Simples Desejo escrita por Nah


Capítulo 7
Capítulo 7


Notas iniciais do capítulo

Um pouco de como seria os personagens:
Rosie: http://migre.me/s6hwj
Alexandre: http://migre.me/s6hwM
Hugo: http://migre.me/s6hxE
Espero que gostem, boa leitura!



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Não sei se estou feliz ou triste por estar trancafiada neste quarto por tanto tempo, penso enquanto escovo meus cabelos. Afinal, isso está evitando que eu precise olhar para Alexandre por muito tempo. Estou tão brava com ele, que minha única vontade agora é de transferir-lhe o maior numero de tapas possíveis. Na verdade, quero isso desde o primeiro minuto com ele.

A porta do meu quarto se rompe, e lá está ele outra vez.

– Bom dia, querida. – seu sorriso irônico para mim. Desvio o olhar de volta para o espelho e continuo escovando meu cabelo, concentrando-me em ignora-lo. Ouço sua risada. – Pode ficar brava à vontade, ainda nos casaremos hoje.

Sinto um frio na barriga ao me lembrar de que é o grande dia. Desejei muito não ter acordado hoje ou que o dia de hoje não existisse. Mas, infelizmente, ele existe. E o causador dele ainda está parado à minha porta, observando como eu metodicamente arrumo meu cabelo.

– A senhora Thomas estará aqui em breve para te preparar. Então seja uma boa menina e comporte-se em seu grande dia.

Reviro os olhos e ganho sua risada outra vez. Aproximando-se de mim, deposita um beijo em minha testa e sai, deixando-me surpresa com o pequeno gesto de carinho.

Por que ele está tão feliz?

*

Ando de um lado para o outro pelo quarto, incansavelmente. Nervosismo claro em mim. Eu vou casar.

Ai meu Deus, eu vou casar.

– Irá fazer um buraco no chão se continuar assim. – Margaret está sentada à minha cama, observando-me. Ela tentara me acalmar, sem sucesso.

– Não posso ficar calma. Não consigo. Não posso me casar. Não o amo. Quer dizer... Por Deus, estou enlouquecendo. – levo minhas mãos ao rosto, enquanto Margaret apenas dá risada de meu ataque.

– Precisa ficar calma, para aproveitar este dia.

– Não quero aproveitar, quero fugir.

– Fugir de seu próprio casamento não é muito amistoso.

– Não era nem para eu estar aqui. – digo tão baixo que não tenho certeza se ela me ouviu.

Há um toque na porta, e um dos criados da casa surge quando a abro.

– A senhora Thomas está aqui. – ele anuncia. Olho desesperada para Margaret, que sorri apaziguadora para mim. Levantando-se, ela arrasta-me para o andar de baixo.

Eu tento resistir, mas ela não cede. Não consigo me livrar da sensação de que estou indo para um julgamento, que me casar com Alexandre me fará mais presa ainda. Enquanto desço a escada, meu braço entrelaçado ao de Margaret – acredito que ela está se certificando de que não irei fugir –, lembranças com Hugo me vem à mente. Nossos encontros às escondidas, o modo como ele me cativava cada vez mais. Ao pensar nisso, sinto um frisson de abandono. E se ele não estiver me procurando? Se seguiu sua vida, independente de mim? “Ele não te ama, acredite em mim” a voz de Alexandre me vem à cabeça.

– Aí está você. – sou recebida pela senhora Thomas com o seu jeito exasperante. Dou-lhe o melhor sorriso que consigo.

Sou conduzida de volta para meu quarto. Depois de um longo banho, sou cercada por Margaret e a senhora Thomas, que começam a mexer aqui e ali para me arrumar. Olho para meu vestido sobre a cama, pela primeira vez não escolhi algo tão simples. Ele é grande, longo e com muita renda, bordado e brilho. Um vestido digno de uma princesa, do jeito que eu sempre sonhei em usar. Pelo menos essa parte de mim está satisfeita.

Um puxão no espartilho, meus pensamentos são cortados e estou momentaneamente sem ar. Dali em diante são meias, sapatos, apetrechos que parecem não acabar. A senhora Thomas prende meu cabelo em uma longa trança, repleta de pequenas flores brancas, para combinar com o vestido. Quando estou prestes a vesti-lo, a porta é rompida de supetão e Alexandre está ali. Em seu terno branco, não consigo encontrar nenhuma palavra para defini-lo, apenas perfeito.

Meus olhos não desgrudam dele, e nem os dele de mim.

– Ei! Não pode ver a noiva antes da hora. – Margaret expulsa Alexandre do quarto, fechando a porta em seguida, que enfim quebra nosso olhar.

– Ande logo com isso. – ele grita do outro lado, me fazendo sorrir e Margaret revirar os olhos.

*

Estou parada em frente ao salão onde ocorrerá a cerimonia. A cada minuto que passa, sinto o frio na barriga se intensificar. Lá dentro está Alexandre, assim como todos os convidados. A família Herman, amigos, políticos e tantas outras pessoas, eu nunca havia visto tanta gente em um só lugar, e isso não ajudava nada com o meu nervosismo. Alexandre realmente não havia medido esforços nos preparativos desse casamento. Não havia um cômodo do andar de baixo do casarão que não estivesse decorado.

– O tio do senhor Herman já está chegando. – Margaret surge ao meu lado. Ele parece incrível em seu vestido azul de festa.

– Creio que irei desmaiar antes.

O tio de Alexandre havia se prontificado para levar-me até meu noivo e o padre. Meu noivo. Novamente imagens de Alexandre em seu terno perfeitamente alinhado enchem minha mente.

– Rosie. – desperto de meu transe, para encontrar um homem a minha frente. Ele parece ter a idade de Margaret. – Sou John Herman, tio de Alexandre.

Oh, isso quer dizer que...

John ergue seu braço para mim, em sinal de que devo pega-lo. Hesito um pouco, mas, por fim, cedo, certa de que ninguém entenderá meus dramas. A porta do salão é aberta, uma musica suave começa a vir de algum lugar, atraindo a atenção de todos para mim.

Aperto o braço de John com mais força do que deveria, tentando me controlar. Sou fulminada pelo olhar de todos enquanto caminho em direção a Alexandre. Consigo, felizmente, não tropeçar em meus sapatos. Quando sou entregue a ele, há um sorriso em seus lábios. O olhar perdido, parecendo maravilhado com algo.

Não ouço quase nada que o padre diz ao longo da cerimonia. Digo o que devo dizer quase mecanicamente. Minha cabeça está em outro plano dimensional, meu olhar alternando entre o senhor de barba longa a minha frente e o saracotear do fogo da vela que tenho em minha mão. Quando então dou por mim, o famoso aceita ou não aceita está no ar.

– Sim, eu aceito. – Alexandre responde ao padre. O encaro e ganho seu olhar de volta. Ele está muito serio, daria tudo para saber no que está pensando.

Quando a pergunta é dirigida a mim, eu congelo. Perdida novamente em pensamentos, minha boca não responde aos meus comandos. Então, em um momento de lapso, eu resolvo dar a oportunidade a Alexandre de me explicar o que realmente está acontecendo.

Logo, repito suas palavras.

– Sim, eu aceito.

– Com o poder a mim investido, eu vos declaro marido e mulher.

E esse é o remate.

Um sorriso presunçoso se desenrola seus lábios, seus olhos gritando “eu disse que você casaria comigo”. Devolvo com um sorriso desafiador e aperto sua mão com força desnecessária. Seu sorriso aumenta.

Ficamos nessa conversa muda, até que um alguém grita em plenos pulmões “vida longa aos noivos!”.

*

Há um baile após a cerimonia. Musica pessoas em movimento, dançando e tagarelando. Há também um banquete sendo servido, mas simplesmente não consigo pensar em comida.

Permaneço por um tempo indeterminado ao lado de Alexandre, cumprimentando diversas pessoas. Quando nos aproximamos de sua mãe, meu coração está na boca. O que será que ele falou de mim para ela?

– Bem vinda à família, minha querida. Você é tão bonita quanto Alexandre falou. Ele escolheu bem.

Ela me aperta em um curto abraço que retribuo, ganhando um resmungo e um “pare de apalpar minha esposa, mãe” de Alexandre. Descubro em seguida que ela se chama Victoria Herman, e a sensação que ela me passa é de uma mãe, protetora e cuidadosa, o que me faz sorrir. Antes de se afastar, sussurra-me ao meu pé de ouvido um “cuide de meu filho, ele está precisando”.

– Sim, senhora.

Olho para Alexandre, agora longe de mim, em uma conversa animada com outros homens. Percebo então que a ideia de cuida-lo não parece tão desagradável.

Sinto minhas mãos serem agarradas de repente, e sou posta de frente para alguém. É uma garota, que não parece ter mais que minha idade, sorrindo amigavelmente para mim.

– Sou Clarice, irmã mais nova do Alexandre.

Ela é tão linda quanto o irmão, e noto sem muita demora que é uma das mais animadas aqui. Ela praticamente saltita quando fala, sendo impossível não sorrir.

De braços entrelaçados, caminhamos pelo salão, em uma conversa morna.

– Sabe, é muito bom estar aqui. Depois que papai morreu, Alexandre se fechou para nós. É muito raro que aceite nossas visitas.

– Mesmo? Mas por quê?

– Mamãe dizia que era o jeito dele de lidar com a dor, e que ele está tramando algo.

Os papeis que encontrei escondidos na biblioteca me vem à cabeça. Ele com certeza está tramando algo. Olho para Alexandre, e todo meu humor cai ao ver com quem ele está.

Por que essa Lydia veio?

– Também não gosto dela. – Clarice diz, ao notar para onde estou olhando.

– Por que não? – não afasto meu olhar dos dois. Não consigo ver a expressão de Alexandre, pois está de costas para mim, mas Lydia sorri abertamente para ele. Quando me nota, intensifica isso, querendo passar ar de intimidade entre eles. Bufo.

– Ela é bastante descarada, está há anos no pé do meu irmão, chegando a ser insuportável. Depois que ele assumiu o posto de marquês, só piorou.

Há um movimento, e em seguida Alexandre está vindo até nós.

– Preciso da minha esposa agora, Clarice.

– À vontade, irmão.

Alexandre conduz-me ate o centro do salão, no exato momento que uma musica lenta começa a tocar. Juntando-se a mim, em poucos segundos estamos dançando.

– Você não costuma pedir as coisas?

– Não vejo por que, já que não aceitarei um não como resposta. – Bufo, exasperada. Ele sorri com deboche. – Você está maravilhosa.

– Você também não está tão ruim. Arrumou o cabelo. – geralmente Alexandre está com o cabelo desgrenhado, mas mesmo assim eu precisava admitir que o preferia em sua bagunça habitual.

– A ocasião merece.

Alexandre gira-me, e de repente estou perdida. É como um feitiço lançado a mim, envolvendo-me, e tudo que consigo ver é o homem a minha frente, eu escrava de seus movimentos. Movemo-nos em sincronia, girando, deslizando pelo salão, como se não houvesse ninguém ali. E quando a musica acaba nos encaramos, a atmosfera não mais a mesma.

– Preciso de ar.

E desvencilho-me de seus braços, saindo em disparada para a cozinha, agarrando uma taça pelo caminho. Estranho o gosto amargo ao perceber que é vinho, pois nunca bebera álcool na vida. Vou para o jardim pelos fundos. O dia está maravilhoso, e apesar do sol forte, o vento é de refrescar até a alma. Abaixo meu olhar, encarando a argola dourada em meu dedo.

– Feliz por ter ganhado o pote de ouro? – me assusto ao notar Lydia atrás de mim. Ela mantem os braços cruzados, o olhar nada amistoso para mim. Não respondo, confusa com suas intenções. Ela se aproxima e eu recuo. – Pode comemorar por agora, mas isso não durará muito tempo. Alexandre nasceu para ser meu, e não será uma perdedora qualquer como você que irá mudar isso.

Lydia se aproxima mais de mim e estou presa contra uma grande pilastra, seu olhar me fulminando, veneno emanando de cada poro.

– Você irá sair do meu caminho, seja por bem ou por mal.

E sai, deixando-me mortificada com aquilo. Ganhei uma inimiga, sem ao menos ter feito nada. Eu não gostei dela desde o primeiro segundo, agora tudo isso está explicado. Ela parece me odiar, e isso será muito bem devolvido. A ideia de roubar-me Alexandre desce amarga.

Continuo encostada a pilastra, sem ter ideia de por quanto tempo, tentando digerir o que acabou de acontecer – nos últimos dias pra ser mais exata. Percebo um movimento atrás de mim, e viro-me assustada, temendo ser ela outra vez. Mas é Alexandre.

– Fugindo de mim? – ele sorri debochado, me fazendo revirar os olhos.

Aproximando-se de mim, Alexandre aprisiona meu corpo contra a pilastra, seu rosto se aproximando de minha orelha, onde sussurra algo, quase me levando a falência.

– Pode fugir de uma dança. O que virá mais tarde é muito melhor.

Oh não.

A noite núpcias.


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