Nossos olhares se cruzam e posso ver o terror crescendo dentre dele proporcionalmente à raiva que cresce em mim.Viro-me, respiro fundo e vou embora com os olhos marejados e o choro preso na garganta. Quando estou longe o suficiente para que ele não me veja, desabo em lágrimas escorrendo livremente pelo meu rosto.

Caminho o mais rápido que posso na volta para casa, sentindo uma enxurrada de humilhação toda vez que um estranho me olha com expressão de pena. Devem estar pensando: “Nossa, coitada, trocada no dia do encontro…”, ou: “O que será que aconteceu com a pobrezinha?”. É incrível como o ser humano tem o dom de sentir pena mais do que qualquer outro sentimento. A não ser, talvez, a ambição.

Ao entrar em casa, vejo que as meninas estão reunidas na sala onde fica a escada e com certeza irão me bombardear caso eu apareça chorando. Por isso, vou ao banheiro. Meu rosto está vermelho, os olhos, inchados. Lavo-o repetidamente com água gelada e isso parece surtir algum efeito. Respiro fundo e abro a porta, dando de cara com Lucy.

Ela me olha preocupada e puxa-me pela mão para um abraço apertado. Depois desse gesto desato a chorar novamente, soluçando. Compreensiva, Lu me escolta escada acima, afastando todos que tentam se aproximar.

Ela tranca a porta do quarto e senta ao meu lado na cama.

—O que aquele idiota te fez?! — Me surpreendo com a calma no seu tom de voz. Suas palavras revelam raiva, mas sua postura é controlada. Explico a situação o mais rápido possível para que as lágrimas não ameacem cair novamente.

—Eu fui encontrá-lo, estava muito animada e quando entrei… — Meus olhos começam a marejar novamente, então espero até que me acalme. — ...quando entrei ele estava com outra.

Por alguns momentos apenas nos olhamos em silêncio e então ela me abraça novamente.

—Vai passar, okay? Ele é um idiota e não merece que você chore por ele, Aurora. Lembre-se do John, ele é um namorado incrível, você vai mesmo ficar aí chorando por outro?

—Você tem razão. — Sorrio, mesmo que ainda esteja triste. — Eu não vou ligar para isso. Nem eu, nem John merecemos.

***

No outro dia, na faculdade, decido ignorá-lo. Nem preciso me esforçar muito, pois o único lugar onde há a possibilidade de encontrá-lo é a biblioteca, mas lá tenho a desculpa de que estou trabalhando, o que facilita que eu ocupe a mente ao invés de pensar nele.

Saindo da sala de aula, estou conversando com Morgan sobre um trabalho em dupla que faremos quando sinto uma mão forte puxar o meu braço.

—Preciso falar com você. — Diz uma voz já familiar, firmemente. Ao me virar, dou de cara com Ethan, que me olha com urgência. Ele lança um olhar para Morgan e completa: — À sós.

—Desculpe, mas não temos nada para conversar. — Respondo rispidamente, puxando meu braço. Percebo que Morgan havia ido embora.

Ethan, então, aproxima seu rosto do meu e sussurra:

—Aquilo que aconteceu sábado foi um acidente, eu só quero que você me dê uma chance de explicar.

—Não me importa o que aconteceu! — Retruco, elevando a voz. — Eu tenho um namorado e estou bem o suficiente com ele pra não ligar se você estava com outra ou não. Eu não dou a mínima se você é um idiota, mas espero que pelo menos tenha o bom senso de não vir atrás de mim novamente. — Depois de ter dito tudo o que tinha vontade, viro as costas e vou embora, deixando Ethan sem reação como o babaca que ele é.

No meio do caminho, porém, encontro John, que percebe o quanto estou irritada e vem em minha direção. É esse tipo de pessoa que eu tenho que valorizar, quem se preocupa comigo.

—Não fale nada, apenas me beije. — Peço, enlaçando os braços ao redor do seu pescoço e puxando sua boca contra a minha para um beijo voraz. Ele me empurra contra os armários com as duas mão apertando minha cintura. Espio com o canto do olho e vejo Ethan indo embora com uma expressão de desgosto. Abro um sorriso e volto toda a minha atenção para John. Nesse momento somos só eu e ele. Não tem escola, não tem Ethan. Só nós dois.

***

De: ethanbradley@mail.com

Para: auroramack@mail.com

Mensagem: Aurora, eu preciso mesmo falar com você. Me responde, por favor.

Como ele teve a audácia de me deixar um e-mail? Tem como ser mais ridículo? Depois da nossa discussão de hoje de manhã ele achou que conseguiria respostas só por não estar cara-a-cara comigo? Pois estava tremendamente enganado. Ignoro-o totalmente, como deveria ter feito desde a primeira vez que o vi.

Jogo-me na cama e fico lá deitada, pensando no meu namorado. Pelo menos ele havia me consolado muito bem. Depois da conversa com Ethan estava muito mal-humorada, mas John foi extremamente atencioso, mesmo que eu não tenha lhe contado a causa da minha irritação.

Apenas permaneço deitada por vários minutos, olhando para o teto.

De repente, ouço uma batida na porta do quarto. Solto um longo suspiro de cansaço, levanto-me e vou cambaleando para abrir a porta. Ashley está parada na porta, o que me causa grande estranheza já que não tenho nenhuma intimidade com ela para que venha ao meu quarto. A primeira coisa que me passa pela cabeça é que ela provavelmente quer saber o motivo de eu ter chorado no outro dia.

—Olha só, se você quiser saber o que aconteceu no sábado pode ir embora porque eu não estou com paciência para isso, okay? — Digo, indo direto ao ponto. Não importo se eu pareço estúpida, não estou em um bom dia.

—Calma. Só vim avisar que tem um homem que quer falar com você lá embaixo. Não sei quem ele é, mas acho que você deveria descer.

—Tudo bem, desculpe, avise que eu já vou descer e que ele pode me esperar na varanda.

—Okay.

—Obrigada. — Respondo antes de fechar a porta novamente. Paro em frente ao espelho na parede onde observo meu rosto por alguns momentos. Acho que é John, então apenas amarro o cabelo e desço. Vou para a varanda certa de que meu namorado estará lá parado, sorrindo para mim como todas as outras vezes que veio me visitar.

Entretanto, ao ver quem está lá, minha expressão torna-se séria.

—O que você está fazendo aqui?