A Bailarina escrita por Misu Inuki


Capítulo 2
Aleatoriedade dos eventos cotidianos


Notas iniciais do capítulo

Oi pessoal!
Muitíssimo obrigada pelos comentários e os favoritos no capítulo anterior!
Fiquei emocionada, é sério!
Ai está para você com todo amor do mundo o próximo capítulo das "aventuras" de Sesshoumaru e Rin.
Ou seria melhor "desventuras"? xD
Espero que gostem!
Nos vemos lá embaixo!



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"Quando sou criança,
Viro orgulho da família
Giro em meia monta
Sob minhas sapatilhas"



Aquele definitivamente não era seu dia, ou melhor, aquela não era sua semana. Sesshoumaru nunca acreditou em bobagens como sorte ou azar, porém a série de desventuras nos últimos sete dias; especialmente nas últimas quatro horas e treze minutos, o faziam rever seus conceitos.

Afinal, qual era a probabilidade do carro dele novinho, comprado a menos de um mês simplesmente não dar a partida? Podia pensar que o irresponsável do Inuyasha tinha saído com o carro na noite anterior e deixado o rádio ligado, mas Sesshoumaru não era louco de deixar as chaves à vista do meio-irmão, sendo assim essa ideia foi logo descartada.

Mas não acaba por aí. Seu mecânico de confiança, o eficiente Toutosai, subitamente resolveu tirar férias nas Bahamas. Sem avisar a ninguém, apenas pegou um avião e foi. Mandando a Sesshoumaru naquela manhã que ele tentou procurá-lo, uma "lembrança" muito atrevida: uma foto do velho Toutosai usando nada além de uma sunga de praia, deixando a enorme barriga à mostra, abraçando sorridente uma vaca caolha usando um colar de flores. Uma imagem tenebrosa e sem a menor lógica que assombraria seus pesadelos por semanas, e o fez perder totalmente a vontade de continuar tomando seu café da manhã.

Então, neste momento, lá estava ele no meio da calçada, olhando desanimado os carros passando apressados. Tinha ligado para um táxi, mas como a maldição daquele dia parecia não ter fim, o motorista por demais "alegrinho" acabou batendo no carro da frente, terminando a corrida do Sesshoumaru muito antes da metade do caminho.

Talvez, pensava, fosse um aviso divino o seu despertador não ter tocando naquela manhã. Um sinal para que ele, Sesshoumaru simplesmente não levantasse da cama. Mas não podia se der ao luxo de faltar ao trabalho. O dois dias em que sairá mais cedo para resolver os problemas da gêmeas e a confusão dos Taishos, o imprestável do Jaken, numa falsa esperança de mostrar serviço e agradar o chefe, aprovou uma série de projetos ridículos que fugiam totalmente da filosofia da empresa e estavam dando uma enorme dor de cabeça para serem desfeitos. Por causa disso, não deixava mais ninguém piscar sem que ele mesmo verificasse e autorizasse por escrito. Essa decisão lhe parecera lógica a princípio, mas a obrigação cada vez maior na empresa, tornara inviável um novo encontro com a professorinha. Rin. Um nome bem curto quando comparado com o dele mesmo, Sesshoumaru. Mas ao mesmo tempo combinava perfeitamente com aura doce e gentil que ela emanava. Sim, não poderia pensar em um nome melhor para aquele rosto delicado. Se perguntava o que ela estava fazendo naquele momento.
De certo, bem diferente do que ele, a mercê de alguma brincadeira de mau gosto divina.

Olhou para o relógio no pulso, eram dez horas e quarenta e seis minutos, e se não conseguisse arrumar um outro táxi nos próximos dez minutos, chegaria atrasado na reunião que ele mesmo marcara com os fornecedores. Isso é claro, sem contar com trânsito ou com outros "acidentes". Não que acreditasse que isso fosse possível, pensava. Como poderia ficar pior do que estava?

Mas estava errado. Uma lição que levaria para vida: SEMPRE dava para piorar.
Um táxi apareceu na pista do meio, da larga avenida em que estava em frente. Sesshoumaru esticou o braço, mas o carro não diminuiu a velocidade, ou ligou a seta, indicando que iria parar. Sesshoumaru balançou o braço mais uma vez, irritado. Era impossível o motorista não o ter visto, alto do jeito que ele era. Mais uma vez o táxi continuou como se ele fosse invisível.
Ainda encarando o motorista, Sesshoumaru andou alguns metros em direção ao semáforo. Tanto por não poder esperar mais, quanto por um certo orgulho, o rapaz não iria perder esse carro. Como esperava, o sinal ficou vermelho e o táxi teve que parar, assim como os outros carros. Sesshoumaru colocou o pé para fora da calçada, mas não chegou a terminar o curto trajeto até a porta do carona. Pois quando menos esperava, foi atropelado.

Não, não era uma moto, ou um carro. Nem mesmo uma bicicleta. Algo indefinido, vindo em alta velocidade na direção opostas aos veículos, bateu com tudo nas costas de Sesshoumaru fazendo cair de cara na calçada. O empresário se levantou chocado, o rosto meio sujo de cimento. O impacto nem tinha sido tão forte, só havia caído por ter sido pego desprevenido, mas sentia algo molhado e quente nas costas. Olhou para trás para tentar entender o que tinha acontecido. E espantado descobriu que o que o atingira, uma mulher, ainda estava caída no chão, o cabelo cobrindo o rosto numa cortina escura e um copo completamente destruído, provavelmente o que tinha sujado seu paletó, ainda estava na sua mão.

Sesshoumaru se ajoelhou ao lado da jovem para ver se ela estava bem. E para sua supresa, por trás das mexas compridas e castanhas, reconheceu o belo par de olhos chocolate.
Rin aceitou a mão do rapaz para se sentar.

– Mil desculpas por ter batido no senhor...- a garota finalmente olhou para o rapaz e exclamou supresa- Sesshoumaru!

Rapidamente, largou o copo que estava segurando e tentou arrumar o cabelo caótico. Só para se arrepender em seguida, ao ver alguns fios grudarem nos seus dedos melados.

–Meu chocolate quente... -ela suspirou tristemente olhando para os pedaços retorcidos de plástico como ele tivesse vida- Tinha tomado nenhum gole. Parecia tão gostoso.

–Sinto muito.-Sesshoumaru comentou, apesar dele mesmo ser a verdadeira vítima da história.

Anotou mentalmente o nome na embalagem do copinho. Já tinha um lugar, e uma desculpa para chamá-la para sair ocasionalmente. Sesshoumaru ofereceu um lenço de tecido que ele tinha no bolso, para que ela limpasse a mão. Ela agradeceu com um sorriso. Buzinas indicavam que o sinal tinha ficado verde novamente, e o taxista que parecia finalmente ter notado o rapaz, foi obrigado pelos outros carros a seguir em frente. Mas Sesshoumaru nem prestou atenção nisso, tão distraído que estava com professorinha. Os dois se levantaram, ajeitando as roupas amassadas e empoeiradas. O rapaz tirou o terno cinza chumbo, e como suspeitava uma enorme mancha marrom tornando-o inutilizável.

–Ai, fui eu que fiz isso?-Rin exclamou ao vê-lo dobrar a peça manchada e colocar em cima da maleta de couro.- Me desculpa!

–Tudo bem, acontece.

E estava mesmo. Supreendentemente, ele não estava irritado ou zangado. Mesmo aquele sendo seu paleto de corte italiano feito sob medida favorito. Provavelmente ele não manteria a classe se fosse qualquer outra pessoa senão a Rin. Sinceramente, achava impossível alguém conseguir se irritar com aqueles olhos grandes e brilhantes.

–Deixa que eu levo para lavar.- ela esticou as pequenas mãos para pegar a peça.

–Não precisa, é sério.-Ele falou inutilmente, pois ela já tinha puxado para si.

–Faço questão. É o mínimo que eu posso fazer depois dessa burrada.

Sesshoumaru pensou um pouco e concordou por dois motivos. Primeiramente, apesar de conhecer a jovem a pouco mais de uma semana era fácil perceber pelo jeito que ela apertava o terno dobrado contra o peito, que ela não iria desistir da ideia. E segundo, que o fez esboçar um quase imperceptível sorriso, é que assim ele teria um motivo mais concreto para visitá-la na escola, sem precisar ter que dar um sumiço nas sapatilhas da Aiko.

–Então, onde você estava indo com tanta pressa?- Sesshoumaru perguntou enquanto caminhavam na direção oposta à que ele mesmo deveria ir.

– A escola de balé. Tenho uma turma agora de manhã e...

Ela parou subitamente com expressão assustada, então sem pedir licença, levantou o braço do rapaz em que estava o relógio de pulso para ver as horas.

–... E eu estou terrivelmente atrasada!- ela choramingou olhando desolada para a estrada.- Nem dá mais tempo para pegar o ônibus.

–Eu até te ofereceria uma carona, mas como vê, excepcionalmente hoje estou a pé. Podemos pegar um táxi juntos se a senhorita quiser.

–Vou acabar te atrasando...- ela falou ainda desanimada.

–Já estou praticamente atrasado. Eles sobreviverão alguns minutos sem mim.

Não deixava de ser verdade. Os funcionários continuariam vivos e intactos, mas ele não poderia dizer o mesmo da empresa com Jaken no comando da reunião que aconteceria em dez minutos.

–Tive uma ideia!- o rosto da garota se iluminou- Nós dois podemos chegar a tempo!

–Como? -Sesshoumaru levantou uma sobrancelha incrédulo. A não ser que a garota tirasse um jet back ou dragão alado de dentro da bolsa, era pouco provável que chegassem a tempo.

–Pegando o metrô! A estação fica logo ali, vamos chegar mais rápido do que se tivéssemos uma dragão alado de duas cabeças!

A garota o agarrou pela mão, e deixando nenhuma outra alternativa para Sesshoumaru a não ser continuar movendo os pés enquanto era arrastado pela determinada professorinha de ballet.

Rin tinha razão. A estação do metrô fica bem perto, e mesmo com pernas pequenas, a garota era bem rápida quando estava com pressa. Em um minuto já estavam comprando os bilhetes.

–Minha estação é um ponto antes da sua.-A garota comentou com a cara grudada ao pequeno mapa enquanto desciam as escadas rolantes.- Aqui diz que os metrôs chegam de dez em dez minutos. Temos que pegar o primeiro que aparecer.

Sesshoumaru balançou a cabeça concordando. Em silêncio, se perguntava o que raios estava fazendo ali. Nunca tinha andado de metrô na vida. Não que tivesse alguma coisa contra o transporte público, até achava interessante por conta de todo o benefício ambiental com a diminuição de emissão de gás carbônico, e todo esse papo ecológico. Mas convenhamos, é muito difícil imaginar o quase aristocrático Sesshoumaru amassado junto com um bando de desconhecidos dentro daquela lata de sardinha móvel. Alheia a todo o conflito interno no jovem empresário, Rin agarrou sua mão e literalmente pulou dentro vagão, sem deixar-lhe outra alternativa a olhar desesperançoso as portas se fecharem atrás de si.

–Estranho... -a garota comentou um tanto desanimada-Essa hora não costuma ficar tão cheio assim.

Sesshoumaru olhou em volta. Era um pesadelo criando vida. Não tinha pessoas suadas e mal vestidas como esperava, porém estava tão cheio que não dava para dar um único passo. Não dava para ver as janelas e portas e isso deixava o rapaz ligeiramente incomodado. Algumas pessoas que se sentem desconfortáveis em lugares fechados chamam isso de claustrofobia. Mas não era o caso deste Sesshoumaru. Ele não tinha medo de nada, seria um completo absurdo pensar o contrário. Era apenas um leve desconforto, que naturalmente o ser humano sente quando não consegue encontrar uma saída. É uma reação biológica, é claro.

Sesshoumaru respirou fundo e fechou os olhos por um instante. O vagão começou a se movimentar, e ele esticou uma das mãos com resignação para segurar num ferro que fica preso no teto. Então duas mãos receosas seguraram sua cintura por um instante, soltando em seguida. O rapaz voltou a abrir os olhos e encontrou Rin a pouquíssimo centímetros de distância dele. As maçãs de seu rosto estavam ruborizadas, os cabelos caindo de forma desordenada pelos ombros. Aquele conjunto adorável o fez esquecer por um instante que estava enclausurado num compartimento de metal se movimentando a uma velocidade provavelmente fatal.

–Desculpe- Ela murmurou ainda envergonhada- Mas eu não tenho onde me segurar... O senhor se importaria se...?

Era verdade. Para alguém como Sesshoumaru era fácil se apoiar em um dos "ferros" mais altos, mas para a pequena Rin isso era impossível. Os "ferros" mais baixos, colocados na vertical ou estavam distantes ou já tinham sido ocupados por pessoas igualmente baixas.

–Faça o que quiser, Rin- Sesshoumaru comentou com certa indiferença, no intuito de demostrar que não havia motivo para se envergonhar.

Ela sorriu em resposta, e enlaçou os braços na cintura do rapaz, como num estranho tipo de abraço. Sesshoumaru então pode voltar a fechar os olhos. O desconforto com o passar das estações foi desaparecendo. A princípio ele acreditou que era pelo fato de estarem cada vez mais perto do seu destino, mas quando Rin se despediu para descer apresada em sua estação ele percebeu que estava errado. A calma vinha de duas pequenas mãos em suas costas, e de um delicado perfume de lírios e frutas silvestres que ainda conseguia sentir em sua camisa.
Um sorriso se formou em seus lábios sem que ele notasse.
Somente a Rin para convencê-lo de que valeu a pena levantar da cama naquela manhã azarada.

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Isso era loucura. Definitivamente os caóticos balanços do quase gagá Myoga, as reuniões de marketing com afetado Jackotsu que aprovava sem nem pensar duas vezes qualquer projeto do idiota do Inuyasha, tinham em conjunto acabado com sua sanidade. Porque outra razão estaria ele, Sesshoumaru, entrando num metrô por livre e espontânea vontade? De certo, o aquecimento global era ainda mais perigoso que os gráficos ilustravam nos jornais diários e seus pobres e sensíveis neurônios derreteram antes das calotas polares.

De qualquer forma, o real motivo que fazia Sesshoumaru deixar o carro recém concertado na garagem e estar descendo novamente aquelas malditas escadas rolantes rumo ao inferno sob trilhos, tinha nome e sobrenome. Rin Higurashi. Quase duas semanas inteiras tinham se passado desde que se despediram na estação. O trabalho mais uma vez não tinha lhe dado trégua e por um deslize imperdoável, Sesshoumaru não tinha perguntado número do seu celular, nem mesmo um email. A professora acabou entregando o paletó limpo pela mãe das gêmeas que ela ensinava ballet.
Fato que lhe desagradou muitíssimo. Afinal, não só tinha perdido a perfeita desculpa para visita-la, como tinha que encarrar o olhar cheio de perguntas da nada discreta e fofoqueira Sango.

Os dias foram se passando e ele teve que chegar a esse ponto: Apelar para o destino.
Confiar que a misteriosa força que governa a aleatoriedade dos eventos cotidianos, lhe daria uma ajudinha. Tinha lançado suas fichas, pegando o metro na mesma estação, na mesma hora.

Entrou determinado em um dos vagões, e reparou que dessa vez não estava tão cheio como outrora. Apesar de ter muitas pessoas em pé, dava para andar sem precisar derrubar alguém. Sesshoumaru olhou em volta desanimado. Nem sinal da pequena professora.
De fato, pensava, essa tinha sido a ideia mais idiota que teve na vida. Era claro que ela não estava ali. Rin mesmo tinha comentado que costumava pegar ônibus para ir para a escola de ballet; o metro tinha sido uma exceção por conta do atraso.
Mas quando se virava para descer na primeira estação, ouviu uma conversa vindo dos fundos da cabine.

–Muito obrigado por segurar nossas mochilas!

–Por nada! Mas tem como me avisar quando chegar na estação Honekui?

Sesshoumaru olhou em direção da voz familiar e quase riu. Escondida embaixo de pelo menos dez mochilas e bolsas diferentes, um par de pernas balançavam animadamente, pequenas demais para encostar no chão.

–Bom dia, Rin.- o rapaz falou ao se aproximar da montanha ambulante de acessórios.

–Senhor Sesshoumaru!- Ela sorriu com os olhos, pois a boca estava coberta por uma pasta estilo carteiro cheia de bottons de anime.

–Deixe-me adivinhar. A senhorita perdeu a hora de novo, resolveu pegar o metrô, achou uma vaga para ir sentada, no entanto um grupo de estudantes chegou e muito gentilmente, a senhorita ofereceu-se para segurar seus materias esquecendo-se do fato de que só possui dois braços?

A garota gargalhou, um som maravilhoso como um tintilar de sinos cortou o ar acima dos murmurinhos no vagão. Sesshoumaru gostou disso mais do que deveria.

–Pode se dizer que sim.- Rin admitiu- E o senhor? O que faz por aqui?

“Tentando a sorte para ver se te encontrava aqui. E não é que deu certo? Me lembre de passar num templo para agradecer minha boa fortuna”- Sesshoumaru pensou, mas respondei simplesmente:

– Ir de metrô é mais rápido.

Ficaram conversando por alguns minutos, até que os estudantes tiveram que desenterrá-la debaixo das mochilas, pois sua estação se aproximava. Rin ajeitou os amassados de sua saia preta. Estava completamente pronta para a aula, usando um delicado collant rosa, e os cabelos bem presos num coque no topo da cabeça. Mas antes de se dirigirem a porta, a garota exclamou.

–Minha bolsa!

Não tinha nada no lugar que ela estava sentada, porém a professora reconheceu a grande bolsa tiracolo com flores de tecido e com os dizeres: Keep Calm and Be a Baillerina. Estava no braço de uma mulher de longos cabelos negros e profundos olhos azuis, que estava sentada ao seu lado.

– Com licença, senhora.- A garota começou.- Achou que essa bolsa é minha.

– Está maluca, garota? - Ela olhou com desprezo brilhando nos seus olhos azuis- Essa bolsa é minha!

–Mas senhora, acredito que se confundiu.- A garota insistiu, sinceridade e inocência na mesma medida em cada sílaba.- Essa bolsa é minha, tem até um rasgadinho no canto, quando eu tropecei na rua na semana passada.

A mulher apenas agarrou mais a alça em resposta, decidida a ignorar os protestos da professora. Sesshoumaru decidiu então, interferir.

– Se a bolsa é mesmo sua, porque não prova para todos nós? -as pessoas no vagão que murmuravam cada vez mais alto se silenciaram ao ouvi a voz grave do empresário.- Mostre seus documentos.

–Não sou obrigada a provar nada para cada maluca que me parece!- a mulher sibilou cada vez mais arrisca.

–Se não quer mostrar seus documentos. Porque não me diz algo que tem na bolsa, algo que possa mostrar para todos. A não ser, é claro, que a senhora prefira que saíamos os três rumo a delegacia mais próxima para resolvermos conforme a lei, esse terrível mau entendido.- Sesshoumaru pressionou, uma nota de sarcasmo suavizando a clara ameaça.

–Tem coisas de mulher, oras! - a mulher pressionou os lábios ao ver que a reposta não convencera. E depois de uma rápida olhada para Rin, que não passou desapercebido por Sesshoumaru ela concluiu. – Tem um par de sapatilhas de balé!

– Como você sabe?- Rin comentou impressionada com a habilidade da “pilantra”. Mas era um chute completamente obvio levando em consideração as vestimentas da professorinha.

– Certo.- Sesshoumaru respondeu impassível. Tive uma ideia que iria acabar com os planos da oportunista- Poderia pegá-las por gentileza?

A mulher ao ver que nem ele, nem nenhuma das pessoas que observavam atentamente a confusão lhe davam outra escolha, ela abriu o zíper e pegou um par de sapatilhas de ponta cor de rosa.

– Agora calce-as.

–O que?- a mulher exclamou chocada.

– Se tudo que a senhora disse é verdade, as sapatilhas que estão na “sua” bolsa, vão caber perfeitamente em seus pés. Afinal, também é uma bailarina, não é?

–Isso é um absurdo!- a mulher se levantou irritada, com a intenção de sair do vagão na próxima estação- Não vou ficar aqui nem mais um minuto!

–Ah, mas você não vai sair daqui mesmo!- A estudante que tinha agradecido a Rin por ter segurado sua mochila falou.- Galera, cerca as portas! Não podemos deixar essa ladra sair!

O grupo de estudante se dividiu entre as seis portas do vagão, levando a sério a ordem do colega. Ou apenas se divertindo com a situação inusitada. É sempre difícil saber quando é brincadeira ou verdade vindo de um adolescente.

Rin se sentou no banco novamente, tirando seus próprios sapatos. A garota tinha um senso singular de justiça, e acreditava que se a mulher teria que passar pelo teste para provar sua legitimidade com a posse da bolsa, ela também o teria que fazê-lo.

A mulher olhou transtornada para o motim que se formava contra ela. Sesshoumaru não entendia o porquê de alguém furtar alguma coisa. Mas era perceptível que a mulher tentara se aproveitar da distração da professora, achando que ia levar a melhor e acabando por se enrolar em mentiras. As sapatilhas eram notavelmente muito menores que os seus pés, e tentar coloca-las assinaria seu atestado de “ladra”.

Quando o vagão parou na estação Honekui, a mulher num surto, largou a bolsa e jogou as sapatilhas no chão. Então mais rápido do que se tivesse demônios do inferno mordendo seus calcanhares, ela driblou os estudantes e saiu instantes antes das portas de fecharem novamente.

Rin pegou a bolsa de volta, piscando em choque. A garota de cabelos muito curtos e que “liderava” o grupo deu cascudos nos dois meninos que estavam na portada em que a mulher saiu.

–Vocês são muito burros! Não conseguem fazer nada direito!

–A culpa não é minha se Ginta é lerdo como uma lesma!- O garoto usando um exótico moicano reclamou.

–Eu é que não tem culpa do Hagaku ser burro como uma porta! - o outro garoto reclamou em resposta e os dois começaram a discutir entre si.

–Deixa eles, Yuka. Nem adianta se estressar.- Uma garota de cabelos estilo Chanel aparou a “líder”, junto com uma outra garota de cabelos cacheados.

Sesshoumaru, ignorando o alvoroço adolescente, pegou as pequenas sapatilhas do chão, enquanto Rin, distraída, verificava se estava faltando alguma coisa em sua bolsa. Uma ideia passou pela cabeça do rapaz ao ver seus pés ainda descalços. Aquela situação era de todo extraordinária, mas tinha um detalhe que lhe era familiar. Como se de repente, as forças que controlam as aleatoriedades dos eventos cotidianos o tivessem colocado dentro de um estranho conto de fadas moderno. Apesar de ser clichê, Sesshoumaru aceitou seu roteiro nessa história, e cumpriria seu papel de bom grado para garantir que seu final seria o mesmo daquele profetizado pelos irmãos Grimm.

Com cuidado, ele desamarrou a delicada fita de cetim. Então agachou-se, um dos joelhos servindo de apoio no chão. Rin encarou-o surpresa, seus olhos formando perfeitos círculos, e seu rosto tingido por uma adorável cor avermelhada.
–Com sua permissão...?- Sesshoumaru indagou e ao vê-la balançar a cabeça num tímido acordo, ele colocou uma das sapatilhas em seu pé direito.

–Perfeito.- Ele constatou em voz alta, mesmo já sendo óbvio para todos os presentes de que aquele calçado pertencia a jovem.

Rin sorriu abertamente, o som de sinos novamente cortando o ar. Era fácil se distrair com o encanto da jovem. E provavelmente Sesshoumaru teria perdido a noção do tempo, se os estudantes não tivessem gritado um sonoro “AEEEEEEEE!”, seguido de assobios e palmas.

–Ai que romântico!- a garota de cabelos cacheados suspirou.

– Menina sortuda essa, hein! Quem dera eu com um gato desses!- Yuka pensou muito mais alto do que deveria.

– Pera aí. Sapatinho, garota com os pés pequenos, uma mulher malvada... –Ginta coçou o queixo pensativo por instante, depois gritou animado- Acho que intendi a referência!

–Você e metade do planeta, Capitão Óbvio!-Hagaku rolou os olhos- É lerdo nas pernas e na cabeça!

–Não é Capitão obvio, é Capitão América, seu burro! E seu eu não falasse nada, você também não teria entendido!

Os dois continuaram discutindo quando Sesshoumaru e Rin desceram do metrô. Depois de muita insistência, a garota concordou em pegar um táxi com ele para fazer o caminho de volta, já que tinham se passado muitas estações das de ambos. O trajeto até a escolhinha foi demasiado curto na opinião do Sesshoumaru. Em poucos minutos de conversa, ou melhor, de quase um monologo da professorinha; que ao mesmo tempo anotava alguma coisa no caderno e falava sem perder o foco; eles já estavam em frente aos portões da academia de dança.

Antes de descer, Rin rasgou a folha em que escrevera durante a viagem e entregou o pequeno papel cuidadosamente dobrado para Sesshoumaru.

–Para o caso de você precisar de ajuda também, com alguma louca no metrô.- Rin comentou com um sorriso- Ou sei lá, precisar de uma “guia de transporte público”.

–Claro.

O carro seguiu viagem, e só depois de ver a garota desaparecer dentro do prédio, Sesshoumaru abriu o pequeno retângulo de papel em suas mãos. Escrito com letras firmes e ligeiramente inclinadas, havia o nome e o telefone da professorinha. Seguido de uma curta mensagem que conseguiu arrancar uma gargalhada do, sempre sério Sesshoumaru.

“Obs: O senhor acertou apenas em parte o porquê de eu estar naquele vagão hoje. A verdade é que desde aquele incidente na semana passada, eu tenho pegado metro na mesma hora e na mesma estação todos os dias, na esperança da gente se esbarrar de novo. Ideia mais idiota do mundo, eu sei, mas por sorte funcionou. Ai está o meu número para a gente parar de abusar do destino. Copos de chocolate quente e paletós cinzas agradecem.”

Sesshoumaru salvou o número em seu celular, e guardou cuidadosamente o papel na sua pasta. Rin não precisaria se preocupar pois Sesshoumaru nunca foi de acreditar em besteiras como sorte, azar ou destino. Seja o que for que tenha lá encima, ele estava profundamente grato pelo empurrãozinho. Mas dali em diante, Sesshoumaru não seria mais um brinquedinho nas mãos da misteriosa aleatoriedade. Podia seguir com as próprias pernas. E dependendo dele, eles se encontrariam muito antes do que Rin esperava.


“Quando sou brinquedo
Me dão corda sem parar.
Se a corda não acaba
Eu não paro de dançar.”


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Notas finais do capítulo

E ai, gostaram?
Meu irmão em off diz que em tenho uma cisma com Sesshoumaru e gosto de fazer ele sofrer nas minhas fics.
Mandou até eu fazer uma análise, para saber se eu não estou projetando minha raiva sei lá, do Naraku, no "pobre coitado".
Eu acho que sou um anjo, vocês não concordam? *olhinhos brilhantes"
Nos vemos nos próximos capítulos!

Beijos e Borboletas Azuis!

Obs: Quem quiser dar uma olhada eu tenho outras fics/oneshots de Inuyasha. E só clicar em é só clicar no meu nick lá em cima e se divertir enquanto eu termino de escrever o próximo capítulo dessa... #momentopropaganda #vaiquecola

Obs2: Muito obrigada especial para os lindos comentários no capítulo anterior de Lukkan, Jannie sama, Vicky Scarlet e liliansantos! Muito obrigada mesmo, reli os reviews de vocês umas mil vezes enquanto digitava esse capítulo! *--*



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