Harry corria pelas ruas alagadas pela rigorosa chuva que caía sobre seus negros cabelos. Parou em frente à uma casa verde, com um belo jardim, e adentrou no recinto.

–Aonde você estava com um temporal desses? -indagou Snape, que estava descendo a escada com o Profeta Diário em mãos, olhando para Harry encharcado d'água.

Já haviam se passado quase quatro anos desde que Harry decobrira que Snape era seu verdadeiro pai. Desde então, a relação dos dois melhorara bastante. Não que tivesse se tornado um mar de rosas, visto que a personalidade de Severo não permitia tanto, mas os dois mantinham um bom relacionamento pai e filho. Harry, como sempre, não desgrudava de seus fiéis amigos, Rony e Hermione. Hermione já não era mais aquela menininha, apesar de seu interesse pelos estudos não tinha mudado em nada. Tinha crescido e se tornado uma bela adolescente, fazendo com que Rony se interessasse por ela, no entanto, a garota começara um relacionamento com um garoto da escola, um ano na frente que ela. Em Hogwarts, Gina sempre olhava escondida para Harry, como se à todo instante quisesse lhe dizer algo, mas nada dizia, apenas observava. Os gêmeos Weasley, como sempre aprontando, Hagrid sendo o bom e velho amigo de antes... tudo parecia ter voltado ao normal desde a indesejada visita do Lord das Trevas ao castelo.

–Estava na casa da Hermione -respondeu Harry sem fôlego de tanto correr.- Rony também estava lá.

–Uhm. Suba e troque de roupa, está molhando a sala inteira -disse Snape.

–Tudo bem, só mais uma coisa...

–O quê?

–Como está no final das férias e daqui há pouco teremos que voltar à escola, bom, o senhor e a senhora Weasley vão fazer uma pequena reunião, não só por isso, mas também porque Gui e Carlinhos estão de visita e eles nos convidaram.

–Você sabe que eu não sou muito dado a festas -disse Snape com um olhar de reprovação.

–Eu sei, mas é o senhor não poderia fazer um esforço? Por mim, por favor? Toda reunião de família eu apareço sozinho e agora que tenho alguém para levar, o senhor se recusa a ir.

–Está um tempo horrível, é arriscado irmos até lá -Snape disse tentando se desviar do convite.

–Mas a previsão de amanhã é de sol, pode olhar, saiu no Profeta Diário -Harry falou apontando para o jornal nas mãos do homem.

Snape deu uma rápida olhada na seção de climatologia do jornal e com um longo suspiro, disse:

–Tudo bem, mas vou ficar somente alguma horas.

–Parece ótimo pra mim -disse Harry satisfeito.

–Agora vá trocar de roupa e se deitar!

–Mas ainda está cedo para dormir! Olha só -disse apontando para o relógio em cima da cômoda marrom da sala de visitas-, ainda não são nem sete horas da noite.

–Me desculpe, por acaso eu comecei a frase com "por favor"?

–Tá... -disse Harry contrariado já subindo as escadas.

Snape se dirigia ao seu escritório quando ouviu o sino da porta soar.

–Mas que diabos... quem será agora? -disse dando meia volta no corredor, explicitamente aborrecido, e atendendo a porta.

Do lado de fora estava um homem pálido, de cabelos negros, completamente molhado por causa da chuva.

–O que você quer aqui? -Snape perguntou com uma expressão gélida.

–É assim que você fala com o seu velho pai? -Tobias Snape disse dando uns pulinhos na varanda, devido ao frio que atingia sua espinha.- Anda, me deixe passar -falou empurrando o filho para trás e adentrando na sala.

–Diga logo o que quer e pegue o mesmo caminho pelo qual entrou -Severo disse ríspido.

–Qual o motivo de tanta grosseria? Ainda zangado pelo que eu disse no verão? -disse Tobia tremendo-se, enquanto assosprava as duas mãos juntas a fim de aquecê-las.

–Imagina, por que eu ficaria com raiva por você ter me chamado de idiota na frente do meu filho? -Snape falou em um pequeno tom de deboche.- Há dias que o senhor não vem nos visitar. Deixe-me lhe mostrar algo muito legal que comprei, faz um barulho impressionante!

–Mesmo? Com um barulho legal? Deixe-me advinhar, comprou um objeto de nós, meros trouxas, um aparelho de som, não foi? -Tobias falou sorrindo.

–Não, foi uma nova porta, que faz um barulho incrível quando é fechada! Não quer se dirigir à saída e testar? -Severo disse apontando para o alto e pesado objeto de madeira.

Tobias franziu a testa e disse:

–Eu já me desculpei por ter chamado você de idiota... bom na na frente de Harry.

–Saia! -ordenou Snape já perdendo a paciência.

–Aposto que está com raiva de algo e está descontando em mim. Afinal, tem motivo de tanto mal-humor?

–Sim, porque você não está saindo.

–Não estou e nem vou. Harry me convidou para ir à casa dos pais do amigo dele, então eu vou ficar. Você também vai, adorável filho? -Tobias perguntou enquanto se aconchegava no sofá, molhando-o todo.

–Mas que maravilha, você também irá conosco! -Severo lamentou decepcionado.

O dia seguinte já tinha raiado, com um belíssimo sol bem à vista, diferente do dia anterior, que apresentara um céu nublado, o qual caía sem piedade, uma chuva torrencial. Harry já estava tomado banho e vestido, apenas ainda deitado na cama, esperando o despertador tocar, indicando às sete da manhã. O garoto mal dormira àquela noite pensando na reunião do dia seguinte. Finalmente, o despertador soara em um agudo som e Harry prontamente o desligou, pulando da cama e descendo as escadas correndo, tamanha era a sua animação.

–Garoto, não corra descendo as escadas! -repreendeu Snape que estava de pé na sala de visitas, com uma esfumaçante xícara de café em uma das mãos e na outra, o Profeta Diário.

–Desculpe.

–Por que essa falação logo cedo? -disse Tobia no alto da escada vestido com um pijama e um gorro na cabeça, bocejando.

–Eu não sabia que o senhor estava aqui! -exclamou Harry feliz em ver o avô.

–É, eu cheguei ontem e tive que implorar para o seu pai me deixar ficar -Tobias falou descendo a escada e abraçando o neto.- Ingrato!

–Deixe de reclamar e arrume-se logo, senão nos atrasaremos -ordenou Snape sumindo para dentro da cozinha.

Após uma longa demora de Tobias em se vestir, ele, Severo e Harry partiram em direção à casa dos Weasley. Harry e Tobias felizes da vida e Severo, como de costume, de cara amarrada.