Um Passo para o Amor escrita por LeticiaHeinzmann, Emilisluize


Capítulo 9
Lágrimas se Tornam Rotina




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Encaro John pelo que parecem vários minutos sem conseguir acreditar que aquilo realmente estava acontecendo. Como ele podia fazer isso comigo? E eu, trouxa, acreditando que a intenção dele era se desculpar outra vez. O silêncio entre nós começa a se tornar insuportavelmente constrangedor, então decido rompê-lo:

—Mas por quê? Eu fiz algo de errado? — Olho para ele com uma mistura de medo e agonia, pensando no que pode tê-lo levado àquela atitude.

—Eu acho que não está mais dando certo, fica cada vez mais difícil nos encontrarmos por causa da sua falta de tempo e outros compromissos — Ele fala e parece se referir especificamente a Ethan. — e, bem…— Me olha com dúvida, como se estivesse decidindo se deve mesmo falar o que está pensando.

—O que tem? Fale para mim, eu posso tentar mudar, se é isso o que você quer, se é isso o que precisa para dar certo.

—Não tem como mudar o que você está sentindo. Talvez tente por algum tempo, mas o seu coração sempre te levará de volta para o seu desejo mais profundo, mas forte. E esse desejo não sou eu. Por mais que parta meu coração fazer isso com você, fazer você ficar triste dessa maneira que eu sei que você está. É difícil não lembrar de todo o tempo que passamos juntos, todos os momentos maravilhosos e das brigas bobas, de como me divertia com você e você comigo, mas isso vai passar. Você achará alguém que consiga preencher seus pensamentos e te fazer sorrir apenas por lembrar que em breve poderá vê-lo. Vai fazer você correr em sua direção com a maior felicidade do mundo depois de apenas alguns dias afastados, tamanha a necessidade que terão um do outro. É por isso que estou terminando com você, Aurora. Não é que eu não te ame mais. Na verdade, eu te amo mais do que nunca e por isso mesmo vou me afastar, vou deixar o caminho livre para que você possa ser verdadeiramente feliz, é só o que eu quero. Um dia, quando você estiver com a pessoa que te fará sentir assim, irá me perdoar e agradecer por eu ter feito isso. — Fala, e se vira indo em direção a aula e me deixando sozinha.

Assim que ele sai do meu campo de visão, desabo ao chão e começo a chorar. Parece que as lágrimas fazem parte da minha rotina diária, agora. Como se não bastasse me deixar ainda tinha que se declarar dessa maneira, apenas para que eu me sinta mil vezes pior do que estaria com um simples término. Não ligo para as suas desculpas, suas justificativas, apenas quero John de volta.

***

Vou para a casa decidida de que não teria condições psicológicas de enfrentar outros cinco períodos maçantes da tarde. Evito todas as pessoas no caminho, mas posso ouvir seus sussurros sobre o que poderia ter acontecido e sentir os olhares acompanhando cada passo. Era quase hora de começar a aula, então o corredor estava cheio, o que multiplicou o meu constrangimento. Cogito a possibilidade de dar meia-volta e esperar o movimento passar ou achar outra opção de caminho, mas agora que todos já me viram apenas chamarei mais atenção dando as costas às pessoas. Abaixo a cabeça e aperto os livros contra o corpo, passando rapidamente entre a multidão de estudantes apressados.

Ao passar em frente à sala de John levanto o olhar involuntariamente como já tinha feito tantas vezes antes apenas para vê-lo parado no batente da porta ou então sorrindo ao conversar com um de seus amigos, mas agora a visão dele lá dentro me causa um aperto doloroso no coração, como um punho esmagando-o e esfarelando-o. Pelo menos ele também não parece feliz por ter terminado comigo, já que, diferente do que costuma ser, ele está cabisbaixo e quieto.

Finalmente chego ao saguão e consigo sair do colégio sem ter sido parada. A república não é muito longe da faculdade, então apenas enxugo os olhos novamente e sigo pela rua. Alguns desconhecidos me olham com estranheza por causa do rosto vermelho e inchado, mas a maioria nem percebe minha presença, tão imersos em seus compromissos e preocupações ao invés de observar o mundo ao seu redor enquanto ainda lhes resta tempo.

Pensando nisso sou acometida por uma questão que já fazia tempo não me preocupava: a morte. Será que alguém sentiria minha falta? John era uma das poucas pessoas que realmente se importava comigo e agora não está mais aqui. O que me impediria de cometer suicídio? Será que alguém perceberia minha falta? Iria atrás do meu corpo, me encontraria morta em alguma sala escura ou então pendurada em uma árvore, talvez dentro de uma banheira de água? Gritaria, choraria, seguraria meu corpo e refletiria sobre tudo o que poderia ter me levado até ali. Provavelmente pensaria que eu apenas estava em um momento de fraqueza e por alguma idiotice havia tirado minha própria vida. Mas alguém que já tivesse passado por uma situação tão ruim ao ponto de tentar se matar também me entenderia. Veria que era mais do que uma simples decepção o motivo daquele ato. Porém, toda essa ideia sombria se esvai no momento em que lembro de Lucy e da minha mãe. Eu destruiria suas vidas se as fizesse passar pela situação de me ver morta, de de repente se deparar com o meu corpo sem vida. Seria demais para elas, Lucy com sua bondade e minha mãe com seu amor incondicional. Não teria coragem de fazer isso por causa delas. Se não fosse por isso a essa altura já teria me matado há muito tempo, bem antes do término de namoro, antes mesmo de entrar para a faculdade. Levanto a cabeça, tentando parecer forte para mim mesma diante daquele pensamento, um hábito muito eficaz já praticado por mim desde muitos anos atrás.

Chego em casa e entro. O lugar estava agradavelmente vazio agora que todas as meninas estavam na escola. Vou para a cozinha comer uma torrada apenas com pão, queijo e orégano, mais nada, do jeito que eu gosto. Fico sentada com aquela cadeira gélida e dura em contato com o meu corpo apenas apreciando o silêncio, o conforto de ouvir apenas eu mesma, apenas meu corpo, reconhecer-me em um espaço sem interferências. É uma das melhores sensações do mundo, apenas relaxar, sem se preocupar com mais ninguém, ser quem você é sem medo ou pudor.

Permaneço ali pelo resto da tarde e sinto que esse é o momento mais tranquilo dos últimos dias. E provavelmente o último que eu terei por um bom tempo.


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