Before - League of Legends III escrita por Ricardo Oliveira


Capítulo 2
Isabel




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Isabel Adhit fazia dezenove anos naquela noite, portanto sentiu que nada seria mais justo do que visitar o baile real demaciano. Óbvio que era um baile para a realeza e ela não passava de uma cientista que passava metade do tempo com graxa presa no cabelo. Aquilo era remediável. Seu vestido rosa podia ser simples comparado aos demais vestidos das damas de Demacia, mas ela se sentia a mulher mais feliz do mundo só de estar ali.


As canções tocadas por Sona só acrescentavam na atmosfera, fazendo o lugar parecer cada vez mais com um conto de fadas. Dizia-se que as melodias dela se manifestavam de forma diferente, a depender de quem estivesse ouvindo e de como se estava ouvindo. Seu instrumento mágico, etwhal, amplificava cada emoção que Isabel sentia.


Não, naquela noite ela não era Isabel. Tinha assumido a identidade da princesa Cateline, da casa real de duelistas Laurent. Da sua maneira, tinha chamado atenção pela espada de esgrima, um florete, que carregava na cintura. Muitos nobres, incluindo o príncipe Jarvan, tinham vindo cumprimentá-la com a maior elegância do mundo.


“Eu mereço isso”, ela pensou, mordiscando um pedaço de bolo da mesa para espantar a culpa de assumir a identidade de outra pessoa. Tomava também o cuidado de passar longe de Fiora Laurent. Como a líder da família Laurent, a esgrimista seria a primeira a notar a farsa. Mas Isabel gostava muito da adrenalina de quebrar regras. Do contrário, não seria integrante de grupos como a Resistência de Heimerdinger ou a outra Liga de Jax.


– Cansada de dançar, senhorita…? – Um homem de terno sentou-se ao seu lado, segurando uma taça de vinho.


– Cateline. Cateline Laurent. – Respondeu com convicção. Esse era o primeiro passo para uma mentira bem-sucedida. – Na verdade, ninguém me convidou para dançar, senhor…?


Ela gostaria de ter soado menos desesperada. Sentiu-se como se estivesse forçando o homem para convidá-la a dançar, mas o sorriso dele foi compreensivo.


– Savon Crownguard. – Ele se apresentou, fazendo-a prender a respiração. A família Crownguard tinha famosos protetores de Demacia. Guerreiros valentes e poderosos. Olhando com mais atenção, Savon parecia um pouco poderoso. E valente. E bonito. – A maioria dos homens têm medo de ser espetados pela sua lâmina, minha dama. – Ele explicou, tentando não rir.


Então Isabel notou, horrorizada, o motivo de acharem o seu florete tão digno de atenção. Provavelmente a imaginavam como uma daquelas mulheres brutas que andavam arrancando braços de quem acenasse para elas. Como Vayne. “Eles acham que eu sou como a Vayne!”, pensou desesperada.


– Se me permite uma palavra de sugestão… - Ele abaixou a voz, aproximando a cabeça da dela. – Da próxima vez que for se passar por uma princesa, escolha uma casa mais simples. Não a mais perigosa. – Então se levantou, estendendo a mão. – Vamos dançar?


Ela era conhecida por pensar rápido. As suas soluções para os problemas fluíam naturalmente e com velocidade. Contudo, ser desmascarada tão facilmente a deixou de guarda baixa. Sem reação, ela segurou a mão dele por instinto, se deixando ser conduzida pelo salão.


– Como você descobriu? – Perguntou, sentindo a boca seca. Onde tinha errado?


– Simples. Também não sou um Crownguard. – Ele explicou, com simplicidade e um sorriso culpado. – Então, o que você veio roubar?


– Eu não vim roubar nada! – Ela protestou, com a voz abafada pelo ruído de risos, passos e música do salão de dança.


Savon lhe deu um olhar cético: - Certo. Você dança bem para uma não Laurent.


– Aulas particulares. – Admitiu. Era verdade, tinha praticado muito. Sozinha, seguindo os passos de um programa de simulação tridimensional que tinha criado em seu tempo livre. – E você? O que veio roubar?


– O coração de jovens damas. – Confessou, mudando o ritmo, sem dar a cientista uma chance de responder. Ela mal se concentrava nos passos, estava muito focada nos olhos dele. Eram negros. Quase como… quase como os de Brandon.


– Então você está falando com a pessoa errada. Não sou uma dama. – Ela soltou a mão dele. – Sou uma cientista. – Anunciou, antes de se afastar dele através da multidão.


O falso nobre a seguiu: - Esperava encontrar muita ciência aqui?


– Certamente não esperava encontrar um ladrão. – Ela cortou. Queria ficar perto dele, e isso era o mais perigoso.


– Eu nunca disse que era um ladrão. – Savon apareceu na sua frente, bloqueando-a.


– Também não negou. – Ela sorriu, como em um pedido de desculpas, tentando ultrapassá-lo.


– Eu posso te mostrar. – Ofereceu, estendendo a mão. – O que eu vim “roubar”.


“Não, Isabel, não.”, ela suplicou para si mesma, “Dê meia volta e finja que nunca conheceu esse cara. É o seu aniversário, o seu dia”. A cientista suspirou. Sua curiosidade não venceria sempre?


Aceitando o convite, ela o seguiu pelo salão levando o florete consigo. Embora não soubesse usá-lo, se sentiria mais segura em posse dele do que do contrário. Em seu deslumbre, Isabel não tinha notado o quão luxuoso o lugar era.


As tapeçarias faziam referência aos mais épicos momentos da história demaciana. Uma história tão gloriosa que tinha boa parte dos convidados como protagonistas. Aqui e ali ela via a representação do príncipe Jarvan e sua lança derrotando inimigos: noxianos, zaunitas e… dragões? Sim, o príncipe Jarvan Lightshield IV era um conhecido caçador de dragões.


Contudo, não eram as tapeçarias ou as paredes douradas que interessavam Savon, e sim um vitral. Um vitral arrepiante que mostrava uma espécie de… Isabel tinha presumido ser um dragão pelo chifre e asas, mas, vendo de perto, notou que conhecia aquela forma. Já a tinha visto. Em seus sonhos.


– É Aatrox?


– Hum? Você conhece Aatrox? – Savon perguntou, só prestando metade da atenção nela. A outra metade de concentrava no vitral.


– Não. Um amigo de um amigo. Longa história. – Esclareceu, se perguntando o quanto fazia parte daquela história. Mal tinha conhecido Brandon Beck antes de…


– Histórias são complicadas. – Ele concordou, tocando suavemente nos pedaços coloridos de vidro que formavam a imagem. – Você ainda não me disse o seu nome.


Ela cruzou os braços: - Eu deveria? Você também não disse o seu.


– Meu nome é Savon. – Ele protestou, sem tirar os olhos do vitral, como se estivesse hipnotizado.


– Eu duvido. Que tipo de nome é…? Uau. – A cientista se surpreendeu quando o vitral começou a se mover. Olhou em volta. Os maiores guerreiros da história contemporânea de Demacia, e ninguém prestava atenção neles ou nos pedaços de vidro que se recombinavam formando… uma porta?


Ele atravessou a passagem deixada pelos pedaços móveis de vidro e ela o seguiu rapidamente. Quando passaram, ela pôde ouvir as partes se recombinando atrás deles. E ouvir era tudo o que podia. A escuridão os cercava completamente. Suas mãos tatearam o vazio, buscando por Savon, quando ele a segurou, acendendo uma luz.


– Sempre venha preparada para uma festa. – Aconselhou, balançando o aparelho que emitiu luz. Ela concordou internamente que precisava de um daqueles.


Estavam em uma espécie de túnel que se inclinava para baixo. Ela se perguntou há quanto tempo aquilo existia, ou por que estava ali. Não achava que Savon soubesse também, dada a expressão curiosa que ele carregava enquanto desbravavam o túnel.


As teias de aranha pelo teto curvado e a poeira no chão sugeriam que ninguém entrava ali há anos, mas sem os seus equipamentos a cientista não era capaz de estimar uma data. “Vacilei”, pensou, lembrando de todos os recursos que tinha deixado para trás, para fingir que era normal. Ali dentro, estava dependente de um estranho que conhecia faziam… dez minutos?


– Olha só isso… - Ele comentou, passando a mão por inscrições talhadas na parede. Algum tipo de idioma. Nenhum que ela dominasse ou conhecesse. – Conhece?


Ela fez que não com a cabeça, engolindo em seco. Podia não ser capaz de entender o significado das palavras, mas podia ver outras coisas. Como elas tinham sido escritas, por exemplo. E a primitividade daquilo sugeria que: ou era uma mensagem muito antiga, ou tinha sido escrita por algo muito antigo. Ela tinha medo de estar certa.


– É Isabel. – Ela falou, alguns minutos depois, na tentativa de quebrar o silêncio. – O meu nome é Isabel.


Ela pôde vê-lo sorrindo através da luz que seu aparelho emitia e corou. Ele não parecia um cientista, mas definitivamente era um aventureiro. Aquilo fazia dele 50% Brandon. Ou 50% atraente, se ela preferisse. E a diferença de idades parecia ser bem menor. “Cientista. Você é uma cientista. Olhe quanta ciência tem aqui.”, ela se repreendeu mentalmente.


– Ora, ora. – Uma voz os surpreendeu. Ela se aproximou levemente de Savon. A voz a assustava muito. Era… sombria. – Visitantes.


– Vamos recuar de fininho. – Isabel sugeriu em sussurro para o aventureiro.


– O quê? Se alguém quisesse nos matar, teria colocado armadilhas ao longo do caminho ou nos atacado em vez de se apresentar. Além disso, você tem um florete.


– Um florete que eu não sei usar! – Ela exclamou, e a estrutura tremeu com o riso da voz.


– Viu? Você entregou nossa vantagem secreta. – Savon reclamou, mas não parecia realmente bravo. – Vamos em frente.


E seguiram até o fim do túnel, onde encontraram um casulo transparente de mais ou menos três metros de altura. Dentro dele, os pesadelos de Isabel se confirmaram: Aatrox repousava. A criatura vermelha era exatamente como nas descrições. Enorme. Perigoso. Assustador. Dizia-se que a figura do demônio tinha sido inspirada nesse último Darkin. Vendo-o pessoalmente, ela não duvidava.


– Duzentos anos procurando por esse monstro sem sucesso, e eu tropeço nele no meu aniversário de dezenove. – Ela balbuciou, impressionada e paralisada com a presença do guerreiro. – Foi mal, Trynda.


– Como é? – Savon perguntou, igualmente atônito. – Pera aí, você é uma criança?


– Como assim? Eu sou adulta. Muito adulta. – Protestou, se voltando para ele. – E mais inteligente do que você, que nos levou direto para o guerreiro mais poderoso da história.


– Primeiro: Você tem dezenove anos. É uma criança. Segundo: Ele está preso. – Savon deu alguns tapas no casulo. – Viu? Completamente selado.


O túnel tremeu de novo, antes que Isabel pudesse responder: - É verdade. – Aatrox concordou, sem que a sua boca se mexesse, o que o tornava mais assustador ainda. Nenhuma parte de seu corpo no casulo mexia. – Contudo, vocês podem me libertar.


– Há. E por que faríamos isso? Você matou a família do melhor amigo do meu melhor amigo. – Ela afirmou. – Que na verdade não era o meu melhor amigo porque ele mal me conhecia, mas eu salvei a vida dele. Duas vezes.


– Eu tenho o que vocês procuram. – O Darkin ofereceu, e mesmo sem as expressões faciais, ela sabia que ele estava sorrindo. – Posso dar a vocês, se me derem o que procuro. O botão à sua esquerda serve para me libertar.


Ela olhou para a parede da esquerda. Um grande botão circular vermelho repousava nela. A décima primeira regra do manual de cientistas (que ela tinha acabado de inventar, caso precisasse de um argumento consistente) recomendava nunca apertar botões circulares vermelhos oferecidos por estranhos.


– Eu proponho um jogo. – Aatrox prosseguiu, com a sua voz sombria. – Um jogo de perguntas, vocês devem descobrir o que eu sou.


– Como? – Isabel questionou.


– Vocês têm dez perguntas. E essa foi a primeira.


– O quê? Isso é um absurdo! – Ela protestou, mas tudo o que conseguiu foi um “oito” em resposta.


– Isabel, acho melhor você deixar isso comigo. – Ela ia protestar, mas se calou temendo perder mais perguntas.


– Você é um ser vivo?


– Não.


– Você é uma substância?


– Não.


– Você está trapaceando?


– Não, e agora restam cinco perguntas. Você ainda pode recuar, jovem aventureiro, mas receio que suas outras perguntas ficariam sem resposta. E você odiaria isso, não?


– Você é uma forma?


– Não.


– Você é um som?


– Não.


– Você é um sentido?


– Não.


Savon parou. Só tinha mais uma chance. Ele conhecia enigmas. Os famosos, os inéditos, os melhores. Aquilo não soava como nenhum deles. De fato, era um simples jogo de perguntas e respostas, mas ele não conseguia acompanhar a linha de pensamento de Aatrox. Não poderia nunca adivinhar o que ele era.


– Savon, vamos embora. – Isabel sugeriu, olhando feio para o casulo. – Mesmo com a última pergunta, não vamos adivinhar o que ele é.


– “O que vocês procuram” foi o que ele disse. Você também está atrás de algo! Não pode desistir. – Savon respondeu, nervoso. Aquela era a sua chance. – Você é um conceito?


– Sim. – O Darkin respondeu, satisfeito. – Mas essa foi a sua décima pergunta.


Savon socou o botão vermelho, abrindo o casulo: - Então me diga, o que é você?!


O Darkin caiu no chão, expelindo fumaça. Seus olhos se abriram e seu corpo lentamente se mexeu, como um brinquedo enferrujado. Rapidamente ele conseguiu se colocar de pé, olhando para os dois que estavam abaixo de si. Sua boca se dobrou em um sorriso cruel quando ele respondeu:


– Um ser livre.


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