Justice for All - As Noites da Justiça escrita por Mirella


Capítulo 2
Lewis




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"Lewis"



Para alguns, a pior parte de ser da alta sociedade seria comparecer nas festas e ter que lidar com pessoas que sempre querem algo a mais, mas essa na verdade era a parte favorita de Lewis. Era filho do fundador da cadeia de hotéis Richmond, herdeiro de todo o império de hotéis por todo o país e desde pequeno era levado para festas onde socializava com os mais ricos executivos que trabalhavam com seu pai, o que seu irmão falecido sempre odiou, Christopher nunca gostou de ter que conversar com pessoas que acreditava serem o câncer do mundo, mas para Lewis aquilo tudo era um ambiente tão familiar e aconchegante, adorava ter dinheiro e se sentir especial, melhor que os outros e capaz de gastar com tudo que queria pelo menos dez vezes. Depois que seu irmão morreu as coisas deveriam ter mudado, mas ele nunca foi querido pelos pais nem mesmo pelo irmão, Lewis tinha a incrível capacidade de não se importar com ninguém, frio e as vezes seco, tornou-se mais orgulhoso e materialista do que antes, sempre viu o irmão como uma ameaça á sua herança, a morte foi um alívio.

Como de costume, havia ido junto de sua família para a festa de comemoração do recém-eleito governador, seu hotel era o lar daquelas pessoas nesta noite movimentada, lucraria muito com os velhos ricaços que aproveitariam as suítes para ficarem com suas acompanhantes de luxo, Lewis não os julgava contanto que pagassem, quando algumas pessoas pensam antes de agir, Lewis pensa nos cifrões antes de qualquer coisa, sempre interesseiro, mas também muito inteligente. Estava encostado na varanda da cobertura onde a festa acontecia, o salão estava tomado por pessoas trajadas com roupas elegantes e mulheres que gastaram milhares de doláres para comprarem os colares e brincos perfeitos para a ocasião, inclusive sua esposa, casados há 7 anos, ele nunca ligou muito para Teresa, um relacionamento de aparências.

Da vista do hotel conseguia-se ver vários carros nas ruas movimentadas e cheias de propaganda, quase um problema sério de poluição visual, mas nada que importasse os políticos a ponto de mudarem alguma coisa, o hotel ficava em uma área privilegiada, com uma vista bonita de outros arranha-céus e com uma vizinhança cheia de lojas e shoppings, longe de todo o crime e precariedade dos gigantes Distritos 4 e 5. Dentro do salão os políticos conversavam enquanto observavam as mulheres que andavam de um lado para o outro em busca de uma nova presa, Lewis adorava ver aquela interação entre os dois tipos de pessoas, aquelas festas eram um hobby que o ajudavam a esquecer dos problemas que passava. Assim como os outros, era um Protetor, mesmo fazendo parte do núcleo que lutava contra, não deixava de fazer parte do grupo, mas nunca sequer se culpou de fazer parte dali, ricos que sempre estavam por cima e deitavam e rolavam em cima da população pobre que um dia jurou defender, mas ele não se importava muito, afinal, se não ia conseguir vencer a corrupção, por que não se juntar a ela? Foi assim que multiplicou seus bens, sem nem ligar pra sua hipocrisia.

Lewis tomava alguns drinques para saciar sua sede, champagne era sua bebida favorita, nunca gostou de cerveja ou whisky, mas também não tinha forças para vodka ou tequila. Ele se dirigiu calmamente até o bar que ficava no centro do salão, os bartenders faziam truques com as bebidas enquanto algumas pessoas se encostavam ali apenas esperando o momento certo para agir. Ao chegar ali era rapidamente reconhecido, várias pessoas olhavam para ele, o dono de metade da cidade, ou futuro dono, e ele adorava aquela sensação, ser observado e paparicado, todos queriam alguma coisa e ele os iludia facilmente com apenas um sorriso e os olhos verdes, mas ele os deixaria morrer de tanto desejar. Enquanto observava os rostos novos e os que eram questão de tempo até morrerem, afinal, em uma guerra política, os que estão do lado errado logo viram estatística, mas logo aqueles pensamentos se afastaram quando ele avistou seu filho em meio a multidão, uma criança cercada de adultos bêbados. Não demorou muito para que Lewis, com passos largos e rápidos chegasse até ele e o arrastasse dali para fora da festa, levando-o para o corredor do andar.

— As vezes parece que você não sabe a hora de ir pra casa. - Ele falava olhando seriamente para o filho que apenas abaixava a cabeça e juntava os pés enquanto se preparava para ouvir o pai. - Por que você não foi com Donald pra casa? Essa festa não é pra crianças, não entendo como você ainda quer insistir em ficar.

— Eu não queria ficar sozinho em casa... Eu não queria incomodar ninguém, eu ia ficar quieto, eu não ia atrapalhar... - Mitchell olhava para o pai com medo, apreensivo e preocupado com o que poderia acontecer, não tinha boas experiências com o pai.

— Você não vai ficar só, tem as nossas empregadas e logo nós vamos para casa, não precisa ser dramático. - Ele falava enquanto puxava-o pelo braço de maneira nada delicada em direção ao elevador. - Eu poderia chamar Donald e mandar que ele te levasse de volta, mas quero garantir que eu não vá precisar te ver pelo menos até amanhã a noite.

Os dois seguiram até a entrada do hotel, do lado de fora estavam vários fotógrafos tentando entrar no lugar e uma forte presença da polícia que estava fazendo a proteção do local, vários carros espalhados pelo quarteirão e um trânsito até complicado em algumas partes, mas com uma área destinada apenas aos carros dos convidados, como a limousine de Lewis, que logo estacionava na entrada, e em meio a flashes e perguntas dos jornalistas, ele e seu filho entraram no carro e zarparam dali rumo ao condomínio onde moravam.

A limousine era espaçosa o suficiente para que Lewis se mantivesse longe do filho o quanto queria, encostado na porta olhando para o lado de fora. A rua estava movimentada, várias pessoas como sempre conversavam e ficavam até altas horas da noite, afinal, a noite acabava de começar para os mais jovens, assim como só era o começo para os criminosos. No outro lado da rua os policiais retiravam um dos cartazes com os integrantes dos Protetores, logo ali, Punho de Ferro, o seu alter-ego, estava estampado, enquanto do outro lado os prisioneiros limpavam uma das pichações que condenava a corrupção dentro do Departamento de Polícia de Griffith City. Enquanto ele suspirava vendo a ação dos policiais teleguiados, o silêncio foi cortado.

— Pai, você pode parar pra comprar algum lanche pra mim? - Os olhos grandes da miniatura de Lewis o encaravam enquanto se aproximavam dele, que se encolhia na porta, se segurando para não abri-la e sair do carro, odiava a proximidade daquele jeito, ainda mais com seu filho.

— Só sai de perto, não encosta em mim porque hoje eu estou de bom humor. - Lewis falava enquanto empurrava o filho para longe e abria o espaço onde conversava com o motorista. - Pare em alguma loja de conveniência, o garoto quer comer.

O garoto se afastava e fungava enquanto se abraçava e olhava pela janela para o lado de fora. Lewis olhava para este com certo nojo, não gostava de crianças e nem queria se aproximar de Mitchell, quem tratava com repúdio. Odiou se casar e se ver forçado a ter filhos, nunca se preocupou com relacionamentos, estava sempre ocupado pensando em si mesmo e no seu crescimento pessoal. O carro parava bruscamente após algumas mudanças na rota, ele estacionava do outro lado da rua, próximo de uma loja de conveniência. O bairro em que pararam não era um dos melhores, as redondezas dos condomínios da classe alta não eram uma das melhores, mas ali era uma parte razoável, prédios e casas com algumas lojas por todo o lado. Lewis e Mitchell atravessavam a rua afastados e logo adentraram na loja, quando o vigilante abria a porta o sino da porta tocava, o atendente rechonchudo se debruçava na bancada e se segurava para não dormir.

— O que você vai querer? - Lewis perguntava enquanto seguia para a parte dos salgadinhos favoritos do garoto, arrumava o cabelo castanho enquanto caminhava sem prestar muita atenção, calmo e cansado.

— Não tem o que eu quero, vou pegar um biscoito de chocolate mesmo... - Ele então andava cambaleando até os doces, Mitchell passava a mão no olho, com sono.

— Você gosta tanto de chocolate e doces que logo logo vai ter que visitar o dentista.

— Ah, não tem problema, você vai bancar tudo mesmo. - Mitchell sorria enquanto pegava dois pacotes de biscoitos de chocolate e alguns doces, pirulitos e chicletes.

— É, nisso eu tenho que concordar.

Lewis sorria após concordar com o filho, as vezes ele poderia ser uma boa companhia, enquanto o garoto fazia suas escolhas ele folheava as revistas ali próximas. Não demorou muito e seu filho logo trouxe as coisas que queria, dois pacotes de biscoito de chocolate e uma sacola que estava até a boca cheia de doces, enquanto Lewis se espantava e suspirava, Mitchell tinha um sorriso sapeca no rosto.

— Acho que você não gostaria tanto de doces se soubesse quantas cáries vai ter. - Ele segurava tudo na mão esquerda enquanto com a outra pegava a carteira dentro do bolso do casaco preto.

— Bem, dentaduras não são tão caras né? - Mitchell sorria de orelha a orelha, Lewis logo responderia, mas o barulho do sino interrompia seu pensamento.

Dois homens adentravam na loja, adolescentes, mas não bem vestidos, um estava aos trapos enquanto o outro usava um moletom sujo, este era loiro, enquanto o que usava uma touca azul tinha as mesmas características que Lewis, apenas um pouco mais alto. Os dois pareciam um pouco alterados, o da touca tremia um pouco enquanto se aproximava do caixa, ele não parecia ter notado Lewis, que estava um pouco longe, mas que pelo tempo nas ruas já sabia o que aquilo era. Não demorou muito para que o loiro, o líder, empurrasse o gordinho do caixa e apontasse a arma para sua cabeça, ele sorria, estava adorando.

— Vou anunciar o óbvio, isso é um assalto. Você põe todo o dinheiro nessa sacola ou eu estouro seus miolos. - Ele falava, ainda sorrindo, enquanto o da touca entregava uma sacola de lixo para o gordinho, que suava frio, colocar o dinheiro que havia no caixa e assustado, ele seguia as ordens do rapaz que logo olhava para Lewis e apontava a arma calmamente para ele, sem nenhum medo. - E você, playboy, passa tudo que tem ou amanhã vão estar jogando flores no seu túmulo.

Lewis estava atrás de uma das prateleiras de salgados, atrás dele estava Mitchell, que por ser baixinho não havia sido visto pelos ladrões. Ele apertava a mão do pai, com medo do que poderia acontecer, este que apenas encarava o loiro, ele sabia o que tinha que fazer. Com cuidado, soltou a mão do filho, que se agachou ali e andou lentamente até o rapaz que tinha a arma, enquanto o garoto da touca azul se aproximava, tremendo, para pegar seus pertences.

— Você sabe que não precisa ser assim...

— O que? Você vai ter o mesmo discurso dos policiais? Eu não pedi sua opinião cara, então é melhor calar a boca, não quero que sua mãe reze no seu túmulo daqui a 7 dias.

— Bem, pelo menos alguém vai chorar no meu. - O rapaz endurecia o rosto ao ouvir a resposta e apontava a arma para a cabeça de Lewis, que pelos reflexos que havia conseguido nas ruas, puxava a arma de sua mão e a empunhava, enquanto o jogava em uma das prateleiras, derrubando tudo. O garoto que tremia tentava desferir um soco que, com facilidade, Lewis conseguia esquivar, e reagia pegando a arma e apontando para ele, ao tentar atirar, viu que a arma falhava, não tinha balas nem nada, era de brinquedo. O rapaz da touca sorria, mas logo viu seu sorriso ser apagado com um soco que quebrava seu nariz.

Lewis virava para o caixa, o gordinho segurava na mão um telefone, havia discado para a polícia, enquanto Mitchell logo corria para o pai, no chão o rapaz segurava o nariz, tentando estancar o sangue, em meio a lágrimas e sangue, já o líder se contorcia de dor. A situação continuou a mesma até alguns minutos depois a polícia chegar, enquanto esperavam os policiais.

— Como o senhor fez isso? - Mitchell falava enquanto puxava a manga do casaco do pai, que tinha um sorriso no rosto enquanto arrumava o cabelo.

— Foi uma jogada de sorte, na verdade, mas quando se tem habilidade, fica fácil. - No rosto, o sorriso convencido era estampado, até que a porta foi aberta novamente, desta vez por dois policiais e dois enfermeiros que iam diretamente para o garoto do nariz quebrado, que já havia feito uma poça de sangue no chão.

Os policiais ignoravam os dois por completo, um que tinha bigode se dirigia até o garoto que mal respirava e ria de sua cara por alguns segundos, até puxa-lo pelo braço para que se levantasse, ele não parecia bem, não tinha mais o sorriso de quem estava no comando, todo seu plano havia ido por água abaixo, enquanto o outro policial que era calvo se dirigia até o caixa gordinho. Mitchell puxava a manga do casaco do pai, a confusão visível em sua face, não fazia a mínima ideia do que estava acontecendo ali, mas Lewis sim, já conhecia aquele modo da polícia de agir, prendiam os assaltantes sem fazer muitas perguntas, iam na testemunha mais fácil que os ajudaria a ganhar um caso.

O policial de bigode encarava os dois por alguns segundos, tempo suficiente para entender que deveria ir embora, enquanto Lewis se dirigia para a saída da loja, que agora estava com policiais na frente junto de uma ambulância, muita gente para um alvoroço já comum, mas sempre era assim após a chegada de um novo governante, que na maioria das vezes queriam mostrar serviço. Mitchell puxava a manga do casaco do pai, que agora tinha o rosto fechado e andava sem se importar com o filho, tinha um misto de emoções, havia sido bom extravasar ali, mas talvez houvesse uma saída melhor para os adolescentes, ele tentava não pensar muito naquilo, sua regra número 1 era nunca se envolver emocionalmente com nada, não iria mudar por causa disso.

Dali seguiram para o condomínio onde Mitchell foi deixado em casa junto das empregadas enquanto Lewis foi para o hotel novamente, desta vez com alguns questionamentos que iam e voltavam em sua cabeça, mas nada o impediu de brindar com os políticos que lutava contra, hipócrita desde sempre, não se importaria, afinal, era apenas uma vez de muitas.


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