Quatro meses antes,

Academia St. Nicholas para Garotas e Garotos

Sr. Turner, o professor de trigonometria, nos entregou o teste surpresa da semana passada corrigido e eu fiz uma cara pior do que a de quem acabara de comer um prato extremamente ruim. Ok, não é que eu não tenha estudado, eu estudei, ou ao menos realmente tentei estudar. Mas, de algum jeito, não consegui resolver nada daquele estúpido teste. Nas aulas, eu entendia parcialmente as questões que ele resolvia e achava que estava, na melhor das hipóteses, dominando 70% do assunto. Porém, aqui e agora, encarando o grande D- que havia sido rabiscado de vermelho no topo da minha prova, percebi que eu não sei metade do que achava que sabia. Ou seja, estou completamente e com todas as letras fudida em matemática — e não era pela primeira vez. Com notas assim, eu não pisava nem no jardim de Harvard.

— Senhorita Chase? — ele me chamou de seu birô quando eu já estava saindo da sala.

— Sim, senhor?

— O que está acontecendo?

— Perdão? — me fiz de desentendida tentando me livrar do sermão. Ok, um D- já era humilhação o suficiente pra mim.

— Sua nota. Você nunca foi aluna de tirar D-. O que está acontecendo?

— Eu não sei — respondi simplesmente, e era verdade — Não consegui fazer a prova.

— Bom, vocês ainda vão ter chance de recuperar essa nota... Mas que tal um grupo de estudos?

— Grupo de estudos? — repeti.

Nunca fui a melhor pessoa para estudar em grupos, ou aceitar muita ajuda, ainda mais se for de pessoas que não falo constantemente. Fiz um ping pong em minha cabeça. Harvard. Orgulho próprio. Harvard. Orgulho. Harvard. Orgulho.

Harvard.

— Quem seria o grupo? — perguntei pro Sr. Turner.

— Encontre-me aqui na sala antes do almoço.

Assim que o sinal tocou, caminhei o mais rápido possível até a sala do Sr. Turner para ver quem era que iria me ajudar. A porta estava entreaberta e eu pude ver que ele se encontrava sentado em seu birô. Caminhei até lá sem reparar muito na presença de alguns alunos conversando no fim da sala.

— E então? — perguntei me aproximando.

— Ah, sim, senhorita Chase — ele notou a minha presença e então virou-se para o grupo de alunos, os chamando — Meninos, por favor?

Notei que o grupo era composto de quatro alunos, que eu conhecia bem: Thalia Grace, com seus olhos azuis constantemente contornados de preto e as saias xadrez do uniforme um pouco menores que o normal, acompanhada de Percy Jackson, que me encarava através de seus olhos verdes, ao lado de Nico di Angelo e Luke Castellan, ambos com os ternos jogados em uma cadeira e os braços cruzados frente ao peito. Os quatro eram uns dos alunos com as melhores notas de toda a Academia St. Nicholas para Garotas e Garotos, e faziam, assim como eu, o último ano do Ensino Médio. Deus sabe como, mas eles sempre conseguiam notas excelentes, não importasse a matéria. O quarteto se aproximou e Sr. Turner começou a falar.

— Bom, meninos, a senhorita Chase está tendo um pouco de dificuldade em trigonometria e eu pensei que talvez os senhores podiam ajudá-la na matéria. Pode ser?

— Com certeza — Percy pronunciou após uma breve troca de olhares com os amigos.

— Ótimo. Era só isso, obrigado por virem.

— Disponha. Anh, Annabeth Chase, não é mesmo? — o moreno dos olhos verdes perguntou e eu assenti — Por que não se junta a gente para o almoço? Assim podemos conversar melhor.

— Claro — respondi simplesmente e depois os segui em direção ao refeitório.

Os quatro iam a frente, conversando entre si, e eu atrás, pegando apenas pedaços da conversa. Devo dizer que os pedaços que ouvi não foram muito bons. Eram coisas como tipo “Vocês realmente acham que ela faria isso?”, “A gente nem conhece ela direito”, “Que outra opção temos?”, “Mas é muita coisa pra confiar nela”, “Eu acho que a gente não devia confiar tanto assim nela logo de cara”. Ok, isso não são coisas que melhorem o meu dia.

— “Ela” consegue ouvir vocês — eu disse depois de um tempo, quando entramos no refeitório — Se não querem me ajudar, tudo bem, eu vou ficar bem sem essa esplendorosa ajuda. Mas não precisa ficar falando coisas assim de mim.

— Oh, não é o que você está imaginando — Nico tentou explicar e procurou lugares mais afastados no banco da grande mesa do salão. Assim que achou, sentamos todos.

— Nós podemos te ajudar, claro. Se você quiser. É que... — ele começou.

— Vamos ser francos com você — Luke completou.

— Mas pra isso precisamos ter certeza que você não vai contar 1% do que vamos te dizer — Thalia continuou. Os quatro sempre faziam isso, completar as frases um do outro?

— Então? — Percy perguntou pra mim, esperando que eu jurasse não contar nada.

— Ok, não contarei — respondi cautelosa, franzindo o cenho — Promessa.

— Certo — Thalia disse e olhou por uns instantes para os amigos. Eu tinha certeza, pelos olhares e expressões faciais que eles estavam ali, sem nenhuma palavra, debatendo muitas coisas.

— A verdade nua e crua é que — Percy começou, concluindo minha teoria que sim, eles completam as frases uns dos outros.

— A gente, basicamente, cola nas provas — Luke terminou e todos me encararam em silêncio por alguns segundos.

Eu fiquei calada por um instante e depois soltei uma risada seca.

— Vocês só podem estar brincando... — e eles negaram com a cabeça — Não? Então quer dizer que vocês tiram essas notas fodas, colando, sem estudar porra nenhuma? Enquanto tem gente que quebra a cabeça com os livros e mesmo assim não consegue notas boas.

— Não é bem assim — Nico disse — Nós estudamos. Em parte.

Eu arqueei as sobrancelhas claramente desconfiada.

— Estudamos sim — foi a vez de Luke explicar — Realmente estudamos em partes. Estudamos o que vamos usar no futuro. É só que achamos injusto eu, que quero fazer um curso de exatas, ter que passar meu tempo estudando uma matéria que não vou usar na minha profissão. Então, dividimos. Thalia, que quer fazer direito, estuda história, eu e Nico queremos engenharia, então eu fico com a física e ele com a matemática, e Percy quer medicina, então estuda biologia.

— Então vocês são os justiceiros do ensino? — zombei.

— Tá vendo? Sabia que ela não ia concordar — Thalia disse pros amigos.

— Concordar com o quê? — perguntei.

— Então, aí vem a segunda parte — Percy começou — Você é boa em química, né? Sabemos que você é. O fato é que tínhamos nosso cara da química, mas ele teve que sair do colégio. Então, há um tempinho vínhamos querendo falar com você, e achamos que essa fosse a oportunidade perfeita. O que você acha? Aceita?

— Está perguntando se eu aceito participar de que quer que seja que vocês façam nesses esquemas?

— Sim.

— Se você não quiser, ainda posso te ajudar em matemática. Como o Luke disse, essa área eu realmente estudo. Mas, se você quiser... Sei lá, seria ajuda mútua — Nico se pronunciou.

Eu encarei a mesa de madeira por um tempo.

O que eu faço?

Colar e passar? Não colar e me fuder? Colar e no final ser descoberta, e acabar me fudendo do mesmo jeito?

— Vocês têm absoluta certeza que não seremos descobertos?

— Bom, ninguém descobriu até agora — Thalia me respondeu dando de ombros.

— E aí, você tá dentro?

Mordi o lábio inferior, ainda indecisa. Encarei os quatro a minha frente, sem saber o que fazer.

O que fazer?

Pensei por mais alguns instantes, respirei fundo e respondi:

— Sim, eu estou.

Ok, agora a merda estava oficialmente feita.