Simples Desejo escrita por Nah


Capítulo 8
Capítulo 8


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura!!



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Despedimo-nos dos últimos convidados. Havia aproveitado cada oportunidade e desculpa possível para não ficar muito tempo a sós com Alexandre. Ele não estava planejando fazer comigo... aquilo, estava?

O observo enquanto está dando ordens aos criados. É extraordinário como ele consegue ser calmo e tão autoritário ao mesmo tempo. Pergunto-me vagamente onde ele aprendeu isso, ao mesmo tempo em que percorro meu olhar desde seu sapato até seu cabelo, me demorando um pouco mais em seu rosto.

– Contemplando seu marido? – sobressalto ao notar Margaret próxima a mim. Sinto meu rosto queimar, e não sei o que responder. Por que sempre sou pega quando estou olhando para ele?

Ela continua. – Ele nos liberou o resto da noite. Nem vamos precisar arrumar a bagunça hoje, só para deixar vocês a sós.

Margaret tem um sorriso matreiro nos lábios, enquanto meu pavor aumenta em níveis incalculáveis. Agarro o braço de Margaret. – Não vai. Fica aqui na casa, por favor.

Posso precisar de socorro.

– E atrapalhar a noite de vocês? É claro que não.

Ela continua sorrindo, e sei que está se divertindo com meu espanto. Soltando-se de meu aperto, começa a se afastar, enquanto continuo implorando para que fique.

– O que quer com Margaret? – salto de susto outra vez com Alexandre atrás de mim. Recuo um passo, como um animal assustado.

– Nada... Hã... Apenas não estou me sentindo muito bem, queria saber se ela tem algo para me ajudar. Mas já que ela não pode ficar, acredito que terei que repousar.

Alexandre ri, uma alta e sonora risada. – Acredito que tenho a solução para seu problema então.

E agarrando minha mão, começa a me conduzir em direção à escada. Quero me agarrar a tudo que encontro no caminho, para que o impeça de continuar seu trajeto, mas acredito que já estou envergonhada o suficiente. Por Deus, só dei um beijo em toda minha vida, o que eu sabia sobre sexo?! Ainda mais com Alexandre, que me fazia queimar de vergonha da cabeça aos pés.

Quando estamos quase no topo da escada, noto que ele ficou muito serio e calado de repente.

– Por que está tão calado?

Alexandre olha para trás, seus lábios se desenrolando em um sorriso perverso.

– Não vejo a hora de tirar esse vestido de você.

Mas o que...

– Preferia que não tivesse dito nada. – praticamente sussurro. Meu rosto deve estar vermelho escarlate.

Sei que ele está rindo de mim e que pareço uma tola a seus olhos, mas agora não consigo nem lembrar meu nome. Acredito que irá para seu quarto, mas me surpreendo ao notar que vamos para o meu. Decido não comentar nada sobre, já que da ultima vez falar não deu tão certo.

Alexandre abre passagem para que eu entre, e quando estamos os dois dentro do quarto, ele fecha a porta atrás de si, sem tirar os olhos de mim. Por que ele não para de sorrir?

– Sente-se na cama. – e é uma ordem. Admiro-me ao perceber que não estou congelada no lugar e que meu corpo responde. Em seguida estou sentada, tão próxima à cabeceira que pareço querer entrar nela.

Caminhando devagar, Alexandre senta-se na outra extremidade, longe de mim. Franzo o cenho, sem entender por que ele não está fazendo nada. Então, desata a rir.

– Pode ficar sossegada, não irei fazer nada. A menos que você queira.

– Como assim não irá? E todas aquelas... hã... coisas que falou?

– Eu gosto de me divertir a suas custas. – o encaro mortificada. Agarrando um travesseiro, lanço contra ele, o fazendo rir mais. – Por que está brava? Você queria?

E o cretino ainda continua motejando-me. Lanço o outro travesseiro.

– Não há graça alguma em deixar-me nervosa.

Quando finalmente para de rir de mim, Alexandre agarra um dos travesseiros, e deitasse à cama.

– Só quero passar um tempo contigo.

O encaro desconfiada, mas aos poucos vou cedendo o muro. Ele devolve meu olhar, e – como já virou rotina – ficamos assim por diversos segundos.

– Por que se casou comigo? – pergunto finalmente, quebrando o silencio.

– Para protegê-la.

– Do que?

– Do idiota do Fretcher.

Respiro fundo, tentando não me manter na defensiva. Realmente estamos precisando ter uma conversa seria e madura, sem ataques.

– Eu pensei sobre isso, antes de dizer o sim. Que iria te dar uma oportunidade de me contar o que realmente está acontecendo. E eu espero que você tenha um bom motivo para tudo isso.

– Eu tenho.

– Então conte-me.

Alexandre nega com a cabeça. – Agora não.

– Por quê?

– Por que irá te magoar. É muito cedo. Você precisa confiar em mim antes.

Suspiro.

– É difícil confiar em um homem que me sequestra e me afasta de tudo, sem mais nem menos.

– Foi preciso, acredite.

– Por que não admite logo que foi pela sua vingança?

– Por que não foi só por isso, Rosie.

– Só estou tentando entender. – dou de ombros.

– Eu sei. – ele olha para mim com carinho, e eu derreto. – Conte-me, sobre como era sua vida antes disso tudo.

Dou uma risadinha, pois meu lado irracional quer gritar para ele que era uma maravilha até ele aparecer, mas parando para pensar nisso, não havia nada de maravilhoso.

– Bem, como eu posso dizer... Eu não vivia, eu sobrevivia. – Alexandre continua a me olhar, encorajando-me a continuar. – Nunca fui bem tratada no orfanato em que cresci, e em que fora abandonada. Cresci com as irmãs tentando cobrir meus olhos, cegar-me para a realidade, para eu não procurar respostas sobre minha vida ou questionar a situação em que vivia, apenas aceitar. Quando fiquei crescida, elas tentaram pôr-me para fora. Mas implorei para ficar, em troca de trabalhar para elas. Não foi de todo ruim, pois me apeguei às crianças.

Enquanto conto, lembro-me de tudo isso com tristeza, esta que desce amarga.

– E o Fretcher?

– Ele me fornecia forças para continuar.

– Nenhuma conversa estranha?

Franzo o cenho para sua pergunta. – Não. Bem, no começo ele era bastante insistente em saber de minha vida, mas nunca houve muito que contar.

Alexandre bufa. – Eu imagino o porquê.

Ignoro seu resmungo, não querendo discutir seu ódio pelo Hugo, e entramos em uma conversa de amenidades. Quando dou por mim, estou deitada ao seu lado. Ele me contra sobre sua vida, mas não há tanta coisa que eu já não imaginasse. Como previsto, ele havia crescido sendo preparado para assumir o lugar do pai. Então, antes que possa parar minha boca parva, já estou perguntando.

– E o seu pai? – Alexandre desvia o olhar do meu rosto para sua mão, e permanece em silencio. – Já conversou com alguém sobre isso?

Ele nega com a cabeça.

– Você sabe quem fez isso? – continuo.

Agora, assente.

E mesmo sem ver seus olhos, sei que há tristeza cravada neles. Então, em um impulso totalmente insano, levo minha mão ao seu rosto, onde ali acarinho. Alexandre não recua, muito pelo contrario, fecha os olhos em um suspiro de puro deleite.

– As crianças sentem sua falta. – ele diz.

Paro o carinho, confusa. Ele volta a me olhar.

– Você disse que elas precisam de você, então acreditei que seria útil fazer algumas doações. Sabe, para ajudar. – fico sem reação. Ele realmente fez isso por mim?

Alexandre levante-se, fazendo minha mão que estava sobre seu rosto cair desajeitada na cama.

– Bom, vou deixa-la descansar.

O acompanho até a porta, ainda sem saber o que verdadeiramente dizer.

– Boa noite, Rosie.

– Boa noite, Alexandre.

Quando finalmente abro minha boca para agradecer por seu ato, ele já está porta afora. Permaneço parada junto a ela, tentando processar e entender quais são as verdadeiras intenções desse homem. Então, algum sentimento desconhecido para mim me arremete, e em seguida estou abrindo a porta com afogadilho. Surpreendo-me ao notar que Alexandre ainda está ali, parado. Porém não tenho muito tempo para processar isso.

Caímos nos braços um do outro, sua boca na minha, nos beijamos com sofreguidão. Minhas mãos voam para seus ombros, deslizando e apertando no trajeto até seus cabelos macios. Suas mãos repetem as ações das minhas, mas em minha cintura, costas, nuca. Sua boca avida na minha, parece procurar algo e não encontrar, ter e isso só o fazer querer mais. Sou a primeira a me afastar, já sem encontrar ar.

Estamos ambos ofegantes, com os lábios inchados pela loucura de segundos atrás. Encaro suas íris azuis voltadas para mim, ao mesmo em que ele lentamente me solta.

Então, se vai.

*

Queria poder dizer que dormi bem. Mas a cada vez que fecho o olho, a imagem do beijo volta a minha mente. Ou melhor, a sensação. Nunca imaginei que beijaria alguém de tal forma. E tudo que eu me perguntava era da onde havia surgido a paixão que fora derramada naquele beijo.

Já amanhecera, e eu finalmente desisto de revirar-me na cama. Levantando-me, vou até meu armário, para escolher um vestido antes de ir para o banho. Mas ao abri-lo, noto que está vazio.

Sem entender nada, desço a escada as pressas, em busca de Margaret – que encontro no jardim.

– Margaret, o que aconteceu com as minhas roupas?

– Olá, menina Rosie. – e ela está sorrindo. Daquele jeito outra vez. – O senhor Herman me delegou a tarefa de levar suas coisas para o quarto dele.

O que?

– Mas por que?

– Vocês são casados oras, devem dormir no mesmo quarto.

Isso quer dizer mais tempo a sós com Alexandre? Oh não.

– Por que está sorrindo assim?

Margaret amplia seu sorriso. – Este é o sorriso de quem está vendo um grande amor nascendo.

Bufo. – Você está enlouquecida.

Ela dá uma risadinha, e então me abraça, este que retribuo com força.

– Bem vinda à família.

*

O quarto de Alexandre é uma versão maior e escura do meu. É inegável que um homem dorme ali. Abstenho-me da curiosidade de mexer em tudo, e sigo para o armário, que é duas vezes maior que meu, e está preenchido em um lado com minhas roupas.

Depois do banho, enquanto penteio meu cabelo, encaro a cama dele, tentando imaginar-me ali dormindo ao seu lado. Assusta-me que não consigo definir o que sinto em relação a isso.

Passo o restante do dia perambulando pela casa e lendo. Nenhum sinal de vida de Alexandre. No anoitecer, sento-me a janela do seu quarto, agora sem a visão do portão principal que tinha do meu quarto. Percebo que estou ansiosa para vê-lo. Ansiedade mesmo, ou será medo?

Ouço a porta se abrir, e lá está ele. Meu marido.

Meu.

Marido.

Acredito que levarei algum tempo para me acostumar com isso.

Ele parece desgrenhado e cansado, mas igualmente lindo. Ao me notar, sorri para mim.

– É exatamente isso que quero encontrar ao chegar em casa. Você.

Dito isso, caminha até mim, e segurando com delicadeza meu rosto entre suas mãos, deixa um beijo casto em meus lábios. Sinto um rebuliço na barriga.

– Você parece cansado.

– Eu estou.

Aguardo nervosamente que ele acabe seu banho. Ele me beijou outra vez, é tudo que consigo pensar. Duas vezes, em menos de 24 horas. É demais para processar.

No jantar, tenho um pouco de dificuldade de olhar em sua direção, ainda mais na que se localiza a sua boca. Alexandre não parece diferente em nada, como se o pequeno passo intimo que demos fosse totalmente normal. E era?

Deito-me desajeitadamente sobre sua cama mais tarde. Permaneço imóvel, sem saber o que fazer. Alexandre ri de mim, mas sabiamente não diz nada. Inclinando-se, alcança algo. Noto ser um livro, quando o deposita em minha mão.

– Leia para mim. – ele desliza na cama, até estar deitado próximo a mim.

Pouco depois de terminar as primeiras paginas de Guerra e Paz, Alexandre está adormecido. Encaro seu rosto, prestando atenção em cada detalhe, no modo como parece jovem e indefeso perdido em seu sono.

E de repente, sinto que estou me perdendo. Daquele tipo de perdição que a gente só se encontra em outro alguém.


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