Ar puro.

Nada melhor que respirar um bom ar puro. Era assim que eu me sentia sempre que saia de New York e ia para Califórnia ou saia do país. Mas nada superava a sensação de estar no Brasil, minha real e definitiva casa. Eu morava em New York desde os meus quinze anos e nesses onze anos eu ainda sentia uma saudade terrível do meu país, da minha cidade... Não podia simplesmente ignorar o fato que aquela cidade era muito importante para os meus negócios, – afinal, como dona do segundo maior banco privado do mundo aquela cidade era o lugar ideal – mas ficar ali me custava caro demais. Minha sorte é que minha amiga, Sara, veio comigo. Eu tinha um tio que tinha trinta por cento das ações do banco que hoje é meu e, para a infelicidade do resto da família, ele deixou tudo pra mim. Fiquei dos quinze aos dezenove anos aprendendo mais sobre como todo aquele sistema funcionava e juntei dinheiro suficiente para que assim que algum dos acionistas quisesse vender sua parte da empresa eu pudesse comprar. O que não demorou muito porque o mundo inteiro viveu uma crise do dólar que fez as ações despencarem, eu obviamente comprei os vinte cinco por cento de um dos acionistas e me tornei a acionista majoritária, logo sendo recompensada com a alta do dólar. Sara sempre me ajudou muito, mesmo a profissão dela sendo bem diferente da minha... Ela era atriz. Mas voltando ao ar puro... Era exatamente isso que eu queria naquele momento.

–Cathy? Tá em casa? – ela disse assim que abriu a porta da nossa casa.

–No escritório. – respondi terminando de escrever um relatório.

Tinha exatos três dias que eu não sabia o que era dormir, só tirei uns curtos cochilos para poder me livrar daquele relatório que agora tinha quase setenta páginas.

–Ainda nesse relatório? – ela perguntou adentrando no escritório.

Terminei de escrever a ultima frase e colocando um ponto final olhei para ela.

–Graças a Deus acabei.

Ela me olhou e falou bem sincera:

–Graças a Deus mesmo, porque você está um trapo Cathy! Credo. Vai já para sua cama. Como você acha que as pessoas vão reagir ao ver uma morta viva na festa do elenco?

Olhei pra ela em choque por dois motivos. O primeiro é que aquilo queria dizer que ela tinha passado no teste, o segundo era porque eu simplesmente não tinha a mínima ideia de que era hoje. Pulei em seu pescoço toda feliz e chorando de alegria falei:

–Parabéns, amiga! Você merece isso e muito mais. Mas sobre a festa... Se eu tiver com essa cara aí nem saio de casa.

Ela segurou meus ombros e me chacoalhou bruscamente.

–Você está louca ou alguma coisa do tipo? Não da pra eu ir sem você garota! Não pira na maionese! Anda, vai descansar um pouco. Chamo-te lá para as quatro.

Sorri e ela me empurrou para fora do escritório assim que coloquei o relatório na minha pasta. Subi, tomei um bom banho e me deitei. Não demorou muito para que eu dormisse feito uma pedra.

–O que acha? – Sara perguntou assim que terminou de se ajeitar e nem esperou minha resposta – Catherine eu não acredito que você ainda nem vestiu roupa! Quer morrer?

Olhei pra ela e depois de observá-la de cima a baixo falei:

–Está linda como sempre. Também, usando o MEU vestido não tem como não ficar linda.

Ela revirou os olhos e resmungou:

–É por isso que evito pegar suas roupas emprestadas... Você se acha muito, é perigoso ser contagioso.

Soltei uma gargalhada e abri meu closet, procurando um vestido que eu realmente gostasse. Eu tinha roupas ali que nunca haviam usado, algumas nem usaria mesmo, mas eu ganhava dos nossos clientes e o que eu podia fazer né? Só juntar uma grande quantidade e mandar para caridade – exceto as peças exclusivas, porque como o próprio nome fala era exclusivo para mim! – Peguei um vestido preto e branco, que era justinho até a cintura e daí até os joelhos soltinho.

–Se importa se eu for com esse? Sabe que de roupa justa já bastam as que eu uso no trabalho.

Ela riu da minha cara de cachorrinho sem dono e falou:

–Pode ser! Quem tem que brilhar mesmo sou eu, não você.

Olhei bem para ela e resmunguei tirando o vestido do cabide:

–Depois a convencida sou eu... Legal fera!

Ela soltou uma gargalhada e assim que terminei de me vestir olhei no espelho e falei:

–Não... Esse não. Estou muito menininha.

Ela revirou os olhos e se sentou na minha cama. Tirei aquele vestido e fui andando no closet. De repente um vestido me chamou a atenção. Também preto e branco como o outro, mas esse era justo por completo e imaginei-o numa combinação bem ousada. Saí do closet e entrei no banheiro, decidida a sair de lá já pronta. Vesti uma meia calça preta de rendas, o vestido e fiz uma maquiagem um pouco mais leve nos olhos pra poder destacar a boca. Como esqueci o rímel saí e Sara me olhou com uma cara de “UAU”, mas não disse nada. Deixei a porta aberta e antes de passar o rímel soltei meus cabelos que estavam médios, no meio das costas mais especificamente. Assim que apliquei o rímel nos cílios peguei um salto 20 cm preto e calcei. Peguei minha bolsa que já estava arrumada e retocando o batom falei:

–Pronto. Vamos logo que você não pode chegar tão atrasada assim.

Ela se levantou num pulo e nós fomos para garagem onde meu motorista nos esperava. Ele abriu a porta do meu Ford Fusion e Sara entrou primeiro. Eu quase não precisava dos serviços dele, ele era responsável mesmo por levar alguns documentos que precisavam ser entregues em algum lugar da cidade o mais rápido possível, mas nessas ocasiões ele sempre estava ali comigo.

–Boa noite senhoritas. Se me permitem dizer ambas estão lindíssimas.

Eu e Sara agradecemos e fomos para a tal festa que ela meio que esperara a vida inteira para acontecer e quando ela desceu um monte de fleches me cegaram, mas ela parecia acostumada com a ideia. Deixei-a ser feliz curtindo os fleches e também me deixei ser feliz adiando minha saída do carro.

–Devo esperá-la, Srta. Catherine? – meu motorista perguntou.

–Não. Ligue pra o outro motorista e peça para ele vir te buscar, Henri. Estacione meu carro em qualquer vaga que terminei com o numero sete e amanha você me entrega a chave. Eu trouxe a reserva. Tenha uma boa noite.

–A Srta. também! E obrigado. – ele disse assim que eu estava saindo.

Abri um sorriso para ele e a porta se fechou. Fui caminhando até Sara enquanto alguns flashes tentavam me cegar. Logo estávamos dentro do ambiente de festa e um bando de gente que eu nunca tinha visto na vida nos olhou com uma cara boba.

–Realmente seu vestido é perfeito para essas coisas. Obrigado por me emprestar. – Sara disse entre dentes, sorrindo.

–De nada! Precisando é só procurar no closet.

–Sara! – um rapaz de um corpo escultural disse se aproximando de nós.

Ele era lindo. Moreno, olhos azuis. Tinha mais de um e oitenta de altura com toda a certeza, músculos bem definidos e um sorriso encantador.

–Nick! – ela disse o abraçando. – Como você está menino?

–Bem linda. Meio preocupado com o Gilbert, mas...

Ele fez uma cara muito bonitinha ao demonstrar a preocupação com o amigo.

–É mesmo? O que foi? – Sara perguntou preocupada.

Nick suspirou e baixou o olhar.

–A Heather que não deixa ele em paz e tenta por as meninas contra ele. E eu não posso fazer nada para ajudar meu melhor amigo.

Sara o abraçou e falou:

–Gilbert sabe se virar bem.

Nick soltou uma gargalhada sincera e olhou para mim ali, alheia a conversa, totalmente deslocada do lugar também.

–Não vai apresentar não Sara? – ele cobrou sem tirar os olhos de mim.

–Claro. Nick Stokes essa é a minha amiga Catherine Willows, Cathy esse é o Nick.

–Muito prazer – falamos juntos e ele logo completou – Parece que você está meio perdida aqui.

–Estou mesmo. Mas Sara insistiu muito para eu vir com ela e...

Sara simplesmente sumiu do nosso lado naquele curto tempo e eu fiquei meio em choque.

–Vem, vamos lá para varanda. Tem uma vista linda. – ele disse me puxando.

Logo uma musica que eu conhecia começou a tocar e eu fui cantarolando. Nick parou e falou:

–Te desafio a ganhar de mim no karouke!

Olhei-o estreitando os olhos e falei:

–Você não tem vergonha de desafiar quem não canta nem debaixo do chuveiro, garoto?

Ele riu e falou:

–Deixo você escolher minha música...

Revirei os olhos. Eu realmente não conseguia rejeitar desafios, afinal eu trabalho por causa desses desafios.

–Bora lá, então.

Ele sorriu e fomos. Logo ele chamou a atenção de todos e avisou que estávamos disputando e que se ele perdesse ia fazer um Strip. Eu achei um pouco desnecessário àquilo – mentira – mas se ele queria...

Logo ele começou a cantar Cheers (Rihana) que eu escolhi e eu logo imaginei que seria difícil demais vencê-lo. Só para caso de eu perder deixei-o escolher a música.

–Conhece My Love da Celine Dion? – ele perguntou selecionando a musica.

Assenti e depois de respirar fundo comecei:

My Love we have seen it all

(Meu amor, nós vimos de tudo)

The endless confession

(A confissão infinita)

The rise & fall

(A subida e a queda)

As fragile as a child

(Tão frágil quanto uma criança)

But lately I’m sorry

(Mas ultimamente, sinto muito)

I can’t hold a smile

(Mas não consigo segurar um sorriso)

But I stand tall to get by

(Mas me mantenho firme para aguentar)

No matter how hard

(Não importa o quanto seja difícil)

I try to hide

(Eu tentar esconder)

How did you know I’d take the time for you?

(Você sabia que eu disporia do meu tempo pra você?)

Did you know that I could see you through?

(Você sabia que eu podia te ver através disso?)

How did you know that I would play the part?

(Você sabia que eu interpretaria meu papel?)

I must have made it clear ringht from the start

(Eu devo ter deixado isso claro desde o início...)

My love can you give me strength?

(Meu amor você pode me dar força?)

Some how I forgot how to ease my pain

(De alguma forma eu esqueci como amenizar minha dor)

I know I’m ringht where I belong

(Eu sei que estou no lugar que eu pertenço)

But somethin for nothin never proved me wrong

(Mas nada nunca me provou estar errada...)

But I stand tall to get by

(Mas me mantenho firme para aguentar)

No matter how hard

(Não importa o quanto seja difícil)

I try to hide

(Eu tentar esconder)

How did you know I’d take the time for you?

(Você sabia que eu disporia do meu tempo pra você?)

Did you know that I could see you through?

(Você sabia que eu podia te ver através disso?)

How did you know that I would play the part?

(Você sabia que eu interpretaria meu papel?)

I must have made it clear ringht from the start

(Eu devo ter deixado isso claro desde o início...)

I would share my whole life with you

(Eu compartilharia minha vida inteira com você)

Would you do the same for me?

(Você faria o mesmo por mim?)

I would give all I am to you

(Eu daria tudo o que sou pra você...)

Would you do the same for me?

(Você faria o mesmo por mim?)

Yes I’ll... stand tall to get by

(E eu irei... Manter-me firme para superar)

No matter how hard I try to hide

(Não importa o quanto seja difícil eu tentar esconder)

You could you see?

(Você consegue ver?)

I could break

(Eu poderia quebrar)

Did you notice all my mistakes?

(Você percebeu todos os meus erros?)

There were times that I felt you read my mind

(Houve vezes que eu pude sentir você ler minha mente)

How did you know I’d take the time for you?

(Você sabia que eu disporia do meu tempo pra você?)

And did you know that I could see you through?

(Você sabia que eu podia te ver através disso?)

Did you know that I would play the part?

(Você sabia que eu interpretaria meu papel?)

I must have I made it clear ringht from the start...

(Eu sei que deixei claro desde o início...)

Quando terminei notei que estava de olhos fechados e assim que pronunciei a ultima palavra os abri lentamente, com medo da reação que as pessoas haviam tido. Olhei pra Nick que me olhava com uma cara de: “CARAMBA” e abaixei os olhos com vergonha.

Logo o sistema informou quem ganhou e me surpreendi ao ver meu nome lá e não o dele.

–Você merece geral essa vitória sabia? – ele disse me abraçando. – uma pena que eu apostei algo tão ruim.

–Eu te livro dessa. Vai lá para varanda disfarçadamente.

Ele sorriu e foi e eu logo fui atrás. Alguns dos amigos dele começaram a o procurar, mas quando notaram que não achariam desistiram.

Fui atrás de Nick e logo voltamos a conversar. Depois do jantar eu falei para Sara:

–Vamos demorar muito ainda amiga? Tenho uma reunião importantíssima amanha de manhã.

Ela me olhou com uma cara de quem não queria ir de jeito nenhum e logo que ia falar “vamos” Nick disse:

–Eu a levo, Willows. Pode ficar despreocupada.

Sorri a falei para os dois:

–Pelo menos me levem na porta. Não estou a fim de passar por esse tanto de gente sozinha.

Ambos sorriram e fomos indo pra saída. Logo Sara foi puxada por Robert e eu fiquei sozinha com Nick que me abraçou apertado.

–Aparece lá no set de vez em quando. – ele pediu.

Assenti sorrindo e ele me deu um beijinho que chegou bem no cantinho dos meus lábios.

–Tchau, Nick, até mais. – falei me afastando e virando as costas.

–Tchau. Até qualquer dia.

Fui para o estacionamento, louca para ir para casa descansar. Assim que encontrei meu Fusion estacionado na vaga 17 destravei-o e fui para casa. Quando cheguei tomei um bom banho e me deitei na minha enorme cama, me espalhando por completo ali e me lembrando de algumas cenas daquela noite. Nick era um cara bem legal e eu confesso que seria legal ser amiga dele. Sara havia me dito que ele era divertido e carinhoso, mas eu achei que ela estivesse exagerando – bem coisa dela mesmo. Fechei meus olhos levemente e inspirei longamente para logo cair em um sono profundo.

Dois meses depois acordei às sete da manhã, me ajeitei, comi qualquer besteira e fui para o trabalho. Tinha uma reunião com todos os acionistas do banco e ali decidiríamos se um deles venderia as ações que lhe cabiam para uma pessoa física ou jurídica. Seria uma longa e tensa reunião.

–Bom dia Srta. Willows. – minha secretária Marjorie disse assim que me viu entrar pelas portas duplas.

–Bom dia! O que temos para hoje? – Fiz a mesma pergunta de todos os dias.

–Reunião daqui trinta minutos, visita a filial do escritório e uma ida as agencias bancárias que os clientes mais reclamam. Depois a senhora tem a tarde livre.

–Ok! Avise a Sara que vou passar no set assim como eu havia lhe prometido e deixe prontas as planilhas do mês que vem na minha mesa antes de ir para casa, tá bem? – pedi.

Ela assentiu e eu entrei na minha sala. Sentei e logo meu celular tocou. Peguei-o e um sorriso involuntário se formou em meus lábios.

–Cathy! Antes de você falar qualquer coisa eu já sei que você tem a tarde livre. Então vou te sequestrar essa tarde. – Nick disparou.

–Ok! Pedindo assim. – brinquei.

Desde a festa nós nos encontrávamos muito. Praticamente todos os dias porque ou ele ia à minha casa ensaiar com Sara ou eu ia buscá-la em sua casa.

–Então, você vai passar aqui? – ele perguntou – Meu carro não está comigo e precisaria usar o seu.

Mordi meu lábio com a hipótese de imaginar meu carro em outras mãos. Eu tinha um ciúme tão grande do meu Fusion que Sara dizia que eu podia casar com ele.

–Han... Posso pensar na possibilidade! Desde que você não esteja planejando me levar para roça, ou para lugares cheios de pedras... Meu carro não gosta muito disso. – fui direta e logo ouvi a risada dele. Tive que sorrir também.

–Fica tranquila. Não tem ninguém melhor para cuidar dele que eu. – falou convencido.

–Lamento baby... Mas tem sim! Euzinha! – falei e vendo Marjorie entrar, encerrei a conversa – Te pego aí assim que for ver Sara. Beijos.

–Beijos.

Desliguei o celular e olhei para ela que se sentou na minha frente.

–Então, nós recebemos reclamações de mais um banco o que no total soma seis agencias.

Olhei para as imagens das três e logo falei:

–Uhum. Vamos resolver isso rapidinho. Preciso de uma reunião com todos os gerentes para semana que vem. Você consegue organizar isso?

Ela assentiu. Marjorie era uma ótima funcionaria e eu não podia negar o quanto eu me sentia feliz por estar ajudando uma amiga. Eu a conheci assim que cheguei aqui e a ajudei.

–Então, já estão todos na sala de reunião, se quiser terminar antes podemos começar agora.

Levantei-me pegando minha pasta e notebook.

–Ok. Vamos logo então.