Old friends escrita por Roberta Pereira


Capítulo 2
Dois - Memórias de infância


Notas iniciais do capítulo

:x

Desculpa a demora, mas é que eu estava meio doente recentemente e cheia de prova pra estudar. Ainda tenho algumas, mas eu aproveitei esse fim de semana pra escrever um pouco antes de estudar mais um tanto.



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Com a maior preguiça que poderia ter, Ally abria os olhos, mas os fechava, sem nenhuma vontade de levantar. Tinha algumas horas desde o amanhecer, e o sol já atravessava os vidros da janela, pedindo insistentemente para ela acordar. Resmungando algumas coisas indecifráveis até para si mesma, levantou-se e fechou as cortinas. Se deitou novamente, mas sabia que não conseguiria dormir novamente.

Assim, levantou-se. Piscando os olhos rapidamente, acostumou-se com a claridade e dirigiu-se para o banheiro de seu quarto. Suas roupas estavam abarrotadas, seu rosto amassado e o cabelo assanhado. Ao olhar-se para seu reflexo frente ao espelho, deu um sorriso irônico, mexendo no cabelo despenteado.

"Até parece que eu tive a melhor noite com meu suposto namorado na minha cama..." -Logo repreendeu-se por esse pensamento.

Tirou suas roupas, jogando-as no cesto. Entrou na banheira já cheia de espuma, prendendo o cabelo.

"Quanta olheira... Credo, preciso dormir melhor" -Analisou-se no espelho pequeno a sua frente.

Fechou os olhos, apoiando a cabeça na parede.

Era uma noite nublada. Alguns minutos para dar meia-noite. Havia duas mulheres naquela casa; uma menina, com simples 12 anos de idade. Dormia com o sono pesado, não sonhava aquela noite. E havia uma mulher adulta. Mas aquela não dormia. Aquela não sonhava. Aquela ali chorava exasperada e silenciosamente em sua cama. Estava desde o início da tarde ao aguardo do marido.

Mas ela sabia. Todo o resto do dinheiro da família estava, naquele mesmo momento, sendo gastos em bebidas, entradas para festas, prostitutas... 15 anos de amor, felicidade, sendo destruídos em apenas uma noite. Uma que seria longa, dolorosa e triste noite.

Quatro da madrugada. A porta da casa é batida com força, propositalmente. A mulher, já com dores de cabeça de tanto chorar, levou um susto, calando-se imediatamente. Com medo de qualquer ação brusca ou violenta do marido, ficou em silêncio, apenas prestando atenção nos passos abafados do homem. Observa-o entrar no quarto aos tropeços e com a expressão carrancuda. Fora obrigado a voltar para casa; seus amigos o trouxeram de volta assim que perceberam o quão bêbado estava. A mulher, com um nó na garganta, pergunta nervosamente:

–Onde você estava?

Com aquele pequena e simples pergunta, ela rebelou toda a ira acumulada nele. Com os dentes trincados, agarrou seus cabelos e a puxou da cama violentamente. Ela voltou a chorar e começou a se espernear, tentando se livrar de suas mãos.

[...]

Ela ouviu um som alto, e despertou imediatamente. Já havia estado preocupada e angustiada antes de dormir, mas agora ficou com medo também. Se levantou correndo e viu uma cena horrível. Uma cena que nenhuma criança deveria prestigiar.

Sua mãe estava jogada no chão, quase desmaiada. Lágrimas caiam silenciosas pelo seu rosto, escorregando para o assoalho. Um olho roxo, nariz inchado e vermelho e hematomas no rosto. Vestia apenas seu short do pijama; possuía marcas roxas por seu torço. Com o desespero no rosto em em seus gritos, a menina tentou tirar o cinto da mãos do pai, mas tudo que conseguiu foi um grito grosso e uma chicotada. Aterrorizada, olhou com o olhar marejado para os olhos de seu pai. Agora não expressavam mais raiva, mas sim surpresa e arrependimento.

–Ally... eu... -Largou o cinto e tentou segurar o braço da filha.

–Não encosta em mim seu covarde! -Finalmente conseguira pronunciar palavras. Como pode bater na minha mãe assim, se ela não fez nada?! Você é louco?

Ele olhou assustado para a menina, que agora socorria a mãe.

–N-não... Filha, eu... -Depois murmurou algumas coisas, piscando os olhos pesadamente.

–Mamãe... -Chorosa, agarrou as mãos dela. -Você vai ficar bem? Eu prometo ligar pra polícia assim que eu conseguir!

–Não... -Tossiu.- Por favor Ally... Não... Eu vou ficar bem.

–Mamãe, por você, fuja desse covarde o mais cedo possível.

Se levantou, e olhando para os olhos do pai com ódio.

–Se você ousar encostar na minha mãe de novo seu monstro, eu juro, você vai se arrepender de ter saído ontem. Você não mais meu pai!

Correu para fora da casa, batendo a porta com força. Saiu correndo pela rua abaixo, e parou depois de alguns minutos, parou. As lágrimas em seu rosto estavam congeladas. Seu rosto ardia com o vento frio. O braço acertado estava dormente. Sua cabeça doía, até ela decidir até onde iria.

Correndo rua abaixo, com toda a velocidade que restava, partiu em direção a casa de sua melhor amiga e vizinha de rua, Trish. Não esperou a mãe da menina vir apressada para abrir a porta. Antes que pudesse pensar, pulou a janela e invadiu o quarto da amiga, que acordou assustada. Mas esta não perguntou nada. Apenas a confortou e a acomodou em cobertas afofadas.

No dia seguinte, o sol brilhava como nunca brilhou. Não havia uma única nuvem ali para provar que o dia poderia ter algum problema térmico. Os passáros cantavam um linda melodia. Nem parecia que havia acontecido uma tragédia na família Dawson há algumas horas atrás...

Ally acordou com uma dor de cabeça fortissíma, mas o sorriso da sua amiga do seu lado a ajudou a se levantar e se arrumar. Já havia até mesmo esquecido que precisava ir pra escola naquela manhã. Não iria, mas Trish insistiu tanto que ela resolveu se aprontar.

Ally acordou assustada e até um pouco desesperada, puxando todo o ar que podia para si; estava quase afundando dentro d'água, agora sem espumas e quase fria já. Uma pequena parte de si estava com raiva própria, que tinha adormecido na água e já devia estar com uma hipotermia, mas outra estava... diferente. Essa outra parte estava triste, emocionada. Estava desanimada, séria e nostálgica. Sem expressão, pegou seu roupão que estava pendurado ali do lado, levantou-se, tirou a água da banheira e saiu do banheiro. Sem se trocar, se jogou na cama e novamente mergulhou profundamente em suas memórias.

Ally chegou na escola desanimada. Já conhecia aquela escola de cabo a rabo; sem contar que não precisava se estudar mais de uma semana na Marino High School para saber que a primeira semana de aula era mais que inútil. Era simplesmente chata e entediante; os professores só se apresentavam e falavam sobre suas férias, como se aquilo fosse totalmente interessante. Depois de uma ou duas semanas de aula é que realmente alguém aprende alguma coisa. Ainda tentou explicar isso para a morena do seu lado, já que queria ficar dormindo e depois ligar para a mãe. Ela não tinha cabeça para aturar Sra. Lincolm falando sobre seus cinco gatos e como foi difícil transportá-los no avião. Mas Trish ignorou seus pedidos e empurrou ela em direção aos armários.

Elas estavam conversando meio baixo, encostadas nas portinholas, quando um garoto meio ruivo veio rindo em direção a elas. Seu andar era meio saltitante, o que fez Trish olhá-lo torto. Ele cumprimentou-as animadamente.

–Olá vocês duas aqui. Sou o Dez, e sou novo aqui e meu amigo Austin também. -Falou rapidamente- Ele me mandou vir aqui, aposto que está com vergonha e...

–Espera. O que? -Trish olhou com uma cara confusa- Quem é você e quem é Austin?

–Dez! Eu não quis dizer isso! -Um loiro apressado vinha apressado. A mochila quase caia de um de seus ombros. Sua expressão era meio raivoso e envergonhado. Ally riu meio baixo pelos meninos. -Eu falei pra vir aqui pra ver esse é realmente meu armário. Eu não queria vir lá do outro lado do corredor...

–Já sei o motivo!

–Não Dez, não foi por causa disso! -Revirou os olhos. Olhou para o número colado no alto da porta atrás de Ally e virou-se para ela. -Licença...

–Ally. Ally Dawson. -Sorriu gentil.

–Licença Ally Dawson. Posso abrir meu armário?

–Ah claro! -Envergonhada, desencostou da porta. -Me desculpe. Você é o...?

–Austin. E esse idiota aí é o Dez. -Destrancou a fechadura, jogou a mochila dentro e apontou para o amigo.

–Sim. Idiota mesmo. -Bateu na cabeça dele, que tentava espantar uma mosca. Riu com o som alto que ecoou. - Sou Trish.

–Trish?! Seu nome é estranho cara. -O ruivo riu.

–E o seu é Dez. Não vamos apontar defeitos uns dos outros, que você tem o nome de um número. -Bufou, revirando os olhos.

Eles continuaram conversando por um momento, até que o sinal tocou; descobriram que estudariam na mesma sala. Ally sentiu algo bom quando conversou com aqueles meninos pela primeira vez. Sentia algo que entrava em total contraste com aquele sentimento que sentiu, surpreendentemente, nas últimas 13 horas. Ela se sentiu leve. Se sentiu feliz.

Surpresa, Ally levantou-se. Ela sentiu uma energia de bons sentimentos agora invadirem-na. Avaliando suas memórias, ela percebeu o quão Austin e Dez eram importantes na sua vida. Mas agora não eram mais. Quando seus três melhores amigos saíram da sua cidade, quase que todos ao mesmo tempo, ela ficou simplesmente arrasada e mal conseguia respirar sem lembrar de cada um deles e sentir vontade de chorar. Logo, começou a conviver com outras pessoas e com outros amigos, rapidamente esquecendo de cada um deles. Como pôde se esquecer daquele trio que um dia fora tão importante para sua vida?!

Levantou-se rapidamente e se trocou. Logo se jogou na cadeira do computador e começou a procurar cada um deles na Internet. Logo encontrou Trish. Ficou impressionada. A antiga amiga já era uma linda jovem, com longo cabelos negros e encaracolados. Sorria gentilmente para a câmera que tirava sua foto. Havia lido as últimas mensagens de suas redes sociais, e todas informavam que iria mudar-se novamente, mas nenhuma indicava para onde iria.

Procurou por Dez também, mas este não tinha nenhuma rede social disponível.

Logo achou Austin Moon. Ally surpreendeu-se ao olhar para suas fotos. Ela precisava admitir. Ele tinha ficado bem bonito. Muito bonito, para falar a verdade. Sorriu admirando seus olhos castanhos. Eram lindos até mesmo virtualmente, ela não conseguia imaginar mais eles pessoalmente. Imaginou como seria poder encontrá-lo novamente, ou até mesmo se conseguiria fazer isso algum dia. Pegou-se imaginando se ele era o mesmo ou se era diferente de 4 anos atrás. Será que tinha novos melhores amigos? Novas melhores amigas...?


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Reviews são incrivelmente bem vindos! ^-^

Espero que tenha sido suficiente para saciá-los, porque só semana que vem novamente :l