Yellow escrita por Eduardo Mauricio


Capítulo 5
Capítulo 05 - Histórias




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/657164/chapter/5

1988

Era um dia ensolarado e a residência dos Masterson estava cheia de crianças. O enorme jardim na frente da casa estava cheio de mesas decoradas com panos brancos e rosas e havia alguns adultos sentados nelas, conversando.

Do outro lado do jardim havia um enorme pula-pula e uma piscina de bolinhas coloridas. As crianças estavam loucas, pulando, gritando e correndo para lá e para cá, com fome por açúcar e as bocas sujas de chocolate ou molho de cachorro-quente.

Molly chegou ao jardim olhando todos ao redor. Estava linda em sua fantasia de fada colorida, com direito até a varinha com uma coração. Era seu aniversário de 8 anos.

— Você é um mosquito? — perguntou um garoto de cabelos encaracolados praticamente da sua idade, olhando-a de cima a baixo.

— Eu sou uma fada, cabeça de cocô — respondeu ela, colocando a mão na cintura.

— Você parece um mosquito.

— Mas eu sou uma fada!

— Mosquito, mosquito, mosquito — ele repetiu irritantemente.

Molly cerrou os olhos e fez um bico.

(Spice Girls – Wannabe)

Ela gritou e começou a correr atrás do garoto, que também correu, rindo.

Molly correu até a entrada da casa e seguiu o garoto quando ele começou a seguir pelo jardim, em direção à piscina de bolinhas.

Ele começou a correr ao redor da piscina enquanto ela fazia o mesmo. Logo depois, duas garotas se juntaram a ela e perseguiram o garoto.

— Crianças, cuidado, vocês vão acabar tropeçando — disse a mãe de Molly, quando ela passou correndo.

O pai dela saía de dentro de casa empurrando uma mesa com um bolo em cima. O bolo era enorme, de três andares, com uma fada no topo e glacê branco cobrindo tudo.

— O bolo está chegando, pessoal! — avisou ele.

Neste momento, o garoto perseguido vinha correndo enquanto ria. Olhou para trás e viu as garotas correndo mais devagar.

Quando Molly arregalou os olhos, ele olhou para frente e viu a mesa, bem antes de se chocar contra ela e afundar a cara no bolo.

Molly e as garotas começaram a rir. Depois ela correu até ele, que havia caído no chão, e pisou em suas costas com seu pequeno tamanco rosa. Colocou as mãos na cintura e os cabelos loiros voaram ao vento, balançando junto com as asas de fada.

***

Na biblioteca, ela morria de rir, gargalhando alto, com os olhos lacrimejando.

— Que garoto estúpido! — ela disse. Ninguém mais ria.

— Você tem um senso de humor muito questionável — falou Mia.

— Vocês pediram algo engraçado.

— Acho que a coisa mais engraçada que eu já fiz foi andar na rua com a blusa ao avesso — disse Sally.

— Que vida divertida a sua — falou Alfie. — Você tem alguma história engraçada? — ele perguntou, olhando para Harry.

— Eu passo — disse ele.

— Sério? Nada?

— Eu acho que não.

— Você está muito calado... Não vamos dizer nada até você falar alguma história. Vamos, cara, tem que ter alguma coisa — falou Mia.

Ele abriu um pequeno sorriso.

— Não, não tenho mesmo.

— Eu duvido — falou Troye.

— Na verdade...

— O quê? — perguntou ele.

— Não, esquece.

— Vai, fala! — disse Molly.

— Tá bom, tenho uma coisa. — Ele sorriu ao lembrar. — Há alguns meses eu resolvi ir até um clube sozinho...

***

(Haddaway – What Is Love)

O interior do clube Love era escuro e cheio de luzes pirotécnicas coloridas piscando, como qualquer outro clube. Havia também um globo espelhado no centro e a música eletrônica estava bem alta.

Harry estava parado quase na entrada, olhando ao redor, observando o local. Só conseguia ver homens. Na verdade, via algumas mulheres, mas eram muito poucas.

A maquiagem preta no seus olhos estava fraca e ele usava uma camiseta regata preta. Os cabelos estavam penteados para trás com gel.

Ele caminhou até o bar e pediu uma vodca com sua identidade falsa de 22 anos. Um homem de mais ou menos 30 anos sentou ao seu lado.

— E aí? — disse ele, com um sorriso branco.

— Oi — respondeu Harry, um pouco desconfortável.

— Está com alguém? — perguntou ele.

— Na verdade, não.

— Posso te pagar uma bebida?

Neste momento, o garçom trouxe a vodca que Harry havia pedido.

— Ah, cara... Eu... Eu não sou... Eu não curto isso.

— Entendi — O homem pareceu surpreso. — Mas o que você está fazendo em uma boate gay?

— O quê?

***

— Eu acabei recebendo cantadas de mais três homens naquela noite. — Ele lembrou sorrindo.

— Oh meu deus, então é daí que eu te conheço! — falou Alfie. — Eu esbarrei com você.

— Acho que não lembro.

— Deixa eu ver se te ajudo a lembrar — disse Mia. — Vestido vermelho brilhante, uma pinta perto da boca, peruca afro e maquiagem pesada. Lembra agora?

— Você era aquela mulher? — perguntou ele, para Alfie, surpreso.

Ele sorriu e fez uma pose.

— Patricia Butterfly, muito prazer.

Harry riu. Molly, Troye e Sally também.

Um barulho longínquo tirou a atenção deles. Era um telefone.

Os seis se entreolharam, surpresos.

— Eu tô ficando louca ou isso é um telefone? — perguntou Molly.

— De onde vem? — disse Alfie.

— Eu reconheço esse toque, é o telefone do diretor Higgins — respondeu Mia.

Eles se levantaram e começaram a correr. A sala do diretor ficava bem perto de onde eles estavam, então não demorou muito para eles entrarem rapidamente.

Mia atendeu.

— Alô? — perguntou ela.

Quem está falando? — disse um homem, do outro lado da linha.

— É Mia Morello.

Ah sim, Mia — falou ele. — Aqui é o diretor Higgins, que sorte vocês terem atendido... Aparentemente, o professor Harrison não avisou nada sobre alunos na detenção, então ele precisou sair mais cedo e vocês acabaram ficando presos. Está tudo bem?

— Fora a nossa vontade imensa de ir para casa, está.

Ah sim, me desculpem, mas as ruas estão inacessíveis, vocês precisarão ficar aí por mais algumas horas até que a nevasca acabe.

— Mas ela pode durar até a noite.

Se isso acontecer, verei o que posso fazer, mas, por enquanto, não há como tirar vocês daí. Não se preocupem, seus pais já foram avisados, vocês podem ficar na biblioteca, não será tão ruim.

Molly tirou o telefone da mão dela e colocou no ouvido.

— Eu quero ir pra casa! — disse ela.

Mia recuperou o aparelho e lançou uma cara feia para ela.

— Eu entendo — disse ela. — Mas não há como mandar um ônibus ou algo assim?

As ruas estão totalmente inacessíveis, nenhum veículo consegue passar.

— Merda! — disse ela, tapando o microfone do telefone bege.

Não vai demorar muito até tirarmos vocês daí.

— Eu espero.

Passar bem.

Ela desligou.

— Retardado! — ela exclamou.

— O que houve? Quem era? — perguntou Sally.

— Era o diretor Higgins, disse que não há como virem nos buscar.

— Meus pais devem estar preocupados — disse Troye.

— Não, ele disse que avisou aos nossos pais.

— Eu tenho hora marcada no salão de beleza! — exclamou Molly. — Não posso me atrasar.

— Mas vai — falou Mia. — Lamento.

— Vamos voltar para a biblioteca e arranjar algo pra fazer, ou eu vou ficar louco — disse Troye.

O Iluminado, eu não disse? — falou Alfie.

Eles voltaram para a biblioteca, entediados.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!