Dia 2 - Você sempre me notou

Kuroko não conseguia entender. Sempre era tratado como um fantasma pela maioria das pessoas, até mesmo seus amigos de longa data tinham certa dificuldade em nota-lo. Mas ela até mesmo em seus momentos mais distraídos reconhecia sua presença.

Conseguia se lembrar com perfeição o momento que havia lhe visto pela primeira vez. Era para ser apenas mais um dia em que ele ia para a biblioteca evitar alguns de seus companheiros de equipe, ele simplesmente era grato por todos serem seus amigos, mas às vezes o azulado não podia evitar querer ficar sozinho.

Havia pegado um livro qualquer na prateleira e se sentado em uma das mesas do fundo, as que raramente eram usadas e ficaria tecnicamente impossível alguém nota-lo naquele local. Estava completamente concentrado na história quando pode sentir uma presença em sua frente.

– Ventos da Morte. – Uma voz doce ecoou por seus ouvidos e logo o azulado havia erguido o olhar e foi então que notou uma garota parada em sua frente, os olhos da mesma observavam com admiração e curiosidade a capa do livro que ele tinha em mãos. – Esse livro é extremamente antigo.

O jogador não pode deixar de arquear uma sobrancelha, a garota realmente tinha o notado? Como se para responder sua pergunta ela ergueu sua cabeça e então sorriu quando seus olhos se encontraram.

– Você não devia ficar sozinho.

Em poucos minutos o azulado soube que a garota havia sido transferida há menos de uma semana da América, algo que lhe lembrou Kagami. Não pode deixar de sorrir ao ver a expressão confusa no rosto da garota quando os companheiros de equipe entraram lhe procurando.

Ela parecia simplesmente não entender o motivo de ninguém conseguir nota-lo, era simplesmente obvio que o azulado estava ali. Com o passar das semanas a dupla apenas se aproximou, ela chegou até mesmo a frequentar os treinos da equipe de basquete.

Quando as partidas acabavam ela sempre vinha em sua direção e lhe entregava uma toalha dizendo o quanto ele havia se saído bem em seus passes, foi só então que Kuroko descobriu que até mesmo durante o jogo a garota conseguia o notar.

Ela era simplesmente um mistério para ele. Desde seu nascimento jamais havia visto uma pessoa como ela, muito menos alguém que desde o principio conseguia notar sua presença em quadra. Mas ela conseguia e parecia se sentir orgulhosa por ser a única.

Os dias foram se passando e a curiosidade do azulado apenas aumentando. Havia tentado de todas as formas surpreender a garota, mas ela parecia ter algum tipo de detector, pois sempre o notava. Mesmo quando estava completamente concentrada em sua leitura um sorriso de formava em seus lábios e um suave “Olá” era falado.

– Kuroko-kun você nunca vai conseguir me surpreender. – A garota havia lhe falado um dia enquanto sorria. – Pois sua presença sempre me deixa feliz, então eu sei que você está por perto.

Aquelas palavras haviam lhe deixado ainda mais confuso. Ele simplesmente não conseguia entender o motivo e a estranha sensação que estava começando a tomar conta de seu corpo. Já havia percebido que pensar na menina estava se tornando cada vez mais frequente, mas ele insistia em se mentir garantindo que era por conta de sua extrema curiosidade em relação a ela.

Kuroko havia se tornado obcecado em descobrir o motivo de sempre ser notado pela garota, ele odiava admitir, mas era levemente frustrante saber que existiam pessoas que podiam superar sua habilidade. Ele havia demorado tanto tempo para aperfeiçoa-la e do dia para a noite ela havia surgido e encontrado uma forma de ver através da barreira de invisibilidade do jogador.

Os dias foram se tornando semanas e antes que pudesse notar já não conseguia se imaginar sem a garota por perto. Vê-la em seus jogos era quase como uma garantia que a vitória seria da Seirin, pensamento que apenas se confirmou quando ele acabou perdendo contra Aomine. Naquele dia ela não havia ido assistir aos jogos, devido a um forte resfriado.

Foi apenas uma longa conversa com Momoi que ele finalmente compreendeu o que estava sentindo, a rosada parecia extremamente chateada em lhe confirmar, mas não pode deixar de sorrir ao pensar em ver o azulado feliz.

– Você provavelmente está apaixonado.

As palavras da rosada insistiam em voltar a sua mente a cada segundo que ele via a garota que havia o enlouquecido desde o primeiro momento. Apenas quando viu alguns garotos a convidando para sair foi que notou que a amiga de infância estava certa. Ele estava apaixonado.

Sem que ele pudesse notar sua obsessão em descobrir o motivo da garota sempre o notar havia se transformado em outro sentimento, um muito mais profundo e doce. Kuroko sabia a data de nascimento da garota, sua cor favorita, o que ela gostava de comer quando estava chateada e diversas outras coisas que provavelmente não deveria saber.

Seu jogo contra Akashi estava cada vez mais próximo e ele não podia se dar ao luxo de não tê-la por perto e foi por esse motivo que havia feito uma escolha. Se a Seirin saísse campeã anunciaria ali na frente de todos que a amava. Não se importava se seria rejeitado ou não, ele apenas precisava falar.

Estava prestes a entrar na quadra quando a viu, ela parecia ainda mais linda do que conseguia se lembrar. Kagami sabia os sentimentos do companheiro em relação à garota e então sem hesitar começou a se afastar. Eles sabiam que os demais nem ao menos notariam a falta do azulado até o inicio do jogo.

– Eu não podia simplesmente ficar sentada lá. – Ela murmurou depois de alguns segundos em silencio, suas bochechas adquirindo uma forte coloração avermelhada. – E-eu preciso lhe dizer algo.

– O que houve? – Kuroko perguntou com certa preocupação, jamais havia a visto daquela forma. Ela estava claramente com medo de algo e isso estava o deixando com uma terrível sensação.

– O motivo de eu sempre ter te notado...

O azulado arqueou as sobrancelhas em confusão. O que aquilo tinha de tão importante para ser dito antes do jogo final? Está certo que ele havia passado semanas em claro tentando descobrir o motivo, mas agora nem ao menos se importava.

– Sua presença sempre me deixa feliz. – A garota murmurou, estava claramente tentando ganhar tempo. Foi então que ela decidiu fechar seus olhos e abaixar sua cabeça. – O motivo é que eu sempre lhe notei, pois sempre ficava lhe procurando.

– Como?

– Eu ficava lhe procurando, pois eu gosto muito de você. – Ela falou rapidamente e naquele momento Kuroko poderia jurar que ela deixaria qualquer tomate com vergonha de sua cor. – Não como amigos, eu gosto de você como uma garota gosta da pessoa que quer se casar.

Aquelas palavras haviam o paralisado. A garota pela qual ele estava perdidamente apaixonado havia acabado de lhe confessar que o amava? Sem que notasse um sorriso se formou em seus lábios e uma de suas mãos logo descansou sobre o queixo da garota, obrigando-a a lhe encarar.

– Eu me sinto da mesma forma. – O azulado sussurrou o que fez a garota se encolher levemente e lentamente um de seus olhos se abriu.

– Você quis dizer isso?

– Com todas as letras. – Ele respondeu enquanto aproximava seu rosto do dela. Um dos sorrisos mais brilhantes que ele já havia visto logo se formou nos lábios da mesma e então ela quebrou a distancia entre seus corpos.

Foi um simples encostar de lábios que durou poucos segundos. Mas foi o necessário para Kuroko saber que tudo ficaria bem, ele sabia que quando a mantivesse ao seu lado não importaria os resultados. Pois ela sempre lhe daria um motivo para sorrir. Afinal ela sempre o notaria, até mesmo nos momentos mais obscuros e que ele desejasse ficar sozinho.

Ela era sua luz. Não como Kagami ou Aomine. Era a luz que havia sido enviada para lhe salvar de sua solidão. Ele não se importaria mais de ser um fantasma ou a sombra dos outros, pois ele sabia que agora aquela pequena fonte interminável de luz e alegria pertencia a ele.