Simples Desejo escrita por Nah


Capítulo 12
Capítulo 12


Notas iniciais do capítulo

Verdades vem por aí haha Boa leitura!



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– Qual você acredita que eu deva usar? – ponho dois vestidos à frente de Margaret. Estendo diante do meu corpo um vestido rosa pálido e faço o mesmo com o azul cor do céu. Ambos são relativamente grandes, cheios de bordados e camadas do mais fino tecido. Vestidos de tamanha riqueza que jamais imaginei que usaria um dia, e estou estonteada pela possibilidade.

– O azul, realça seus olhos. – sorrio para ela e volto-me para o espelho, analisando-me com o vestido azul em frente ao corpo, balanço para lá e para cá.

Clement está encostado ao batente da porta, assistindo a cena.

– Creio que deva pegar um lenço, Clement, para conter o derramamento de agua de sua boca. – Margaret o provoca, e o resmungo de Clement me faz rir.

– Deixe-o quieto, Marggie. – esse se tornou meu apelido carinhoso para ela. – Tenho certeza de que está vendo coisas.

Ela bufa. – Por que você não ouve as coisas que tenho que ouvir. “Oh, a Rosie é tão bela, nunca vi igual”, “a Rosie é o tipo de mulher com quem sempre sonhara em me casar”.

Margaret diz em tom zombeteiro e eu acredito que Clement irá explodir. Seu rosto está vermelho escarlate, e eu não devo estar muito diferente. Ainda mais depois de notar Alexandre atrás dele.

– Realmente, a Rosie é a mais bela das damas. Mas ainda é a minha esposa, o que não te dá o direito de fazer esses tipos de comentários pela casa.

Clement tem seus olhos arregalados, o rosto pálido, parece ter visto um fantasma ao virar-se para olhar Alexandre, que mantem uma expressão de desagrado no rosto. Margaret está mortificada pelo flagra, assim como eu.

– Desculpe-me, senhor. Eu não...

– Que isso não se repita. Não quero criado meu fazendo comentários arteiros sobre minha esposa, em lugar algum. Você já tem desagradado-me demais com sua falta de lealdade. E, acredite, você ainda está trabalhando para mim apenas porque a Rosie quis assim. – Clement nada diz, apenas encara desconcertado o chão. – Saia daqui.

Em menos de um segundo ele já está fora de nossa vista. Margaret percebe a deixa, e corre também para fora do quarto. Alexandre fecha a porta atrás de si e movimenta-se pelo quarto tranquilamente, enquanto permaneço parada de braços cruzados, deixando claro meu descontentamento, até que ele note-me.

– O que? – pergunta, tentando soar inocente.

– Por que o tratou dessa maneira?

– Oras, como por quê? Ele tentou-me passar a perna, compactuando com a sua fuga por aquela carta idiota. E agora ouço que anda fazendo comentários desnecessários sobre você pela casa, alimentando um amor platônico por ti que eu exijo que morra nesse exato momento. É desrespeitoso.

– Mas não precisava ser tão rude.

– Está defendendo ele? – Alexandre me encara, exaltado, há uma veia saltando em seu pescoço. Então algo me passa pela cabeça, e estou sorrindo no segundo seguinte.

– Isso tudo é ciúmes?

– Não sei do que está falando. – ele tem os braços cruzados, o rosto emburrado como uma criança quando lhe é recusado o doce. Sorrio convencida.

– Ah, claro. – aproximo-me dele, desfazendo o aperto de seus braços e colocando-os em volta de meu corpo. – Deixe de ser bobo. Sou casada com você, não com ele, e jamais serei.

Alexandre hesita um pouco, mas, por fim, cede e estou presa em seus braços. - Está querendo dizer que você é minha?

– Como? Desculpe, não ouvi o que disse. – zombo, desconversando, e ganho sua risada.

– Você é minha. Eu sei que é.

Inclina-se até alcançar o feito de ter seus lábios sobre os meus. Beija-me primeiramente com sutileza, experimentando-me. Então reivindica-me a ele, aprofundando o beijo, minha boca remedando a sua. Tenho seus cabelos entrelaçados em meus dedos no exato momento em que nossas línguas se encontram, e estou sem folego.

– Tenho que me arrumar. – digo contra sua boca. Ele aumenta seu aperto em meu corpo, intenção clara de não deixar-me ir.

– Você está ótima para mim.

Estou sorrindo quando tento tirar seus braços de mim. – Deixei-me ir.

– Em momento algum deixar-te-ei partir. – sinto que a profundidade de sua frase vai além das fronteiras daquele momento e mais um sorriso se desdobra em meus lábios, estes que mais uma vez se une aos seus.

No banho, deitada à banheira, reflito sobre o homem que está banheiro afora, a poucos passos de mim. Desde o casamento e da minha decisão de dar-lhe uma chance de mostrar-me o que realmente está acontecendo, algo parece ter mudado. Algo desconhecido em mim abriu-se para receber tal sentimento de igual incógnita. O sentimento de aprisionamento está me abandonando e dando lugar ao sentimento de refugio. E isso só aumenta quando ouço sobre Hugo.

Não sei em que acreditar, mas o que predomina em mim é o medo de que seja verdade. Ao mesmo tempo, pondero a possibilidade de não ser, de Hugo não ter real antipatia a mim. Seria capaz de deixar Alexandre e partir com Hugo? Sinto meu humor decair em azedume, e saio da banheira, afastando estes pensamentos.

Depois de vestida, ocupo-me a frente do espelho prendendo meu cabelo em um penteado. Vez ou outra, encaro a imagem de Alexandre refletida no espelho. Ele passeia pelo quarto, vestindo-se, e ao passar por mim deixa seu cheiro. É inevitável meu suspiro, inebriada por seu cheiro. Ele cheira a banho tomado, a vivacidade e me traz conforto. Retenho-me a vontade de lançar-me sobre ele.

Após algumas poucas joias estou pronta e então capturo seu olhar em mim. Viro-me para ele.

– Estou tão feia assim?

Alexandre bufa. – Você está incrível. Estou ponderando a possibilidade de deixa-la aqui. Haverá olhares demais sobre ti.

Com um revirar de olhos, estou rindo.

– Estarei te aguardando no andar de baixo, senhor Herman.

Faço como digo e desço as escadas. Quando estou prestes a sair pela porta principal, noto Clement atravessando o corredor carregando caixas. Sigo-o até a cozinha, onde ele as deposita sobre a mesa.

– Por que está aqui, Clement? E o festival da colheita? Todos estarão lá.

Ele vira-se para me olhar, seu rosto contorcido em tamanha odiosidade que sinto vontade de recuar.

– O patrão delegou-me tarefas a serem cumpridas pelo restante do dia. Acredito ser um castigo. – ele ri sem humor.

– Não acredito que ele fez isso. – balanço minha cabeça em negativa, descrendo aquilo. – Venha conosco, Clement. Não se preocupe com Alexandre, eu lido com ele.

– Não se preocupe, minha senhora. Prefiro mesmo ficar aqui.

E sai, sem deixar-me falar mais nada. Desloco-me furiosa ao encontro de Alexandre, que permanece parado ao lado de fora da casa.

– Estava te procurando.

– Por que fez isso com o Clement?

Alexandre se mantém desdenhoso diante da situação. – Ele mereceu.

O encaro sem reação. – Você ainda é um ogro.

*

O centro da cidade está mergulhado em uma animação impar para mim. Há musica vibrante, pessoas alegres, comida e bebida. Pessoas dançam algo semelhante ao que eu vira da outra vez, e novamente sinto-me sento contagiada por tanto entusiasmo.

Permaneço na companhia de Margaret, enquanto Alexandre cumprimenta mais e mais pessoas. Ela me conta, ao pé de ouvido, que o festival da colheita é algo como uma comemoração à farta colheita do ano. Ela apresenta-me também a sua filha, que bem mais velha que eu, é casada e tem um pequeno garoto rechonchudinho agarrado a seus pés, assustado pela movimentação.

Alexandre retorna na companhia de Clarice e sua mãe. Após uma rápida reverencia, entramos em uma conversa morna, onde ela questiona-me sobre meu casamento com seu filho, e eu analiso-a, as palavras de Clarice em minha cabeça. Victoria Herman não parece diferente, na verdade, está animada. Deve estar escondendo bem, penso. Diante de todo burburinho, uma frase sua para Margaret chama-me atenção.

– Ah, eu não vejo a hora de ser avó novamente também. – Victoria faz menção a minha barriga. Sinto meu rosto queimar e Alexandre engasga-se com coisa alguma. – Parem com isso, vocês terão filhos sim.

Filhos. No plural.

– Mamãe, venha. Precisamos conversar. – Alexandre rompe o assunto, desviando a atenção de sua mãe. Solto uma risadinha da expressão em seu rosto, mas por dentro não estou tão animada assim. Ele não aprova a ideia de ser pai, e esse pensamento não é tão bem vindo a mim quanto imaginei que seria.

– Depois, querido. Preciso falar com alguém. – e afasta-se com rapidez de nós. Clarice olha para o irmão, o rosto cansado, se põe a seguir a mãe.

Virando-se para mim, Alexandre está frustrado e meu coração se contorce em compaixão por ele e pela irmã. – Estou tentando falar com ela desde que chegamos, mas ela não me dá oportunidade.

– Acalme-se. Você terá a chance de falar com ela.

Sei que seu olhar reflete o meu, desejo mutuo de abraçar. Sorrio falsa meiga e provocativamente diante de sua necessidade que não será suprida naquele momento, e ele balança a cabeça em desaprovação, mas tem um sorriso nos lábios. Permanecemos nessa conversa muda até eu notar um alguém indesejado. Meu rosto cai ao ver Lydia, o brilho do sol refletindo em seus cabelos claros, chamando ainda mais atenção para si. Ela fuzila-me com o olhar, sua expressão nada amistosa causa-me um leve frisson de medo.

Ao notar meu semblante, Alexandre volta-se para trás, e no mesmo instante o rosto de Lydia muda, um enorme sorriso para meu marido, olhos maliciosos. Como pode ser tão descarada? Quando ela faz menção em aproximar-se de nós, agarro a mão de Alexandre, arrastando-o para longe.

– Vamos dançar.

Infiltramo-nos as pessoas dançando. Circundo o local com o olhar, a procura de Lydia, mas não a encontro em lugar algum. No final da dança estou sem folego, pela atividade e pelos risos. Alexandre permaneceu desengonçado em toda dança, causando-nos um ataque de risadas.

– Você, definitivamente, não é um homem de dança.

Ele revira os olhos, tentando parecer ofendido. - Não deste tipo, apenas.

– Preciso de algo para beber.

– Buscarei para você.

Alexandre até tenta ir, mas é parado por Clarice.

– Você viu a mamãe? Não a encontro em lugar algum.

– Sumiu outra vez?

Percebo a tensão ali e assinto com a cabeça quando ele me olha, deixando Alexandre afastar-se para resolver o problema com a irmã. Vou, então, eu mesma em busca de uma bebida. Ando um pouco afastada do aglomerado de pessoas, afim de não me esbarrar com elas a cada minutp. Quando de repente sinto algo puxar-me, e sou arrastada para dentro de uma das ruas estreitas dali. É tudo tão repentino, que antes mesmo de pensar em gritar, o alguém que arrasta-me pressiona sua mão contra minha boca.

Agindo instintivamente, tento livrar-me do aperto que prende-me, lutando compulsivamente contra suas mãos. Cravando minhas unhas em uma delas, consigo que ela ceda, dando-me tempo de correr. Mas tropeço, e a pessoa que a todo momento permanece à minhas costas, tenta agarrar-me outra vez, mas apenas algo afiado alcança-me o braço. Viro-me para ver sangue e um vulto preto sumir por entre as ruelas.

Não espero um segundo mais e ponho-me a correr para longe. Meu coração disparado, quase à boca, acredito que irei desmaiar, mas, felizmente, encontro Alexandre antes disso. Seus olhos arregalam ao notar-me e ele me ampara, desesperado.

– Cristo! O que aconteceu com você?

– Alguem... Alguém me... – não consigo e nem preciso dizer mais nada. Alexandre olha para o homem ao seu lado, que desaparece no mesmo segundo.

Levantando-me em seus braços, ele leva-me de volta para a carruagem, o olhar assustado das pessoas para o sangue escorrendo em meu braço. Em poucos minutos estamos em casa, e Alexandre deixa-me no quarto aos cuidados de Margaret. Ela limpa meu ferimento, parecendo horrorizada, mas nada diz. Estou aturdida, tonta, a dimensão de meu susto caindo gradativamente sobre mim. Apenas aguardo em agonia a volta de Alexandre, desejando que jamais houvesse deixado-me.

Ele volta minutos – que pareceram infinitos – mais tarde.

– Deixe-me as sós com ela, Margaret.

Margaret sai, igualmente quieta como entrou. Alexandre analisa-me com cuidado, antes de sentar-se ao meu lado, trazendo-me para seu peito. Vou de bom agrado para o conforto dos seus braços, e então lágrimas que eu não sabia estar ali rolam por meu rosto.

Algum tempo depois Alexandre afasta-se, infelizmente, de mim. Olhando para o ferimento, agora coberto, de meu braço, parece irado, dividido em tristeza e fúria.

– Você viu quem fez isso com você? Se era homem ou mulher?

Nego com a cabeça, pois realmente não consegui ver. Foi tudo rápido demais, e eu agradeço aos céus por ter conseguido escapar. Ele suspira com tristeza, seus dedos roçam a lateral de meu rosto, meus olhos novamente marejando. Algo muda na expressão em seu rosto.

– Isso está indo longe demais. Acredito que está na hora de você saber a verdade.


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