Fuga à Coldtown escrita por MissSadistic


Capítulo 2
(Des)Aparecido




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Algumas mechas estavam molhadas, grudadas em sua cabeça, outros fios estavam completamente secos, espalhados, um emaranhado ruivo, ondulado. A pele era café-com-leite, pálido. Os olhos estavam fechados serenamente, haviam marcas de corte pela extensão do braço e sua roupa tinha alguns cortes finos, o tórax não subia nem descia, não respirava definitivamente.
Eu reconhecia o rosto de algum lugar. Inclinei meu corpo tentando chegar sua cabeça, queria ver se ainda havia pulsação através de seu pescoço.
As pálpebras se abriram e ele sorriu, percebi que seus caninos eram maiores que o normal e me desequilibrei, meu reflexo era rápido então consegui me apoiar no canto da banheira me jogando para trás, não seria bom ter caído em cima dele. Nenhum dos dois obteve vantagem para se levantar, ele já estava tentando se levantar quando cai no chão, mas sua posição não ajudava, conseguimos nos levantar na mesma hora e eu corri até a pia, onde havia Sol.

Eu deveria ter investigado o banheiro também, agora estou na situação mais constrangedora de minha vida sem contar a primeira vez que fui na ginecologista.

Me apoiei na pia tentando subir, mas algo agarrou meu braço e gritou de dor, enquanto eu era puxada para trás senti cheiro de carne queimada, com o outro braço ele prendeu minhas costas ao seu tórax, a sensação de algo próximo ao meu pescoço, não mordeu na mesma hora, provavelmente estava tentando se acalmar da dor de ser queimado pelo Sol.

Recapitulando notas mentais:
+Não adianta tenta usar força

Cabelo ruivo e ondulado, pele café-com-leite, desaparecido.
– Alex! - tentei a sorte.

Há dois anos eu havia participado de um fórum com outros adolescentes que queriam fugir para uma das chamadas Coldtown, um dos garotos do meu círculo de amigos era Alex, um surfista da Califórnia, meio estranho alguém que vive na praia se atrair por vampiros, por isso fiz amizade com ele. Ele havia sumido faziam sete meses, sabíamos que provavelmente havia ido atrás de nosso glorioso destino.

Ele afastou a cabeça.
– Sabe meu nome?
Esvaziei os pulmões um pouco aliviada, ele pressionou o braço com um pouco mais força em meu tórax.
– Não entendi porque está relaxando, saber meu nome não vai te salvar.
A voz calma de um surfista, não conseguia mais entrar em pânico.
– Sou Rose, do "Insanely Deadly". Vai me matar?
– Rose tem o cabelo azul.
– Você está sumido à 7 meses, eu troquei a cor nesse tempo.
– Palavra-Chave?
Nosso grupo usava uma frase para se reconhecer caso nos encontrássemos, a exigência era fazer uma tatuagem no pulso, mas nem todos podiam aderir. Eu não era todos. Ergui o braço mostrando o pulso, um V vermelho escorrendo como se tivesse sido escrito com sangue.
– Rose! Que situação hein. Eu vampiro e você nua em meus braços.
– Vai mesmo me matar?
– Não.
– Então me solta?
– Também não.

+Vampiros podem até ser imortais, mas ainda sentem dor.

Levantei a perna direita, dobrando-a e impulsionei para trás, acertando seus países baixos, ele gemeu de dor me soltando e pondo a mão no local, cambaliei para frente e me virei indo até a privada, vesti-me o mais rápido possível enquanto ele se contorcia.
Estávamos os dois na sala, eu de pé sobre o raio de luz que entrava pela janela quebrada, ele sentado no sofá, me encarando.
Havíamos entrado num acordo e consegui tomar banho após o momento do chute, os fios rosa pastel pingavam sobre minha roupa, o borrifador de água-benta estava direcionado à ele como se estivéssemos num interrogatório e aquilo fosse uma arma.
– Eu deixo você tomar banho e é isso que ganho? Pode abaixar isso?
– Poderia, mas... Não.
– Você está rodeada de raios solares, já não basta? Me sinto um monstro com tanta segurança contra mim.
– Tinha Sol no banheiro também e mesmo assim você me puxou.
– Não pensei que o Sol queimava assim... Pensei que seria mais como... Sol do meio-dia sem protetor solar... - Alex observou sua mão repleta de bolhas de queimadura de primeiro grau.
– Sim, percebi, estou até começando a duvidar que é o Alex. Quem nunca viu vampiros se suicidando? Sol, gritos e pó. - Rose estava com a aparência debochada, como se fosse ela que decidia quem podia sair vivo daquela casa.
– Caramba Rose... Sabe, esquece. Eu estava com fome, estou na verdade. - Ele ergueu o lábio direito sorrindo, seu canino à mostra, Rose ameaçou borrifar a água e ele deu uma risada curta. - Achei que uma pequena parte do corpo por um rápido período não fosse machucar. Só.
– O.K... Agora me espere, irei pegar minha câmera no carro, preciso que relate sobre seu sumiço e como virou vampiro.
O tripé estava posicionado em frente à janela, a iluminação não estava perfeita mas Rose não queria se arriscar, mantinha a mão sobre a tela para poder continuar checando a gravação enquanto Alex contava sua história, já não era tão complicado para ela ouvir tal história após anos de contato com humanos e vampiros que viviam dentro das Coldtowns, conhecia inúmeras histórias, essa era apenas mais uma, uma que ela exibiria em seu blog.
A medida que o tempo passava o Sol tornava-se mais alto e os raios alcançavam mais áreas da sala.
– Rose, poderíamos continuar em algum outro lugar? Aqui está se tornando perigoso para mim. A menos que possa tapar a janela. - Ele sorriu ao dizer a última frase, os cantos de seu lábio possuíam uma única ruga pequena que lhe davam um certo charme. Rose pausou a gravação e parou para pensar. - O tempo anda e o Sol sobe, pense menos e aja mais.
– Qual seu destino?
– Destino? Não sei, tenho todo o tempo do mundo. Literalmente.
– Não tem nenhum lugar para onde quer ir?
– Há lugares para os quais não quero ir. Coldtowns e qualquer local que tenha raios de Sol, como aqui, agora. - Alex caminhava para trás enquanto falava, lentamente o Sol alcançava mais pontos da sala. Logo atrás dele havia uma porta fechada, parou em frente à ela é pediu à Rose para que checasse a incidência de Sol do outro lado, Rose caminhava à passos lentos até a porta, impaciente ele se aproximou dela no momento em que apenas a metade inferior de seu corpo estava coberta pelo Sol e puxou-a pelo braço, tão rápido que Rose não entendera o que aconteceu, ficando desnorteada por alguns segundos. -Vamos logo! - Rose abriu a porta, não conseguia enxergar além de 3 metros no outro cômodo, estava completamente escuro há não ser pela luz da porta que ela havia aberto.
De repente estavam lá dentro com a porta fechada. Rose não conseguia ver nada, seu coração acelerou, péssimo momento. Alex ouvia a pulsação e respiração de Rose como se usasse um estetoscópio, sentiu que o calor do corpo dela se esvaia aos poucos.
Presa num quarto escuro com um vampiro e sem forças, não podia haver situação pior, estava começando a ficar nervosa de verdade, lembrou-se que não comia há um dia e meio, porém o efeito da fome só surgiu nesse instante.
–Tudo bem? -Rose caiu no chão, consciente o bastante para notar a aproximação do vampiro de seu corpo, tudo escureceu.


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