Powerless escrita por Gryphon


Capítulo 1
Life after you


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem e fiquem à vontade para deixarem suas opiniões.

Não sei se a pessoa para quem escrevi vai ler, mas ao menos eu escrevi.

Eu percebi que como a maioria das pessoas não está habituado a esse tipo de gênero psicológico, terei de pôr uma explicação dos acontecimentos e das "mensagens subliminares" do capítulo nas notas finais no caso de vocês desejarem confirmar as suposições ou simplesmente terem a curiosidade de saber o que passou desapercebido.



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I watched you fall apart and chased you to the end / Eu vi você cair e lhe persegui até o fim

I left with emptiness that words can not defend / Saí com um vazio que as palavras não podem explicar

You'll never know what I became because of you / Você nunca saberá o que eu me tornei por causa de você

Ten thousand promises, ten thousand ways to lose / Dez mil promessas, dez mil maneiras de perder

Powerless - Linkin Park

"Daiki... essa é a última vez que vou tentar te enviar uma mensagem... se você não responder, desisto."

Eu pensava que estava bem quando tudo começou a desmoronar, ou pelo menos fingi estar... O meu sorriso sempre foi tão brilhante? Oh, sim... eu apenas soube desde sempre como bem esconder a tristeza. Kasamatsu senpai enganou-se a respeito de que não sei ser um bom ator, afinal estive enganando a mim mesmo todo esse tempo.

— Às vezes você é um irritante, Kise... Por que eu estaria fazendo isso? — O sorriso dele era algo que tirava-me de órbita, ou, pelo menos, de meus pensamentos. Talvez seja por isso que eu tenha me tornado tão ciumento acerca de si quando bem deveria ser o contrário. Eu era o modelo no final de contas...

— ...

"Mas ele era o meu modelo."

— Aominecchi... daisuki ssu...

Então ele me puxava para seu colo como se nada de errado estivesse acontecendo... ou como se toda a minha desconfiança e instabilidade fossem inocentes à causa de sua tristeza, tal como seu egoísmo cego fê-la parecer a mim inexistente... Ah, talvez fosse por saber que eu também estava triste, mas tinha medo de mostrá-lo. Eu o beijava e ansiava por seus doces lábios quando tudo o que sentia em minha boca era um gosto amargo que jamais deixaria que ele soubesse existir.

O pôr do sol com ele sempre pareceu confortável, porque sabia que ele me protegeria à noite e não me deixaria só com meus medos... mas eu o afastei por vontade própria e não tenho mais do que reclamar. Ele também merece, eu já não posso mais suportar. Mas...

“Apenas me responda...”

~O~

— Daiki... mas você não ia me levar ao cinema hoje? — E fez um biquinho próximo a sua orelha, tentando espiar o que ele tanto parecia escrever naquele notebook. — Mais uma entrevista? Chaato ~ssu.

Era dessa forma que uma discussão poderia se iniciar: Kise era o tipo de pessoa apegada e talvez um tanto egoísta, pois na maioria das vezes nem ao menos importava-se com as situações, e quando o fazia, a maioria das pessoas resolviam ignorá-lo...

“Eu queria que tivesse sido diferente, mas meu egoísmo nunca serviu para nada... nem para evitar que ele desistisse de mim.”

— Sumimasen, Kise... Dessa vez é importante... você sabe muito bem sobre o período de negociações...

Aomine o repreendeu, tomando das mãos do louro o celular em que o mesmo tanto digitava mensagens, e fitou-o de forma reprovativa não acreditando no que vira.

— Chamou o Midorima e o Akashi também? E eu nem disse que iria... Mas que porra, Ryouta...

— Eh?! Mas você disse “sim” hoje mais cedo quando te chamei! E como viu, eles estão nos esperando por lá, então vai mesmo ficar em casa? — Por mais absurdo que fosse, Kise queria mesmo ir. Parecia bobo, mas acordara com uma vontade insuportável de estar perto, tanto que nem ao menos tinha pensado no trabalho do namorado.

Sua boca parecia curvar-se nervosamente, como se esperasse sua sentença, o que não seria uma comparação injusta a situação, mas isso não se prolongou muito.

— Tsc... se tanto insiste, vamos... mas amanhã vê se não enche. Tenho de terminar de organizar isso e enviar à comissão. — Kise sorriu e sentou-se ao seu lado, envolvendo os ombros de Aomine com o braço.

— Eles estão fazendo de tudo pra não te transferir, ne? — Aquele sorriso confortante... mas verdadeiro? Era um assunto doloroso no final das contas. — Mas não seria uma má ideia jogar nos EUA... afinal estamos falando de basquete, ne? Vai dar tudo certo... você vai conseguir e vai poder trabalhar com o que gosta onde sempre sonhou ssu~.

Apesar dessas palavras, era notável que não era isso que Kise queria... É verdade que o louro era um modelo famoso, mas sua carreira tinha sido contruída ali, no Japão... Mas o que seria esse problema em comparação ao que sentia por Aomine? Bastava que estivesse feliz.

Mas por outro lado, ter Aomine jogando em outro país significava distância...

“Nesses ultimos sete anos juntos, nunca soube o significado dessa palavra.”

O moreno apenas permaneceu em silêncio, e isso significava um outro tipo de distância... ao menos nos pensamentos. Ele sabia dos medos do namorado e percebera que o assunto nunca o deixava confortável quando vinha à tona nas conversas, então acabou por bocejar, espriguiçando-se e empurrando o outro para que saísse daquele abraço grudento.

— Geez... vai ficar ai? Pensei que quisesse sair com aqueles outros dois. — Era óbvio o seu desconcerto, já que olhava para o lado enquanto coçava a nuca, como a desfarçar.

Kise acabou sorrindo, mas era um sorriso diferente daqueles que sempre mostrava... Tão sincero que chegava a parecer bobo, ainda assim, era por ele: Aomine. Sabia que deveria deixá-lo tomar suas próprias escolhas, mas jamais permitiria que se afastasse.

“Porque sempre dependeu apenas de mim, e não dele.”

— Hehe... mas nós vamos, tinha certeza que não recusaria o meu poder de sedução. — Seus braços circundaram mais uma vez o pescoço do moreno, que revirou os olhos à ousadia, mas não afastou o amado de si enquanto era beijado rapidamente na bochecha.

— Foda-se seu poder de sedução, Ryouta baka... vem, antes que eu me arrependa.

Os dedos de Aomine foram gentis ao afastar as mechas douradas que cobriam os olhos de Kise, sorrindo em desistência, pois como dissera, iria ceder ao pedido de sair à noite com o namorado e deixaria o rascunho da entrevista para depois.

— Você vai me dar a maior dor de cabeça... só não me diga que escolheram um filme de drama...

— Hee? Qual o problema com filmes de dramas?

— Você e o Midorima são dois chorões... — Suspirou enquanto via o menor revirar os olhos e continuar a negativa sobre seu comportamento melodramático. No final, Aomine sorriu e mal sabia como seus olhos azuis, enquanto felizes, eram como o céu para aquele que tanto o amava.

“Aominecchi.”

~O~

— Espero que tenha posto o cinto, não quero levar multa como na última vez... — Revirou os olhos quando Kise apontou para os fones que tinha nas orelhas, indicando que não o estava ouvindo, mas depois acabou tirando-os rapidamente antes que Aomine pudesse repetir de forma irritada e em alto tom. — Espero que tenha posto o cinto! Porra, Ryouta... pensei que quisesse ficar comigo, então tira isso do ouvido.

— Sumimasen ~ssu, pensei que não gostasse de conversar enquanto dirigia... — Fez um biquinho, mas logo tratou de desmanchar para dar um sorriso convencido. — Hehe, mas agora que disse, acho que posso aproveitar pra falar mais sobre a sessão de fotos de mais cedo, ne?

Aomine nada respondeu, mas deu um pequeno sorriso enquanto girava a chave na ignição, ouvindo o barulho do motor enquanto suas pernas mantinham-se prontas para os movimentos nos pedais. Dirigir era uma das coisas que mais lhe apetecia depois do basquete e Kise, obviamente. Antes de enfim dar a partida, ligou o som do carro enquanto prendia-se à música que tocava... a única que geralmente repetia mais que o necessário, e a favorita de ambos.

Ten miles from town and I just broke down (Dez milhas da cidade e eu só estou quebrado)
Spittin' out smoke on the side of the road (Cuspindo fumaça do lado da estrada)
I'm out here alone just tryin' to get home (Estou aqui fora sozinho apenas tentando chegar em casa)
To tell you I was wrong but you already know (Para dizer para você que eu estava errado, mas você já sabe)
Believe me I won't stop at nothin' (Acredite em mim, eu não vou parar em nada)
To see you so I've started runnin' (Para vê-lo, então eu comecei a correr)

— Cara, você é muito desafinado, he...

— Eh? Cruel... Olhe você também, Sr. Afinação... Não é como se o Daikicchi cantasse tão bem também, ne? — Kise fez um biquinho, sabendo que aquilo era mais uma das provocações baratas que costumavam fazer um ao outro, e obviamente sempre acabava por levar a sério, mesmo que soubesse que não era para tanto. Cruzou os braços sobre o peito, ainda em birra. Aomine suspirou e vendo que a pista estava livre, tirou os olhos da estrada por um momento a tentar chamar a atenção do loiro, acariciando seu queixo de forma carinhosa. A velocidade do carro mantinha-se baixa, mas um pequeno solavanco chamou a atenção dos dois de volta para a estrada.

A primeira reação de Aomine foi desacelerar ainda mais... Não lembrava de lombadas naquela parte da estrada, e isso o fez pensar no pior quando seu coração pareceu bater mais rápido que o normal... Era uma rua onde não tinham calçadas, portanto manteve o veículo ao lado esquerdo enquanto dirigia... Um pedestre não estaria passando ali agora, certo? Engoliu em seco e Kise o olhou confuso e assustado, tirando-o do transe momentâneo quando tocou-o no braço. Sua mão parecia fria e trêmula, como se estivesse a fazer um pedido mudo para que parasse...

— Daikicchi... — E então Aomine lembrou-se de olhar o retrovisor, vendo a alguns metros um corpo caído ao chão e seu olhar nervoso passou a ideia imediatamente para Kise. Este desafivelou o cinto de segurança e abriria a porta do carro se Aomine não o tivesse impedido. Nada via na rua, mas tinha alguma coisa de errado ali. Seus olhos dourados dirigiram-se aos azuis em aflição e pensou que Aomine faria alguma manobra para tirar o carro da pista para que pudessem ajudar... Jurou que ele faria, mas o moreno, desesperado, acabou puxando o carro rapidamente. — Daiki, você não pode deixar que fique pra trás, ssu!

As mãos do modelo tentaram assumir o controle do volante em desespero, quando Aomine tentou acalerar e Kise pisou no freio, fazendo com que o carro travasse e derrapasse na pista, chocando-se com força contra um poste. Aomine sentiu seu corpo sacudir com o movimento brusco, batendo o rosto contra o volante. Durante o impacto, ouviu um barulho extremamente alto de vidro estilhaçado, mas sua mente demorou a processar o que se passava ali. Olhou ao ponto de colapsar para o lado e já não conseguia ver mais Kise...

“Kise?”

— Kise!

Sua voz irrompeu o silêncio que perdurara desde a batida quando o viu a alguns metros do carro. Tentava sair de onde estava, mas tinha as pernas presas na lataria amassada do carro.

“Kise...”

Seus olhos enchiam-se de lágrimas enquanto não deixava de pensar que a culpa fora sua. Se o tivesse ouvido... Sentiu a tontura decorrente da batida aumentar e poderia ouvir o som de uma sirene a dezenas de metros. Fechou os olhos lentamente.

“Tudo ficaria bem como sempre ficou.”

Mas nada estava bem. Passaram meses no hospital.

Aomine sofrera fraturas nas pernas e Kise ainda estava em tratamento.

“Nós não sabemos até onde ele terá sequelas... Foi muita sorte somente estar vivo.”

~Primeiro devaneio~

13 - 12 - 2015

O modelo fitava seu rosto no espelho; voltaram finalmente para casa. Haviam leves arranhões em seu rosto, uma cicatriz em uma das laterais de sua testa... Nada que não poderia ser escondido pelo cabelo, mas nada sobre isso poderia dizer.

Aomine tinha conseguido acabar, no fim das contas, com o que sempre o incomodou. Não precisaria mais ouvi-lo.

Kise tinha perdido a voz.

Não lembrava de muito o que acontecera, ou quase nada de sua vida, apenas estava ali olhando Aomine com um sorriso estranho no rosto. Nunca o tinha esquecido, mesmo não lembrando de mais ninguém.

“Você sempre esteve aqui... mas agora eu não consigo mais te ouvir, Kise. Eu sinto muito.”

O sonho de ir para a América se mantinha de pé, mas a chance fora embora quando sofreu o acidente. O tempo esgotara-se, mas ainda tinha o resto da vida para agarrar uma segunda chance, porque era bom no basquete e nunca ficaria sem trabalho enquanto fosse o que sempre foi: um vencedor.

Você é o melhor, Aominecchi... nada que você tenha feito me faz sentir menos por você. Não se sinta mal por mim.

Aquela mensagem esteve escrita no celular de Ryouta há muito tempo, mas nunca chegou ao seu destino... O celular não estava conectado à internet ou tinha créditos suficientes... ou quem pudesse enviá-la.

Mas Aomine ainda poderia falar e Kise ouviria de qualquer forma, então tudo estaria bem.

~Segundo devaneio~

23 – 12 -2015

Sempre que chegava em casa, via o loiro sentado de frente à janela do quarto, observando o horizonte como se a qualquer momento algo diferente pudesse surgir. Mas apenas gostaria de lembrar qual a cor dos céus. Eram tão escuros quanto a sua visão o permitia ver? Ou seria não ver.

Sua visão se fora... Mas ainda podia senti-lo próximo a si e isso era o bastante. Nada o impedia de sorrir e por todo aquele tempo nunca se incomodou de ouvi-lo.

“Espero que tenha ficado bem sem mim. O dia não foi tão ruim... Falei tanto, mas ainda não posso saber como foi o seu dia. O seu sorriso amoroso sempre parece dizer tudo pra mim, Kise.”

Kise ainda o ouviria, mesmo que não pudesse saber o que se passava. Enquanto soubesse que Aomine estava tranquilo, tudo estaria bem.

~Terceiro devaneio~

30 – 10 - 2015

Por que as coisas acabaram assim? Você sabe que não foi por mim que não conseguiu ir para a América, Aominecchi...

[Dra. Amanohashi, compareça à emergência. Temos uma vítima de um acidente de carro, precisamos de sua presença.]

— As pernas... vamos ter de amputá-las.

Você perdeu tudo.

Mas daquela vez eu não estava pensando em mim.

O Kagamicchi... ele...

Quando você viu que tinha atropelado quem você sempre amou... E sequer se importou quando eu me importei.

Porque você sempre pensou mais em você e não viu que não teríamos como fugir... Tínhamos de parar e pensar nele. Não havia nada de errado na forma que escolhemos ser felizes. Você o viu ali, mas ele nunca esteve.

Ele tinha ido embora para sempre há anos e você o viu, assim como me virá por todos esses tempos que virão. Eu não estou aqui, mas continuo te ouvindo.

“Kise.”

Você consegue me ouvir?

— Havia mais um no carro. Mas só pudemos salvar esse rapaz. Aomine Daiki... O namorado, Kise Ryouta, acabou falecendo no momento da batida.

Mesmo agora, dormindo, você está chorando. Você sabe que eu continuo aqui. Você quer me ouvir, mas já é tarde demais.

Eu sinto muito.


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Notas finais do capítulo

Um pouco mindfuck, mas vamos lá... Powerless de Linkin Park e Life after you de Daughtry utilizadas na fanfic. Todos os direitos reservados.

1º) Kise às vezes se preocupava com Aomine, ele sumia, não respondia as mensagens e Kise ficava preocupado. Tanto ele quanto Aomine estavam tristes por motivos diferentes.

2º) Como no mangá, Kise admirava Aomine ao ponto de considerá-lo seu modelo.

3º) Ele sabia que algo estava errado, mas assumia ser só ele o culpado.

4º) Aomine não saia muito com Kise, por isso o interesse dele em sair.

5º) Eles não atropelaram ninguém, mas Kise acreditou mais nas expressões de Aomine do que no que os olhos dele viram. Não tinha ninguém caído na pista.

6º) Aomine pensou ter atropelado Kagami.

7º) Ele vê Kise caído fora do carro depois do acidente. Kise morreu na hora.

8º) Mas como sempre, Aomine acha que tudo vai ficar bem.

9º) Na parte que tem Primeiro/Segundo/Terceiro devaneio, percebe que há datas e não seguem uma ordem cronológica. O devaneio 3 é antes do 1 e do 2.

10º) Os devaneios 1 e 2 são visões que Aomine tem de Kise depois do acidente. Só o fantasma.

11º) Devaneio 3 mostra o que realmente aconteceu. Aomine teve as pernas amputadas e Kise morreu.

12º) Aomine era apaixonado por Kagami, mas Kagami tinha morrido há anos, então Kise preencheu o lugar de Kagami e mesmo assim nunca pode substitui-lo em tudo.

13º) Fica se sabendo que Aomine vê os espíritos dos dois.

14º) O espírito de Kise não fala ou vê, apenas escuta Aomine, o que dá a ideia de que ele não está totalmente mais nesse plano.

15º) Mas ele continua ouvindo Aomine e fica por perto pra que ele não se sinta sozinho.