. Eles não iriam co-habitar o corpo, somente Miguel e para isso ele precisaria da permissão dessa pessoa, que ao que tudo indica queria ajudar não só a ele, mas também os irmãos Winchester.
Após ter reconstruído o corpo, com a autorização do antigo dono, ele voa para aquele lugar de onde veio o grito de Dean. Era um local ermo, afastado de qualquer civilização. Ele logo avista a enorme silhueta negra do armazém abandonado e rapidamente ele corre para lá. Ele entra cautelosamente com sua espada celestial nas mãos, atento a qualquer ruído ou presença estranha. Contudo ele nota que só há duas presenças humanas lá dentro: Dean e Sam. Aprofundando mais no interior do armazém, ele finalmente os encontra. Sam está parado ao lado de Dean, que está ajoelhado segurando alguma coisa.
Miguel se aproxima sem fazer barulho e quando estava perto de Dean, ele viu o que ele segurava: o sobretudo bege que de Castiel. Tomado por uma súbita compaixão, Miguel queria abraçá-lo, dizer que ele estava ali, para protegê-los também e que iriam atrás de quem fez isso com seu irmãozinho. Mas ele apenas se limitou a colocar a mão sobre o ombro de Dean, que virou o rosto, derrotado e cheio de lágrimas, apenas lhe disse:
– Você...